Estará o futuro competição automóvel, digna desse nome, em risco?
Eis a questão que neste momento se impõe.
O nosso mundo está a mudar, o carro massificou-se e como consequência banalizou-se e acima de tudo perdeu a mística popular de potencial "máquina infernal".
Não é raro dar pelo meu pai a relembrar com os meus tios e alguns amigos as corridas dos anos 80, e o que para eles era o melhor espetáculo do mundo, as corridas.
Por vezes mais que uma vez mensalmente lá se juntavam eles e faziam cerca de 800kms para irem ver corridas ao Autódromo do Estoril recorrendo durante a maior parte do trajeto à Estrada Nacional.
Como hoje os jovens rapazes gostam de jogos de computador, naquela altura quase todos os homens percebiam minimamente como um carro funcionava. Muitas são as histórias que ouço cá em casa, dos agora membros seniores da família conduzirem ainda não tinham terminado a instrução primária.
Este era o "background" social perfeito, que se ia repetindo Europa fora que serviu como base aos anos de ouro da competição automóvel, que na minha opinião ocorreu entre 1980-2000.
Pouco antes desses anos um conjunto de factores criou uma atmosfera perfeita para o que viria a seguir.
Uma Alemanha apostada em impor-se no topo da industria europeia. Os produtores de veículos franceses orientados para o cidadão comum, que para além dessa característica tinham também outra, a de conseguir enfiar "rocket engines" em "caixinhas de fósforos". Os italianos que apesar de em termos de tecnologia estarem a ficar ultrapassados ainda sabiam como montar um motor num carro melhor que ninguém. E do outro lado do mundo, do Japão começa a vir algum "calor". Uma industria de consumíveis automóveis (Pneus, combustíveis, óleo, etc..) em expansão desenfreada, e acima de tudo muito, muito, muito dinheiro para "investir" (leia-se gastar).
O facto de não haver até há data consciência (ou falta dela) pública dos (supostos) malefícios da poluição originária dos automóveis, o preço dos combustíveis baixíssimo, muitos engenheiros que depois da segunda guerra mundial transmitiram os seus ensinamentos aos mais novos, facilitou tudo ainda mais e deu luz verde ao futuro.
De repente, não havia limites desde que as rodas andassem no chão valia tudo. Na década de 80 surgiu o Grupo B onde valia tudo desde que partilhássemos parte dessa insanidade (entenda-se carros) com os clientes. As estradas em todo o mundo estavam cheias de publico fervoroso ("QUAAAAAATTTTRRRRROOOO!!!!"), marcas como a AUDI fizeram aí o seu nome, até que um dia alguém (infelizmente) teve o bom senso de chegar à conclusão que os carros talvez andassem um pouco demais para o que a tecnologia de segurança da época permitia.
Mas à medida que o interesse no Rally se ia desvanecendo, eis que a Formula 1 tem o seu eclipse protagonizado por duas estrelas chamadas Prost e Senna. Esta onda de "calor" foi tão forte que serviu durante os anos seguintes há morte de Senna para alimentar o cada vez mais britânico e degradante campeonato de "Formula 1". Quem tinha dinheiro ganhava corridas, a discrepância entre as equipas tornou-se quase, senão mesmo, pornográfica.
Durante esses anos campeonatos menos importantes foram aparecendo paralelamente, sendo o caso mais notável do DTM, o Campeonato Alemão de Turismos, que serviu como montra para a vanguarda da tecnologia alemã. E que montra... A mistura entre circuitos urbanos e os renomeados circuitos alemães faziam com que fosse quase uma lotaria prever quem seria o vencedor. Os melhores pilotos dessa geração (ainda hoje correm quase todos) gladiavam-se pelas arenas germânicas na prata da casa como se não houvesse amanhã e pareciam ter carta branca da organização para esticarem regulamento ao limite, desde que nunca passassem do razoável. Como diz o povo, valia tudo menos arrancar olhos.
Jean Alesi, Mika Häkkinen, Tom Kristensen, Ralf Schumacher, Bruno Spengler, Paul di Resta, Mathias Lauda, Alexandre Prémat, Gary Paffett, Allan McNish, Pedro Lamy são apenas alguns dos nomes sonantes.
Quem não sabe do que estou a falar que aproveite, se tiver o canal claro, e dê uma espreitadela na ESPN Classic têm dado resumos das épocas.
Mas que legado invejável!
E o que temos agora?
Bem agora temos, Formula 1 onde se investem milhões para nada, que sempre teve um sério problema em fazer com que as pessoas se identificassem com os carros, e que nos últimos anos tem desenvolvido tecnologias cada vez mais "road irrelevant".
Temos um WRC que já é dominado pelo mesmo senhor e pela mesma marca há muitos anos e pelos vistos vai-se mantendo assim, cada vez mais se vêm estratégias de equipa manhosas, mais parece a Formula 1 no tempo dos sócios Schumacher/Barrichello.
O DTM não acorda da ressaca e temos o WTCC que deu um anito ou dou dois de boas corridas mas agora "vai de vela" não tarda muito por falta marcas a investir a sério.
As marcas chegaram à conclusão que as corridas são excelentes para a imagem da marca, mas apenas se esta ganhar, mas o problema é que só pode ganhar uma marca e as outras saiem como perdedoras.
Ora vejamos, tirando o caso do Grupo B por razoes de segurança, degredo do DTM coincide com domínio da Mercedes, declínio da Formula 1 com o domínio da Ferrari, e o declínio do WRC tem vindo a começar com o domínio da Citroen.
Não tarde muito as marcas criam todas, como algumas já fazem há muito tempo, troféus só com os seus carros, assim ganham sempre!
E quem sofre com isto tudo? Os verdadeiros fans.
Ainda assim tenho aquele querido fim-de-semana em Junho onde me delicio ao ver uma das poucas corridas dignas ainda desse nome, apesar dessa também estar bem dominada por uma marca já aqui referida, mas a sua frequência anual e a sua mística dão-lhe outra incerteza.
Se eu perguntar aos putos de 16 anos qual é o melhor piloto do mundo a maioria vai-me dizer que é aquele americano que faz "piàscas" à volta de um gajo numa trotineta a motor e põe no Youtube. Que degredo. Vou-vos deixar a pensar no futuro, porque se pensar e escrever sobre o assunto ainda perco uns bons anos de vida pelo caminho.
Antigamente quem se interessava por carros e gostava de corridas era um gajo normal e era visto com bons olhos pelos restantes condutores, hoje em dia quem se interessa por carros é logo chamado de azeiteiro (mesmo que não seja) e dizem que percebe muito de tuning (mesmo que não queira tirar mais rendimento do carro stock) e é logo associado a estereotipo formatado pela comunicação social.
Obrigado Hollywood, conseguiste ***** esta ***** toda!
Acabo da mesma forma que comecei, estará o futuro competição automóvel, digna desse nome, em risco?
Eis a questão que neste momento se impõe.
O nosso mundo está a mudar, o carro massificou-se e como consequência banalizou-se e acima de tudo perdeu a mística popular de potencial "máquina infernal".
Não é raro dar pelo meu pai a relembrar com os meus tios e alguns amigos as corridas dos anos 80, e o que para eles era o melhor espetáculo do mundo, as corridas.
Por vezes mais que uma vez mensalmente lá se juntavam eles e faziam cerca de 800kms para irem ver corridas ao Autódromo do Estoril recorrendo durante a maior parte do trajeto à Estrada Nacional.
Como hoje os jovens rapazes gostam de jogos de computador, naquela altura quase todos os homens percebiam minimamente como um carro funcionava. Muitas são as histórias que ouço cá em casa, dos agora membros seniores da família conduzirem ainda não tinham terminado a instrução primária.
Este era o "background" social perfeito, que se ia repetindo Europa fora que serviu como base aos anos de ouro da competição automóvel, que na minha opinião ocorreu entre 1980-2000.
Pouco antes desses anos um conjunto de factores criou uma atmosfera perfeita para o que viria a seguir.
Uma Alemanha apostada em impor-se no topo da industria europeia. Os produtores de veículos franceses orientados para o cidadão comum, que para além dessa característica tinham também outra, a de conseguir enfiar "rocket engines" em "caixinhas de fósforos". Os italianos que apesar de em termos de tecnologia estarem a ficar ultrapassados ainda sabiam como montar um motor num carro melhor que ninguém. E do outro lado do mundo, do Japão começa a vir algum "calor". Uma industria de consumíveis automóveis (Pneus, combustíveis, óleo, etc..) em expansão desenfreada, e acima de tudo muito, muito, muito dinheiro para "investir" (leia-se gastar).
O facto de não haver até há data consciência (ou falta dela) pública dos (supostos) malefícios da poluição originária dos automóveis, o preço dos combustíveis baixíssimo, muitos engenheiros que depois da segunda guerra mundial transmitiram os seus ensinamentos aos mais novos, facilitou tudo ainda mais e deu luz verde ao futuro.
De repente, não havia limites desde que as rodas andassem no chão valia tudo. Na década de 80 surgiu o Grupo B onde valia tudo desde que partilhássemos parte dessa insanidade (entenda-se carros) com os clientes. As estradas em todo o mundo estavam cheias de publico fervoroso ("QUAAAAAATTTTRRRRROOOO!!!!"), marcas como a AUDI fizeram aí o seu nome, até que um dia alguém (infelizmente) teve o bom senso de chegar à conclusão que os carros talvez andassem um pouco demais para o que a tecnologia de segurança da época permitia.
Mas à medida que o interesse no Rally se ia desvanecendo, eis que a Formula 1 tem o seu eclipse protagonizado por duas estrelas chamadas Prost e Senna. Esta onda de "calor" foi tão forte que serviu durante os anos seguintes há morte de Senna para alimentar o cada vez mais britânico e degradante campeonato de "Formula 1". Quem tinha dinheiro ganhava corridas, a discrepância entre as equipas tornou-se quase, senão mesmo, pornográfica.
Durante esses anos campeonatos menos importantes foram aparecendo paralelamente, sendo o caso mais notável do DTM, o Campeonato Alemão de Turismos, que serviu como montra para a vanguarda da tecnologia alemã. E que montra... A mistura entre circuitos urbanos e os renomeados circuitos alemães faziam com que fosse quase uma lotaria prever quem seria o vencedor. Os melhores pilotos dessa geração (ainda hoje correm quase todos) gladiavam-se pelas arenas germânicas na prata da casa como se não houvesse amanhã e pareciam ter carta branca da organização para esticarem regulamento ao limite, desde que nunca passassem do razoável. Como diz o povo, valia tudo menos arrancar olhos.
Jean Alesi, Mika Häkkinen, Tom Kristensen, Ralf Schumacher, Bruno Spengler, Paul di Resta, Mathias Lauda, Alexandre Prémat, Gary Paffett, Allan McNish, Pedro Lamy são apenas alguns dos nomes sonantes.
Quem não sabe do que estou a falar que aproveite, se tiver o canal claro, e dê uma espreitadela na ESPN Classic têm dado resumos das épocas.
Mas que legado invejável!
E o que temos agora?
Bem agora temos, Formula 1 onde se investem milhões para nada, que sempre teve um sério problema em fazer com que as pessoas se identificassem com os carros, e que nos últimos anos tem desenvolvido tecnologias cada vez mais "road irrelevant".
Temos um WRC que já é dominado pelo mesmo senhor e pela mesma marca há muitos anos e pelos vistos vai-se mantendo assim, cada vez mais se vêm estratégias de equipa manhosas, mais parece a Formula 1 no tempo dos sócios Schumacher/Barrichello.
O DTM não acorda da ressaca e temos o WTCC que deu um anito ou dou dois de boas corridas mas agora "vai de vela" não tarda muito por falta marcas a investir a sério.
As marcas chegaram à conclusão que as corridas são excelentes para a imagem da marca, mas apenas se esta ganhar, mas o problema é que só pode ganhar uma marca e as outras saiem como perdedoras.
Ora vejamos, tirando o caso do Grupo B por razoes de segurança, degredo do DTM coincide com domínio da Mercedes, declínio da Formula 1 com o domínio da Ferrari, e o declínio do WRC tem vindo a começar com o domínio da Citroen.
Não tarde muito as marcas criam todas, como algumas já fazem há muito tempo, troféus só com os seus carros, assim ganham sempre!
E quem sofre com isto tudo? Os verdadeiros fans.
Ainda assim tenho aquele querido fim-de-semana em Junho onde me delicio ao ver uma das poucas corridas dignas ainda desse nome, apesar dessa também estar bem dominada por uma marca já aqui referida, mas a sua frequência anual e a sua mística dão-lhe outra incerteza.
Se eu perguntar aos putos de 16 anos qual é o melhor piloto do mundo a maioria vai-me dizer que é aquele americano que faz "piàscas" à volta de um gajo numa trotineta a motor e põe no Youtube. Que degredo. Vou-vos deixar a pensar no futuro, porque se pensar e escrever sobre o assunto ainda perco uns bons anos de vida pelo caminho.
Antigamente quem se interessava por carros e gostava de corridas era um gajo normal e era visto com bons olhos pelos restantes condutores, hoje em dia quem se interessa por carros é logo chamado de azeiteiro (mesmo que não seja) e dizem que percebe muito de tuning (mesmo que não queira tirar mais rendimento do carro stock) e é logo associado a estereotipo formatado pela comunicação social.
Obrigado Hollywood, conseguiste ***** esta ***** toda!
Acabo da mesma forma que comecei, estará o futuro competição automóvel, digna desse nome, em risco?
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