Temos assistido a um crescendo de criminalidade, tanto daquela que acontece na rua e em casa que surge das mais variadas formas podendo apanhar qualquer um de nós, como os grandes crimes de corrupção que de forma indirecta também nos afectam. A criminalidade violenta aumentou a olhos vistos e é raro o dia que não tenhamos conhecimento pelas notícias de crimes que nos fazem acreditar que a realidade supera a ficção. Nem os idosos escapam ao aumento da criminalidade violenta, onde o respeito deixou de existir por completo. O ladrão ou gatuno antigo inúmeras vezes romanceado que tinha um certo código de conduta já não existe mais.
No litoral ou no interior, no campo ou na cidade, em casa ou na rua, o crime está à espreita por toda a parte. Sair a certas horas da noite ou estar em certos sítios hoje em dia é impensável. Novos géneros de criminalidade até há bem pouco tempo por nós desconhecidas invadem as nossas vidas ensinando-nos a viver no medo. Nós que maioritariamente pouco temos, agora até esse pouco temos medo que nos tirem. Mas como quem pode fazer alguma coisa não desce do seu pedestal cá à terra da insegurança e medo, não sabe o que isso é e deixa que o mexilhão se roube e mate entre si, pois para eles lá no alto está tudo bem.
Embora de formas diferentes, todos os géneros de criminalidade preocupam-me bastante. No entanto, o grande crime económico-financeiro, o chamado “crime de colarinho branco”, tem-me absorvido, não só pela sua magnitude e proliferação alastrando-se aos órgãos de soberania em quem confiamos os nossos destinos, como pela forma impune como estes se têm livrado da justiça por eles legislada em proveito próprio. Se o pequeno crime afecta pontualmente os cidadãos, o crime de larga escala afecta a nação e, por conseguinte, prejudica-nos a todos. A corrupção é, afinal, tão-somente a constatação da degradação da democracia portuguesa.
Enquanto o nosso dinheiro é injectado nos bancos, estes são assaltados por fora em pequenas quantidades e pelos que estão lá dentro aos milhões de euros. O esforço nacional para auxiliar a banca e ajudar a economia resulta em roubos de colarinho branco enquanto os spreads escandalosos que são cobrados tornam o crédito inacessível à maioria da população.
Continuamos a dar mordomias e privilégios, a bajular, a estender passadeiras vermelhas e a curvarmo-nos com reverência diante daqueles que nos roubam descaradamente em abundância e que são os verdadeiros responsáveis pelo facto de 50 biliões de euros provenientes da EU e das diversas privatizações não nos terem tirado da crise, nem melhorado as condições de vida dos mais necessitados. Apenas entraram nos bolsos dos mais abonados aumentando o fosso entre estes e os mais carenciados. Ao fim de tantos anos, temos 2,2 milhões de pobres e pouco mais.
Segundo um relatório do Banco Mundial, Portugal teria o nível de desenvolvimento e de riqueza da Finlândia se cá não existisse corrupção. E todos os governos até agora escusaram-se a travar verdadeiramente a corrupção. Antes pelo contrário: legalizaram-na através da nova lei sobre o enriquecimento ilícito segundo a qual um pagamento de 60% sobre a verba ganha de forma desonesta faz com que esta passe a ser lícita. Vêm-se pessoas que estiveram nos governos e câmaras municipais a serem mais tarde detentoras de grandes grupos económicos e de avultadas fortunas, sem que sejam investigados. E quando tal acontece, temos o poder político a intervir no poder judicial, o que não é minimamente admissível em democracia.
Segundo estudos económicos recentes, no que respeita à distribuição do rendimento nacional, encontramo-nos a um nível inferior a 1973. Onde está então essa tal Democracia? Para onde foi tanto dinheiro? Só para auto-estradas? Isto é o resultado de mais de 3 décadas de políticas que favoreceram sempre os mesmos.
Embora não sendo o único, é este crime que mais me preocupa, por ser um “cancro” que está a corroer a nação por dentro. E a nação somos nós.
Mas se calhar penso assim por não ser vítima de outro género de criminalidade como acontece com outros que vivem em grandes cidades e que aqui poderão dar a opinião acerca do crime que mais os aflige.
Assim sendo, da criminalidade actual, qual é a que mais te aflige?
Comentário