Auditoria de peritos mundiais alerta para falta de exigência dos testes e aponta sinais de corrupção no sector.
«Uma combinação de alunos mal preparados e de exames pouco exigentes tem consequências claramente negativas na segurança rodoviária». A conclusão é de um grupo de peritos da Comissão Internacional dos Exames de Condução Automóvel (CIECA) – que efectuou, em Março passado, uma auditoria a centros de exames públicos e privados e a uma escola de condução, tendo acompanhado 21 candidatos durante a realização das provas práticas, a maioria da categoria B (veículos ligeiros).
73% dos alunos passam
No relatório, a que o SOL teve acesso, esta entidade refere que «as expectativas quanto à prestação dos candidatos são baixas» e que estes revelaram «pouca consciência» durante a condução.
Um facilitismo que se traduz, segundo a CIECA, na elevada taxa de aprovação: dos 156.120 alunos avaliados em 2007, 73% viram concedida a carta por examinadores em centros públicos (do Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres – IMTT) e privados (entre outros, do Automóvel Club de Portugal – ACP – e da Associação Nacional de Industriais do Ensino da Condução Automóvel) – ANIECA).
Cenário muito diferente é o de outros países europeus, como Espanha, França, Inglaterra e Luxemburgo – onde taxas de reprovação mais altas reflectem critérios mais apertados. Em Inglaterra, por exemplo, apenas 44% dos alunos conseguiram cumprir os objectivos no ano passado.
A negligência quanto ao uso dos espelhos durante os trajectos foi um dos pontos censurados pelos técnicos da CIECA durante os dois dias da visita: «O não-uso dos espelhos revela que este critério não é suficientemente treinado nas aulas nem devidadmente avaliado pelos examinadores».
Da mesma forma, os especialistas aperceberam-se de uma «relação demasiado próxima» entre instrutores e examinadores, com prejuízo para os candidatos: «Frequentemente o examinador desvia a atenção dos alunos por conversar com o instrutor». Pelo meio, anotaram a reduzida variedade de percursos e, no fim das provas, outra falha: «Qualquer feedback tende a ser dirigido ao instrutor e não ao candidato».
Os resultados da auditoria não surpreendem Eduardo Vieira Dias, presidente da ANIECA: «Impera o facilitismo, são sempre os mesmos caminhos, as mesmas manobras. Em Espanha, o exame é bem mais complexo, desde logo pelas 65 aulas mínimas». Embora admita esta realidade, Carlos Barbosa não deixa de defender a reputação do ‘seu’ ACP. «As nossas escolas sempre se pautaram pelo rigor e exigência. O elevado índice de aprovações [75% este ano] esclarece a qualidade do ensino».
Mais difícil de explicar é outra constatação dos especialistas da CIECA. «Organizações como o ACP detêm escolas de condução e controlam ao mesmo tempo centros de exame» – situação considerada «inaceitável na Europa, porque esta combinação de funções aumenta o risco de corrupção e falta de subjectividade na avaliação dos candidatos». Carlos Barbosa garante apenas que «a maioria dos alunos não escolha os centros do ACP».
Numa última observação, a Comissão reprova a concorrência entre sectores público e privado: «O baixo salário dos examinadores do público [metade dos colegas] pode encorajar a insatisfação e a corrupção». Chamado à responsabilidade, o IMTT foi incumbido de resolver a situação, que é única na União Europeia. «O sector público deverá passar a fiscalizar mais os centros de exame, reduzindo a sua actuação como sector de avaliação», disse ao SOL fonte oficial do organismo.
Fiscalização gera 158 autos
Questionado sobre o número de centros fiscalizados e a natureza das irregularidades 316 inspecções (44 a centros de exame) e levantados 57 autos de contra-ordenação. Este ano, o controlo apertou: as 458 acções (136 a centros de exame) resultaram em 158 autos.
Há, porém, investigações que seguem o Ministério Público. Este ano, apurou o SOL, já deram entrada no DIAP de Lisboa três processos (dois ´pendentes e um remetido ao Tribunal do Barreiro) na sequência de queixas contra instrutores, escolas de condução e outras entidades do sector. Ao SOL, fonte oficial da Polícia Judiciária informou que esta tem em mãos várias investigações por alegada corrupção, envolvendo escolas de condução e centros de exame, algumas das quais remontam a 2006 e 2007.
Fonte: Sol (2008-11-15)
«Uma combinação de alunos mal preparados e de exames pouco exigentes tem consequências claramente negativas na segurança rodoviária». A conclusão é de um grupo de peritos da Comissão Internacional dos Exames de Condução Automóvel (CIECA) – que efectuou, em Março passado, uma auditoria a centros de exames públicos e privados e a uma escola de condução, tendo acompanhado 21 candidatos durante a realização das provas práticas, a maioria da categoria B (veículos ligeiros).
73% dos alunos passam
No relatório, a que o SOL teve acesso, esta entidade refere que «as expectativas quanto à prestação dos candidatos são baixas» e que estes revelaram «pouca consciência» durante a condução.
Um facilitismo que se traduz, segundo a CIECA, na elevada taxa de aprovação: dos 156.120 alunos avaliados em 2007, 73% viram concedida a carta por examinadores em centros públicos (do Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres – IMTT) e privados (entre outros, do Automóvel Club de Portugal – ACP – e da Associação Nacional de Industriais do Ensino da Condução Automóvel) – ANIECA).
Cenário muito diferente é o de outros países europeus, como Espanha, França, Inglaterra e Luxemburgo – onde taxas de reprovação mais altas reflectem critérios mais apertados. Em Inglaterra, por exemplo, apenas 44% dos alunos conseguiram cumprir os objectivos no ano passado.
A negligência quanto ao uso dos espelhos durante os trajectos foi um dos pontos censurados pelos técnicos da CIECA durante os dois dias da visita: «O não-uso dos espelhos revela que este critério não é suficientemente treinado nas aulas nem devidadmente avaliado pelos examinadores».
Da mesma forma, os especialistas aperceberam-se de uma «relação demasiado próxima» entre instrutores e examinadores, com prejuízo para os candidatos: «Frequentemente o examinador desvia a atenção dos alunos por conversar com o instrutor». Pelo meio, anotaram a reduzida variedade de percursos e, no fim das provas, outra falha: «Qualquer feedback tende a ser dirigido ao instrutor e não ao candidato».
Os resultados da auditoria não surpreendem Eduardo Vieira Dias, presidente da ANIECA: «Impera o facilitismo, são sempre os mesmos caminhos, as mesmas manobras. Em Espanha, o exame é bem mais complexo, desde logo pelas 65 aulas mínimas». Embora admita esta realidade, Carlos Barbosa não deixa de defender a reputação do ‘seu’ ACP. «As nossas escolas sempre se pautaram pelo rigor e exigência. O elevado índice de aprovações [75% este ano] esclarece a qualidade do ensino».
Mais difícil de explicar é outra constatação dos especialistas da CIECA. «Organizações como o ACP detêm escolas de condução e controlam ao mesmo tempo centros de exame» – situação considerada «inaceitável na Europa, porque esta combinação de funções aumenta o risco de corrupção e falta de subjectividade na avaliação dos candidatos». Carlos Barbosa garante apenas que «a maioria dos alunos não escolha os centros do ACP».
Numa última observação, a Comissão reprova a concorrência entre sectores público e privado: «O baixo salário dos examinadores do público [metade dos colegas] pode encorajar a insatisfação e a corrupção». Chamado à responsabilidade, o IMTT foi incumbido de resolver a situação, que é única na União Europeia. «O sector público deverá passar a fiscalizar mais os centros de exame, reduzindo a sua actuação como sector de avaliação», disse ao SOL fonte oficial do organismo.
Fiscalização gera 158 autos
Questionado sobre o número de centros fiscalizados e a natureza das irregularidades 316 inspecções (44 a centros de exame) e levantados 57 autos de contra-ordenação. Este ano, o controlo apertou: as 458 acções (136 a centros de exame) resultaram em 158 autos.
Há, porém, investigações que seguem o Ministério Público. Este ano, apurou o SOL, já deram entrada no DIAP de Lisboa três processos (dois ´pendentes e um remetido ao Tribunal do Barreiro) na sequência de queixas contra instrutores, escolas de condução e outras entidades do sector. Ao SOL, fonte oficial da Polícia Judiciária informou que esta tem em mãos várias investigações por alegada corrupção, envolvendo escolas de condução e centros de exame, algumas das quais remontam a 2006 e 2007.
Fonte: Sol (2008-11-15)
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