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Não percebo é a imcompetência dos outros:
Portugueses no Afeganistão: Temos que voltar todos para casa
31.07.2006
A base aérea da NATO em Cabul é uma zona sobrelotada de militares e agentes da CIA em actividade constante. No meio dos gritos - em várias línguas - e correrias de quem participa diariamente nos exercícios e treinos de ordem unida ou recolher obrigatório, o sargento português Joaquim Condeço montou uma escola para formar controladores aéreos afegãos.
Por razões de segurança `não podia criar a escola fora` da unidade, explica ao DN aquele controlador da Força Aérea. Os interlocutores ficaram estupefactos: `Uma escola aqui? Isto é uma base militar!` O facto é que os belgas lhe `ofereceram` um dos contentores montados ao lado do edifício do aeroporto internacional de Cabul e que formam a base da NATO, onde pôde dar dois cursos.
Condeço constatou que `os outros países não queriam saber` da escola autorizada pela própria NATO para formar alguns dos futuros quadros do Afeganistão. A verdade é que `a escola fechou` desde que o destacamento português terminou a sua missão em Março, lamentou o militar - que, a pedido da Hungria, chegou a estruturar também um curso de inglês para os afegãos e os militares dos ex-países de Leste membros da NATO, que têm grandes dificuldades naquela língua.
São casos de voluntarismo e dedicação como o de Joaquim Condeço que justificam os repetidos e rasgados elogios dos chefes militares estrangeiros que têm comandado forças portuguesas desde 1996, primeiro na Bósnia, depois no Kosovo, Timor ou Afeganistão. `A realidade é que as nossas forças têm, de um modo geral, cumprido as suas missões com elevado espírito de missão e muitas vezes com meios muito inferiores aos de outras nacionalidades`, declara ao DN um oficial superior pára-quedista com larga experiência de missões no exterior.
O tenente-coronel comando Luís Moreira, um dos responsáveis pela tropa portuguesa junto da força da NATO no Afeganistão (ISAF, sigla em inglês) no segundo semestre de 2005, confirma aquela afirmação. E junta outros argumentos: `Nós cumpríamos e o comando da ISAF sabia que havia outras unidades que não o faziam.` A própria formatura também ajudava a formar a opinião externa: `Todas as quartas-feiras havia o içar da bandeira, que os outros não faziam. Dava visibilidade [ao País], mas era também um sinal de disciplina` constante - `apesar de se estar em campanha.`
O impacto da actuação lusa foi tal que a bandeira portuguesa ficou içada na base aérea da NATO em Cabul (KAIA, sigla em inglês) até meados deste mês - quando o contingente português ali destacado saiu de lá em Março, refere o coronel Luís Ruivo.
Portugal foi a nação-líder do KAIA entre Agosto e Novembro de 2005, sendo o comando exercido por Luís Ruivo. Este piloto-aviador recorda os objectivos: rever a segurança da área, abrir o aeroporto aos voos nocturnos, formar quadros locais. Como tal, proibiu a entrada na base de afegãos com telemóveis e a presença dos tradutores sempre que não estivessem a trabalhar, alargou o perímetro e mudou a posição dos postos de sentinela. `Não levei sacos para cadáveres. Tínhamos de voltar todos para casa`, relembra.
Para se ter uma ideia do grau de violência existente, Luís Moreira lembra o `período muito complicado` que se viveu entre Outubro e meados de Dezembro de 2005: a bandeira no quartel-general de Camp Wharehouse (também em Cabul) esteve sempre a meia-haste. `Os alemães queriam [deslocar-se só] com a protecção dos soldados portugueses e não dos efectivos do batalhão alemão que também lá estava estacionado`, adianta. Não por acaso, observa ainda, o general italiano Mauro Del Vecchio `escolheu a companhia portuguesa` para a cerimónia da sua despedida como comandante da ISAF.
Porquê? Fontes dos Comandos dão outro exemplo: `O guia norueguês que nos ia mostrar a nova zona de operação [onde substituíam uma unidade norueguesa] perdeu-se logo ao fim de alguns minutos. E quando, nas patrulhas apeadas, falávamos com os locais, diziam-nos que não viam viaturas militares há semanas.`
Outro caso, pouco conhecido, foi o de uma operação antidroga com forças especiais inglesas e de outros países da NATO no Afeganistão e em que participou um avião C-130 português (onde se capturaram 13 toneladas de opiáceos e cem quilo s de heroína, além de outros produtos). No regresso a Portugal, a actuação das tripulações do avião que `ia a todas` justificou uma carta de agradecimento do Comandante Supremo Aliado da NATO na Europa, general James Jones.
Quem ficou zangado foi o comandante da Força Aérea afegã - por não ter podido oferecer uma prenda de agradecimento ao major Rui Campos (foto no topo), quando soube que este estava a quatro dias de regressar a Portugal. É que o meteorologista se prestara a explicar-lhe os símbolos das cartas com que se fazem os planos de voo logo no primeiro briefing - `Ele só perguntava como é que estava o tempo!`
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