Vocês sabiam que, actualmente, apenas 35% dos componentes de um determinado automóvel são desenvolvidos internamente pela marca, isto é, pela casa mãe? De facto, 65% do automóvel que cada um de nós conduz foi desenvolvido externamente por fornecedores de equipamento independentes da marca.
Só por curiosidade, folgo em dizer-vos que Portugal tem alguma tradição neste sector, nomeadamente na fabricação de componentes metalúrgicos para as mais diversas marcas. Por exemplo, os sistemas de travagem da Mercedes, DAF, MAN, etc, ou seja, os sistemas de travagem Knorr Bremse são, não só em parte fabricados em Portugal, como também desenvolvidos em Portugal.
Outro exemplo: Os sistemas de escape dos Toyota que saem das fábricas europeias e da Fiat (Fiat, Lancia e Alfa Romeo) são absolutamente iguais uns aos outros, porque são todos fabricados em Portugal, na mesma empresa!
A tendência é para continuar o outsourcing. Prevê-se que em 2015 apenas 23% dos automóveis resultem de desenvolvimento interno, e que desses 23%, metade diga respeito à aplicação da electrónica automóvel, e a outra metade diga respeito á marca. As vantagens desta tendência são óbvias. Ao deixar para terceiros a investigação e desenvolvimento de novas soluções, as marcas podem focar-se naquilo que realmente trás valor acrescentado, que é a investigação em tecnologia de ponta muito específica e no marketing da marca. Por outro lado, há economias de escala muito significativas, porque as empresas fornecedoras fornecem várias marcas ao mesmo tempo, permitindo-lhes ter a dimensão necessária para produzir a custos reduzidos, a assim permitir que todos tenhamos acesso a carros mais baratos.
A partilha de componentes é assim cada vez maior. Realmente, enquanto que muitas vezes o pessoal aqui se degladia para saber qual é a melhor marca, são essas mesmas marcas que muitas vezes partilham soluções, num sistema de cooperação/competição saudável.
Os resultados disto são interessantes. Primeiro, em termos de emprego, verifica-se que as grandes oportunidades estão de facto nas empresas fornecedoras de soluções e não nas megalómanas fábricas (como a Auto-Europa, p.ex.). Prevê-se a criação de 60 milhões de empregos directa e indirectamente ligados à indústria automóvel mundial, nos próximos 20 anos. O maior crescimento será registado na China, ìndia e paquistão, mas também na Europa se espera crescimento, se bem que mais modesto.
Segundo, estamos a assistir à supremacia da marca sobre o produto, o que constitui um resultado típico de uma sociedade de consumo desenvolvida como a que temos no Ocidente. As marcas serão cada vez mais gestoras de imagem. O produto propriamente dito está cada vez mais assente em factores secundários. Levando a coisa ao extremo, a indústria automóvel vai ser mais ou menos como a indústria dos computadores. Cada marca vai dotar o seu produto destas ou daquelas características, que já estão disponíveis no mercado, consoante a sua estratégia e posicionamento comercial.
As marcas vão apenas guardar para si o desenvolvimento dos factores de diferenciação que as identificam perante os seus clientes. Vão no fundo especializar-se naquilo que fazem melhor. Os serviços conexos ao automóvel, como a assistência pós-venda, vão ser cada vez mais valorizados.
Neste aspecto, as marcas premium são um factor central no desenvolvimento deste modo de fazer negócios. As marcas premium são como as lojas ancora de um centro comercial. Servem de bandeira para ir buscar os Clientes que realmente dão rentabilidade, e que são os que compram no mass-market. A Ferrari e a Maserati, a Lamborghini no caso da VW, ou a Lexus no caso da Toyota, não são por si só muito lucrativas. Quer dizer, são rentáveis, mas não têm massa crítica para sustentar o peso monstruoso dos respectivos Grupos empresariais em que se inserem. Mas são essenciais para promoverem a aquisição das marcas mais generalistas.
A criação de marcas premium intermédias também é cada vez mais uma realidade. Veja-se o caso da Audi no grupo VW, ou da Alfa Romeo no Grupo Fiat. Por isso julgo que marcas mais generalistas como a Renault ou o Grupo PSA vão começar a investir mais na criação de marcas premium. Não me admiraria muito que a Renault (só para dar um exemplo) apareça aí com uma marca premium, para juntar às marcas que já tem (Renault, Nissan, Dacia). Pode ser que se chama Williams, por exemplo.
Isto tudo para dizer que, ao contrário do que muita gente costuma dizer aqui no fórum, a marca interessa, e muito! Pode ser que diga pouco a esta ou aquela pessoa, mas como se costuma dizer, não há regra sem excepção. Os frequentadores deste fórum até podem ser um bocado excepão, porque gostam de automóveis e percebem um pouco mais do assunto do que a média, mas em média, de facto, as pessoas tomam decisões de acordo com um conjunto de pré-conceitos, onde a marca joga um papel muito importante. As qualidades intrínsecas do produto vão sendo cada vez menos importantes, até porque os componentes são cada vez mais iguais. Convenhamos, se a Alfa quiser pode construir o carro mais fiável do mundo, e se a Toyota o entender também pode construir o carro mais bonito do mundo. Só que não o fazem porque as suas características identitárias são outras, e portanto, apostam relativamente mais naquilo que sabem fazer melhor.
Desculpem lá o testamento...
Só por curiosidade, folgo em dizer-vos que Portugal tem alguma tradição neste sector, nomeadamente na fabricação de componentes metalúrgicos para as mais diversas marcas. Por exemplo, os sistemas de travagem da Mercedes, DAF, MAN, etc, ou seja, os sistemas de travagem Knorr Bremse são, não só em parte fabricados em Portugal, como também desenvolvidos em Portugal.
Outro exemplo: Os sistemas de escape dos Toyota que saem das fábricas europeias e da Fiat (Fiat, Lancia e Alfa Romeo) são absolutamente iguais uns aos outros, porque são todos fabricados em Portugal, na mesma empresa!
A tendência é para continuar o outsourcing. Prevê-se que em 2015 apenas 23% dos automóveis resultem de desenvolvimento interno, e que desses 23%, metade diga respeito à aplicação da electrónica automóvel, e a outra metade diga respeito á marca. As vantagens desta tendência são óbvias. Ao deixar para terceiros a investigação e desenvolvimento de novas soluções, as marcas podem focar-se naquilo que realmente trás valor acrescentado, que é a investigação em tecnologia de ponta muito específica e no marketing da marca. Por outro lado, há economias de escala muito significativas, porque as empresas fornecedoras fornecem várias marcas ao mesmo tempo, permitindo-lhes ter a dimensão necessária para produzir a custos reduzidos, a assim permitir que todos tenhamos acesso a carros mais baratos.
A partilha de componentes é assim cada vez maior. Realmente, enquanto que muitas vezes o pessoal aqui se degladia para saber qual é a melhor marca, são essas mesmas marcas que muitas vezes partilham soluções, num sistema de cooperação/competição saudável.
Os resultados disto são interessantes. Primeiro, em termos de emprego, verifica-se que as grandes oportunidades estão de facto nas empresas fornecedoras de soluções e não nas megalómanas fábricas (como a Auto-Europa, p.ex.). Prevê-se a criação de 60 milhões de empregos directa e indirectamente ligados à indústria automóvel mundial, nos próximos 20 anos. O maior crescimento será registado na China, ìndia e paquistão, mas também na Europa se espera crescimento, se bem que mais modesto.
Segundo, estamos a assistir à supremacia da marca sobre o produto, o que constitui um resultado típico de uma sociedade de consumo desenvolvida como a que temos no Ocidente. As marcas serão cada vez mais gestoras de imagem. O produto propriamente dito está cada vez mais assente em factores secundários. Levando a coisa ao extremo, a indústria automóvel vai ser mais ou menos como a indústria dos computadores. Cada marca vai dotar o seu produto destas ou daquelas características, que já estão disponíveis no mercado, consoante a sua estratégia e posicionamento comercial.
As marcas vão apenas guardar para si o desenvolvimento dos factores de diferenciação que as identificam perante os seus clientes. Vão no fundo especializar-se naquilo que fazem melhor. Os serviços conexos ao automóvel, como a assistência pós-venda, vão ser cada vez mais valorizados.
Neste aspecto, as marcas premium são um factor central no desenvolvimento deste modo de fazer negócios. As marcas premium são como as lojas ancora de um centro comercial. Servem de bandeira para ir buscar os Clientes que realmente dão rentabilidade, e que são os que compram no mass-market. A Ferrari e a Maserati, a Lamborghini no caso da VW, ou a Lexus no caso da Toyota, não são por si só muito lucrativas. Quer dizer, são rentáveis, mas não têm massa crítica para sustentar o peso monstruoso dos respectivos Grupos empresariais em que se inserem. Mas são essenciais para promoverem a aquisição das marcas mais generalistas.
A criação de marcas premium intermédias também é cada vez mais uma realidade. Veja-se o caso da Audi no grupo VW, ou da Alfa Romeo no Grupo Fiat. Por isso julgo que marcas mais generalistas como a Renault ou o Grupo PSA vão começar a investir mais na criação de marcas premium. Não me admiraria muito que a Renault (só para dar um exemplo) apareça aí com uma marca premium, para juntar às marcas que já tem (Renault, Nissan, Dacia). Pode ser que se chama Williams, por exemplo.
Isto tudo para dizer que, ao contrário do que muita gente costuma dizer aqui no fórum, a marca interessa, e muito! Pode ser que diga pouco a esta ou aquela pessoa, mas como se costuma dizer, não há regra sem excepção. Os frequentadores deste fórum até podem ser um bocado excepão, porque gostam de automóveis e percebem um pouco mais do assunto do que a média, mas em média, de facto, as pessoas tomam decisões de acordo com um conjunto de pré-conceitos, onde a marca joga um papel muito importante. As qualidades intrínsecas do produto vão sendo cada vez menos importantes, até porque os componentes são cada vez mais iguais. Convenhamos, se a Alfa quiser pode construir o carro mais fiável do mundo, e se a Toyota o entender também pode construir o carro mais bonito do mundo. Só que não o fazem porque as suas características identitárias são outras, e portanto, apostam relativamente mais naquilo que sabem fazer melhor.
Desculpem lá o testamento...
Comentário