Honda Civic Type R vs VW Scirocco 2.0 TSI DSG
Ambos debitam 200 CV, atingem 235 km/h e custam menos de 40 mil euros.
Com pergaminhos completamente inquestionáveis enquanto desportivos compactos, o Honda Civic Type R e o novo VW Scirocco 2.0 TSI diferem em muitos aspectos mas apenas ao nível dos pormenores, sobretudo na forma como conseguem extrair uma potência de duas centenas de cavalos dos seus motores de dois litros. Enquanto o Honda recorre a uma mecânica atmosférica, mais nobre e dispendiosa, o Volkswagen recorre à sobrealimentação, conjugada com a injecção directa, o que lhe permite mais força em todos os regimes e uma mecânica mais versátil.
Carroçaria
Quase empate
Ora aqui está um ponto em que os dois contendores assumem fórmulas mais díspares. O Civic é mais estreito e alto, o que está longe de ser a opção ideal para um desportivo, enquanto o VW é apenas 25 mm mais largo, mas consegue optimizar a largura de vias ao ganhar 63 mm à frente e 45 mm na via traseira. Para além dos valores, que facilmente avaliamos de fita métrica em punho, há o pormenor relativo à estética. O Honda é mais radical, agradando a uns mas decididamente afastando outros, enquanto o Scirocco é mais consensual e promete atrair gregos e troianos. A qualidade favorece o carro mais recente, com o VW a colocar-se uns pontos acima do seu rival japonês. Em compensação, a mala favorece o Honda, com 485 litros em vez dos 292 litros do VW, que tem ainda uma boca de carga mais alta.
Interior
Materiais ou espaço
Assim que penetramos no habitáculo as diferenças são mais que evidentes, mas tendem a compensar-se. Assim, os materiais do tablier do VW, similares aos do EOS, são dos melhores que encontramos no segmento e são mesmo melhores do que os que equipam o Golf. Por outro lado, os plásticos do Honda figuram facilmente entre os piores do segmento.
Mas o Civic compensa este desaire com um habitáculo mais espaçoso à frente e atrás, onde cabem três adultos mais altos, uma vez que o Scirocco está homologado apenas para quatro pessoas. A ânsia de lhe conferir um ar mais desportivo e logo mais baixo, levou a reduzir consideravelmente a altura do habitáculo. Mas, que não haja dúvidas. Cabem dois adultos atrás, contanto que não ultrapassem em muito o 1,75 m, e têm à disposição assentos individuais, com mais apoio do que o habitual nesta classe e tudo muito bem revestido com bons materiais. Este modelo é igualmente menos barulhento e filtra melhor as vibrações e ruído de rolamento, sobretudo quando comparado com esta versão 'despida' do Type R que, para ganhar 40 kg à versão 'Plus', mandou às urtigas trunfos como o rádio e grande parte do isolamento acústico.
Mecânica
VW salta para a frente
O motor do Honda é uma referência no segmento, tanto mais que é o único que teima em não recorrer ao turbocompressor para extrair mais potência e, sobretudo, um binário mais interessante nos baixos e médios regimes. Mas os 201 CV que debita significam mais de 100 CV/litro, o que implica um motor oneroso, pois a potência tem de sair da rotação e daí que o Civic atinja as 8000 rpm, com a potência máxima a ser atingida imediatamente antes do limitador intervir (201 CV/7800 rpm). Para tentar tornar o motor mais civilizado, a marca nipónica recorre a um sistema de variação de fase que modula o tempo de abertura e o levantamento das válvulas, o que permite que o motor tenha um comportamento até às 5400 rpm, para depois revelar todo o seu potencial a partir daí.
O Scirocco recorre a um motor 2.0 litros soprado por um turbocompressor. Consegue os mesmos 200 CV às 5100 rpm, mas tem a grande vantagem de debitar 280 Nm às 5000 rpm, bem melhor do que os 193 Nm às 5600 rpm do Type R. O motor alemão tem sempre mais potência até às 6000 rpm e, sobretudo, mais força, o que torna a sua utilização mais fácil enquanto desportivo e mais agradável enquanto carro de todos os dias.
A caixa do Honda é mecânica com seis velocidades, muito rápida e agradável de usar, mas para extrair todo o potencial e manter a rotação lá em cima, onde o motor tem mais alma, é extremamente curta, o que permite atingir a velocidade máxima um pouco abaixo do regime de potência máxima (7800 rpm). A desvantagem é que esta opção torna o Civic muito barulhento e mais gastador, pois a 160 km/h circula em sexta às 4900 rpm, enquanto o VW roda às 3750 rpm. Nestas condições, o Honda gasta 11,4 l/100 km, contra os 10,9 do VW, mas a diferença rapidamente aumenta com um ritmo mais ousado, com o Civic a atingir facilmente os 14 litros e o VW a ficar-se pelos 11,7 litros nas mesmas condições.
O Scirocco pode estar disponível com caixa mecânica de seis velocidades, equivalente à do Honda, mas as preferências dos potenciais clientes deverão ir para a DSG de seis velocidades, que custa apenas mais 1600 euros, uma solução com dupla embraiagem que permite ser utilizada como se fosse automática, sem a desvantagem do conversor de binário, que não possui, para depois poder ser utilizada manualmente através da alavanca ou das palhetas no volante, sendo nesta situação muito mais rápida que a concorrência. Como há binário de sobra, a VW adoptou um escalonamento mais comprido, favorecendo o ruído e o consumo.
Ao volante
Scirocco mais eficaz
O facto de ser mais baixo e possuir vias substancialmente mais largas favorece nitidamente o VW que, para cúmulo, usufrui ainda de melhores suspensões, sendo independentes à frente e atrás, enquanto o Honda recorre a um eixo semi-rígido atrás. Com o Scirocco mais colado à estrada, a vantagem em matéria de comportamento é toda para o carro alemão, que ainda trava melhor por resistir mais ao aquecimento, o que até não é de estranhar pois pesa apenas mais 92 kg, mas recorre a discos ventilados com 312 mm de diâmetro à frente, em vez de 300, e discos maciços com 286 mm atrás, em vez de 260. Isto quer dizer que, ao fim de umas travagens consecutivas, o Honda perde eficácia e parece nunca mais parar.
Em cidade, a suspensão demasiado dura do Honda torna a sua utilização numa canseira, para depois apenas se tornar aceitável quando se quer conduzir a fundo. Em compensação, o Scirocco possui uma suspensão variável com três possibilidades distintas. Em posição 'normal', o sistema escolhe a dureza do amortecimento consoante a velocidade, o ângulo do volante e mais uma série de parâmetros. A posição confort privilegia o conforto e a opção sport favorece o comportamento desportivo.
A velocidade máxima dos dois rivais é tão aproximada quanto possível, com o Civic a reivindicar 235 km/h e o VW a reclamar o mesmo valor com caixa manual e 233 com DSG, mas as acelerações pendem nitidamente para o lado do Scirocco, pois ganha cerca de 0,2 segundos logo no arranque e mantém eternamente essa vantagem. Se a diferença parece reduzida, a verdade é que, arrancando lado-a-lado, o VW vai sempre ganhando vantagem e, se nos 100 km/h já goza de um comprimento de vantagem, rapidamente este se transforma em cinco ou mais.
Economia
Preço não é tudo
O Honda está disponível numa versão com um nível de equipamento normal, por cerca de 36 400 euros, mas existe um Type R mais pobre, mais leve e também mais barato, comercializado por 33 125 euros, mas que só faz sentido para quem queira disputar provas.
O VW começa nos 37 521 euros a que se podem somar os 1600 euros da caixa DSG e mais uns pozinhos para o muito equipamento disponível, o que atira o preço da versão ensaiada para os 41 mil euros. É certo que o Scirocco é mais caro, mas não a ponto de motivar uma opção, tanto mais que possui mais equipamento, consome menos e polui igualmente de forma mais comedida.
»»» Conclusão «««
VW estreia-se a vencer
O mais recente desportivo da VW é mais atraente, possui um aspecto mais musculado e desportivo. O motor debita a mesma potência do rival japonês mas tem mais força a todos os regimes devido à presença do turbo, o que se traduz nas acelerações, consumos e emissões. O chassis mais largo e com suspensões mais sofisticadas também lhe dão vantagem.
O Type R sai vencido, mas não convencido. O seu motor é nobre e possui uma sonoridade ímpar e o facto de possuir a maior distância entre eixos torna-o mais progressivo e fácil de controlar, quando começa a escorregar.
Artigo publicado na revista nº325 de Outubro de 2008
Fonte - Turbo.pt
Ambos debitam 200 CV, atingem 235 km/h e custam menos de 40 mil euros.
Com pergaminhos completamente inquestionáveis enquanto desportivos compactos, o Honda Civic Type R e o novo VW Scirocco 2.0 TSI diferem em muitos aspectos mas apenas ao nível dos pormenores, sobretudo na forma como conseguem extrair uma potência de duas centenas de cavalos dos seus motores de dois litros. Enquanto o Honda recorre a uma mecânica atmosférica, mais nobre e dispendiosa, o Volkswagen recorre à sobrealimentação, conjugada com a injecção directa, o que lhe permite mais força em todos os regimes e uma mecânica mais versátil.
Carroçaria
Quase empate
Ora aqui está um ponto em que os dois contendores assumem fórmulas mais díspares. O Civic é mais estreito e alto, o que está longe de ser a opção ideal para um desportivo, enquanto o VW é apenas 25 mm mais largo, mas consegue optimizar a largura de vias ao ganhar 63 mm à frente e 45 mm na via traseira. Para além dos valores, que facilmente avaliamos de fita métrica em punho, há o pormenor relativo à estética. O Honda é mais radical, agradando a uns mas decididamente afastando outros, enquanto o Scirocco é mais consensual e promete atrair gregos e troianos. A qualidade favorece o carro mais recente, com o VW a colocar-se uns pontos acima do seu rival japonês. Em compensação, a mala favorece o Honda, com 485 litros em vez dos 292 litros do VW, que tem ainda uma boca de carga mais alta.
Interior
Materiais ou espaço
Assim que penetramos no habitáculo as diferenças são mais que evidentes, mas tendem a compensar-se. Assim, os materiais do tablier do VW, similares aos do EOS, são dos melhores que encontramos no segmento e são mesmo melhores do que os que equipam o Golf. Por outro lado, os plásticos do Honda figuram facilmente entre os piores do segmento.
Mas o Civic compensa este desaire com um habitáculo mais espaçoso à frente e atrás, onde cabem três adultos mais altos, uma vez que o Scirocco está homologado apenas para quatro pessoas. A ânsia de lhe conferir um ar mais desportivo e logo mais baixo, levou a reduzir consideravelmente a altura do habitáculo. Mas, que não haja dúvidas. Cabem dois adultos atrás, contanto que não ultrapassem em muito o 1,75 m, e têm à disposição assentos individuais, com mais apoio do que o habitual nesta classe e tudo muito bem revestido com bons materiais. Este modelo é igualmente menos barulhento e filtra melhor as vibrações e ruído de rolamento, sobretudo quando comparado com esta versão 'despida' do Type R que, para ganhar 40 kg à versão 'Plus', mandou às urtigas trunfos como o rádio e grande parte do isolamento acústico.
Mecânica
VW salta para a frente
O motor do Honda é uma referência no segmento, tanto mais que é o único que teima em não recorrer ao turbocompressor para extrair mais potência e, sobretudo, um binário mais interessante nos baixos e médios regimes. Mas os 201 CV que debita significam mais de 100 CV/litro, o que implica um motor oneroso, pois a potência tem de sair da rotação e daí que o Civic atinja as 8000 rpm, com a potência máxima a ser atingida imediatamente antes do limitador intervir (201 CV/7800 rpm). Para tentar tornar o motor mais civilizado, a marca nipónica recorre a um sistema de variação de fase que modula o tempo de abertura e o levantamento das válvulas, o que permite que o motor tenha um comportamento até às 5400 rpm, para depois revelar todo o seu potencial a partir daí.
O Scirocco recorre a um motor 2.0 litros soprado por um turbocompressor. Consegue os mesmos 200 CV às 5100 rpm, mas tem a grande vantagem de debitar 280 Nm às 5000 rpm, bem melhor do que os 193 Nm às 5600 rpm do Type R. O motor alemão tem sempre mais potência até às 6000 rpm e, sobretudo, mais força, o que torna a sua utilização mais fácil enquanto desportivo e mais agradável enquanto carro de todos os dias.
A caixa do Honda é mecânica com seis velocidades, muito rápida e agradável de usar, mas para extrair todo o potencial e manter a rotação lá em cima, onde o motor tem mais alma, é extremamente curta, o que permite atingir a velocidade máxima um pouco abaixo do regime de potência máxima (7800 rpm). A desvantagem é que esta opção torna o Civic muito barulhento e mais gastador, pois a 160 km/h circula em sexta às 4900 rpm, enquanto o VW roda às 3750 rpm. Nestas condições, o Honda gasta 11,4 l/100 km, contra os 10,9 do VW, mas a diferença rapidamente aumenta com um ritmo mais ousado, com o Civic a atingir facilmente os 14 litros e o VW a ficar-se pelos 11,7 litros nas mesmas condições.
O Scirocco pode estar disponível com caixa mecânica de seis velocidades, equivalente à do Honda, mas as preferências dos potenciais clientes deverão ir para a DSG de seis velocidades, que custa apenas mais 1600 euros, uma solução com dupla embraiagem que permite ser utilizada como se fosse automática, sem a desvantagem do conversor de binário, que não possui, para depois poder ser utilizada manualmente através da alavanca ou das palhetas no volante, sendo nesta situação muito mais rápida que a concorrência. Como há binário de sobra, a VW adoptou um escalonamento mais comprido, favorecendo o ruído e o consumo.
Ao volante
Scirocco mais eficaz
O facto de ser mais baixo e possuir vias substancialmente mais largas favorece nitidamente o VW que, para cúmulo, usufrui ainda de melhores suspensões, sendo independentes à frente e atrás, enquanto o Honda recorre a um eixo semi-rígido atrás. Com o Scirocco mais colado à estrada, a vantagem em matéria de comportamento é toda para o carro alemão, que ainda trava melhor por resistir mais ao aquecimento, o que até não é de estranhar pois pesa apenas mais 92 kg, mas recorre a discos ventilados com 312 mm de diâmetro à frente, em vez de 300, e discos maciços com 286 mm atrás, em vez de 260. Isto quer dizer que, ao fim de umas travagens consecutivas, o Honda perde eficácia e parece nunca mais parar.
Em cidade, a suspensão demasiado dura do Honda torna a sua utilização numa canseira, para depois apenas se tornar aceitável quando se quer conduzir a fundo. Em compensação, o Scirocco possui uma suspensão variável com três possibilidades distintas. Em posição 'normal', o sistema escolhe a dureza do amortecimento consoante a velocidade, o ângulo do volante e mais uma série de parâmetros. A posição confort privilegia o conforto e a opção sport favorece o comportamento desportivo.
A velocidade máxima dos dois rivais é tão aproximada quanto possível, com o Civic a reivindicar 235 km/h e o VW a reclamar o mesmo valor com caixa manual e 233 com DSG, mas as acelerações pendem nitidamente para o lado do Scirocco, pois ganha cerca de 0,2 segundos logo no arranque e mantém eternamente essa vantagem. Se a diferença parece reduzida, a verdade é que, arrancando lado-a-lado, o VW vai sempre ganhando vantagem e, se nos 100 km/h já goza de um comprimento de vantagem, rapidamente este se transforma em cinco ou mais.
Economia
Preço não é tudo
O Honda está disponível numa versão com um nível de equipamento normal, por cerca de 36 400 euros, mas existe um Type R mais pobre, mais leve e também mais barato, comercializado por 33 125 euros, mas que só faz sentido para quem queira disputar provas.
O VW começa nos 37 521 euros a que se podem somar os 1600 euros da caixa DSG e mais uns pozinhos para o muito equipamento disponível, o que atira o preço da versão ensaiada para os 41 mil euros. É certo que o Scirocco é mais caro, mas não a ponto de motivar uma opção, tanto mais que possui mais equipamento, consome menos e polui igualmente de forma mais comedida.
»»» Conclusão «««
VW estreia-se a vencer
O mais recente desportivo da VW é mais atraente, possui um aspecto mais musculado e desportivo. O motor debita a mesma potência do rival japonês mas tem mais força a todos os regimes devido à presença do turbo, o que se traduz nas acelerações, consumos e emissões. O chassis mais largo e com suspensões mais sofisticadas também lhe dão vantagem.
O Type R sai vencido, mas não convencido. O seu motor é nobre e possui uma sonoridade ímpar e o facto de possuir a maior distância entre eixos torna-o mais progressivo e fácil de controlar, quando começa a escorregar.
Artigo publicado na revista nº325 de Outubro de 2008
Fonte - Turbo.pt
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