Abro este tópico com esta pequena metáfora que escrevi, para saber se a vossa consciência vos diz que o voto será a melhor solução nestas eleições ou se será melhor optar pela abstenção. Face ao crescente descontentamento dos eleitores relativamente à nossa classe política, as pessoas que optam por desistir de votar é cada vez maior. O facto de nas europeias a abstenção ter batido todos os recordes, é sinal de que algo vai mal na vida política portuguesa. Por certo a maioria de nós já equacionou se iria ou não exercer o tal direito de voto. E assim se justifica esta discussão.
Todavia, a questão que se põe é se será a abstenção a melhor opção para quem está descontente?
Embora Mirabeau afirme que “o silêncio dos pobres é a lição dos reis” será que para eles o nosso emudecimento lhes fará alguma diferença?
A minha opinião, dou-a a seguir.
“Os filhos da Nação”
O pai, a mãe e os filhos – um lar disfuncional – o nosso Portugal
O pai, a mãe e os filhos – um lar disfuncional – o nosso Portugal
Este é o nosso lar: um lugar onde o nosso pai maltrata a nossa mãe perante o nosso olhar e a nossa apatia.
O nosso pai político nunca respeitou a mãe Democracia e sempre nos tratou mal a nós povo, os filhos da nação. Esta é tão-somente a história recente do nosso Portugal.
E, não. Isto não é um lar de verdade. É um lar disfuncional, onde o nosso pai nunca gostou nem aceitou a nossa mãe. Nunca se deu bem com ela, pois ela não lhe permite a vida viciosa e obscura que leva. Desconfia do vil numerário que ele trás sempre consigo nos bolsos. Ela não lhe admite aquela estranha forma de vida impregnada de suspeitas de ilicitude e corrupção. E nós, os filhos, vamos assistindo a este casamento fingido, só com “pão e vinho sobre a mesa”1 e sem amor no coração. E nós, o povo, vamos observando esta democracia fictícia, só com fome no estômago e sem esperança na nação.
Este local de aparências a que chamamos lar, nunca foi uma morada de verdade. Lá mora a fome e a miséria com os filhos a quem nunca lhes foi providenciado o pão. Filhos a quem nunca lhes foi dada a educação escondidos que vivem no medo e na insegurança. É uma casa onde cada vez há mais injustiça e desilusão.
Afinal, quem é este pai que nos tirou a liberdade, nos afastou da igualdade, fazendo-nos destas voltar a ter saudade? E, aonde está a nossa mãe Democracia que nos levaste para longe da vista e da qual também temos já saudade? Afinal para onde levaste esse sonho que nos prometeste trazer–nos felicidade?
Ó santa ignorância, que nunca precisámos tanto de ti como agora para podermos ser felizes!
Ó filhos desse deus menor que os nossos sonhos nos roubaram, olhai para esta nossa condição de sermos tão pobres no vestir como ricos no sonhar, e atendamos: “Podem golpear-me, partir-me as pernas, matar-me, ficarão com o meu cadáver mas jamais com a minha obediência.”Não fiquemos, pois, a ver o pai político a maltratar a mãe Democracia, pois agora chegou a altura de usarmos a arma que temos para acabar com esta nossa triste condição.
Votemos pois, porque por mais que nos façam e ameacem, jamais nos calarão a voz da razão.
Votemos, pois “um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda.”3
Votemos para que possamos ouvir da boca desse homem político as palavras “«Povo que lavas no rio que talhas com teu machado as tábuas do meu caixão»4 jamais me ireis conceder o perdão por todo o mal que fiz à vossa nação”.
1(Ferreira, Reinaldo)
2(Gandhi)
3(Lincoln, Abraham)
4(de Melo, Pedro Homem)
E vocês: vão votar ou não? E porquê?
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