Como os prévios tópicos estão encerrados, abro um novo com o alerta sobre os novos aumentos para 2008.
Diário de referência
Diário de referência
Preços aceleram na alimentação
Pão sobe como petróleo
Os preços do pão tiveram aumentos acentuados nos últimos anos, sendo depois dos combustíveis e do leite o produto com maior inflação. Após os 6,4% contabilizados no final de Novembro, a carcaça sofreu já este mês novas actualizações em algumas zonas do País, e a escalada de preços vai continuar em 2008, por força do agravamento dos custos de produção.
Os industriais de panificação responsabilizam a pressão exercida pelos aumentos das farinhas, do gasóleo, do gás e da electricidade, para além das despesas com novas imposições técnicas de laboração.
“Todos reconhecemos que o pão é um bem essencial e que tem de haver contenção dos preços neste sector, mas não conseguimos aguentar. Temos as margens completamente esma- gadas e em alguns casos já não dá para o trabalho. Na panificação, já não são apenas as pequenas empresas a fechar, também há grandes firmas a falir”, avisa Luís Borges, sócio-gerente da Panibral, uma empresa de distribuição do Minho, onde o preço do pão de 50 gramas subiu este mês para 12 cêntimos.
“Mesmo assim é escasso, porque os custos de produção, nesta altura, impunham já os 13 cêntimos”, avisa Luís Borges, secundado por Sara Carvalho, de Famalicão, numa zona onde se perspectiva um aumento do preço em 2008.
Num sector onde impera a liberação de preços – sendo que Lisboa continua como a zona onde se praticam os preços mais altos, com a carcaça a chegar aos 15 cêntimos –, o ministro da Agricultura já reconheceu que os aumentos do pão podem chegar aos 10%, muito por culpa da utilização de cereais para a produção de biodiesel e que está a deixar os distribuidores de farinha e as padarias à beira da ruptura. Desde o início do ano, os preços das farinhas aumentaram à volta de 90%.
Para agravar o cenário, o gasóleo não pára de subir e as padarias são obrigadas a obras para se adaptarem às novas imposições europeias relativas a higiene, segurança e qualidade no trabalho.
“O problema é que só há vistorias e fiscalizações a alguns, enquanto outros trabalham na base de empresas familiares, sem condições, sem horários, sem descontos”, protesta Luís Borges, reclamando a intervenção do Estado para regular a concorrência e harmonizar os preços com os custos de produção, por forma a conseguirem-se preços mais baixos, um bem essencial para o consumidor.
PROCURA INTERNACIONAL PROVOCA GRANDE AUMENTO NAS FARINHAS
Não são apenas os industriais portugueses de panificação que se queixam dos aumentos dos preços da farinha que alguns chegam a apontar como de 90% ao longo de 2007. O problema é vasto e especialmente grave na União Europeia que segundo alguns observadores foi surpreendida com o grande aumento de procura mundial, num momento de reservas em baixo. Quanto às explicações, dividem-se por três ordens de razões: o disparo na procura de produtos alimentares; os problemas climáticos com secas a afectarem no último ano alguns dos maiores exportadores, como a Austrália, Argentina e Ucrânia; e os biocombustíveis cujo efeito nos preços dos cereais se revela muito maior do que a sua real utilização que na UE não ultrapassa, por enquanto, 2% da produção.
Ao olhar para o que aconteceu depois de se fazerem contas às colheitas do Verão, há quem diga que a culpa de tudo é do Canadá que vendeu antecipadamente a sua produção agrícola à China. O país mais populoso do Mundo e o segundo maior, a Índia, estão na base da cavalgada dos preços dos cereais e de outros bens alimentares. Têm uma agricultura ainda incipiente para alimentarem as suas centenas de milhões de habitantes.
No pão, a pressão da procura foi agravada como se referiu pelas perturbações climáticas. Mas já se sabe que a alimentação voltará em 2008 a ser um mercado em enorme expansão. Anuncia-se, por exemplo que os EUA vão bater todos os seus recordes de exportação de produtos agrícolas, com vendas na ordem dos 58,5 mil milhões de euros, correspondentes a uma subida de 5% em relação a 2007.
A nível da União Europeia, onde se integra a economia portuguesa, ninguém escapa à carestia dos bens alimentares. A França, habitualmente considerada como excedentária em produtos agrícolas alimentares, o pão subiu nos últimos meses na ordem dos 8%, com os industriais a referir que o preço do trigo quase duplicou num ano de 130 para 237 euros.
Todos os factores de produção pressionam a subida do preço. Na revista ‘L’Express’, um estudo sobre a decomposição do custo aponta o pagamento do trabalho com uma quota de 48% na formação do custo, enquanto a matéria-prima – farinha – só pesa 22%. A energia conta 5%. O aumento do preço no consumidor vai além das expectativas racionais. A procura agita preço de um alimento que segundo a OMS se consome acima do desejável para uma dieta equilibrada.
PREÇOS PRESSIONADOS PELO AGRAVAMENTO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO
FARINHAS
A produção de cereais decaiu nos últimos anos por força das más condições climatéricas e a utilização destes produtos para combustível veio complicar ainda mais a situação dos preços das farinhas. Em Portugal, o problema agrava-se, já que se trata de um País extremamente deficitário.
GÁS EM VEZ DE LENHA
Por razões de higiene, muitas padarias tiveram de abandonar os fornos a lenha (teriam de criar novas condições de armazenamento) e optaram por gás ou electricidade. Devido aos aumentos, a troca da lenha pelo gás chega a agravar os custos de produção em três mil euros por mês.
GASÓLEO
Os custos com a distribuição de pão (para casas particulares, instituições e postos de revenda) tornaram-se numa dor de cabeça para a panificação. Os fortes aumentos do gasóleo mostram-se irreversíveis, num sector onde é normal uma carrinha percorrer mais de cem mil km por ano.
O QUE DIZEM...
- Empresários queixam-se da disparidade de condições de trabalho nas empresas
"CONCORRÊNCIA DESLEAL" Sara Carvalho, proprietária de padaria
Os preços só não têm subido mais porque há muita concorrência desleal e temos feito das tripas coração para travar os preços. Mas está complicado, por causa dos preços de farinhas e gasóleo.
"TRABALHO 13 E 15 H/ DIA" Manuel Arantes, proprietário de Pão Quente
Agora, até as sacas vão sair caras. O que não compreendo é tantos aumentos no gás, na electricidade e na água. Trabalho às 13 e 15 horas por dia e sem folgas. Mas tem de ser assim para vender a preços concorrenciais.
"DIFICIL PARA GRANDES" João F. Pinto, gerente de padaria e pastelaria
No sector da panificação e pastelaria está a ser mais difícil às grandes empresas sobreviverem. As obrigações legais são imensas e sai caro assegurar todas as condições técnicas exigidas pela higiene e segurança.
"VALORIZAR QUALIDADE" António Faria, sócio de padaria e pastelaria
Muitas vezes, o consumidor só quer saber do preço que paga. Mas acho que as pessoas deviam valorizar mais a qualidade e as condições de fabricação do pão, sobretudo ao nível da higiene. O resultado seria uma concorrência mais verdadeira.
NÚMEROS & CURIOSIDADES
- 10 000 anos é o tempo a que se julga remontar o pão feito com farinha e água. Pensa-se que surgiu na Mesopotâmia, berço da História.
- 50 quilos por ano e pessoa é o que a Organização Mundial de Saúde sugere para o consumo de pão, mas a média actual chega aos 100 kg em Marrocos.
PAGOS EM PÃO
Há 6 000 anos, no antigo Egipto, o pão era utilizado como forma de pagamento do trabalho. O uso como moeda manteve-se até há pouco.
PREÇO FIXO
A ideia da ditadura de Salazar em manter fixo o preço do pão não era mania única. A França também o preço do pão foi regulamentado até 1978.
PÃO (250 GRAMAS)
FARINHA DE TRIGO (187 GR) + ÁGUA + LEVEDURA - 0,10 euros
TRABALHO DE AMASSAR E PREPARAR PARA COZER - 0,15 euros
COZEDURA NO FORNO - 0,10 euros
TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO - 0,10 euros
COMERCIALIZAÇÃO - 0,15 euros
Preço médio de venda ao público - 0,60 euros / 1,00 euros
NOTAS
PÃO SOBE O DOBRO DOS BOLOS
A variação de preços em Portugal foi 6,5% na pa-daria e 2,8 na pastelaria.
MAIOR SUBIDA VEIO DEPOIS DE COLHEITAS
Mais de metade da subida no pão e cereais registou-se nos últimos três meses, após contas feitas às colheitas. A quebra na produção, devido à seca, em países exportadores como a Austrália, Ucrânia e Argentina, lançou o pânico.
INVESTIMENTO PARA CUMPRIR HACCP
As empresas de panificação foram obrigadas a investimentos avultados no âmbito das regras de HACCP, para auto-controlo dos pontos críticos de higiene, segurança e qualidade.
Mário Fernandes / J.V.
Pão sobe como petróleo
Os preços do pão tiveram aumentos acentuados nos últimos anos, sendo depois dos combustíveis e do leite o produto com maior inflação. Após os 6,4% contabilizados no final de Novembro, a carcaça sofreu já este mês novas actualizações em algumas zonas do País, e a escalada de preços vai continuar em 2008, por força do agravamento dos custos de produção.
Os industriais de panificação responsabilizam a pressão exercida pelos aumentos das farinhas, do gasóleo, do gás e da electricidade, para além das despesas com novas imposições técnicas de laboração.
“Todos reconhecemos que o pão é um bem essencial e que tem de haver contenção dos preços neste sector, mas não conseguimos aguentar. Temos as margens completamente esma- gadas e em alguns casos já não dá para o trabalho. Na panificação, já não são apenas as pequenas empresas a fechar, também há grandes firmas a falir”, avisa Luís Borges, sócio-gerente da Panibral, uma empresa de distribuição do Minho, onde o preço do pão de 50 gramas subiu este mês para 12 cêntimos.
“Mesmo assim é escasso, porque os custos de produção, nesta altura, impunham já os 13 cêntimos”, avisa Luís Borges, secundado por Sara Carvalho, de Famalicão, numa zona onde se perspectiva um aumento do preço em 2008.
Num sector onde impera a liberação de preços – sendo que Lisboa continua como a zona onde se praticam os preços mais altos, com a carcaça a chegar aos 15 cêntimos –, o ministro da Agricultura já reconheceu que os aumentos do pão podem chegar aos 10%, muito por culpa da utilização de cereais para a produção de biodiesel e que está a deixar os distribuidores de farinha e as padarias à beira da ruptura. Desde o início do ano, os preços das farinhas aumentaram à volta de 90%.
Para agravar o cenário, o gasóleo não pára de subir e as padarias são obrigadas a obras para se adaptarem às novas imposições europeias relativas a higiene, segurança e qualidade no trabalho.
“O problema é que só há vistorias e fiscalizações a alguns, enquanto outros trabalham na base de empresas familiares, sem condições, sem horários, sem descontos”, protesta Luís Borges, reclamando a intervenção do Estado para regular a concorrência e harmonizar os preços com os custos de produção, por forma a conseguirem-se preços mais baixos, um bem essencial para o consumidor.
PROCURA INTERNACIONAL PROVOCA GRANDE AUMENTO NAS FARINHAS
Não são apenas os industriais portugueses de panificação que se queixam dos aumentos dos preços da farinha que alguns chegam a apontar como de 90% ao longo de 2007. O problema é vasto e especialmente grave na União Europeia que segundo alguns observadores foi surpreendida com o grande aumento de procura mundial, num momento de reservas em baixo. Quanto às explicações, dividem-se por três ordens de razões: o disparo na procura de produtos alimentares; os problemas climáticos com secas a afectarem no último ano alguns dos maiores exportadores, como a Austrália, Argentina e Ucrânia; e os biocombustíveis cujo efeito nos preços dos cereais se revela muito maior do que a sua real utilização que na UE não ultrapassa, por enquanto, 2% da produção.
Ao olhar para o que aconteceu depois de se fazerem contas às colheitas do Verão, há quem diga que a culpa de tudo é do Canadá que vendeu antecipadamente a sua produção agrícola à China. O país mais populoso do Mundo e o segundo maior, a Índia, estão na base da cavalgada dos preços dos cereais e de outros bens alimentares. Têm uma agricultura ainda incipiente para alimentarem as suas centenas de milhões de habitantes.
No pão, a pressão da procura foi agravada como se referiu pelas perturbações climáticas. Mas já se sabe que a alimentação voltará em 2008 a ser um mercado em enorme expansão. Anuncia-se, por exemplo que os EUA vão bater todos os seus recordes de exportação de produtos agrícolas, com vendas na ordem dos 58,5 mil milhões de euros, correspondentes a uma subida de 5% em relação a 2007.
A nível da União Europeia, onde se integra a economia portuguesa, ninguém escapa à carestia dos bens alimentares. A França, habitualmente considerada como excedentária em produtos agrícolas alimentares, o pão subiu nos últimos meses na ordem dos 8%, com os industriais a referir que o preço do trigo quase duplicou num ano de 130 para 237 euros.
Todos os factores de produção pressionam a subida do preço. Na revista ‘L’Express’, um estudo sobre a decomposição do custo aponta o pagamento do trabalho com uma quota de 48% na formação do custo, enquanto a matéria-prima – farinha – só pesa 22%. A energia conta 5%. O aumento do preço no consumidor vai além das expectativas racionais. A procura agita preço de um alimento que segundo a OMS se consome acima do desejável para uma dieta equilibrada.
PREÇOS PRESSIONADOS PELO AGRAVAMENTO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO
FARINHAS
A produção de cereais decaiu nos últimos anos por força das más condições climatéricas e a utilização destes produtos para combustível veio complicar ainda mais a situação dos preços das farinhas. Em Portugal, o problema agrava-se, já que se trata de um País extremamente deficitário.
GÁS EM VEZ DE LENHA
Por razões de higiene, muitas padarias tiveram de abandonar os fornos a lenha (teriam de criar novas condições de armazenamento) e optaram por gás ou electricidade. Devido aos aumentos, a troca da lenha pelo gás chega a agravar os custos de produção em três mil euros por mês.
GASÓLEO
Os custos com a distribuição de pão (para casas particulares, instituições e postos de revenda) tornaram-se numa dor de cabeça para a panificação. Os fortes aumentos do gasóleo mostram-se irreversíveis, num sector onde é normal uma carrinha percorrer mais de cem mil km por ano.
O QUE DIZEM...
- Empresários queixam-se da disparidade de condições de trabalho nas empresas
"CONCORRÊNCIA DESLEAL" Sara Carvalho, proprietária de padaria
Os preços só não têm subido mais porque há muita concorrência desleal e temos feito das tripas coração para travar os preços. Mas está complicado, por causa dos preços de farinhas e gasóleo.
"TRABALHO 13 E 15 H/ DIA" Manuel Arantes, proprietário de Pão Quente
Agora, até as sacas vão sair caras. O que não compreendo é tantos aumentos no gás, na electricidade e na água. Trabalho às 13 e 15 horas por dia e sem folgas. Mas tem de ser assim para vender a preços concorrenciais.
"DIFICIL PARA GRANDES" João F. Pinto, gerente de padaria e pastelaria
No sector da panificação e pastelaria está a ser mais difícil às grandes empresas sobreviverem. As obrigações legais são imensas e sai caro assegurar todas as condições técnicas exigidas pela higiene e segurança.
"VALORIZAR QUALIDADE" António Faria, sócio de padaria e pastelaria
Muitas vezes, o consumidor só quer saber do preço que paga. Mas acho que as pessoas deviam valorizar mais a qualidade e as condições de fabricação do pão, sobretudo ao nível da higiene. O resultado seria uma concorrência mais verdadeira.
NÚMEROS & CURIOSIDADES
- 10 000 anos é o tempo a que se julga remontar o pão feito com farinha e água. Pensa-se que surgiu na Mesopotâmia, berço da História.
- 50 quilos por ano e pessoa é o que a Organização Mundial de Saúde sugere para o consumo de pão, mas a média actual chega aos 100 kg em Marrocos.
PAGOS EM PÃO
Há 6 000 anos, no antigo Egipto, o pão era utilizado como forma de pagamento do trabalho. O uso como moeda manteve-se até há pouco.
PREÇO FIXO
A ideia da ditadura de Salazar em manter fixo o preço do pão não era mania única. A França também o preço do pão foi regulamentado até 1978.
PÃO (250 GRAMAS)
FARINHA DE TRIGO (187 GR) + ÁGUA + LEVEDURA - 0,10 euros
TRABALHO DE AMASSAR E PREPARAR PARA COZER - 0,15 euros
COZEDURA NO FORNO - 0,10 euros
TRANSPORTE E DISTRIBUIÇÃO - 0,10 euros
COMERCIALIZAÇÃO - 0,15 euros
Preço médio de venda ao público - 0,60 euros / 1,00 euros
NOTAS
PÃO SOBE O DOBRO DOS BOLOS
A variação de preços em Portugal foi 6,5% na pa-daria e 2,8 na pastelaria.
MAIOR SUBIDA VEIO DEPOIS DE COLHEITAS
Mais de metade da subida no pão e cereais registou-se nos últimos três meses, após contas feitas às colheitas. A quebra na produção, devido à seca, em países exportadores como a Austrália, Ucrânia e Argentina, lançou o pânico.
INVESTIMENTO PARA CUMPRIR HACCP
As empresas de panificação foram obrigadas a investimentos avultados no âmbito das regras de HACCP, para auto-controlo dos pontos críticos de higiene, segurança e qualidade.
Mário Fernandes / J.V.
Preços aceleram na alimentação
Leite sobe 12% só num ano
A escassez de explorações leiteiras e o aumento do preço das rações está a obrigar a indústria a comprar mais caro ao produtor e a fazer reflectir os custos no consumidor.
Os lacticínios encontram-se entre os produtos de primeira necessidade que maior aumento de preços sentiram nos últimos meses. Uma tendência que, de acordo com vários agentes do sector, será para se manter, até porque os factores que originaram a subida continuam a verificar-se.
O custo de um pacote de leite cresceu, em média, 12 por cento, a manteiga 11 e o queijo 5. Mas não foram só os preços ao consumidor a registar aumentos, isto porque, ao cabo de quase 15 anos sem grandes mexidas, também o valor pago na produção – uma média de 45 cêntimos – subiu 35 por cento, ou seja, mais 12 cêntimos por litro.
“A indústria tem grandes responsabilidades nesta matéria. Procurou sempre ser competitiva à custa da produção e só quando viu as reservas a escassear é que aceitou aumentar o preço”, salienta José Oliveira, presidente da Associação dos Produtores de Leite (Leicar).
Só na campanha de 2005/2006 a associação registou o abandono de 1620 produtores de leite e estima que outros tantos – principalmente nas regiões de Entre Douro e Minho e Beira Litoral – venham a seguir o mesmo caminho até Março de 2008. “Este sector está envelhecido, as exigências de licenciamento são enormes e não existe apoios eficazes porque a política europeia não o considera estratégico”, reflecte José Oliveira.
“Existem várias causas genéricas e que afectam de igual modo toda a produção mundial – o aumento dos custos com a alimentação dos animais e um acréscimo no consumo – mas, em Portugal, ocorrem outras bem específicas, como a indefinição nos licenciamentos, o que tem mantido os produtores retraídos desde 2006”, refere Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional da União de Cooperativas de Leite e Lacticínios (Fenalac).
No saldo da campanha anterior, Portugal ficou cinco por cento abaixo da quota estipulada (menos 70 milhões de litros) e, apesar de não existir números finais, a Fenalac (que representa 75 por cento do mercado) aponta para uma nova descida na ordem dos 8 ou 10 por cento.
As perspectivas de futuro para os produtores não são as melhores. “A não aposta no leite levou muitos a virarem-se para os novilhos de carne (com melhor cotação). Se agora houver um volte-face serão precisos pelo menos dois anos – tempo de criar uma novilha de leite – para repor o efectivo”, salienta José Oliveira.
PEQUENAS EXPLORAÇÕES FAMILIARES DESAPARECEM DA PAISAGEM
Longe vão os tempos em que a paisagem do Minho à Beira Litoral era salpicada de verde e vacas leiteiras com grandes pintas pretas. Nesses tempos áureos da produção leiteira eram muitas as famílias que viviam da agricultura e aconchegavam o rendimento mensal com a entrega do leite produzido por uma ou duas vacas nos postos do leite – que proliferavam nas aldeias para responder às explorações familiares.
As exigências do mercado – impulsionado pela comercialização de leite ultrapasteurizado ou UHT e de uma variada gama de lacticínios – levaram os produtores a intensificar a produção, surgindo ordenhas colectivas e explorações intensivas. A crise que se instalou nos últimos anos deixou apenas de pé os produtores que podem ser rotulados de ‘competitivos’.
Sobre tudo isto fala com alguma melancolia António Matos, 63 anos, produtor de Válega, Ovar, que em três décadas de actividade ajudou a criar uma ordenha colectiva e que nos últimos 18 anos explora uma instalação própria, com 78 animais, dos quais 48 produzem diariamente 1100 litros de leite.
A sua exploração está já licenciada, o que foge à regra das cerca de 9 mil unidades no Continente, em que 95 por cento ainda não procedeu ao licenciamento.
“Preocupo-me acima de tudo com a qualidade, porque é a única forma de conseguir um melhor preço pelo leite. Quanto melhor for a alimentação e o bem-estar dos animais, melhor é a produção”, conta.
Dia sim, dia não, o camião da cooperativa Proleite, que faz a recolha, testa a qualidade procurando os teores de gordura, proteína – “quanto mais alta melhor”– e os índices microbianos e celulares, que “têm de estar abaixo dos limites”.
António Matos confessa-se um homem com sorte, porque tem os dois filhos – de 38 e 24 anos – para o suceder. “A maior parte dos produtores desiste porque não se vai pôr a fazer investimentos sem ter a quem deixar o negócio”, revela.
Nos últimos anos, este produtor afirma que “viu muita gente a desistir” e lembra uma frase sábia de um amigo, que escolheu para o seu próprio lema de vida: “Ser agricultor em Portugal é uma forma de ir empobrecendo alegremente”. O aumento das rações não pára de reduzir as margens de ganho.
O QUE DIZEM...
- Produzir mais e melhor pode baixar preços e aumentar a qualidade
"APOSTO NA QUALIDADE" António Matos, Produtor
“A partir de uma certa idade – já tenho 63 anos – não permitem aumentar a quota, por isso, não posso pensar em quantidades, pelo que aposto na qualidade. O meu leite segue todo para o fabrico de iogurtes”.
"O SECTOR TEM FUTURO" Cláudia Matos, Jovem empresária
“Gostaria de aumentar a produção da exploração porque acredito que o sector tem futuro. Os investimentos têm de ser bem pensados para que o negócio seja mais competitivo e rentável, apostando na qualidade”.
"PRECISAMOS DE REFLECTIR" Albino Silva, Ass. Lavoura Distrito de Aveiro
“Ainda temos condições para produzir mais e melhor. Precisamos de reflectir sobre as políticas agrícolas e pensar se não ganharíamos todos mais de apoiar a pequena e média agricultura familiar”.
"GASTO 4 LITROS POR DIA" Susana Fidalgo, Consumidora
“Tenho uma família numerosa, com seis crianças, por isso, gasto quatro litros de leite por dia e mais de 20 iogurtes por semana. Antes comprava pelo mais barato, agora até esses aumentaram muito de preço”.
DERIVADOS DO LEITE
IOGURTE
O seu consumo generalizou-se em toda a Europa e em Portugal cresce cerca de 15 por cento ao ano. Para além das suas propriedades nutricionais possui uma bactéria láctea (Lactobacillus) que actua sobre a flora intestinal impedindo a proliferação de bactérias nocivas à saúde.
QUEIJO
É um dos derivados do leite com maior gama de aplicações. Pode apresentar-se curado ou fresco, salgado, suave, duro ou amanteigado. Tal como no resto da Europa, no nosso país existe vários tipos de queijo com Denominação de Origem Controlada e reconhecida qualidade.
MANTEIGA
Não é uma invenção recente - tem mais de três mil anos - mas ao longo das últimas décadas o seu fabrico tem vindo a sofrer importantes alterações. Deixou de ser feita por métodos artesanais e passou a ser produzida com alto grau de qualidade e rigorosas normas de higiene.
NÚMEROS & CURIOSIDADES
- 1334 toneladas é o valor da produção de leite no Continente durante a última campanha. Representa uma quebra de 5% em relação a 2006.
- 89 litros por pessoa é o consumo anual médio de leite entre a população portuguesa. Comemos 16 quilos de queijo e cerca de 20 quilos de iogurtes.
INDÚSTRIA
A maior quota de mercado é da Lactogal, empresa que nasceu da fusão de três cooperativas – Agros, Proleite e Lacticoop.
UHT
O leite é aquecido a alta temperatura (‘ultra high temperature’ ou UHT) durante 2-3 segundos e arrefecido, o que elimina as bactérias.
NOTAS
LICENCIAMENTO AINDA NÃO TEM REGRAS
As explorações leiteiras têm de se licenciar até ao final de 2008. A um ano do prazo ainda não há legislação a definir as regras a cumprir pelos produtores.
PRODUTO COM VALOR ACRESCENTADO
A transformação e a embalagem são duas razões - a que se junta a margem da distribuição - para o leite chegar cerca de 25 cêntimos mais caro ao consumidor.
EUROPA QUER AUMENTAR PRODUÇÃO
A Comissão Europeia quer aumentar em dois por cento os direitos de produção dos 27, a partir de Abril, intervindo assim junto dos preços finais.
DEFICITÁRIOS NA PRODUÇÃO DE CEREAIS
Portugal está dependente da importação de cereais. Compramos 62 por cento do milho e mais de 87 por cento do trigo que necessitamos.
MAIORES SUBIDAS DA ALIMENTAÇÃO
Com um aumento de 11, 16% no índice de preços do INE, o leite é campeão na carestia de vida
Carla Pacheco
Leite sobe 12% só num ano
A escassez de explorações leiteiras e o aumento do preço das rações está a obrigar a indústria a comprar mais caro ao produtor e a fazer reflectir os custos no consumidor.
Os lacticínios encontram-se entre os produtos de primeira necessidade que maior aumento de preços sentiram nos últimos meses. Uma tendência que, de acordo com vários agentes do sector, será para se manter, até porque os factores que originaram a subida continuam a verificar-se.
O custo de um pacote de leite cresceu, em média, 12 por cento, a manteiga 11 e o queijo 5. Mas não foram só os preços ao consumidor a registar aumentos, isto porque, ao cabo de quase 15 anos sem grandes mexidas, também o valor pago na produção – uma média de 45 cêntimos – subiu 35 por cento, ou seja, mais 12 cêntimos por litro.
“A indústria tem grandes responsabilidades nesta matéria. Procurou sempre ser competitiva à custa da produção e só quando viu as reservas a escassear é que aceitou aumentar o preço”, salienta José Oliveira, presidente da Associação dos Produtores de Leite (Leicar).
Só na campanha de 2005/2006 a associação registou o abandono de 1620 produtores de leite e estima que outros tantos – principalmente nas regiões de Entre Douro e Minho e Beira Litoral – venham a seguir o mesmo caminho até Março de 2008. “Este sector está envelhecido, as exigências de licenciamento são enormes e não existe apoios eficazes porque a política europeia não o considera estratégico”, reflecte José Oliveira.
“Existem várias causas genéricas e que afectam de igual modo toda a produção mundial – o aumento dos custos com a alimentação dos animais e um acréscimo no consumo – mas, em Portugal, ocorrem outras bem específicas, como a indefinição nos licenciamentos, o que tem mantido os produtores retraídos desde 2006”, refere Fernando Cardoso, secretário-geral da Federação Nacional da União de Cooperativas de Leite e Lacticínios (Fenalac).
No saldo da campanha anterior, Portugal ficou cinco por cento abaixo da quota estipulada (menos 70 milhões de litros) e, apesar de não existir números finais, a Fenalac (que representa 75 por cento do mercado) aponta para uma nova descida na ordem dos 8 ou 10 por cento.
As perspectivas de futuro para os produtores não são as melhores. “A não aposta no leite levou muitos a virarem-se para os novilhos de carne (com melhor cotação). Se agora houver um volte-face serão precisos pelo menos dois anos – tempo de criar uma novilha de leite – para repor o efectivo”, salienta José Oliveira.
PEQUENAS EXPLORAÇÕES FAMILIARES DESAPARECEM DA PAISAGEM
Longe vão os tempos em que a paisagem do Minho à Beira Litoral era salpicada de verde e vacas leiteiras com grandes pintas pretas. Nesses tempos áureos da produção leiteira eram muitas as famílias que viviam da agricultura e aconchegavam o rendimento mensal com a entrega do leite produzido por uma ou duas vacas nos postos do leite – que proliferavam nas aldeias para responder às explorações familiares.
As exigências do mercado – impulsionado pela comercialização de leite ultrapasteurizado ou UHT e de uma variada gama de lacticínios – levaram os produtores a intensificar a produção, surgindo ordenhas colectivas e explorações intensivas. A crise que se instalou nos últimos anos deixou apenas de pé os produtores que podem ser rotulados de ‘competitivos’.
Sobre tudo isto fala com alguma melancolia António Matos, 63 anos, produtor de Válega, Ovar, que em três décadas de actividade ajudou a criar uma ordenha colectiva e que nos últimos 18 anos explora uma instalação própria, com 78 animais, dos quais 48 produzem diariamente 1100 litros de leite.
A sua exploração está já licenciada, o que foge à regra das cerca de 9 mil unidades no Continente, em que 95 por cento ainda não procedeu ao licenciamento.
“Preocupo-me acima de tudo com a qualidade, porque é a única forma de conseguir um melhor preço pelo leite. Quanto melhor for a alimentação e o bem-estar dos animais, melhor é a produção”, conta.
Dia sim, dia não, o camião da cooperativa Proleite, que faz a recolha, testa a qualidade procurando os teores de gordura, proteína – “quanto mais alta melhor”– e os índices microbianos e celulares, que “têm de estar abaixo dos limites”.
António Matos confessa-se um homem com sorte, porque tem os dois filhos – de 38 e 24 anos – para o suceder. “A maior parte dos produtores desiste porque não se vai pôr a fazer investimentos sem ter a quem deixar o negócio”, revela.
Nos últimos anos, este produtor afirma que “viu muita gente a desistir” e lembra uma frase sábia de um amigo, que escolheu para o seu próprio lema de vida: “Ser agricultor em Portugal é uma forma de ir empobrecendo alegremente”. O aumento das rações não pára de reduzir as margens de ganho.
O QUE DIZEM...
- Produzir mais e melhor pode baixar preços e aumentar a qualidade
"APOSTO NA QUALIDADE" António Matos, Produtor
“A partir de uma certa idade – já tenho 63 anos – não permitem aumentar a quota, por isso, não posso pensar em quantidades, pelo que aposto na qualidade. O meu leite segue todo para o fabrico de iogurtes”.
"O SECTOR TEM FUTURO" Cláudia Matos, Jovem empresária
“Gostaria de aumentar a produção da exploração porque acredito que o sector tem futuro. Os investimentos têm de ser bem pensados para que o negócio seja mais competitivo e rentável, apostando na qualidade”.
"PRECISAMOS DE REFLECTIR" Albino Silva, Ass. Lavoura Distrito de Aveiro
“Ainda temos condições para produzir mais e melhor. Precisamos de reflectir sobre as políticas agrícolas e pensar se não ganharíamos todos mais de apoiar a pequena e média agricultura familiar”.
"GASTO 4 LITROS POR DIA" Susana Fidalgo, Consumidora
“Tenho uma família numerosa, com seis crianças, por isso, gasto quatro litros de leite por dia e mais de 20 iogurtes por semana. Antes comprava pelo mais barato, agora até esses aumentaram muito de preço”.
DERIVADOS DO LEITE
IOGURTE
O seu consumo generalizou-se em toda a Europa e em Portugal cresce cerca de 15 por cento ao ano. Para além das suas propriedades nutricionais possui uma bactéria láctea (Lactobacillus) que actua sobre a flora intestinal impedindo a proliferação de bactérias nocivas à saúde.
QUEIJO
É um dos derivados do leite com maior gama de aplicações. Pode apresentar-se curado ou fresco, salgado, suave, duro ou amanteigado. Tal como no resto da Europa, no nosso país existe vários tipos de queijo com Denominação de Origem Controlada e reconhecida qualidade.
MANTEIGA
Não é uma invenção recente - tem mais de três mil anos - mas ao longo das últimas décadas o seu fabrico tem vindo a sofrer importantes alterações. Deixou de ser feita por métodos artesanais e passou a ser produzida com alto grau de qualidade e rigorosas normas de higiene.
NÚMEROS & CURIOSIDADES
- 1334 toneladas é o valor da produção de leite no Continente durante a última campanha. Representa uma quebra de 5% em relação a 2006.
- 89 litros por pessoa é o consumo anual médio de leite entre a população portuguesa. Comemos 16 quilos de queijo e cerca de 20 quilos de iogurtes.
INDÚSTRIA
A maior quota de mercado é da Lactogal, empresa que nasceu da fusão de três cooperativas – Agros, Proleite e Lacticoop.
UHT
O leite é aquecido a alta temperatura (‘ultra high temperature’ ou UHT) durante 2-3 segundos e arrefecido, o que elimina as bactérias.
NOTAS
LICENCIAMENTO AINDA NÃO TEM REGRAS
As explorações leiteiras têm de se licenciar até ao final de 2008. A um ano do prazo ainda não há legislação a definir as regras a cumprir pelos produtores.
PRODUTO COM VALOR ACRESCENTADO
A transformação e a embalagem são duas razões - a que se junta a margem da distribuição - para o leite chegar cerca de 25 cêntimos mais caro ao consumidor.
EUROPA QUER AUMENTAR PRODUÇÃO
A Comissão Europeia quer aumentar em dois por cento os direitos de produção dos 27, a partir de Abril, intervindo assim junto dos preços finais.
DEFICITÁRIOS NA PRODUÇÃO DE CEREAIS
Portugal está dependente da importação de cereais. Compramos 62 por cento do milho e mais de 87 por cento do trigo que necessitamos.
MAIORES SUBIDAS DA ALIMENTAÇÃO
Com um aumento de 11, 16% no índice de preços do INE, o leite é campeão na carestia de vida
Carla Pacheco
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