Há 170 mil carros que deixam de circular todos os anos. Em 2006, foram destruídas e recicladas por centros autorizados apenas 20 020 viaturas. O que é que aconteceu às restantes 150 mil? Foram vendidas a sucateiras e voltaram a circular? São veículos sinistrados e dados como salvados e posteriormente recuperados? Entraram em redes clandestinas de comercialização? Foram exportadas ou abandonadas? Circulam sem seguro? São "carros-fantasmas"?
Todas as hipóteses são válidas, mas ninguém parece interessado em conhecer a dimensão do problema. O DN não obteve resposta para aquelas perguntas junto da Direcção-Geral de Viação (DGV), do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), da GNR e da PSP. As autoridades admitem que há milhares de carros a circular com um registo de propriedade desactualizado, que detectaram viaturas nesta situação, mas não analisaram o problema. O que se sabe é que as polícias têm anualmente uma lista de seis mil destas viaturas para apreender.
"O número de carros entregues para abate e o de cancelamento de matrículas anda bastante abaixo do número de veículos em fim de vida (VFV)", reconhece Henrique Mendes, da DGV, acrescentando não ser possível saber quantos destes carros circulam ilegalmente. Também não há o registo automático do número de matrículas canceladas.
"Nunca sabemos se a viatura está a ser conduzida pelo verdadeiro proprietário do carro. A não ser que a pessoa denuncie a situação ou que o infractor seja apanhado em flagrante", diz o subintendente Amado, da PSP. Acrescenta que não há um registo individual destas infracções.
O único dado disponível tem a ver com a média anual de seis mil pedidos de apreensão à GNR ou PSP de viaturas transaccionadas e cujo registo de propriedade não foi alterado. Não dizem quantos carros conseguem recuperar.
As estimativas dos 170 mil carros que, teoricamente, deixam de circular são feitas com base no seguro automóvel, nas vendas de veículos novos usados e importações de usados, segundo um documento da Valorcar, sociedade gestora dos VFV. As operadoras ligadas ao sector referem um valor mais baixo, entre 100 mil e 150 mil, o que se explica pelo número "significativo destes veículos que "são abandonados ou exportados para Espanha".
"A informação que existe é apenas uma estimativa, tendo em conta que ninguém sabe quantos veículos são abandonados ou quantos são desmantelados por operadoras não legais. O que sabemos é que essas matrículas não são canceladas", diz Ricardo Furtado, director-geral da Valorcar. Acrescenta que têm referenciados mais de 200 sucateiros ilegais, o que já foi denunciado às autoridades competentes.
"Há veículos que são vendidos a sucateiros, incluindo os respectivos documentos, e os proprietários devem estar conscientes de que isso pode dar mau resultado. O veículo pode sofrer uma reparação ligeira, ser vendido e, se tiver algum problema, será a pessoa em nome de quem o mesmo está registado que é responsável", alerta o major Lourenço da Silva, da PSP.
Outro comércio paralelo é o dos salvados. Um salvado é um veículo que, em consequência de um acidente, tenha sofrido danos que impossibilitem definitivamente a sua circulação ou afectem gravemente as suas condições de segurança. É esta a definição legal. Na prática, significa um veículo sinistrado e cujo conserto é superior ao valor comercial. O proprietário entrega o carro à seguradora a troco de uma indemnização, sendo esta a decidir se o deve ou não mandar abater. Muitas vezes, acaba por vendê-lo, existindo até empresas especializadas na comercialização de salvados, com publicidade nos media e na Internet. Só poderão voltar a circular se forem à inspecção. Quantos são inspeccionados? Quantos voltam a circular? Quantos mudam de registo? Nem a DGV nem o ISP sabe.
O problema é que a percentagem de viaturas legalmente destruídas e recicladas não ultrapassa os 12%. E também o regime de incentivos à destruição de viaturas é pouco eficaz (ver caixa). A excessiva burocracia e o facto de o desconto ser apenas para as viaturas novas explicam o seu fracasso. Por outro lado, os consumidores não são penalizados por não cancelarem a matrícula e até podem ganhar algum dinheiro se o venderem ao sucateiro.
Mas a partir de 2008 passa a ser cobrado um imposto de propriedade, o que significa que a pessoa paga enquanto o registo de propriedade estiver em seu nome, mesmo que o veículo não circule. A medida é elogiada pela Valorcar, Associação de Comércio Automóvel e associações ambientalistas. Mas, sublinham, deve ser acompanhada de fiscalização aos ilegais, o que dizem não ter acontecido.
http://dn.sapo.pt/2007/02/19/socieda...mil_carro.html
Todas as hipóteses são válidas, mas ninguém parece interessado em conhecer a dimensão do problema. O DN não obteve resposta para aquelas perguntas junto da Direcção-Geral de Viação (DGV), do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), da GNR e da PSP. As autoridades admitem que há milhares de carros a circular com um registo de propriedade desactualizado, que detectaram viaturas nesta situação, mas não analisaram o problema. O que se sabe é que as polícias têm anualmente uma lista de seis mil destas viaturas para apreender.
"O número de carros entregues para abate e o de cancelamento de matrículas anda bastante abaixo do número de veículos em fim de vida (VFV)", reconhece Henrique Mendes, da DGV, acrescentando não ser possível saber quantos destes carros circulam ilegalmente. Também não há o registo automático do número de matrículas canceladas.
"Nunca sabemos se a viatura está a ser conduzida pelo verdadeiro proprietário do carro. A não ser que a pessoa denuncie a situação ou que o infractor seja apanhado em flagrante", diz o subintendente Amado, da PSP. Acrescenta que não há um registo individual destas infracções.
O único dado disponível tem a ver com a média anual de seis mil pedidos de apreensão à GNR ou PSP de viaturas transaccionadas e cujo registo de propriedade não foi alterado. Não dizem quantos carros conseguem recuperar.
As estimativas dos 170 mil carros que, teoricamente, deixam de circular são feitas com base no seguro automóvel, nas vendas de veículos novos usados e importações de usados, segundo um documento da Valorcar, sociedade gestora dos VFV. As operadoras ligadas ao sector referem um valor mais baixo, entre 100 mil e 150 mil, o que se explica pelo número "significativo destes veículos que "são abandonados ou exportados para Espanha".
"A informação que existe é apenas uma estimativa, tendo em conta que ninguém sabe quantos veículos são abandonados ou quantos são desmantelados por operadoras não legais. O que sabemos é que essas matrículas não são canceladas", diz Ricardo Furtado, director-geral da Valorcar. Acrescenta que têm referenciados mais de 200 sucateiros ilegais, o que já foi denunciado às autoridades competentes.
"Há veículos que são vendidos a sucateiros, incluindo os respectivos documentos, e os proprietários devem estar conscientes de que isso pode dar mau resultado. O veículo pode sofrer uma reparação ligeira, ser vendido e, se tiver algum problema, será a pessoa em nome de quem o mesmo está registado que é responsável", alerta o major Lourenço da Silva, da PSP.
Outro comércio paralelo é o dos salvados. Um salvado é um veículo que, em consequência de um acidente, tenha sofrido danos que impossibilitem definitivamente a sua circulação ou afectem gravemente as suas condições de segurança. É esta a definição legal. Na prática, significa um veículo sinistrado e cujo conserto é superior ao valor comercial. O proprietário entrega o carro à seguradora a troco de uma indemnização, sendo esta a decidir se o deve ou não mandar abater. Muitas vezes, acaba por vendê-lo, existindo até empresas especializadas na comercialização de salvados, com publicidade nos media e na Internet. Só poderão voltar a circular se forem à inspecção. Quantos são inspeccionados? Quantos voltam a circular? Quantos mudam de registo? Nem a DGV nem o ISP sabe.
O problema é que a percentagem de viaturas legalmente destruídas e recicladas não ultrapassa os 12%. E também o regime de incentivos à destruição de viaturas é pouco eficaz (ver caixa). A excessiva burocracia e o facto de o desconto ser apenas para as viaturas novas explicam o seu fracasso. Por outro lado, os consumidores não são penalizados por não cancelarem a matrícula e até podem ganhar algum dinheiro se o venderem ao sucateiro.
Mas a partir de 2008 passa a ser cobrado um imposto de propriedade, o que significa que a pessoa paga enquanto o registo de propriedade estiver em seu nome, mesmo que o veículo não circule. A medida é elogiada pela Valorcar, Associação de Comércio Automóvel e associações ambientalistas. Mas, sublinham, deve ser acompanhada de fiscalização aos ilegais, o que dizem não ter acontecido.
http://dn.sapo.pt/2007/02/19/socieda...mil_carro.html
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