Vítima de maus-tratos absolvida de homicídio
josé mota Maria Clementina (à esq.) foi aclamada por amigos, após a absolição
Nuno Miguel Maia
Maria Clementina, 63 anos, tinha morto à machadada o marido que a maltratava há 40 anos. Acusada pelo Ministério Público por crime de homicídio privilegiado, cometido sob emoção violenta, conseguiu sensibilizar os juízes do Tribunal de S. João Novo, no Porto, para o martírio provocado pelo homem durante décadas à família. Ontem, acabou absolvida. A sua actuação foi considerada como legítima defesa.
Perto de 30 pessoas não hesitaram em bater palmas em plena sala de audiências quando da boca do juiz João Amaral saiu a palavra "absolvida". Muitos amigos choraram e Clementina não escondeu a emoção. Vinha vestida de preto, num luto não explicado.
"O meu caso pode servir de exemplo", concordou a arguida, já ao lado das filhas, também elas vítimas de maus-tratos por parte do pai. "De nada adiantaria apresentar queixa. Seria pior a emenda do que o soneto", argumentou uma filha, dando voz a um cenário de espancamentos, torturas, maus-tratos, insultos e ameaças.
"Foi feita justiça. Aquilo era um inferno, vivi lá 27 anos, levei muita porrada. Sei o que aquilo era", completou um sobrinho. Ao JN, Luís Vaz Teixeira, advogado de defesa, considerou a decisão "perfeita".
Sintomas de sequestro
O julgamento foi um desfiar da intimidade violenta no seio de uma família residente em Campanhã, Porto. O próprio juiz-presidente deu como assente que de nada adiantaria apresentar queixa, face ao quadro de vida de 40 anos. Clementina, segundo uma perícia psicológica, apresentava, até, sintomas de quem estava "sob sequestro".
A cena fatal começou na noite de 13 de Setembro. Januário disse que iria dormir a outro apartamento de que era proprietário e deixou a mulher com as filhas e sobrinhas. Só que, pelas duas da madrugada, o homem decidiu regressar a casa. Tocou à campainha e acordou a família. Clementina abriu-lhe a porta e levou de imediato dois pontapés nas canelas, ao mesmo tempo que era insultada por não lhe ter levado leite para tomar comprimidos.
Aos berros, o marido mandou a esposa acordar as duas filhas para irem com ele a local incerto. A mãe foi então acordar as filhas, pedindo-lhes para se vestirem. Enquanto isso, Januário foi até ao quarto buscar a pistola e uma foice-machada, com lâmina de 85 centímetros, com que voltou a ameaçar agredir a mulher e as filhas. Já no hall da entrada da casa, começou a agredir mesmo, pontapeando a mulher e as filhas. No meio da confusão e desespero, Clementina ainda conseguiu ir buscar um machado de cozinha. Quando regressou ao "hall", vendo que ela e a filha continuariam a ser agredidas, empurrou o marido, que caiu empunhando ainda a sua arma. De seguida, a mulher desferiu-lhe várias pancadas na cabeça. Inanimado em sequência dos golpes, o agressor acabou por morrer cinco dias depois.
in: jn
josé mota Maria Clementina (à esq.) foi aclamada por amigos, após a absolição
Nuno Miguel Maia
Maria Clementina, 63 anos, tinha morto à machadada o marido que a maltratava há 40 anos. Acusada pelo Ministério Público por crime de homicídio privilegiado, cometido sob emoção violenta, conseguiu sensibilizar os juízes do Tribunal de S. João Novo, no Porto, para o martírio provocado pelo homem durante décadas à família. Ontem, acabou absolvida. A sua actuação foi considerada como legítima defesa.
Perto de 30 pessoas não hesitaram em bater palmas em plena sala de audiências quando da boca do juiz João Amaral saiu a palavra "absolvida". Muitos amigos choraram e Clementina não escondeu a emoção. Vinha vestida de preto, num luto não explicado.
"O meu caso pode servir de exemplo", concordou a arguida, já ao lado das filhas, também elas vítimas de maus-tratos por parte do pai. "De nada adiantaria apresentar queixa. Seria pior a emenda do que o soneto", argumentou uma filha, dando voz a um cenário de espancamentos, torturas, maus-tratos, insultos e ameaças.
"Foi feita justiça. Aquilo era um inferno, vivi lá 27 anos, levei muita porrada. Sei o que aquilo era", completou um sobrinho. Ao JN, Luís Vaz Teixeira, advogado de defesa, considerou a decisão "perfeita".
Sintomas de sequestro
O julgamento foi um desfiar da intimidade violenta no seio de uma família residente em Campanhã, Porto. O próprio juiz-presidente deu como assente que de nada adiantaria apresentar queixa, face ao quadro de vida de 40 anos. Clementina, segundo uma perícia psicológica, apresentava, até, sintomas de quem estava "sob sequestro".
A cena fatal começou na noite de 13 de Setembro. Januário disse que iria dormir a outro apartamento de que era proprietário e deixou a mulher com as filhas e sobrinhas. Só que, pelas duas da madrugada, o homem decidiu regressar a casa. Tocou à campainha e acordou a família. Clementina abriu-lhe a porta e levou de imediato dois pontapés nas canelas, ao mesmo tempo que era insultada por não lhe ter levado leite para tomar comprimidos.
Aos berros, o marido mandou a esposa acordar as duas filhas para irem com ele a local incerto. A mãe foi então acordar as filhas, pedindo-lhes para se vestirem. Enquanto isso, Januário foi até ao quarto buscar a pistola e uma foice-machada, com lâmina de 85 centímetros, com que voltou a ameaçar agredir a mulher e as filhas. Já no hall da entrada da casa, começou a agredir mesmo, pontapeando a mulher e as filhas. No meio da confusão e desespero, Clementina ainda conseguiu ir buscar um machado de cozinha. Quando regressou ao "hall", vendo que ela e a filha continuariam a ser agredidas, empurrou o marido, que caiu empunhando ainda a sua arma. De seguida, a mulher desferiu-lhe várias pancadas na cabeça. Inanimado em sequência dos golpes, o agressor acabou por morrer cinco dias depois.
in: jn
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