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in: Publico
10.03.2009 - 16h30 Paulo Ferreira
Quando iniciou as funções de primeiro-ministro, António Guterres orgulhava-se de circular sem qualquer aparato policial. “Desculpem. Mas é que eu ando sem ‘tinónis’ e fico sujeito aos engarrafamentos.” Era assim que Guterres justificava ligeiros atrasos para alguns compromissos. E era verdade. Nas deslocações de rotina em Lisboa e pelo país, lá ia o carro que transportava o primeiro-ministro, discreto, e logo atrás apenas mais um automóvel com seguranças, onde a única coisa que podia dar nas vistas eram as antenas que saíam do tejadilho um pouco maiores do que o normal. Nada de carro ou mota da polícia. Nem tão-pouco a sirene azul no próprio carro onde Guterres se deslocava.
Este comportamento era compatível com a imagem que se fazia e faz de Guterres: um governante com uma leitura descontraída, descomprometida e despojada dos seus poderes e dos supostos privilégios. De Guterres nunca se viu um tique de arrogância ou um abuso de poder. Aliás, se foi criticado foi por ser demasiado “pomba” e nada “falcão” na forma como governou.
Vem isto a propósito do aparato que se instalou em Lisboa a propósito da visita de José Eduardo dos Santos. Quem esta terça-feira, por volta das 11h, assistiu à deslocação do Presidente angolano do hotel (próximo das Amoreiras) para Belém não pôde deixar de notar o desproporcionado aparato: a auto-estrada A5 cortada ao trânsito em cerca de 4 quilómetros; várias ondas de motos e carros da polícia; umas 20 motos de batedores da polícia imediatamente à frente da comitiva; um sem-número de carros.
Dir-se-á que é a segurança que motiva o aparato. Mas afinal que perigos ameaçam a vida de José Eduardo dos Santos? Teme-se um atentado da UNITA? Dos separatistas de Cabinda? De quem, afinal?
Um verdadeiro absurdo que nem comitivas de líderes norte-americanos, russos ou israelitas – e em relação a estes toda a gente entende a preocupação com a segurança – reclamam ou recebem.
O show-off absolutamente exagerado faz parte da encenação que ditadores, protoditadores e governantes pouco escrupulosos gostam de se atribuir. São aqueles que se confundem com o Estado, que pensam que são donos dele. São aqueles que medem a sua importância, o seu poder e a sua influência pelo número de motas de polícia que abrem caminho nas ruas e avenidas, com absoluto desprezo pelos incómodos que esses
caprichos causam a milhares de pessoas. São gestos pequenos mas que não enganam sobre o tipo de líder que os pratica.
A culpa, neste caso, não é apenas da nomenklatura angolana. Há, deste lado, um outro Estado, que permite e alimenta este disparate e que gosta demasiado de mimar governantes sem credenciais democráticas ou humanistas.
Mas seria de esperar outra coisa de um país que hoje é governado por um primeiro-ministro que aceitou que fechassem a Praça Vermelha para fazer a sua mediática corrida matinal em Moscovo?
in: Publico
10.03.2009 - 16h30 Paulo Ferreira
Quando iniciou as funções de primeiro-ministro, António Guterres orgulhava-se de circular sem qualquer aparato policial. “Desculpem. Mas é que eu ando sem ‘tinónis’ e fico sujeito aos engarrafamentos.” Era assim que Guterres justificava ligeiros atrasos para alguns compromissos. E era verdade. Nas deslocações de rotina em Lisboa e pelo país, lá ia o carro que transportava o primeiro-ministro, discreto, e logo atrás apenas mais um automóvel com seguranças, onde a única coisa que podia dar nas vistas eram as antenas que saíam do tejadilho um pouco maiores do que o normal. Nada de carro ou mota da polícia. Nem tão-pouco a sirene azul no próprio carro onde Guterres se deslocava.
Este comportamento era compatível com a imagem que se fazia e faz de Guterres: um governante com uma leitura descontraída, descomprometida e despojada dos seus poderes e dos supostos privilégios. De Guterres nunca se viu um tique de arrogância ou um abuso de poder. Aliás, se foi criticado foi por ser demasiado “pomba” e nada “falcão” na forma como governou.
Vem isto a propósito do aparato que se instalou em Lisboa a propósito da visita de José Eduardo dos Santos. Quem esta terça-feira, por volta das 11h, assistiu à deslocação do Presidente angolano do hotel (próximo das Amoreiras) para Belém não pôde deixar de notar o desproporcionado aparato: a auto-estrada A5 cortada ao trânsito em cerca de 4 quilómetros; várias ondas de motos e carros da polícia; umas 20 motos de batedores da polícia imediatamente à frente da comitiva; um sem-número de carros.
Dir-se-á que é a segurança que motiva o aparato. Mas afinal que perigos ameaçam a vida de José Eduardo dos Santos? Teme-se um atentado da UNITA? Dos separatistas de Cabinda? De quem, afinal?
Um verdadeiro absurdo que nem comitivas de líderes norte-americanos, russos ou israelitas – e em relação a estes toda a gente entende a preocupação com a segurança – reclamam ou recebem.
O show-off absolutamente exagerado faz parte da encenação que ditadores, protoditadores e governantes pouco escrupulosos gostam de se atribuir. São aqueles que se confundem com o Estado, que pensam que são donos dele. São aqueles que medem a sua importância, o seu poder e a sua influência pelo número de motas de polícia que abrem caminho nas ruas e avenidas, com absoluto desprezo pelos incómodos que esses
caprichos causam a milhares de pessoas. São gestos pequenos mas que não enganam sobre o tipo de líder que os pratica.
A culpa, neste caso, não é apenas da nomenklatura angolana. Há, deste lado, um outro Estado, que permite e alimenta este disparate e que gosta demasiado de mimar governantes sem credenciais democráticas ou humanistas.
Mas seria de esperar outra coisa de um país que hoje é governado por um primeiro-ministro que aceitou que fechassem a Praça Vermelha para fazer a sua mediática corrida matinal em Moscovo?
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