Afinal, esta coisa do "arco da governação" é algo de real ou, a contrário, foi "criado" como uma forma "subliminar" de limitar / orientar a capacidade de escolha eleitoral, criando como que um "complexo de culpa" por não votar "nos únicos capazes" de governar neste país?
Há, mesmo, um "arco governativo" ou isto não passa de uma ENORME peta?
Fica aqui uma "reflexão" (não quer dizer que concorde com ela) para ponderar...:
PARTIDOS DE PROTESTO E “ARCO DA GOVERNAÇÃO”
Há, mesmo, um "arco governativo" ou isto não passa de uma ENORME peta?
Fica aqui uma "reflexão" (não quer dizer que concorde com ela) para ponderar...:
PARTIDOS DE PROTESTO E “ARCO DA GOVERNAÇÃO”
Como toda a gente sabe, está entre nós muito difundida ideia de que há na vida política institucional portuguesa dois tipos de partidos: os que fazem parte do “arco da governação” e os que apenas protestam e não querem governar.
A imagem de “arco da governação” tanto quanto me recordo foi criada por Pina Moura, nos tempos em que era um todo-poderoso membro do executivo de Guterres, de que foi primeiro secretário de Estado e depois ministro. Já completamente afeiçoado ao politicamente correcto e em trânsito acelerado para o neoliberalismo e às benesses do grande capital, Pina Moura queria deixar bem vincada a mensagem de que os assuntos de governo eram exclusivos do PS, do PSD e, um pouco por caridade tendo em conta os primeiros anos da vida política pós 25 de Novembro, também do CDS. Os outros, como não pertenciam a este conjunto de “eleitos”, não tinham por direito próprio e imposição dos primeiros acesso aos “assuntos de Estado”. À época, ainda no rescaldo da Queda do Muro e da desintegração da União Soviética, tinha-se em vista especialmente o PCP e esta ostensiva exclusão da participação na vida política dos comunistas mais não era que um dos vários meios que estavam sendo utilizados com vista à sua eliminação como partido comunista e a sua transformação numa qualquer outra “coisa”.
Com o aparecimento do Bloco de Esquerda e a resiliência do PCP em se deixar absorver e enquadrar pelas malhas essenciais do “pensamento único”, cada vez mais dominante, a ponto de praticamente ter liquidado a social-democracia e as bases político-económicas em que a mesma se fundava, a noção de “partidos de protesto” foi gradualmente assumindo um tom propositadamente pejorativo com dois sentidos e um único objectivo: afastá-los da governação e inculcar no eleitor a convicção de que não valeria a pena votar neles porque nunca estariam dispostos a governar, mas apenas a protestar.
Esta é uma das tais “verdades” fabricadas pela ideologia dominante que se tem revelado muito útil pelo papel conformador das mentalidades que vem desempenhando. O eleitor médio está mesmo convencido que os partidos que não fazem parte do tal “arco da governação” não querem ter a responsabilidade de governar, o que querem é protestar, dizer não a tudo, fazer manifestações, etc.!
Procurando oportunisticamente tirar partido desta situação, apareceram alguns movimentos, um deles já transformado em partido, a afirmar categoricamente: “Nós somos de esquerda e queremos governar. Queremos impedir que a direita esteja no poder, seja isoladamente, seja em coligação com o PS”. Estes salvíficos movimentos tinham portanto uma missão a cumprir: um imperativo democrático impelia-os corajosamente para os braços do PS com o fim de evitar que este caísse nas malhas da direita. E então num discurso em que o “Eu” permanentemente se sobrepunha ao “nós”, ao “colectivo”, estes “denodados homens de esquerda” prontificavam-se, num espírito de sacrifício digno de louvor, a cair no regaço do PS não apenas para o impedir de se enamorar da direita, mas também para, finalmente, colocarem a esquerda no poder. Mais ou menos envergonhadamente iam acenando com o exemplo do Syriza (quando este ainda era uma esperança, porém feita de História) e também, embora mais reticentemente, com o do “Podemos”, apesar de nada, absolutamente nada, os equiparar a gregos e a espanhóis.
Como a história e os factos passados demonstram e o futuro, se for caso disso, acabará por confirmar, não há maior falácia do que esta.
A primeira grande falácia é a de que tanto o PC como o Bloco ou qualquer outro partido que entretanto apareça e se recuse a alinhar nos compromissos do PS sejam partidos de protesto. Não. São exactamente o contrário. São partidos de poder. E exactamente por serem partidos de poder – isto é, por aplicarem se forem Governo a medidas que advogam como oposição – é que sobre eles recai essa imensa propaganda que permanentemente os ostraciza e diariamente conforma as cabeças de milhões de eleitores, fazendo-os crer que eles apenas protestam porque nada do que propõem tem viabilidade prática. Nada que fuja às regras e aos ditames do pensamento único – hoje mais rigidamente implantado na UE do que alguma vez esteve nos próprios Estados Unidos - tem qualquer possibilidade de medrar…Por isso votar nestes partidos é perder o voto. Este o discurso do "arco da governação" e dos seus recentes aliados.
Segunda falácia, a de que o Livre e C.ª querem governar para dar voz à esquerda. Em primeiro lugar, nem sequer é seguro que o PS recorra a eles, mas se recorrer não será certamente para viabilizar alguma das suas políticas, mas antes para legitimar à esquerda ou em certo sector da esquerda a sua própria política. Admitir antecipadamente que se concorre para fazer alianças com o PS ou fazer alianças com o PS sem questionar os fundamentos essenciais da sua política – austeridade, tratado orçamental, regras de distribuição da riqueza, defesa do interesse nacional sempre que houver contradição com as “regras de Bruxelas”, questão da dívida, legislação laboral, etc. – serve apenas e só para cohonestar a política do PS, responsável tanto como o PSD (ou até mais) pelo neoliberalismo europeu de que foi entusiástico apoiante com Guterres e com Sócrates. Votar nesses partidos é votar no CDS do PS.
Finalmente, o PS. O Partido Socialista é um partido que tem um discurso no poder e outro completamente diferente na oposição. No presente, dado o silêncio de Costa, pode até dizer-se que somente se deixa enganar quem quer ser enganado. Os grandiosos propósitos que o PS se propõe atingir não são alcançáveis – nenhum deles – por meios que dependam do próprio partido, mas todos, sem excepção, por via de políticas e procedimentos que o PS nem sequer remotamente controla, ou seja, pelas decisões do BCE sobre a moeda e o crédito (que obviamente mesmo quando nacionalmente controláveis tem limites, como toda a gente sabe), pela esperada “compreensão” do FMI para com os países do sul da Europa e (a maior das fés) por uma nova política do Conselho Europeu…que a realidade se encarregará de impor. Não há para adultos ou até mesmo talvez para crianças um conto de fadas mais fantasioso do que este.
O PS vai portanto fazer a mesma política que até agora tem sido seguida, porventura mais próxima do grande capital (que sempre se deixa seduzir pela facilidade do lucro fácil e rápido), com alguns arredondamentos e arestas menos vincadas que a ortodoxia de Passos /Albuquerque e perversidade do CDS puseram em prática numa humilhante demonstração de subserviência nacional. Quanto ao resto, o essencial, tudo ficará rigorosamente na mesma…com a diferença de ser feito, dirão os que governam, em nome da esquerda, enquanto a outra parte do PS, a que realmente gostaria de outra política mas que nunca teve a coragem de votar em quem a poderia efectivamente pôr em prática, protestará, protestará …mas nunca com a intensidade e organização suficientes para provocar uma verdadeira viragem na política nacional.
Esta esquerda do PS, este eleitorado do PS, que realmente gostaria de ver aplicada outra política mas que nunca teve a coragem de escolher quem a poderia pôr em prática, lavará regularmente a alma com declarações altissonantes, como aquelas que foram feitas durante os mandatos de Guterres e de Sócrates, refugiar-se-á, se for eleita para o Parlamento, na última fila numa ostensiva manifestação silenciosa de protesto, mas votará favoravelmente os instrumentos essenciais da política do governo, porventura com uma ou outra declaração de voto e continuará a protestar silenciosamente e através de uma oratória dispersa mas nunca sem pôr em causa a continuidade do governo.
Ou seja, o verdadeiro Partido de Protesto é o PS. É um partido que nunca porá em prática as medidas que na oposição preconizou ou que nunca atingirá os fins que prometeu e simultaneamente garante uma falange de protestantes à sua própria política numa esquizofrénica demonstração de fidelidade e contestação partidária.
Como toda a gente sabe, está entre nós muito difundida ideia de que há na vida política institucional portuguesa dois tipos de partidos: os que fazem parte do “arco da governação” e os que apenas protestam e não querem governar.
A imagem de “arco da governação” tanto quanto me recordo foi criada por Pina Moura, nos tempos em que era um todo-poderoso membro do executivo de Guterres, de que foi primeiro secretário de Estado e depois ministro. Já completamente afeiçoado ao politicamente correcto e em trânsito acelerado para o neoliberalismo e às benesses do grande capital, Pina Moura queria deixar bem vincada a mensagem de que os assuntos de governo eram exclusivos do PS, do PSD e, um pouco por caridade tendo em conta os primeiros anos da vida política pós 25 de Novembro, também do CDS. Os outros, como não pertenciam a este conjunto de “eleitos”, não tinham por direito próprio e imposição dos primeiros acesso aos “assuntos de Estado”. À época, ainda no rescaldo da Queda do Muro e da desintegração da União Soviética, tinha-se em vista especialmente o PCP e esta ostensiva exclusão da participação na vida política dos comunistas mais não era que um dos vários meios que estavam sendo utilizados com vista à sua eliminação como partido comunista e a sua transformação numa qualquer outra “coisa”.
Com o aparecimento do Bloco de Esquerda e a resiliência do PCP em se deixar absorver e enquadrar pelas malhas essenciais do “pensamento único”, cada vez mais dominante, a ponto de praticamente ter liquidado a social-democracia e as bases político-económicas em que a mesma se fundava, a noção de “partidos de protesto” foi gradualmente assumindo um tom propositadamente pejorativo com dois sentidos e um único objectivo: afastá-los da governação e inculcar no eleitor a convicção de que não valeria a pena votar neles porque nunca estariam dispostos a governar, mas apenas a protestar.
Esta é uma das tais “verdades” fabricadas pela ideologia dominante que se tem revelado muito útil pelo papel conformador das mentalidades que vem desempenhando. O eleitor médio está mesmo convencido que os partidos que não fazem parte do tal “arco da governação” não querem ter a responsabilidade de governar, o que querem é protestar, dizer não a tudo, fazer manifestações, etc.!
Procurando oportunisticamente tirar partido desta situação, apareceram alguns movimentos, um deles já transformado em partido, a afirmar categoricamente: “Nós somos de esquerda e queremos governar. Queremos impedir que a direita esteja no poder, seja isoladamente, seja em coligação com o PS”. Estes salvíficos movimentos tinham portanto uma missão a cumprir: um imperativo democrático impelia-os corajosamente para os braços do PS com o fim de evitar que este caísse nas malhas da direita. E então num discurso em que o “Eu” permanentemente se sobrepunha ao “nós”, ao “colectivo”, estes “denodados homens de esquerda” prontificavam-se, num espírito de sacrifício digno de louvor, a cair no regaço do PS não apenas para o impedir de se enamorar da direita, mas também para, finalmente, colocarem a esquerda no poder. Mais ou menos envergonhadamente iam acenando com o exemplo do Syriza (quando este ainda era uma esperança, porém feita de História) e também, embora mais reticentemente, com o do “Podemos”, apesar de nada, absolutamente nada, os equiparar a gregos e a espanhóis.
Como a história e os factos passados demonstram e o futuro, se for caso disso, acabará por confirmar, não há maior falácia do que esta.
A primeira grande falácia é a de que tanto o PC como o Bloco ou qualquer outro partido que entretanto apareça e se recuse a alinhar nos compromissos do PS sejam partidos de protesto. Não. São exactamente o contrário. São partidos de poder. E exactamente por serem partidos de poder – isto é, por aplicarem se forem Governo a medidas que advogam como oposição – é que sobre eles recai essa imensa propaganda que permanentemente os ostraciza e diariamente conforma as cabeças de milhões de eleitores, fazendo-os crer que eles apenas protestam porque nada do que propõem tem viabilidade prática. Nada que fuja às regras e aos ditames do pensamento único – hoje mais rigidamente implantado na UE do que alguma vez esteve nos próprios Estados Unidos - tem qualquer possibilidade de medrar…Por isso votar nestes partidos é perder o voto. Este o discurso do "arco da governação" e dos seus recentes aliados.
Segunda falácia, a de que o Livre e C.ª querem governar para dar voz à esquerda. Em primeiro lugar, nem sequer é seguro que o PS recorra a eles, mas se recorrer não será certamente para viabilizar alguma das suas políticas, mas antes para legitimar à esquerda ou em certo sector da esquerda a sua própria política. Admitir antecipadamente que se concorre para fazer alianças com o PS ou fazer alianças com o PS sem questionar os fundamentos essenciais da sua política – austeridade, tratado orçamental, regras de distribuição da riqueza, defesa do interesse nacional sempre que houver contradição com as “regras de Bruxelas”, questão da dívida, legislação laboral, etc. – serve apenas e só para cohonestar a política do PS, responsável tanto como o PSD (ou até mais) pelo neoliberalismo europeu de que foi entusiástico apoiante com Guterres e com Sócrates. Votar nesses partidos é votar no CDS do PS.
Finalmente, o PS. O Partido Socialista é um partido que tem um discurso no poder e outro completamente diferente na oposição. No presente, dado o silêncio de Costa, pode até dizer-se que somente se deixa enganar quem quer ser enganado. Os grandiosos propósitos que o PS se propõe atingir não são alcançáveis – nenhum deles – por meios que dependam do próprio partido, mas todos, sem excepção, por via de políticas e procedimentos que o PS nem sequer remotamente controla, ou seja, pelas decisões do BCE sobre a moeda e o crédito (que obviamente mesmo quando nacionalmente controláveis tem limites, como toda a gente sabe), pela esperada “compreensão” do FMI para com os países do sul da Europa e (a maior das fés) por uma nova política do Conselho Europeu…que a realidade se encarregará de impor. Não há para adultos ou até mesmo talvez para crianças um conto de fadas mais fantasioso do que este.
O PS vai portanto fazer a mesma política que até agora tem sido seguida, porventura mais próxima do grande capital (que sempre se deixa seduzir pela facilidade do lucro fácil e rápido), com alguns arredondamentos e arestas menos vincadas que a ortodoxia de Passos /Albuquerque e perversidade do CDS puseram em prática numa humilhante demonstração de subserviência nacional. Quanto ao resto, o essencial, tudo ficará rigorosamente na mesma…com a diferença de ser feito, dirão os que governam, em nome da esquerda, enquanto a outra parte do PS, a que realmente gostaria de outra política mas que nunca teve a coragem de votar em quem a poderia efectivamente pôr em prática, protestará, protestará …mas nunca com a intensidade e organização suficientes para provocar uma verdadeira viragem na política nacional.
Esta esquerda do PS, este eleitorado do PS, que realmente gostaria de ver aplicada outra política mas que nunca teve a coragem de escolher quem a poderia pôr em prática, lavará regularmente a alma com declarações altissonantes, como aquelas que foram feitas durante os mandatos de Guterres e de Sócrates, refugiar-se-á, se for eleita para o Parlamento, na última fila numa ostensiva manifestação silenciosa de protesto, mas votará favoravelmente os instrumentos essenciais da política do governo, porventura com uma ou outra declaração de voto e continuará a protestar silenciosamente e através de uma oratória dispersa mas nunca sem pôr em causa a continuidade do governo.
Ou seja, o verdadeiro Partido de Protesto é o PS. É um partido que nunca porá em prática as medidas que na oposição preconizou ou que nunca atingirá os fins que prometeu e simultaneamente garante uma falange de protestantes à sua própria política numa esquizofrénica demonstração de fidelidade e contestação partidária.
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