Não há Dakar, mas ainda há rali. Com menos meios, mas com muito espírito de aventura, dois portugueses predispuseram-se a percorrer vários quilómetros pelos caminhos precários do Norte de África.
Rumo a Bamako
Um carro com 22 anos, mais de 5500 quilómetros a percorrer pela costa africana e deserto do Sara, sem qualquer tipo de apoio ou ajuda de meios técnicos, contando apenas um com o outro e com as restantes equipas participantes. É assim que os dois amigos Sérgio Honrado e Paulo Viegas vão viajar durante 20 dias, de Lisboa até à capital de Mali, Bamako.
O desafio Lisboa-Bamako 2008 é uma das rotas do projecto The Plymouth-Dakar Challenge, que teve início em 2002 para demonstrar ao mundo que sem dinheiro – ou pelo menos, com pouco – também é possível alcançar o que os grandes do Dakar alcançam. Aos participantes, é-lhes pedido apenas que consigam completar o desafio, dentro das regras – o carro não pode custar mais que cerca de 135 euros, e o custo da sua preparação não pode ir para além dos 20 –, findo o qual as viaturas são leiloadas e o montante arrecadado, entregue para obras de caridade, em África.
Na companhia de equipas de vários pontos da Europa e até dos Estados Unidos, os dois aventureiros portugueses vão percorrer, a partir do dia 12 de Janeiro, o Sul de Portugal e de Espanha, Marrocos, o Sara Ocidental, a Mauritânia e o Mali.
Espírito de amizade
Sérgio Honrado tem 33 anos e é Director de Serviços de uma metalo-mecânica no Alentejo. O seu parceiro de 32 anos, Paulo Viegas, é funcionário nos serviços administrativos da Lusitania. Os dois amigos conheceram-se em 1996 na universidade, enquanto estudavam Engenharia Mecânica, e daí nasceu uma grande amizade entre os dois, que já dura há 12 anos.
Há muito tempo que queriam fazer uma viagem, mas sempre consideraram que «fazer quilómetros só por fazer não fazia sentido», conta Sérgio, para além de «as suas condições financeiras não o permitirem», acrescenta. Até que Paulo descobriu o projecto Plymouth-Dakar Challenge, enquanto folheava uma revista de automóveis, e mostrou a Sérgio, que imediatamente se entusiasmou com a possibilidade da aventura.
O desafio encaixava exactamente no que ambos procuravam: uma aventura, mas com um objectivo definido. O facto de poderem contribuir para uma causa deu o sentido que faltava à enorme vontade que já tinham de percorrer quilómetros em conjunto, como demonstração do companheirismo e amizade que possuem um pelo outro.
O dinheiro do leilão do Belafonte – nome que deram à viatura – irá servir para levar água potável à aldeia de Dinfara, situada a cerca de 100 quilómetros de Bamako. Os aventureiros aproveitaram ainda a oportunidade para se associarem ao projecto Centro Comunitário de Promoção Social do Feijó, ajudando na sua divulgação.
O impacto ambiental provocado pela viagem não foi esquecido, daí a preocupação em procurar uma solução que contrabalançasse o prejuízo causado. Assim, em parceria com a International Tree Foudation, irá ser calculado o CO emitido pelo tubo de escape do Belafonte, número que será convertido em árvores plantadas, posteriormente.
Apesar de ser a primeira vez que viajam desta forma, a confiança que têm um no outro dá aos dois amigos a segurança de que tudo irá correr bem: «os dois juntos vamos até ao final do mundo», afirma Paulo.
«Temos noção dos meios de que dispomos, sabemos que temos um carro velho e não um jipe», explica Paulo, por isso todos os trajectos e caminhos foram pensados tendo em conta os escassos meios de que dispõem.
No caso de uma avaria grave, contam com o espírito de entreajuda no grupo, que é possível pelo facto de não se tratar de uma competição – como é o caso do Dakar. A ideia subjacente à aventura é a possibilidade de partilha de experiências com pessoas de culturas diferentes, desenvolvendo o espírito de equipa e de entreajuda. Não estamos perante carros que viajam individualmente, mas face a um grupo de pessoas que partilham um objectivo: viver uma aventura, chegar ao destino e poder ajudar alguém.
Por isso, os dois amigos não têm quaisquer dúvidas de que chegarão ao destino: «Se não for no nosso carro, será no de outros; de alguma maneira vamos chegar», garantem.
Uma aventura para todos
Paulo e Sérgio têm algo a provar: não é preciso profissionais, carros especialmente preparados ou muito dinheiro para concretizar uma viagem deste calibre. Se os dois amigos são capazes de percorrer 5500 quilómetros por África, com um Renault 5 de 22 anos e pouco mais que uma tenda e um saco-cama, qualquer um pode, «basta vontade», diz Paulo.
Na verdade, os aventureiros portugueses tiveram a sorte de poder contar com o apoio de várias empresas – revista VISÃO, Digal-Campingaz, Lusitania, Barros e Amado-Viagens e Turismo, Pneus dos Prazeres, Coperol, Auto-Ramalho, HME, MDI, Tribal Humano-Sk8shop, restaurantes Nariz de Vinho Tinto e O Conde, entre outras – que irão tornar a viagem mais confortável. A Junta de Freguesia do Pechão, no concelho de Olhão, também apoiou a dupla, constituindo a vila a primeira etapa da viagem. Mas Sérgio afirma que, «se não tivéssemos tido todo este apoio, faríamos a viagem na mesma, com os meios de que dispúnhamos».
Quando souberam do cancelamento do Dakar, ficaram algo melindrados, não por receio de eventuais riscos que pudessem correr – pois esses, consideram que já existiam quando decidiram candidatar-se –, mas por o facto de manterem a viagem poder contribuir para a transmissão de uma ideia errada sobre a dupla – a imagem de uns «loucos suicidas».
Os dois amigos preferem até não falar muito sobre o Dakar, pelo simples facto de se tratar de dois eventos completamente distintos. «Isto não é uma competição, não há vontade de sabotagem, ninguém quer sabotar um Renault 5 de 22 anos». Pelo contrário, os relatos de anteriores participantes mostram que, por onde quer que a caravana do Plymouth-Dakar passe, há uma grande vontade de ajudar por parte de todos. «Há muito espírito de entreajuda, todos querem que cheguemos ao destino», diz Paulo.
Assim que tomaram conhecimento dos atentados, Sérgio e Paulo procuraram informações, inclusivamente através de equipas do Plymouth-Dakar que se encontravam no momento na Mauritânia, a efectuar outras rotas do desafio. A informação a que tiveram acesso indicou que, neste momento, poderia até ser mais seguro andar nas ruas da Mauritânia, dado o aumento de vigilância policial. «Não somos nenhuns doidos suicidas», reitera Paulo, «os riscos que existem agora, são os mesmos que existiam antes, quando nos candidatámos».
Se tudo correr como previsto, teremos os dois aventureiros de volta a Portugal no dia 4 de Fevereiro, já sem o seu Belafonte, mas, com certeza, com muitas histórias para contar.
Sábado, 12/Jan - 750 km
Partida da Torre de Belém por volta das 9h15. Foi uma partida memorável, como apoio de todos os amigos.
Chegamos a Pechão pelas 13 horas, um pouco mais tarde que o previsto. Em Pechão, aguardavam-nos (jornais locais e uma rádio) para uma pequena conferência de imprensa e almoço. Este gentil convite da Junta de Freguesia do Pechão revelou-se tão acolhedor que acabámos por ficar mais que o previsto inicialmente... e deixou-nos com umas horas de atraso. Gente simpática, dinâmica, com imensa vontade de fazer notar que o Pechão faz parte importante da nossa história, movida pelos mesmos princípios da nossa aventura, coragem, persistência, solidariedade. Por nos identificarmos com estas gentes, prolongamos a visita.
Chegamos a Algeciras a meia noite. O Hotel estava fechado... dormimos no carro.
Domingo, 13/Jan
A noite no carro foi difícil... o espaço não é muito. Estavam cerca de dez graus. Check in no Las Camelias e algumas alterações no carro que esteve até aqui perfeito. Aguardamos a chegada das outras equipas, e aproveitamos para procurar Internet e visitar Soutogrande, onde fica o hotel, perto de Algeciras. Não há muito para ver, não ha Internet... fomos para o hotel descansar, enquanto as equipas continuavam a chegar, maior parte delas, vindas do Reino Unido. Quase todas as eauipas trazem 4x4... mas todas se querem sentar no nosso pequeno Belafonte.
O jantar foi perfeito, com todas as equipas. Ficámos com 2 equipas inglesas para percorrermos Marrocos. Deitámo-nos cedo para acordar pelas 5h00. Destino: Ceuta e entrar em Marrocos, amanhã cedinho.
Segunda-feira, 14/Jan - 130km
Apanhámos o ferry às 8h30. Preferimos entrar por Ceuta em vez de Tanger, apesar dos avisos em contrário, mas percebemos que de um lado ou outro seria difícil, pelo que optámos pelo caminho mais curto. Atravessámos o estreito de Gibraltar em menos de uma hora e a entrada em Marrocos não poderia ter corrido melhor... já tínhamos seguro e foi tudo muito rápido. Subornos? Umas canetas em forma de agradecimento pela rapidez e simpatia com que fomos tratados... e cinco euros. Nós passamos bem, a equipa Steel Camel também, mas a terceira equipa que nos acompanhava ficou para trás e soubemos que foi retida pelas autoridades por tirar fotos na fronteira...
Seguimos via Tetouan para chegar a Chefchaouen, onde nos encontramos de momento.
A chuva acompanha-nos desde manhã e ainda se faz sentir... também está muito frio... já compramos roupas locais para maior conforto e discrição.. O tempo não está a ajudar para melhores fotos e o dia foi passado na estrada. Vamos agora perder-nos nesta simpática cidade e tirar melhores fotos, espero eu. As cores, estão todas cá.
Amanha partimos para Fés... o Belafonte tem sido um exemplo.
Terça-feira, 15 de Janeiro - 220km
Acordámos cedo para sair de Chefchaoune. A cidade acorda tarde, ou pelo menos, mais tarde que nós. Hoje está sol e tentamos aproveitar o acolhedor terraço do nosso «hostal» para tirarmos umas fotos antes de partirmos.
Chegámos ao carro e constatámos que outras equipas também ficaram nesta agradável cidade.
Sempre com a simpática dupla inglesa, concordámos em tomar o pequeno-almoco no caminho. A viagem foi brindada com muito sol e paisagens magníficas do Riff, a parte do nevoeiro intenso nos primeiros quilometros... parámos mais que uma vez para tirar fotografias. Notámos a presenca de bastantes patrulhas de polícia e conseguimos passar por todas sem problemas, à excepção de uma, que recomendou aos Steel Camel para não pisarem mais traços contínuos... mandaram-nos seguir, sem multas, só sorrisos! Estamos a ser muito bem tratados.
A estrada para Fés, nosso destino, é muito boa, com paisagens que nos distraem da condução algumas vezes. Parámos para fazer chá e tomar o pequeno-almoço. No meio da manhã, apanhámos uma parte da estrada cortada que nos fez testar as características todo-o-terreno do Belafonte... passamos devagar, com muita calma e não tivemos qualquer problema. A meio caminho celebramos os primeiros 1000km do Belafonte desde Belém!
Foi fácil arranjar quarto em Fés, preferimos nao ficar junto a Medina e optámos por um hotel na parte mais recente da cidade. Ainda temos o carro com alguma carga e, na impossibilidade de acampar, tentamos escolher hotéis com parques para estacionar. O Hotel Royal é um hotel humilde - parece um hospital antigo - com um quintal onde podemos parar o carro e até reparar alguma avaria - os Steel Camel perderam a tampa do radiador e nós improvisamos uma! Amanhã veremos como corre!
Cumpridas as formalidades na recepção do hotel, apanhamos dois petit taxi para a Medina de Fés. No interior das muralhas da Medina, encontram-se todos os cheiros, cores e sabores. Optámos por não levar guia e andamos pelas ruas «perdidos», entrando ocasionalmente em lojas e ruas escuras, muitas delas sem saida. Escolhemos um dos muitos pequenos balcões onde cozinham a nossa frente. Num cantinho de 4 metros quadrados, cabem duas pequenas mesas, um fogão e uma pequena arca frigorífica onde estão todos os ingredientes... pedimos todos os ingredientes dentro de um pão pita - foi a melhor refeição até agora, batendo de longe o kouskous e as espetadas de pollet do jantar de ontem!
A Medina é enorme, pelo que quando saimos do salão de chá, onde tomámos o nosso já habitual chá de menta, começava a escurecer... tempo de apanhar um táxi e regressar ao Royal Hotel para repararmos o «Camelo de Metal».
Amanhã partiremos para Marrakesh. Sentimos que Fés é uma cidade para se passar mais tempo, mas temos um calendário para cumprir e Marrocos tem muitos locais interessantes -Recomendamos, sem duvida.
Hoje encontrámos internet mais rápida e com teclado um pouco menos gasto, se bem que ainda é complicado adivinhar o local dos assentos e pontuação... e muitas vezes impossível! Proxima viagem: trazer um teclado!
Rumo a Bamako
Um carro com 22 anos, mais de 5500 quilómetros a percorrer pela costa africana e deserto do Sara, sem qualquer tipo de apoio ou ajuda de meios técnicos, contando apenas um com o outro e com as restantes equipas participantes. É assim que os dois amigos Sérgio Honrado e Paulo Viegas vão viajar durante 20 dias, de Lisboa até à capital de Mali, Bamako.
O desafio Lisboa-Bamako 2008 é uma das rotas do projecto The Plymouth-Dakar Challenge, que teve início em 2002 para demonstrar ao mundo que sem dinheiro – ou pelo menos, com pouco – também é possível alcançar o que os grandes do Dakar alcançam. Aos participantes, é-lhes pedido apenas que consigam completar o desafio, dentro das regras – o carro não pode custar mais que cerca de 135 euros, e o custo da sua preparação não pode ir para além dos 20 –, findo o qual as viaturas são leiloadas e o montante arrecadado, entregue para obras de caridade, em África.
Na companhia de equipas de vários pontos da Europa e até dos Estados Unidos, os dois aventureiros portugueses vão percorrer, a partir do dia 12 de Janeiro, o Sul de Portugal e de Espanha, Marrocos, o Sara Ocidental, a Mauritânia e o Mali.
Espírito de amizade
Sérgio Honrado tem 33 anos e é Director de Serviços de uma metalo-mecânica no Alentejo. O seu parceiro de 32 anos, Paulo Viegas, é funcionário nos serviços administrativos da Lusitania. Os dois amigos conheceram-se em 1996 na universidade, enquanto estudavam Engenharia Mecânica, e daí nasceu uma grande amizade entre os dois, que já dura há 12 anos.
Há muito tempo que queriam fazer uma viagem, mas sempre consideraram que «fazer quilómetros só por fazer não fazia sentido», conta Sérgio, para além de «as suas condições financeiras não o permitirem», acrescenta. Até que Paulo descobriu o projecto Plymouth-Dakar Challenge, enquanto folheava uma revista de automóveis, e mostrou a Sérgio, que imediatamente se entusiasmou com a possibilidade da aventura.
O desafio encaixava exactamente no que ambos procuravam: uma aventura, mas com um objectivo definido. O facto de poderem contribuir para uma causa deu o sentido que faltava à enorme vontade que já tinham de percorrer quilómetros em conjunto, como demonstração do companheirismo e amizade que possuem um pelo outro.
O dinheiro do leilão do Belafonte – nome que deram à viatura – irá servir para levar água potável à aldeia de Dinfara, situada a cerca de 100 quilómetros de Bamako. Os aventureiros aproveitaram ainda a oportunidade para se associarem ao projecto Centro Comunitário de Promoção Social do Feijó, ajudando na sua divulgação.
O impacto ambiental provocado pela viagem não foi esquecido, daí a preocupação em procurar uma solução que contrabalançasse o prejuízo causado. Assim, em parceria com a International Tree Foudation, irá ser calculado o CO emitido pelo tubo de escape do Belafonte, número que será convertido em árvores plantadas, posteriormente.
Apesar de ser a primeira vez que viajam desta forma, a confiança que têm um no outro dá aos dois amigos a segurança de que tudo irá correr bem: «os dois juntos vamos até ao final do mundo», afirma Paulo.
«Temos noção dos meios de que dispomos, sabemos que temos um carro velho e não um jipe», explica Paulo, por isso todos os trajectos e caminhos foram pensados tendo em conta os escassos meios de que dispõem.
No caso de uma avaria grave, contam com o espírito de entreajuda no grupo, que é possível pelo facto de não se tratar de uma competição – como é o caso do Dakar. A ideia subjacente à aventura é a possibilidade de partilha de experiências com pessoas de culturas diferentes, desenvolvendo o espírito de equipa e de entreajuda. Não estamos perante carros que viajam individualmente, mas face a um grupo de pessoas que partilham um objectivo: viver uma aventura, chegar ao destino e poder ajudar alguém.
Por isso, os dois amigos não têm quaisquer dúvidas de que chegarão ao destino: «Se não for no nosso carro, será no de outros; de alguma maneira vamos chegar», garantem.
Uma aventura para todos
Paulo e Sérgio têm algo a provar: não é preciso profissionais, carros especialmente preparados ou muito dinheiro para concretizar uma viagem deste calibre. Se os dois amigos são capazes de percorrer 5500 quilómetros por África, com um Renault 5 de 22 anos e pouco mais que uma tenda e um saco-cama, qualquer um pode, «basta vontade», diz Paulo.
Na verdade, os aventureiros portugueses tiveram a sorte de poder contar com o apoio de várias empresas – revista VISÃO, Digal-Campingaz, Lusitania, Barros e Amado-Viagens e Turismo, Pneus dos Prazeres, Coperol, Auto-Ramalho, HME, MDI, Tribal Humano-Sk8shop, restaurantes Nariz de Vinho Tinto e O Conde, entre outras – que irão tornar a viagem mais confortável. A Junta de Freguesia do Pechão, no concelho de Olhão, também apoiou a dupla, constituindo a vila a primeira etapa da viagem. Mas Sérgio afirma que, «se não tivéssemos tido todo este apoio, faríamos a viagem na mesma, com os meios de que dispúnhamos».
Quando souberam do cancelamento do Dakar, ficaram algo melindrados, não por receio de eventuais riscos que pudessem correr – pois esses, consideram que já existiam quando decidiram candidatar-se –, mas por o facto de manterem a viagem poder contribuir para a transmissão de uma ideia errada sobre a dupla – a imagem de uns «loucos suicidas».
Os dois amigos preferem até não falar muito sobre o Dakar, pelo simples facto de se tratar de dois eventos completamente distintos. «Isto não é uma competição, não há vontade de sabotagem, ninguém quer sabotar um Renault 5 de 22 anos». Pelo contrário, os relatos de anteriores participantes mostram que, por onde quer que a caravana do Plymouth-Dakar passe, há uma grande vontade de ajudar por parte de todos. «Há muito espírito de entreajuda, todos querem que cheguemos ao destino», diz Paulo.
Assim que tomaram conhecimento dos atentados, Sérgio e Paulo procuraram informações, inclusivamente através de equipas do Plymouth-Dakar que se encontravam no momento na Mauritânia, a efectuar outras rotas do desafio. A informação a que tiveram acesso indicou que, neste momento, poderia até ser mais seguro andar nas ruas da Mauritânia, dado o aumento de vigilância policial. «Não somos nenhuns doidos suicidas», reitera Paulo, «os riscos que existem agora, são os mesmos que existiam antes, quando nos candidatámos».
Se tudo correr como previsto, teremos os dois aventureiros de volta a Portugal no dia 4 de Fevereiro, já sem o seu Belafonte, mas, com certeza, com muitas histórias para contar.
Sábado, 12/Jan - 750 km
Partida da Torre de Belém por volta das 9h15. Foi uma partida memorável, como apoio de todos os amigos.
Chegamos a Pechão pelas 13 horas, um pouco mais tarde que o previsto. Em Pechão, aguardavam-nos (jornais locais e uma rádio) para uma pequena conferência de imprensa e almoço. Este gentil convite da Junta de Freguesia do Pechão revelou-se tão acolhedor que acabámos por ficar mais que o previsto inicialmente... e deixou-nos com umas horas de atraso. Gente simpática, dinâmica, com imensa vontade de fazer notar que o Pechão faz parte importante da nossa história, movida pelos mesmos princípios da nossa aventura, coragem, persistência, solidariedade. Por nos identificarmos com estas gentes, prolongamos a visita.
Chegamos a Algeciras a meia noite. O Hotel estava fechado... dormimos no carro.
Domingo, 13/Jan
A noite no carro foi difícil... o espaço não é muito. Estavam cerca de dez graus. Check in no Las Camelias e algumas alterações no carro que esteve até aqui perfeito. Aguardamos a chegada das outras equipas, e aproveitamos para procurar Internet e visitar Soutogrande, onde fica o hotel, perto de Algeciras. Não há muito para ver, não ha Internet... fomos para o hotel descansar, enquanto as equipas continuavam a chegar, maior parte delas, vindas do Reino Unido. Quase todas as eauipas trazem 4x4... mas todas se querem sentar no nosso pequeno Belafonte.
O jantar foi perfeito, com todas as equipas. Ficámos com 2 equipas inglesas para percorrermos Marrocos. Deitámo-nos cedo para acordar pelas 5h00. Destino: Ceuta e entrar em Marrocos, amanhã cedinho.
Segunda-feira, 14/Jan - 130km
Apanhámos o ferry às 8h30. Preferimos entrar por Ceuta em vez de Tanger, apesar dos avisos em contrário, mas percebemos que de um lado ou outro seria difícil, pelo que optámos pelo caminho mais curto. Atravessámos o estreito de Gibraltar em menos de uma hora e a entrada em Marrocos não poderia ter corrido melhor... já tínhamos seguro e foi tudo muito rápido. Subornos? Umas canetas em forma de agradecimento pela rapidez e simpatia com que fomos tratados... e cinco euros. Nós passamos bem, a equipa Steel Camel também, mas a terceira equipa que nos acompanhava ficou para trás e soubemos que foi retida pelas autoridades por tirar fotos na fronteira...
Seguimos via Tetouan para chegar a Chefchaouen, onde nos encontramos de momento.
A chuva acompanha-nos desde manhã e ainda se faz sentir... também está muito frio... já compramos roupas locais para maior conforto e discrição.. O tempo não está a ajudar para melhores fotos e o dia foi passado na estrada. Vamos agora perder-nos nesta simpática cidade e tirar melhores fotos, espero eu. As cores, estão todas cá.
Amanha partimos para Fés... o Belafonte tem sido um exemplo.
Terça-feira, 15 de Janeiro - 220km
Acordámos cedo para sair de Chefchaoune. A cidade acorda tarde, ou pelo menos, mais tarde que nós. Hoje está sol e tentamos aproveitar o acolhedor terraço do nosso «hostal» para tirarmos umas fotos antes de partirmos.
Chegámos ao carro e constatámos que outras equipas também ficaram nesta agradável cidade.
Sempre com a simpática dupla inglesa, concordámos em tomar o pequeno-almoco no caminho. A viagem foi brindada com muito sol e paisagens magníficas do Riff, a parte do nevoeiro intenso nos primeiros quilometros... parámos mais que uma vez para tirar fotografias. Notámos a presenca de bastantes patrulhas de polícia e conseguimos passar por todas sem problemas, à excepção de uma, que recomendou aos Steel Camel para não pisarem mais traços contínuos... mandaram-nos seguir, sem multas, só sorrisos! Estamos a ser muito bem tratados.
A estrada para Fés, nosso destino, é muito boa, com paisagens que nos distraem da condução algumas vezes. Parámos para fazer chá e tomar o pequeno-almoço. No meio da manhã, apanhámos uma parte da estrada cortada que nos fez testar as características todo-o-terreno do Belafonte... passamos devagar, com muita calma e não tivemos qualquer problema. A meio caminho celebramos os primeiros 1000km do Belafonte desde Belém!
Foi fácil arranjar quarto em Fés, preferimos nao ficar junto a Medina e optámos por um hotel na parte mais recente da cidade. Ainda temos o carro com alguma carga e, na impossibilidade de acampar, tentamos escolher hotéis com parques para estacionar. O Hotel Royal é um hotel humilde - parece um hospital antigo - com um quintal onde podemos parar o carro e até reparar alguma avaria - os Steel Camel perderam a tampa do radiador e nós improvisamos uma! Amanhã veremos como corre!
Cumpridas as formalidades na recepção do hotel, apanhamos dois petit taxi para a Medina de Fés. No interior das muralhas da Medina, encontram-se todos os cheiros, cores e sabores. Optámos por não levar guia e andamos pelas ruas «perdidos», entrando ocasionalmente em lojas e ruas escuras, muitas delas sem saida. Escolhemos um dos muitos pequenos balcões onde cozinham a nossa frente. Num cantinho de 4 metros quadrados, cabem duas pequenas mesas, um fogão e uma pequena arca frigorífica onde estão todos os ingredientes... pedimos todos os ingredientes dentro de um pão pita - foi a melhor refeição até agora, batendo de longe o kouskous e as espetadas de pollet do jantar de ontem!
A Medina é enorme, pelo que quando saimos do salão de chá, onde tomámos o nosso já habitual chá de menta, começava a escurecer... tempo de apanhar um táxi e regressar ao Royal Hotel para repararmos o «Camelo de Metal».
Amanhã partiremos para Marrakesh. Sentimos que Fés é uma cidade para se passar mais tempo, mas temos um calendário para cumprir e Marrocos tem muitos locais interessantes -Recomendamos, sem duvida.
Hoje encontrámos internet mais rápida e com teclado um pouco menos gasto, se bem que ainda é complicado adivinhar o local dos assentos e pontuação... e muitas vezes impossível! Proxima viagem: trazer um teclado!
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