Depois de ter lido os road books do Traveller e do Petrus decidi organizar o material que cá tinha por casa para fazer algo semelhante. O que me move é o gosto pela partilha destas experiências e saber que, não todos, mas alguns de vocês vão fazer a viagem.
E como tudo começou?
Tudo remonta ao ano de 2005, onde no inicio do verão se começa à procura de um destino. Eu e a minha companheira de viagens já fizemos algumas incursões pela Europa, mas desta vez estavamos com alguma curiosidade pelo norte de Africa. Lá começou a busca exaustiva de informação, mapas, sites, e relatos como este abundam na internet. A web revolucionou a forma de viajar. O reino de Marrocos foi o destino escolhido.
Os amigos e os familiares tentam demover a nossa escolha. Existe sempre um relato de um conhecido-de-um-amigo-de-um-primo-qualquer que foi lá, roubaram-lhe tudo, ou trocaram a mulher por camelos, ou desapareceu como o D. Sebastião. Tretas!
O instrumento de viagem:
Rover 2.0 SDI Docklands
Apinhado de garrafões de água, comida para um pequeno exército, sacos de cama e tenda. Tirando a água, metade destas coisas não precisámos.
Números:
- Perto de 4000km. Não tenho bem a certeza, nem nunca me dei ao trabalho de totalizar os Km. Mas deve ter sido perto disso.
- 10 dias de viagem.
- Bilhete de ferry - perto de 200€ ida e volta, 2 pessoas e um carro.
- Gasoleo a 0,70c/L em Marrocos
- Média de 4,2L/100km
- Dormida mais cara - 35€ (fazendo a conversão para €) com jantar e pequeno almoço.
- Dormida mais barata - 18€ com pequeno almoço.
- Hotel mais barato que encontrámos mas não ficámos - 5€
- Almoço mais caro - 4,5€ por pessoa no Mcdonnalds de Casablanca
- Almoço mais barato - 2,5 para 2 pessoas em Chefchaouem
- Número de tapetes comprados - 1
- Número de mostras de tapetes - 8 ao longo de toda a viagem
1º Dia - Lisboa - Conil de la Frontera
Curiosamente foi quase todo gasto a sair de Portugal. Qualquer pessoa que esteja habituada a fazer road-trips sabe que com as estradinhas que temos demoramos mais tempo a sair do país do que a atravessar Espanha. Ou quase isso. OK, é verdade que fui sempre por estrada nacional. Sim, o ritmo de viagem escolhido, assim como os trajectos eram bem lentos e alternativos. É assim que eu gosto. Montámos a tenda ao entardecer num Camping já próximo de Tarifa.
2º Dia - Conil de la Frontera - Tanger
Comprámos o bilhete de Ferry e em 45m estamos do outro lado. É preciso uma autorização para circular em Marrocos. No porto de Tanger a burocracia é prepositada para o turista largar 5€ e um marroquino qualquer tratar de tudo. Quem não quiser largar 5€ vai directamente ao serviços do porto e trata de tudo. Eu não quis, o que deixou lá a malta um pouco chateada. Por azar o meu passaporte foi mal carimbado, tinha um número pouco legivel e tive de gastar uma hora nestas coisas. Mas não me levaram
5€!
Começar a conduzir em Marrocos é coisa de cortar a respiração. Após os primeiros cruzamentos nota-se que o nosso código da estrada não é bem igual ao que eles praticam. Fazemos a Marginal e paramos a observar. Largamos o carro e vamos conhecer a cidade a pé. É uma cidade já muito ocidental com algumas partes muito pobres e degradadas e outras de grande influência Europeia. É uma cidade suja. O coração antigo da cidade tem grande beleza, e percorrer a pé a medina dá um enorme prazer.
Começamos a aprender a cultura de Marrocos. Sempre que se larga o carro existe sempre alguém que aparece a dizer que o vai guardar. E guarda mesmo! quando voltamos (mesmo que seja muitas horas depois) lá está o mesmo marroquino ao lado do carro à espera do moeda. Ah! e não vale a pena rejeitar ou tentar não pagar. É sempre melhor dar a moedinha.
3º Dia - Tanger - Chefchaouem - Fez
Quem diz que as estradas em Marrocos são más, ou nunca lá foi, ou já lá foi há muitos anos, ou então vive na Alemanha. As estradas são perfeitamente normais, tirando, claro está, as pistas e os trilhos. Mas para esses só vai quem quer.
Deste caminho recordo-me de ver alguma pobreza à saida de Tanger. Barracas, pessoas sujas, crianças à beira da estrada despidas. Em muitas das cidades do mundo é assim, só que aqui não está escondido.
A estradas vão ficando mais estreitas e mais recortadas. Surge Chefchaouem.
É uma muito típica (talvez para turista ver) vila encaixada no meio das montanhas. O azul e branco das casas é agradável à vista, e ao que parece serve para afugentar os mosquitos. Chefchaouem é muito conhecida também nos roteiros das drogas que fazem rir, ou como dizem os marroquinos "bronzear a cabeça".
Deixamos Chefchaouem para trás.
A estrada vai ficando mais montanhosa e mais recortada. O andamento é cada vez mais lento. O objectivo era Fez, mas decidimos tomar o caminho de montanha. Zona conhecida pelas plantações de cannabis.
Foi nesta altura que aconteceu o único susto da viagem, que na realidade, depois dos factos apurados nada era preciso temer.
Ao longo do caminho não encontrávamos muitos carros, mas certa altura um Fiat Uno cruzou-se connosco e decidiu seguir o nosso carro. O pé direito fez-se mais pesado e ele desapareceu do retrovisor. Em seguida o mesmo episódio com um Peugeot 306 que nos seguia e fazia sinais de luzes e novamente o nosso veículo transformou-se em carro de corrida, qual rampa da Falperra!. Depois um Mercedes 220, um Toytota Land Cruiser, o Peugeot mais à frente parado na estrada a barrar o caminho... Decidi parar. E o que é que aquela malta queria? que nós experimentassemos as 1000 variedades de produtos-que-fazem-rir da região, que podiam vender barato, que muitos amigos deles são portugueses (da Madeira, Porto, Lisboa, Algarve...) e perante as nossas negações em experimentar os seus aromas - "que tal jantarem connosco e dormirem na nossa casa e tal...". Eram já quase os meus melhores amigos.
Chegada a Fez de Noite.
4º Dia - Fez - Midelt
Suja, muito suja. Confusa, muito confusa. Dava por mim a conduzir como um local. Afinal isto aprende-se. Nós conduzimos da mesma forma que se conduz no ambiente rodoviario onde estamos.
O nosso pequeno Yossef, conhecido por acaso, miúdo de 14 anos foi uma mais valia para conhecer a cidade. Fala 7 linguas, incluindo o japonês. Como aprendeste? com os turistas respondeu ele.
Visitámos a cidade no seu interior. As fábricas de curtumes, de porcelanas, e o pequeno Yossef falava com os responsáveis e lá visitávamos os locais.
A partida fez-se ao final do dia. O carro pregou-nos uma partida e não pegava. A pequena arca frigorifica tinha ficado ligada por esquecimento e deitou abaixo a bateria. Não tenho cabos... em menos de um instante o Yossef aparece-me com uma legião de mecânicos atrás. Já está! pronto para seguir viagem.
A viagem não era planeada. Fazia-se no momento ao sabor da leitura do American Express de Marrocos, e com o mapa na mão. Próximo destino - Sahara!
A viagem fez-se ao entardecer. O caminho dava fotografias surreais.
E como tudo começou?
Tudo remonta ao ano de 2005, onde no inicio do verão se começa à procura de um destino. Eu e a minha companheira de viagens já fizemos algumas incursões pela Europa, mas desta vez estavamos com alguma curiosidade pelo norte de Africa. Lá começou a busca exaustiva de informação, mapas, sites, e relatos como este abundam na internet. A web revolucionou a forma de viajar. O reino de Marrocos foi o destino escolhido.
Os amigos e os familiares tentam demover a nossa escolha. Existe sempre um relato de um conhecido-de-um-amigo-de-um-primo-qualquer que foi lá, roubaram-lhe tudo, ou trocaram a mulher por camelos, ou desapareceu como o D. Sebastião. Tretas!
O instrumento de viagem:
Rover 2.0 SDI Docklands
Apinhado de garrafões de água, comida para um pequeno exército, sacos de cama e tenda. Tirando a água, metade destas coisas não precisámos.
Números:
- Perto de 4000km. Não tenho bem a certeza, nem nunca me dei ao trabalho de totalizar os Km. Mas deve ter sido perto disso.
- 10 dias de viagem.
- Bilhete de ferry - perto de 200€ ida e volta, 2 pessoas e um carro.
- Gasoleo a 0,70c/L em Marrocos
- Média de 4,2L/100km
- Dormida mais cara - 35€ (fazendo a conversão para €) com jantar e pequeno almoço.
- Dormida mais barata - 18€ com pequeno almoço.
- Hotel mais barato que encontrámos mas não ficámos - 5€
- Almoço mais caro - 4,5€ por pessoa no Mcdonnalds de Casablanca
- Almoço mais barato - 2,5 para 2 pessoas em Chefchaouem
- Número de tapetes comprados - 1
- Número de mostras de tapetes - 8 ao longo de toda a viagem
1º Dia - Lisboa - Conil de la Frontera
Curiosamente foi quase todo gasto a sair de Portugal. Qualquer pessoa que esteja habituada a fazer road-trips sabe que com as estradinhas que temos demoramos mais tempo a sair do país do que a atravessar Espanha. Ou quase isso. OK, é verdade que fui sempre por estrada nacional. Sim, o ritmo de viagem escolhido, assim como os trajectos eram bem lentos e alternativos. É assim que eu gosto. Montámos a tenda ao entardecer num Camping já próximo de Tarifa.
2º Dia - Conil de la Frontera - Tanger
Comprámos o bilhete de Ferry e em 45m estamos do outro lado. É preciso uma autorização para circular em Marrocos. No porto de Tanger a burocracia é prepositada para o turista largar 5€ e um marroquino qualquer tratar de tudo. Quem não quiser largar 5€ vai directamente ao serviços do porto e trata de tudo. Eu não quis, o que deixou lá a malta um pouco chateada. Por azar o meu passaporte foi mal carimbado, tinha um número pouco legivel e tive de gastar uma hora nestas coisas. Mas não me levaram
5€!
Começar a conduzir em Marrocos é coisa de cortar a respiração. Após os primeiros cruzamentos nota-se que o nosso código da estrada não é bem igual ao que eles praticam. Fazemos a Marginal e paramos a observar. Largamos o carro e vamos conhecer a cidade a pé. É uma cidade já muito ocidental com algumas partes muito pobres e degradadas e outras de grande influência Europeia. É uma cidade suja. O coração antigo da cidade tem grande beleza, e percorrer a pé a medina dá um enorme prazer.
Começamos a aprender a cultura de Marrocos. Sempre que se larga o carro existe sempre alguém que aparece a dizer que o vai guardar. E guarda mesmo! quando voltamos (mesmo que seja muitas horas depois) lá está o mesmo marroquino ao lado do carro à espera do moeda. Ah! e não vale a pena rejeitar ou tentar não pagar. É sempre melhor dar a moedinha.
3º Dia - Tanger - Chefchaouem - Fez
Quem diz que as estradas em Marrocos são más, ou nunca lá foi, ou já lá foi há muitos anos, ou então vive na Alemanha. As estradas são perfeitamente normais, tirando, claro está, as pistas e os trilhos. Mas para esses só vai quem quer.
Deste caminho recordo-me de ver alguma pobreza à saida de Tanger. Barracas, pessoas sujas, crianças à beira da estrada despidas. Em muitas das cidades do mundo é assim, só que aqui não está escondido.
A estradas vão ficando mais estreitas e mais recortadas. Surge Chefchaouem.
É uma muito típica (talvez para turista ver) vila encaixada no meio das montanhas. O azul e branco das casas é agradável à vista, e ao que parece serve para afugentar os mosquitos. Chefchaouem é muito conhecida também nos roteiros das drogas que fazem rir, ou como dizem os marroquinos "bronzear a cabeça".
Deixamos Chefchaouem para trás.
A estrada vai ficando mais montanhosa e mais recortada. O andamento é cada vez mais lento. O objectivo era Fez, mas decidimos tomar o caminho de montanha. Zona conhecida pelas plantações de cannabis.
Foi nesta altura que aconteceu o único susto da viagem, que na realidade, depois dos factos apurados nada era preciso temer.
Ao longo do caminho não encontrávamos muitos carros, mas certa altura um Fiat Uno cruzou-se connosco e decidiu seguir o nosso carro. O pé direito fez-se mais pesado e ele desapareceu do retrovisor. Em seguida o mesmo episódio com um Peugeot 306 que nos seguia e fazia sinais de luzes e novamente o nosso veículo transformou-se em carro de corrida, qual rampa da Falperra!. Depois um Mercedes 220, um Toytota Land Cruiser, o Peugeot mais à frente parado na estrada a barrar o caminho... Decidi parar. E o que é que aquela malta queria? que nós experimentassemos as 1000 variedades de produtos-que-fazem-rir da região, que podiam vender barato, que muitos amigos deles são portugueses (da Madeira, Porto, Lisboa, Algarve...) e perante as nossas negações em experimentar os seus aromas - "que tal jantarem connosco e dormirem na nossa casa e tal...". Eram já quase os meus melhores amigos.
Chegada a Fez de Noite.
4º Dia - Fez - Midelt
Suja, muito suja. Confusa, muito confusa. Dava por mim a conduzir como um local. Afinal isto aprende-se. Nós conduzimos da mesma forma que se conduz no ambiente rodoviario onde estamos.
O nosso pequeno Yossef, conhecido por acaso, miúdo de 14 anos foi uma mais valia para conhecer a cidade. Fala 7 linguas, incluindo o japonês. Como aprendeste? com os turistas respondeu ele.
Visitámos a cidade no seu interior. As fábricas de curtumes, de porcelanas, e o pequeno Yossef falava com os responsáveis e lá visitávamos os locais.
A partida fez-se ao final do dia. O carro pregou-nos uma partida e não pegava. A pequena arca frigorifica tinha ficado ligada por esquecimento e deitou abaixo a bateria. Não tenho cabos... em menos de um instante o Yossef aparece-me com uma legião de mecânicos atrás. Já está! pronto para seguir viagem.
A viagem não era planeada. Fazia-se no momento ao sabor da leitura do American Express de Marrocos, e com o mapa na mão. Próximo destino - Sahara!
A viagem fez-se ao entardecer. O caminho dava fotografias surreais.
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