"Antes de aprofundar a temática que serve de mote a esta crónica, não será de todo inútil recuar 15 anos e visitar a indústria automóvel antes do novo milénio.
Época em que os utilitários das marcas mais modestas eram francamente rudimentares face aos familiares de marcas com maior prestígio. Nos primeiros, o ar-condicionado era normalmente um opcional (caro), os airbag’s apenas marcavam presença do lado do condutor, as motorizações eram fracas, o espaço pouco e o equipamento de série reduzido. Nos segundos, a conversa era outra…
Os utilitários na sua generalidade eram isso mesmo: utilitários. Serviam para pequenas deslocações e eram limitados em viagens mais longas. Com família e bagagens, o caso ficava ainda pior. O comportamento deixava a desejar, o conforto seguia a mesma linha e era notório o hiato qualitativo e tecnológico para os outros segmentos.
Regressando ao presente, das marcas low-cost às marcas premium, a indústria automóvel evoluiu tanto que há mínimos que hoje todos os carros preenchem, até os mais modestos. O botão de ar-condicionado passou a marcar presença no habitáculo de todos, a segurança (activa e passiva) já não é um opcional, e outros equipamentos vão-se democratizando cada vez mais. Cruise-control, vidros eléctricos, fecho centralizado, rádio digno desse nome, GPS…
Exemplos paradigmáticos desta evolução são os modelos utilitários (segmento B) e as marcas low-cost. Estão maiores, o rigor de construção é francamente bom, os motores são modernos e o equipamento generoso. Não comprometem em nenhum campo. Portanto, se a questão fosse meramente racional, seria difícil não olhar para estes automóveis como verdadeiras alternativas às propostas premium, uma vez que fazem tudo como estes fazem por uma fracção do valor: viajar do ponto A ao ponto B.
Porém, a escolha entre uns e outros já não é uma questão tão racional como no passado. Resolvidas as questões de segurança, habitabilidade e conforto, hoje a diferenciação das marcas premium para as marcas low-cost faz-se acima de tudo pelo design, conteúdo tecnológico, performance e requinte. O valor acrescentado hoje é esse, mais que nunca.
Se há uns anos a escolha entre uns e outros tinha que ver – questões financeiras à parte… – com alguns pressupostos racionais, hoje em dia esses mesmos pressupostos são cada vez mais de índole emocional. Quando já todos oferecem níveis de segurança e conforto satisfatórios, os premium tiveram de começar a oferecer algo mais. Daí que o investimento das marcas premium no appeal dos seus carros seja cada vez maior.
O carro deixou de ser um mero transporte, para passar a ser uma extensão da nossa personalidade, um statement de quem somos e do que gostamos de fazer. Respondendo à questão inicial: os premium fazem por isso tanto sentido hoje quanto faziam no passado. Talvez até mais, mérito das marcas.
Ainda assim, entre uns e outros, às vezes pergunto-me: o que faria eu com todo aquele dinheiro? Muita coisa certamente. A verdade é que por um lado os low-cost hoje são bons, e os premium estão melhores que nunca. A carteira que decida, em qualquer dos casos, ficaremos bem servidos. No passado talvez não fosse assim."
Razão Automóvel
Época em que os utilitários das marcas mais modestas eram francamente rudimentares face aos familiares de marcas com maior prestígio. Nos primeiros, o ar-condicionado era normalmente um opcional (caro), os airbag’s apenas marcavam presença do lado do condutor, as motorizações eram fracas, o espaço pouco e o equipamento de série reduzido. Nos segundos, a conversa era outra…
Os utilitários na sua generalidade eram isso mesmo: utilitários. Serviam para pequenas deslocações e eram limitados em viagens mais longas. Com família e bagagens, o caso ficava ainda pior. O comportamento deixava a desejar, o conforto seguia a mesma linha e era notório o hiato qualitativo e tecnológico para os outros segmentos.
Regressando ao presente, das marcas low-cost às marcas premium, a indústria automóvel evoluiu tanto que há mínimos que hoje todos os carros preenchem, até os mais modestos. O botão de ar-condicionado passou a marcar presença no habitáculo de todos, a segurança (activa e passiva) já não é um opcional, e outros equipamentos vão-se democratizando cada vez mais. Cruise-control, vidros eléctricos, fecho centralizado, rádio digno desse nome, GPS…
Exemplos paradigmáticos desta evolução são os modelos utilitários (segmento B) e as marcas low-cost. Estão maiores, o rigor de construção é francamente bom, os motores são modernos e o equipamento generoso. Não comprometem em nenhum campo. Portanto, se a questão fosse meramente racional, seria difícil não olhar para estes automóveis como verdadeiras alternativas às propostas premium, uma vez que fazem tudo como estes fazem por uma fracção do valor: viajar do ponto A ao ponto B.
Porém, a escolha entre uns e outros já não é uma questão tão racional como no passado. Resolvidas as questões de segurança, habitabilidade e conforto, hoje a diferenciação das marcas premium para as marcas low-cost faz-se acima de tudo pelo design, conteúdo tecnológico, performance e requinte. O valor acrescentado hoje é esse, mais que nunca.
Se há uns anos a escolha entre uns e outros tinha que ver – questões financeiras à parte… – com alguns pressupostos racionais, hoje em dia esses mesmos pressupostos são cada vez mais de índole emocional. Quando já todos oferecem níveis de segurança e conforto satisfatórios, os premium tiveram de começar a oferecer algo mais. Daí que o investimento das marcas premium no appeal dos seus carros seja cada vez maior.
O carro deixou de ser um mero transporte, para passar a ser uma extensão da nossa personalidade, um statement de quem somos e do que gostamos de fazer. Respondendo à questão inicial: os premium fazem por isso tanto sentido hoje quanto faziam no passado. Talvez até mais, mérito das marcas.
Ainda assim, entre uns e outros, às vezes pergunto-me: o que faria eu com todo aquele dinheiro? Muita coisa certamente. A verdade é que por um lado os low-cost hoje são bons, e os premium estão melhores que nunca. A carteira que decida, em qualquer dos casos, ficaremos bem servidos. No passado talvez não fosse assim."
Razão Automóvel
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