Fim da “Lei Volkswagen” favorece Autoeuropa
A entrada da Porsche no capital da congénere alemã protege a Volkswagen de possíveis ofensivas das ‘private equity’.
Catarina Beato e Cristina Krippahl na Alemanha
Construir carros de luxo da marca Porsche ou pequenos ligeiros como o Volkswagen Polo. As duas hipóteses são possíveis no actual contexto da Autoeuropa, com o fim da “Lei Volkswagen” e os recentes investimentos na flexibilização da linha de produção portuguesa.
Certezas sobre o futuro só no final do ano quando forem apresentados os novos modelos da Volkswagen e respectivos planos de produção da marca cujo presidente, Ferdinand Piëch, é neto do fundador da Porsche.
Com o fim da “Lei Volkswagen”, a Porsche já pode reforçar na congénere alemã. Os analistas acreditam que a Porsche, que tem hoje 31% da Volkswagen, irá reforçar a sua posição. A marca de luxo já abriu uma linha de crédito de 10 mil milhões de euros para a obtenção de novas acções, que lhe poderão conferir a maioria no consórcio.
As mudanças na Volkswagen acontecem numa altura em que a fábrica portuguesa adapta a sua linha de montagem a modelos mais ligeiros. Na despedida da direcção da fábrica de Palmela, Emilio Sáenz deixou a intenção: “Quero desenvolver sinergias entre a Volkswagen de Pamplona e a Autoeuropa”. Com a nova linha de montagem, a fábrica de Palmela já pode ajudar Espanha a produzir o Volkswagen Polo.
Fim do proteccionismo alemão
Mas têm sido os produtos de nicho de mercado – como o Volkswagen Eos e o futuro desportivo Scirocco – o principal sucesso da Autoeuropa. Devido aos custos de transporte a que a localização portuguesa obriga, compensa produzir carros mais caros e complexos. Como os luxuosos modelos da Porsche.
O governo alemão sempre defendeu a “Lei Volkswagen” sobretudo por temer uma aquisição do consórcio por investidores estrangeiros. Na Alemanha existem 100 mil empregos directos que dependem da Volkswagen, o que confere à questão uma dimensão política.
Ontem, o ministro presidente de Hanôver, Christian Wulf, anunciou que o estado manterá um controle de capital na ordem dos 21% e mostrou-se confiante em poder impedir uma aquisição externa com a ajuda da Porsche.
O governo alemão anunciou que vai alterar a chamada “Lei Volkswagen” o mais depressa possível, para acatar com a sentença pronunciada ontem pelo Tribunal Europeu.
Por seu lado, a Volkswagen anunciou que tratará agora de “estudar em pormenor” as consequências da sentença para o consórcio. Um comunicado salienta que o consórcio “tem sempre em conta os interesses de todos os accionistas, empregados e clientes, considerando as participações da Baixa Saxónia e da Porsche “uma base sólida para a continuação de um trabalho de sucesso”.
Quando David engoliu Golias
Para a Porsche a sentença de ontem é um passo importante no caminho de uma aquisição maioritária da Volkswagen. Porém, o reforço das sua acções na VW já custou à construtora automóvel cinco mil milhões de euros. Para obter 50% nas condições actuais terá que investir uma soma bastante superior, pelo que muitos analistas não acreditam que a Porsche actuará precipitadamente. Mas o presidente do conselho fiscal da VW, Ferdinand Piëch, membro do clã Porsche-Piëch e co-proprietário da Porsche, está apostado numa fusão. Por isso circulam rumores sobre uma reestruturação de raiz de todo o consórcio. Assim, por exemplo, a Audi poderia ser colocada directamente sob a égide da nova Porsche Holding. O mesmo se passa com a Seat espanhola, só que esta é considerada internamente um “problema”. Na opinião dos analistas, a sua transferência para a Porsche Holding facilitaria, em última análise, a alienação desta fábrica. Para já, há que aguardar a decisão do tribunal da Comarca de Lusdwigsburg, sobre a legalidade de uma queixa interposta pela Comissão de Trabalhadores de Volkswagen contra a constituição da Porsche Holding como sociedade europeia de acções. A comissão receia uma perda de poder em semelhante constelação. Mas as hipóteses de sucesso desta queixa são consideradas escassas. E a Porsche poderá somar brevemente mais um triunfo àquele que celebrou ontem.
O que é a “Lei Volkswagen”?
A “Lei Volkswagen” data de 1960 e conferia ao estado federado da Baixa Saxónia uma posição forte e intocável dentro do maior construtor europeu de automóveis, ao impedir que os accionistas obtivessem mais de 20% dos direitos de voto, independentemente do total de acções
A entrada da Porsche no capital da congénere alemã protege a Volkswagen de possíveis ofensivas das ‘private equity’.
Catarina Beato e Cristina Krippahl na Alemanha
Construir carros de luxo da marca Porsche ou pequenos ligeiros como o Volkswagen Polo. As duas hipóteses são possíveis no actual contexto da Autoeuropa, com o fim da “Lei Volkswagen” e os recentes investimentos na flexibilização da linha de produção portuguesa.
Certezas sobre o futuro só no final do ano quando forem apresentados os novos modelos da Volkswagen e respectivos planos de produção da marca cujo presidente, Ferdinand Piëch, é neto do fundador da Porsche.
Com o fim da “Lei Volkswagen”, a Porsche já pode reforçar na congénere alemã. Os analistas acreditam que a Porsche, que tem hoje 31% da Volkswagen, irá reforçar a sua posição. A marca de luxo já abriu uma linha de crédito de 10 mil milhões de euros para a obtenção de novas acções, que lhe poderão conferir a maioria no consórcio.
As mudanças na Volkswagen acontecem numa altura em que a fábrica portuguesa adapta a sua linha de montagem a modelos mais ligeiros. Na despedida da direcção da fábrica de Palmela, Emilio Sáenz deixou a intenção: “Quero desenvolver sinergias entre a Volkswagen de Pamplona e a Autoeuropa”. Com a nova linha de montagem, a fábrica de Palmela já pode ajudar Espanha a produzir o Volkswagen Polo.
Fim do proteccionismo alemão
Mas têm sido os produtos de nicho de mercado – como o Volkswagen Eos e o futuro desportivo Scirocco – o principal sucesso da Autoeuropa. Devido aos custos de transporte a que a localização portuguesa obriga, compensa produzir carros mais caros e complexos. Como os luxuosos modelos da Porsche.
O governo alemão sempre defendeu a “Lei Volkswagen” sobretudo por temer uma aquisição do consórcio por investidores estrangeiros. Na Alemanha existem 100 mil empregos directos que dependem da Volkswagen, o que confere à questão uma dimensão política.
Ontem, o ministro presidente de Hanôver, Christian Wulf, anunciou que o estado manterá um controle de capital na ordem dos 21% e mostrou-se confiante em poder impedir uma aquisição externa com a ajuda da Porsche.
O governo alemão anunciou que vai alterar a chamada “Lei Volkswagen” o mais depressa possível, para acatar com a sentença pronunciada ontem pelo Tribunal Europeu.
Por seu lado, a Volkswagen anunciou que tratará agora de “estudar em pormenor” as consequências da sentença para o consórcio. Um comunicado salienta que o consórcio “tem sempre em conta os interesses de todos os accionistas, empregados e clientes, considerando as participações da Baixa Saxónia e da Porsche “uma base sólida para a continuação de um trabalho de sucesso”.
Quando David engoliu Golias
Para a Porsche a sentença de ontem é um passo importante no caminho de uma aquisição maioritária da Volkswagen. Porém, o reforço das sua acções na VW já custou à construtora automóvel cinco mil milhões de euros. Para obter 50% nas condições actuais terá que investir uma soma bastante superior, pelo que muitos analistas não acreditam que a Porsche actuará precipitadamente. Mas o presidente do conselho fiscal da VW, Ferdinand Piëch, membro do clã Porsche-Piëch e co-proprietário da Porsche, está apostado numa fusão. Por isso circulam rumores sobre uma reestruturação de raiz de todo o consórcio. Assim, por exemplo, a Audi poderia ser colocada directamente sob a égide da nova Porsche Holding. O mesmo se passa com a Seat espanhola, só que esta é considerada internamente um “problema”. Na opinião dos analistas, a sua transferência para a Porsche Holding facilitaria, em última análise, a alienação desta fábrica. Para já, há que aguardar a decisão do tribunal da Comarca de Lusdwigsburg, sobre a legalidade de uma queixa interposta pela Comissão de Trabalhadores de Volkswagen contra a constituição da Porsche Holding como sociedade europeia de acções. A comissão receia uma perda de poder em semelhante constelação. Mas as hipóteses de sucesso desta queixa são consideradas escassas. E a Porsche poderá somar brevemente mais um triunfo àquele que celebrou ontem.
O que é a “Lei Volkswagen”?
A “Lei Volkswagen” data de 1960 e conferia ao estado federado da Baixa Saxónia uma posição forte e intocável dentro do maior construtor europeu de automóveis, ao impedir que os accionistas obtivessem mais de 20% dos direitos de voto, independentemente do total de acções
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