Destina-se este tópico a ser uma reflexão sobre o actual estado da (Des)União Europeia, do projecto inicial e do ponto em que estamos agora. Estaremos nós à beira do desmembramento de algo que começou pequeno mas tem crescido desmesuradamente, aumentando também o risco de conflitos de interesses devido a diferenças demasiado profundas entre os membros desta união de Estados? Ou, por outro lado, e literalmente, será que "a União faz a força"? Afinal, em que ponto nos encontramos? Qual o futuro da UE?
Começava com esta reflexão extremamente interessante, publicada hoje, mas que começa a reflectir um pensamento cada vez mais comum:
A União Europeia ainda existe?- A Escolha do Editor - Jornal de negócios online
Pessimismo exagerado/alarmismo ou preocupações legítimas e com razão de ser?
Opinem, gurus da política e não só!
Começava com esta reflexão extremamente interessante, publicada hoje, mas que começa a reflectir um pensamento cada vez mais comum:
Os acontecimentos recentes na Europa e em especial na Grécia, Itália e em Portugal levam-nos a esta questão de fundo: será que a União Europeia (UE) continua a existir se for completamente esvaziada do seu significado?
Há três sinais inequívocos do desaparecimento do espírito que norteou a União Europeia até aqui. Os seus alicerces enquanto projecto de integração europeia, de fortalecimento das democracias nacionais e de fonte de bem-estar social estão todos postos em causa. A proeminência da Sra. Merkel na UE hoje, a queda de governos democráticos em nome da agenda alemã e o fim do Estado social em grande parte da Europa são indicadores de que a União Europeia tem vindo a ser totalmente desvirtuada, abandonando os princípios que têm estado na base do apoio ao Projecto Europeu desde a sua criação em 1950.
É claro que sempre se soube que em muitos assuntos a Europa não falava a uma só voz. Mas nem sempre a mesma voz dominava; havia coligações variáveis entre países, e todos tinham algum peso nas decisões que eram tomadas. Agora, e sem rodeios, o líder do grupo parlamentar da CDU, o partido de Merkel, veio dizer que "A Europa está a falar alemão, não a língua mas a aceitação das políticas pelas quais Angela Merkel lutou durante tanto tempo e com tanto sucesso". De facto, desde o agravamento da crise do euro, só há uma voz que fala pela Europa, e não é a de Durão Barroso. É a de Angela Merkel. Não deixa de ser paradoxal ver os europeístas mais convictos a defender que seja a Alemanha a salvar o euro. Parece que a única forma de salvar a Europa é torná-la num clube em que a Alemanha impõe todas as regras. Mas então a União Europeia não foi criada em larga medida para conter o poder alemão no continente Europeu? E agora a solução para a UE é entregar a liderança à Alemanha? Há razões históricas suficientes para temer tal cenário, e é confrangedor ver a impotência de todas as instituições europeias perante tal cenário.
A Alemanha mandará se Merkel quiser, mas entretanto as democracias afundam, uma a uma. É preciso ver que a UE foi um sucesso primeiro que tudo porque tratou de consolidar e não de se substituir às democracias nacionais. A UE foi pensada para fortalecer os Estados-nação europeus, para lhes facilitar soluções comuns para problemas nacionais. Os sucessivos alargamentos, e muito em especial os alargamentos ao Sul da Europa, e às novas democracias do Centro e do Leste Europeu foram formas de ancorar os regimes políticos ainda frágeis numa narrativa de pertença a um clube de democracias prósperas. Embora Portugal aí esteja numa situação diferente, na medida em que houve eleições recentes que sancionaram o programa da troika, a queda do governo da Grécia e de Itália são pois sinais alarmantes da negação desse circulo virtuoso.
A partir do momento em que a pertença à Europa obriga à substituição extemporânea de governos legitimados por ministros tecnocratas que têm como única e exclusiva missão impor programas delineados por Angela Merkel, é todo o edifício da democracia que estremece. É claro que Papandreou era errático e que Berlusconi se tinha tornado grotesco. Mas a preponderância dos factores externos nas suas quedas não augura nada de bom para a saúde democrática destes países, nem de todos os países da Zona Euro.
Por último, a severidade da política de austeridade a que UE obriga é contrária ao espírito fundador da mesma. Para lá de todos os belos discursos sobre a bondade do Projecto Europeu, este foi criado com base na promessa da convergência de todos os países daquilo que é um dos marcos mais fortes da identidade europeia: o bem-estar social. Em Portugal, a aprovação integral deste orçamento de Estado para 2012 vai ditar o fim definitivo dessa narrativa, tal como já aconteceu na Grécia, e terá talvez que acontecer nos restantes países da Europa do Sul. Com um Estado na bancarrota, sem transportes públicos de qualidade, sem Educação e sem Saúde, o que restará de Europeu em Portugal?
Politóloga
marinacosta.lobo@gmail.com
Há três sinais inequívocos do desaparecimento do espírito que norteou a União Europeia até aqui. Os seus alicerces enquanto projecto de integração europeia, de fortalecimento das democracias nacionais e de fonte de bem-estar social estão todos postos em causa. A proeminência da Sra. Merkel na UE hoje, a queda de governos democráticos em nome da agenda alemã e o fim do Estado social em grande parte da Europa são indicadores de que a União Europeia tem vindo a ser totalmente desvirtuada, abandonando os princípios que têm estado na base do apoio ao Projecto Europeu desde a sua criação em 1950.
É claro que sempre se soube que em muitos assuntos a Europa não falava a uma só voz. Mas nem sempre a mesma voz dominava; havia coligações variáveis entre países, e todos tinham algum peso nas decisões que eram tomadas. Agora, e sem rodeios, o líder do grupo parlamentar da CDU, o partido de Merkel, veio dizer que "A Europa está a falar alemão, não a língua mas a aceitação das políticas pelas quais Angela Merkel lutou durante tanto tempo e com tanto sucesso". De facto, desde o agravamento da crise do euro, só há uma voz que fala pela Europa, e não é a de Durão Barroso. É a de Angela Merkel. Não deixa de ser paradoxal ver os europeístas mais convictos a defender que seja a Alemanha a salvar o euro. Parece que a única forma de salvar a Europa é torná-la num clube em que a Alemanha impõe todas as regras. Mas então a União Europeia não foi criada em larga medida para conter o poder alemão no continente Europeu? E agora a solução para a UE é entregar a liderança à Alemanha? Há razões históricas suficientes para temer tal cenário, e é confrangedor ver a impotência de todas as instituições europeias perante tal cenário.
A Alemanha mandará se Merkel quiser, mas entretanto as democracias afundam, uma a uma. É preciso ver que a UE foi um sucesso primeiro que tudo porque tratou de consolidar e não de se substituir às democracias nacionais. A UE foi pensada para fortalecer os Estados-nação europeus, para lhes facilitar soluções comuns para problemas nacionais. Os sucessivos alargamentos, e muito em especial os alargamentos ao Sul da Europa, e às novas democracias do Centro e do Leste Europeu foram formas de ancorar os regimes políticos ainda frágeis numa narrativa de pertença a um clube de democracias prósperas. Embora Portugal aí esteja numa situação diferente, na medida em que houve eleições recentes que sancionaram o programa da troika, a queda do governo da Grécia e de Itália são pois sinais alarmantes da negação desse circulo virtuoso.
A partir do momento em que a pertença à Europa obriga à substituição extemporânea de governos legitimados por ministros tecnocratas que têm como única e exclusiva missão impor programas delineados por Angela Merkel, é todo o edifício da democracia que estremece. É claro que Papandreou era errático e que Berlusconi se tinha tornado grotesco. Mas a preponderância dos factores externos nas suas quedas não augura nada de bom para a saúde democrática destes países, nem de todos os países da Zona Euro.
Por último, a severidade da política de austeridade a que UE obriga é contrária ao espírito fundador da mesma. Para lá de todos os belos discursos sobre a bondade do Projecto Europeu, este foi criado com base na promessa da convergência de todos os países daquilo que é um dos marcos mais fortes da identidade europeia: o bem-estar social. Em Portugal, a aprovação integral deste orçamento de Estado para 2012 vai ditar o fim definitivo dessa narrativa, tal como já aconteceu na Grécia, e terá talvez que acontecer nos restantes países da Europa do Sul. Com um Estado na bancarrota, sem transportes públicos de qualidade, sem Educação e sem Saúde, o que restará de Europeu em Portugal?
Politóloga
marinacosta.lobo@gmail.com
Pessimismo exagerado/alarmismo ou preocupações legítimas e com razão de ser?
Opinem, gurus da política e não só!
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