
Originalmente Colocado por
tiagoraraujo
A gasolina nos anos 80 era mais barata e permitia circular mais km por menos dinheiro. Com a entrada na UE em 86 o país cresceu muito e os salários também e as pessoas passaram a poder comprar carro, tendo também acesso fácil a crédito. A cidade (principalmente Lisboa e Porto) espalhou-se, as pessoas do interior migraram para o litoral e criaram-se os grandes centros urbanos. Na geração do meu avô que era de Sacavém, as pessoas compravam casa perto do trabalho porque tinham um trabalho quase para a vida, e a sua mobilidade era reduzida e os custos mesmo muito baixos, dando para uma boa maioria ir mesmo a pé para o trabalho. Hoje achamos que quem vai a pé para o trabalho é sortudo, mas dantes era essa a norma.
A cidade espalhou-se e as pessoas passaram a fazer muitos mais km por dia, para fazer exatamente a mesma coisa que dantes faziam, ou seja, a
acessibilidade (termo técnico) manteve-se, mas com mais km por dia e com custos muito superiores. O pai de família de hoje em dia sai do trabalho numa ponta da cidade, vai buscar um filho a outra ponta, depois vai buscar outro filho numa outra ponta, para levar a família para casa noutro extremo totalmente diferente, quando nos anos 70-80 havia a política de ter as escolas e as creches, perto de casa, assim como os irmãos todos na mesma escola. As crianças a partir dos 12 anos iam sozinhas para a escola de transportes. Hoje em vez de se ir ao pão à padaria da frente, cujo comércio precisa tanto, muitos pegam no carro e compram meia-dúzia de coisas nas grandes superfícies, julgando que é mais barato mas não consideram nessa análise o tempo e dinheiro extras perdidos. A cidade espalhou-se e as coisas ficaram para o cidadão comum, todas mais longe, obrigando cada um a ter que se deslocar cada vez mais km para fazer o mesmo, gastando mais em mobilidade.
Lisboa por exemplo todos os anos perde população. As pessoas vão para os subúrbios porque querem poupar por exemplo 20 mil euros numa casa, ou porque as casas em Lisboa ficaram com preços proibitivos, mas mais de 20 mil euros vão essas mesmas pessoas gastar em mobilidade, ao longo do empréstimo da casa, porque terão de habitar nos subúrbios. Quem tiver tempo
leia este artigo que está muito bom. As cidades precisam de ficar mais compactas, as coisas precisam de ficar mais perto umas das outras, mas para isso temos de restringir a quantidade de automóveis que entram na cidade, porque esses mesmos automóveis ocupam muito espaço. Fora das cidades, não julgo que no longo prazo haverão alternativas válidas para o automóvel.