Correio da Manhã
04 Agosto 2009 - 00h30
‘Operação chicote’: 21 acusados de furtos, falsificação e receptação
Stands vendem carros viciados
Centenas de veículos roubados por encomenda. Quase sempre jipes, pick-up e utilitários, mas também potentes Mercedes e Audi. De preferência iguais a carros dados como salvados após acidentes. Este era o primeiro passo de uma rede altamente organizada que entre 2003 e Julho do ano passado manteve um esquema que prejudicou proprietários, seguradoras e o Estado em vários milhões de euros. Os carros eram – depois de viciados – colocados em stands e vendidos como legais. Ninguém sabe quantos ainda circulam nestas condições.
O grupo, radicado na zona de Benavente, foi desmantelado no Verão passado pela ‘Operação Chicote’. A investigação liderada pela 3ª Esquadra de Investigação Criminal da PSP de Lisboa, e coordenada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Especialmente Violento do DIAP de Lisboa, permitiu agora deduzir acusação contra esta rede. Ao todo são 21 arguidos acusados de centenas de crimes que vão desde a associação criminosa ao furto, passando pela burla e falsificação de documento.
Segundo o CM apurou, o gang começou a actuar em 2003 e de acordo com fonte próxima do processo "tinham uma cadência elevadíssima de furtos desde o início".
No entanto, grande parte dos veículos apreendidos em Junho do ano passado "tinham sido roubados em 2007 ou no início de 2008". A mesma fonte acrescenta que "há grandes suspeitas de que várias centenas de carros comercializados nestas condições ainda estejam a circular por aí".
De acordo com fontes próximas da investigação, a maior parte destes veículos foi vendida em stands ligados à rede, na zona de Benavente. "Principalmente as carrinhas. São de fácil escoamento nessa área. E a falsificação era tão perfeita que é quase indetectável." Prova disso são as aprovações que estes veículos recebiam quando submetidos à Inspecção Periódica Obrigatória. "Até aqui eram induzidos em erro."
MATRÍCULA FALSA, SELO BRANCO E CARIMBO DA DGV
O profissionalismo do grupo era tão grande que dispunha de máquinas para fazer matrículas, selos brancos e carimbos iguais ao da antiga Direcção-Geral de Viação para ‘refazer’ toda a documentação dos veículos viciados. E o esquema era delineado ao pormenor. O grupo comprava carros dados pelas seguradoras como seriamente danificados (salvados) em acidentes a um preço muito baixo e depois reconstruíam os carros com peças retiradas de veículos da mesma marca e modelo roubados por operacionais do gang. Estes furtavam com base numa lista de encomendas que lhes eram feitas e com recurso a centralinas e imobilizadores de chave (vulgo ‘chicote’) dos ‘salvados’, que iriam ser reparados e comercializados após adulteração dos seus elementos identificadores. A falsificação dos documentos e dos números de motor e chassis completavam o trabalho.
COMERCIANTES E SERRALHEIROS JUNTOS NO CRIME
Os 21 arguidos (19 homens e duas mulheres, muitos com relações familiares entre si) são acusados de associação criminosa, furto qualificado, furto simples, falsificação de documento, receptação dolosa, danificação de documento, posse de arma proibida, contrafacção de selos, burla qualificada e coacção e resistência a funcionário (um dos ‘cérebros’ do grupo que tentou evitar a detenção). Trata-se de comerciantes de automóveis, mecânicos, pintores, bate-chapas, pedreiros, gerentes comerciais, serralheiros, electricistas e até um técnico de comunicações. Cada um tinha a sua missão bem definida.
PORMENORES
CARROS APREENDIDOS
A ‘Operação Chicote’ durou dois dias e permitiu apreender 162 viaturas e várias armas durante as buscas em Lisboa, Porto, Santarém e Leiria.
20 INQUÉRITOS
Este processo resulta da apensação de mais de 20 inquéritos que estavam dispersos em tribunais da Área Metropolitana de Lisboa. O mais antigo tem seis anos.
UM EM PREVENTIVA
Dos 21 arguidos acusados pelo Ministério Público, apenas um está em prisão preventiva.
04 Agosto 2009 - 00h30
‘Operação chicote’: 21 acusados de furtos, falsificação e receptação
Stands vendem carros viciados
Centenas de veículos roubados por encomenda. Quase sempre jipes, pick-up e utilitários, mas também potentes Mercedes e Audi. De preferência iguais a carros dados como salvados após acidentes. Este era o primeiro passo de uma rede altamente organizada que entre 2003 e Julho do ano passado manteve um esquema que prejudicou proprietários, seguradoras e o Estado em vários milhões de euros. Os carros eram – depois de viciados – colocados em stands e vendidos como legais. Ninguém sabe quantos ainda circulam nestas condições.
O grupo, radicado na zona de Benavente, foi desmantelado no Verão passado pela ‘Operação Chicote’. A investigação liderada pela 3ª Esquadra de Investigação Criminal da PSP de Lisboa, e coordenada pela Unidade Especial de Combate ao Crime Especialmente Violento do DIAP de Lisboa, permitiu agora deduzir acusação contra esta rede. Ao todo são 21 arguidos acusados de centenas de crimes que vão desde a associação criminosa ao furto, passando pela burla e falsificação de documento.
Segundo o CM apurou, o gang começou a actuar em 2003 e de acordo com fonte próxima do processo "tinham uma cadência elevadíssima de furtos desde o início".
No entanto, grande parte dos veículos apreendidos em Junho do ano passado "tinham sido roubados em 2007 ou no início de 2008". A mesma fonte acrescenta que "há grandes suspeitas de que várias centenas de carros comercializados nestas condições ainda estejam a circular por aí".
De acordo com fontes próximas da investigação, a maior parte destes veículos foi vendida em stands ligados à rede, na zona de Benavente. "Principalmente as carrinhas. São de fácil escoamento nessa área. E a falsificação era tão perfeita que é quase indetectável." Prova disso são as aprovações que estes veículos recebiam quando submetidos à Inspecção Periódica Obrigatória. "Até aqui eram induzidos em erro."
MATRÍCULA FALSA, SELO BRANCO E CARIMBO DA DGV
O profissionalismo do grupo era tão grande que dispunha de máquinas para fazer matrículas, selos brancos e carimbos iguais ao da antiga Direcção-Geral de Viação para ‘refazer’ toda a documentação dos veículos viciados. E o esquema era delineado ao pormenor. O grupo comprava carros dados pelas seguradoras como seriamente danificados (salvados) em acidentes a um preço muito baixo e depois reconstruíam os carros com peças retiradas de veículos da mesma marca e modelo roubados por operacionais do gang. Estes furtavam com base numa lista de encomendas que lhes eram feitas e com recurso a centralinas e imobilizadores de chave (vulgo ‘chicote’) dos ‘salvados’, que iriam ser reparados e comercializados após adulteração dos seus elementos identificadores. A falsificação dos documentos e dos números de motor e chassis completavam o trabalho.
COMERCIANTES E SERRALHEIROS JUNTOS NO CRIME
Os 21 arguidos (19 homens e duas mulheres, muitos com relações familiares entre si) são acusados de associação criminosa, furto qualificado, furto simples, falsificação de documento, receptação dolosa, danificação de documento, posse de arma proibida, contrafacção de selos, burla qualificada e coacção e resistência a funcionário (um dos ‘cérebros’ do grupo que tentou evitar a detenção). Trata-se de comerciantes de automóveis, mecânicos, pintores, bate-chapas, pedreiros, gerentes comerciais, serralheiros, electricistas e até um técnico de comunicações. Cada um tinha a sua missão bem definida.
PORMENORES
CARROS APREENDIDOS
A ‘Operação Chicote’ durou dois dias e permitiu apreender 162 viaturas e várias armas durante as buscas em Lisboa, Porto, Santarém e Leiria.
20 INQUÉRITOS
Este processo resulta da apensação de mais de 20 inquéritos que estavam dispersos em tribunais da Área Metropolitana de Lisboa. O mais antigo tem seis anos.
UM EM PREVENTIVA
Dos 21 arguidos acusados pelo Ministério Público, apenas um está em prisão preventiva.
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