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" Memórias do Nosso Tempo " - 1º Salto de Guarda Quedas Post 8

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    Sociedade " Memórias do Nosso Tempo " - 1º Salto de Guarda Quedas Post 8

    Este era o titulo de um programa documental que passou há uns anos largos na RTP.

    Falava-nos dos horrores e batalhas da WWII.
    O titulo é plagiado para que na realidade nos lembremos nas nossas memórias factos que ocorreram e que estão hoje em dia relacionados com situações actuais.

    O cavaquismo em tomografia
    Para entender em toda a extensão diacrónica o que foi o Cavaquismo, interessa indagar como começou.

    Estas duas imagens que seguem, retiradas da revista Grande Reportagem ( de J.M. Barata Feyo e José Júdice e onde escreviam António Barreto e Vasco Pulido Valente, além de Adelino Gomes, Sousa Tavares e Rui Araújo), de 21.2.1985 e 11.4.1985 ( clicar para ampliar), dão a imagem adequada ao início.
    Nessa altura, Cavaco Silva era um militante do partido, funcionário público, professor universitário, depois de ter sido ajudante de Sá Carneiro no governo da AD.

    O artigo da revista, titulava: "A noite dos facas longas", em que Mota Pinto, aparecia como o cordeiro sacrificial, depois de ter celebrado acordos de coligação quase contra-natura, com a esquerda do PS, de Mário Soares que metera há muito o socialismo na gaveta, e levaria no cachaço por isso mesmo, no futuro próximo.

    Para além dos retratados, há mais no quadro que a vista não alcança: Eurico de Melo, Santana Lopes, António Capucho, J.M.Júdice, Calvão da Silva e outros ainda.

    Nessa altura, já Portugal tinha entrado em negociações com a "Europa", para uma entrada em forma. O acordo de adesão, ao longo de dez anos, tinha sido negociado, nos últimos anos com os dois figurões da imagem à direita: Ernâni Lopes e...António Marta, o vice-governador do BdP agora na berlinda, por causa da sua honra e palavra e do desmentido a Dias Loureiro. O presidente Cavaco Silva, hoje, num comunicado, chamou-lhe implicitamente...mentiroso.



    Em Maio de 1985, Cavaco Silva, a pretexto de fazer a rodagem a um carro Citroën, de gama média, foi ao XII Congresso do PSD, na Figueira da Foz e venceu aqueles figurões todos juntos, com um discurso de profecias num destino sinfónico.

    As imagens que seguem, tiradas da Grande Reportagem de 24 de Maio de 1985, dão conta da entourage de Cavaco, nessa altura: Fernando Nogueira, Eurico de Melo, Amândio de Azevedo, Correia Afonso. O renovado PSD. De Dias Loureiro, Marques Mendes e Duarte Lima, nem sombra visível, nessa altura.

    No entanto, são estes, que aparecem já em destaque, oito anos depois, em Março de 1993, na imagem e texto da revista Visão de 25 de Março de 1993.

    O artigo de Lurdes Feio que se pode ler, começa assim: "Quando a filha casou, Cavaco Silva convidou apenas dois ministros: Fernando Nogueira e Dias Loureiro. O mesmo aconteceu por ocasião da festa do 50º aniversário de Maria Cavaco Silva."

    Nessa época discutia-se já o nome do candidato às presidenciais do ano seguinte. Freitas do Amaral era persona quase non grata e por aí ficou.



    Em Junho de 1985, com o governo de coligação de Mário Soares e Mota Pinto em queda livre, foi assinada, com pompa e circunstância, a adesão de Portugal à CEE.

    Repare-se na imagem que ficou para a posteridade, tirada da Grande Reportagem de 15.6.1985: uma imagem desgraçada, desfocada e irreal. Governantes que já não governavam; figuras pardas como Andreotti, atrás deles, indivíduos que nunca deveriam ter estado na política e fizeram a vida nela. Os imprescindíveis.



    A partir daí, Cavaco conseguiu uma e depois outra maioria absoluta. Soares ganhou a presidência a Freitas do Amaral, por um triz de algumas, poucas centenas de milhar de votos, com os comunistas a ajudar e Portugal entrou na era da prosperidade das ajudas comunitárias.
    Algumas delas, foram logo aplicadas a preceito, em reflexo das PEC´s PAC`s e outros PEDIP´s e QCA´s.

    Nos anos noventa, apareceram os hipermercados, o consumo à larga, o crédito mais fácil ( em meados da década). O QCA aguentou estoicamente isso tudo.

    Em 1992, apareceu uma revista, dirigida por Álvaro Mendonça, com colaboração de Leonardo Ferraz de Carvalho ( já falecido e grande coleccionador de revistas...).

    O número um, mostrava Belmiro de Azevedo, junto à palavra "erros".

    O cavaquismo, explicado, nas páginas do meio com uma declaração cândida de um anónimo dirigente de um grupo económico nortenho ( não havia muitos nessa altura...), em que dizia ( clicar para ler), preto no branco:

    "Muitas das nossas empresas vão servir para sacar fundos da CEE. A seguir ou se vendem ou se liquidam." Tal e qual.

    Cavaco Silva tinha obrigação estrita de saber disto, destes fenómenos. O que fez, para os evitar? Confiou na PGR de Cunha Rodrigues, com as leis que tínhamos? Foi? Parece que sim.



    Anos depois disso, os desmandos maiores, vieram a revelar-se,num amplo panorama de desperdício, cujo melhor exemplo pode ser este, dado por uma das figuras paradigmáticas da nossa desgraça e que em 24.10.1997, no primeiro número da revista Factos, dirigida por Dinis de Abreu, dizia assim, profetizando os anos que viriam e mostrando o verdadeiro retrato de Portugal:

    "Quem fala de corrupção em África não conhece Portugal. A tecnologia da corrupção é nossa. "

    Quem assim alvitrava, dirigira como Comissário ( um dos muitos que havia), a Expo 98. Um exemplo acabado e paradigmático, do modelo de desenvolvimento do ideário cavaquista de tendência bloco central.
    Foi assim que chegamos onde estamos e é bom não esquecer.

    E o epitáfio, pode muito bem ser este: Vive-se em Portugal, uma prosperidade fictícia.

    Cardoso e Cunha, um indefectível do cavaquismo, sabia bem do que falava




    Cliquem nas imagens para ler.

    Créditos: By josé in Porta da Loja
    Editado pela última vez por Excalibur; 20 May 2009, 13:40. Razão: Edição do Titulo

    #2
    2ª Parte

    O processo sumaríssimo do cavaquismo


    Imagens da revista do Expresso de 9.6.2007 e 24 Horas de 5.2.2007

    Em Junho de 1986, Dias Loureiro, era um aparatchick do PSD. No caso, era Secretário-geral do partido. E nessa altura, nem havia oposição interna.
    Em Julho de 1987, o PSD ganhou as eleições, com uma "vitória pela segurança", por maioria absoluta. O PS de Vítor Constâncio, teve pouco mais de 22%. Em Outubro, depois de Cavaco ,mencionar que na Bolsa se andava a vender gato por lebre, esta afundou. Quem ganhou dinheiro, na bolsa, perdeu-o nessa altura.
    No ano seguinte, começaram as privatizações, incluindo a dos bancos, sob a batuta to PSD de Cavaco. Vítor Constâncio saiu da direcção do PS, com o pretexto de intromissão de Mário Soares. Freitas do Amaral quis accionar o PSD por causa das dívidas da campanha eleitoral. Vital Moreira e Zita Seabra sairam do PCP. As rádios locais, ganharam carta de alforria, com destaque para a TSF, da Cooperativa que dura até hoje.
    Em 1989 e 1990 e 1991, com o Independente, começaram os casos sérios com o PSD e os seus governantes e também os do PS ligados ao presidente Soares ( Beleza, Saúde e Melancia).

    Os casos do Fundo Social Europeu, viriam a seguir, em meados dos noventa, embora já em 1986, o jornal Semanário não tinha qualquer dúvida sobre as fraudes que já tinham começado.



    Imagens do jornal Semanário de 7.6.1986 ( clicar na imagem para aumentar)

    Logo em 1990, Oliveira Costa, Secretário de Estado dos assuntos fiscais de Cavaco e que introduziu as várias reformas fiscais em Portugal ( com destaque para o IRS e IVA), esteve sob a mira de um Inquérito parlamentar, sobre os célebres perdões fiscais ( o caso curioso da Cerâmica Campos de Aveiro e Alvarães, é um deles), mas os perdões foram de rebimba o malho ,no erário público.
    Aparentemente, ninguém ligou muito, e há testemunhos que garantem ter sido Cavaco Silva, nessa altura, demasiado leniente para com esses desmandos e principalmente com os critérios de atribuição dos fundos e política de investimentos.

    Há quem garanta ainda que o modelo de desenvolvimento então gizado e adoptado, está na raiz dos nossos problemas endémicos, que nos colocam sistematicamente na cauda da Europa, embora por breves anos tivéssemos a ideia propagandeada que afinal éramos um exemplo para o mundo moderno. Um oásis e um elemento do "pelotão da frente".

    Em 1994, o desgaste do autoritarismo ( a "ditadura da maioria", denunciada por Soares), levou a um buzinão monumental, na ponte sobre o Tejo.
    Dias Loureiro era o ministro das polícias, depois de ter passado por outras pastas de governo. Daniel Sanches, era o director do SIS.
    Em 1995, Duarte Lima foi ouvido na PJ, sobre casos que envolviam o seu património, incluindo uma quinta perto de Soares e que este achou bizarra. Abílio Curto, foi detido por corrupção ( anos depois foi condenado em prisão efectiva, numa raridade quase única neste tipo de casos. Quando entrou na cadeia, declarou solenemente: "o dinheiro foi todo para o PS". Vital Moreira garantiu logo que não).
    Em 1996, Sampaio, ganhou as eleições.
    Nesses anos todos, um escândalo de proporções semelhantes ao do actual BPN, ocorria nos Açores, o da Caixa Económica Faialense. Emanuel de Sousa, primo de Natália Correia, era o centro das atenções e o processo acabou em nada, depois da falência escandalosa e de o BdP ter enterrado dezenas de milhões de contos.

    Depois deste panorama escandaloso, com a entrada de mais dinheiro da CEE e depois UE, com os quadros comunitários de apoio, para estradas pontes, estádios e obras faraónicas ( a primeira foi logo o CCB), apareceu a banca privada e os negócios.

    O BPN apareceu em 1993, integrando a Soserfin e a Norcrédito. Américo Amorim foi dos primeiros fundadores. Um escândalo fiscal, criminal, envolvendo o empresário ainda anda por aí.
    Em 1998, a Sociedade Lusa de Negócios apareceu, sob a batuta de Oliveira e Costa. O BPN ficou-lhe associado desde então.
    Em 2002, o BPN adquiriu o banco Efisa e Dias Loureiro era figura destacada. Tal como Augusto Mateus e Oliveira Martins, do PS. Nessa mesma altura, O BPN adquiriu também o Banco Insular de Cabo verde.

    O resto, do que viria a seguir, são problemas a que Dias Loureiro, não pode fugir. E na Assembleia da República, alguém lhos há-de lembrar, para bem de todos, se assim for. E o pormenor da conversa de 19 de Abril de 2001, ás 4 horas da tarde, é mesmo isso: um mero pormenor.
    Dias Loureiro, provavelmente, não virá a ser responsabilizado criminalmente. Dificilmente alguém, aí chegaria, porque a lei penal que temos não comporta o aproveitamento de lugares privados, de quem sai de lugares públicos, por mero efeito de... oportunidade política.




    Imagens do Expresso de 27.11.2004 e Sábado de 14.5.2004

    O cavaquismo, o soarismo, o guterrismo, o blococentralismo está tão cheio destes fenómenos espantosos que seria altamente improvável, agora, um sobressalto ético para lhes pôr cobro. O melhor exemplo recente, é o de Jorge Coelho, um "irmão", para Dias Loureiro.
    As componentes deste bloco, centralizado em interesses privadíssimos, organizou entretanto uma Cooperativa que funciona quase como a antiga União Nacional, em coesão e eficácia, em vários níveis, com um destaque elevado no jornalístico e de direcção de informação.
    Em finais dos anos 80, ainda se falava numa mítica "Direita" que afinal nunca existiu: os seus elementos, de resto, integraram-se nos lugares devidos e em devido tempo.


    Imagem da revista do Expresso de 29.4.1989

    Dias Loureiro é o símbolo disso tudo. E vai pagar um preço por estas razões elencadas que aqui ficam e assim se ilustram, com um ênfase especial no artigo sobre a lei de Gresham. Chegou a altura de uma análise retrospectiva dos anos de ouro do cavaquismo e do mal que nos trouxe, disseminado e daninho.

    A pior desgraça que nos foi acontecendo, nestes últimos vinte anos, tem um nome: incompetência. Ou incapacidade que vai dar ao mesmo.
    Editado pela última vez por Excalibur; 29 April 2009, 15:35.

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      #3
      Realmente o tempo deixa que caia uma espessa camada de pó sobre a memória colectiva.

      Nesses tempos O Independente foi também uma das vozes contra o "Cavaquistão".

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        #4
        Originalmente Colocado por Jorge Correia Ver Post
        Realmente o tempo deixa que caia uma espessa camada de pó sobre a memória colectiva.

        Nesses tempos O Independente foi também uma das vozes contra o "Cavaquistão".
        Mas nunca é demais ir ao fundo do baú buscar aquilo, para vermos a massa que nos governa e aquilo que assistimos passivamente.

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          #5
          Não esqueçamos que continua a chover muito dinheiro da Europa e que ninguém fala nisso...

          ninguém sabe como, onde e quando é utilizado. Apesar de não chegar ao ritmo dos anos 90 o que chega não são trocos.

          Ai não são não....

          De resto, mais do mesmo.. Ou melhor, são sempre os mesmos...

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            #6
            Excelente tópico Excalibur.

            De facto, parece que muita gente anda esquecida e apontam como alternativa à desgraça que nos governa agora a desgraça de outro tempos.

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              #7
              Não tenham grandes duvidas: desde a Guerra Colonial que Portugal está a descer pela sanita abaixo, e ninguém quer saber. São 50 anos a olhar para o lado!!!

              Tanto vilipendiam Oliveira de Salazar, mas tomara que boa dos políticos tivessem as suas melhores qualidades.

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                #8
                1º Salto de Guarda Quedas ( actualmente Páraquedas )

                As nossas memórias não são só, de factos negativos, politiquices ou futebolices.

                E em 1819 havia factos ultra inovadores que davam azo a noticias de relevo

                "Lisboa, 15.12.1819 - As diversas notícias de viagens aerostáticas feitas em vários países da Europa com a bela invenção do Guarda-queda, inventado por André Jacques Garnerin, e pela primeira vez experimentado em Paris, em Junho de 1799, experiência que o mesmo inventor repetiu em São Petersburgo em 1800 na presença do Imperador Alexandre, davam incentivos aos Portugueses que prezam os progressos das Ciências e das Artes, de desejarem se oferecesse algum dia ocasião de presenciarem esta experiência, toda filha das mais acertadas combinações.

                Não se podia certamente apresentar entre nós um homem mais capaz de desempenhar este objecto que o exímio físico Mr. Robertson, que em quase todas as Cortes da Europa havia patenteado a sua dexteridade neste e nos outros ramos da Física experimental, nos quais o segue com desvelo e grande aptidão seu filho Eugénio Robertson; o qual, tendo na sua primeira viagem aerostática, feita a 14 de Março deste ano nesta cidade, dando provas do quanto havia aproveitado as lições paternas, quis aqui mesmo fazer a sua primeira experiência de descer em Guarda-queda, visto proporcionar-se-lhe esta ocasião de o fazer com tanto maior gosto por ser um país, se ele a fazia pela primeira vez, também era a primeira vez que se expunha o brilhante espectáculo da descida em Guarda-queda.

                Estando pois o tempo seco, no destinado dia 12 do corrente se dirigiu a inumerável multidão de pessoas, que desejavam ver esta experiência, ao sítio para ela escolhido na Quinta do Excelentíssimo Visconde da Baía, do lado do Sul da estrada d’Entre-Muros. Pouco depois do meio dia começou a principal operação de se extrair o gás hidrogénio e encher o Balão, indo-se depois expedindo vazios aeróstatos de espaço a espaço, que iam mostrando a direcção que pouco mais ou menos seguiria o Aeronauta.

                No intervalo da operação, e ao som da música militar, que de vez em quando alegrava os ouvidos com harmoniosas peças de música, executou o destríssimo equilibrista Mr. Luiz (o célebre Indiano que o público admirou por muitas noites no Teatro da rua dos Condes), as suas mais difíceis destrezas e equilíbrios, bem como também a introdução das duas espadas de 25 polegadas pela boca abaixo, andando com elas introduzidas pelo esófago uma boa terça parte do circuito interior da praça, tirando-as ainda quentes, e mostrando-as, como antes da introdução, a quem as quis ter na mão, ou ver de mais perto a sua realidade, e carência da mínima mola que pudesse servir de diminuir o seu comprimento.

                Seriam pois três horas e meia quando, preso ao Balão o Guarda-queda, entrou no cesto de verga forrado de seda o jovem aeronauta Eugénio Robertson, com a bandeira portuguesa na mão, e despedindo-se dos circunstantes, largado o Balão à sua força ascensional, se elevou rápida e magestosamente, deitando logo abaixo a bandeira, e em breves minutos estava elevado a uma altura tal que apenas parecia o Balão um disco de três ou quatro palmos de diâmetro olhado pela simples vista; e posto que ao princípio seguiu a direcção obliqua um pouco ao Nornordeste, achando diversa corrente de ar tomou outra vez uma direcção muito mais iminente ao sítio da partida.

                Estavam fitos os olhos dos espectadores, entre susto e gosto, para verem o momento em que o intrépido aeronauta se separava do Balão; eis que em altura calculada em 1200 braças (muito mais do que subira em Março) se viu subitamente separar-se o Balão, e descer precipitado por um momento o Guarda-queda, e dentro de poucos segundos se divisou plenamente aberto, descendo com muita serenidade, bem como debaixo de hum vasto pavilhão, o denodado Aeronauta, o qual, depois de mais de 20 minutos do momento da subida, tendo-se demorado mais de metade deste tempo na descida, veio sem o menor desastre pousar da parte de dentro do valado de uma terra na estrada das Laranjeiras para a Luz, de onde voltou seguido de muito povo ao lugar da partida, a abraçar seu pai, e colher os parabéns do feliz desempenho desta bela, mas árdua experiência.

                Não podia ser mais magnifico o concurso das distintas pessoas que honraram este brilhante espectáculo com a sua presença no recinto dos camarotes e anfiteatro, nem foi sem dúvida mais brilhante e numeroso o concurso que houve na experiência de 14 de Março; pois se aquela não era nova para todos, esta só podia deixar de o ser para aquelas mui poucas pessoas existentes neste país que em outros a presenciassem; e dificultosamente se poderá ter feito em parte alguma o espectáculo da descida de Balão em Guarda-queda com maior perfeição e asseio da parte do artista, e com mais esplêndido circulo de espectadores. Se juntarmos a isto a exacta ordem que se observou, conforme as acertadas disposições da Policia, já na direcção das carruagens, já na tranquila retirada de tão grande multidão de povo, completaremos a sucinta ideia de um espectáculo, que, se na sua mesma raridade tem grande mérito para o vulgo, muito maior o tem para o homem pensador e instruído, que nele vê uma demonstração do adiantamento que nos últimos tempos tem sido as ciências físicas pelos esforços dos sábios da Europa; adiantamento que, apesar do pouco ou nenhum fruto de alguns inventos, tem pela suma utilidade de outros, elevado a alto ponto de perfeição as Artes, e constituído a glória e a riqueza das Nações mais cultas.

                A satisfação do público pelo feliz êxito desta experiência de novo se patenteou no Teatro Nacional da Rua dos Condes, quando à noite se apresentou na plateia o jovem aeronauta, levantando-se os espectadores para o aplaudirem com tal entusiasmo, que ele mesmo confessa ficara ternamente commovido, e eternamente obrigado a tão obsequiosa aprovação, tanto mais digna de apreço por ser de um povo ilustrado e circunspecto qual o desta grande Capital. E certamente podemos dizer que assaz provas tem aqui dado Mr. Robertson da alta opinião que goza na Europa, pois todas as suas experiências feitas nesta cidade têm tido o melhor êxito, e tem sido dignamente apreciadas por todos os inteligentes. O Balão foi cair, segundo nos consta, em S. Lourenço de Rana a 5 léguas de Lisboa, e uma adiante de Bucelas."

                (in Gazeta de Lisboa n.º 297, 16.12.1819).

                Errata:
                Lisboa, 17.12.1819 – Na Gazeta de Quinta feira 16 do corrente, da segunda para a terceira linha do artigo Lisboa , onde se diz “invenção do Guarda-queda, inventado por A. J. Garnerin,” deve ler-se: “invenção do Guarda-queda, inventado por A. J. Garnein o seu uso na descida dos Balões, e pela primeira vez experimentado, etc.”
                Editado pela última vez por Excalibur; 20 May 2009, 13:41. Razão: Correcção

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