Anúncio

Collapse
No announcement yet.

O que pensam do ser humano?

Collapse

Ads nos topicos Mobile

Collapse

Ads Nos topicos Desktop

Collapse
X
Collapse
Primeira Anterior Próxima Última
 
  • Filtrar
  • Tempo
  • Show
Clear All
new posts

    Sociedade O que pensam do ser humano?

    Ora cá estou eu... como já sabem isto não é novidade nenhuma!

    Aquilo que me fascina, o ser humano...

    O que vocês acham da espécie humana?

    Que caracteristicas positivas e negativas têm atribuir?

    O que podemos fazer para evoluirmos o melhor de nós?

    O que têm apontar?




    Alguns autores consideram que as grandes revoluções da era moderna que mudaram a concepção que temos de nós mesmos foram três, associadas a três grandes nomes da ciência: Copérnico, Darwin e Freud. As três revoluções tiveram consequências epistemológicas imediatas, sobre a metodologia científica em diversas áreas, sobretudo em astronomia, física, biologia, psicologia e sociologia. Mas, elas exerceram uma influência, que considero ainda mais importante, sobre a concepção que temos de nós mesmos, das nossas relações sociais, e da nossa relação com o mundo que nos rodeia. A influência mais profunda daquelas três revoluções situa-se, de facto, ao nível das nossas concepções filosóficas e religiosas.
    É muito possível que estejamos neste momento no início de uma nova revolução paradigmática semelhante às que são associadas àqueles três cientistas, uma revolução provocada pelos rápidos desenvolvimentos das ciências cognitivas que se têm verificado sobretudo a partir de meados do século XX, e cujo fim e implicações não se vislumbram ainda por completo, permanecendo em aberto um vasto leque de hipóteses quanto a desenvolvimentos futuros. Trata-se, em alguns casos, de hipóteses altamente perturbadoras, mas ao mesmo tempo muito estimulantes, já que poderão conduzir a um melhor conhecimento de nós mesmos. São igualmente hipóteses que nos convidam a prosseguir um caminho sem regresso. Georges Vignaux afirma a este propósito que as novas perspectivas paradigmáticas criadas pelas ciências cognitivas “podem ainda fazer crer aos cépticos, arreigados aos funcionamentos disciplinares clássicos, que os estudos cognitivos não serão mais do que uma moda, uma etapa na reestruturação dos saberes. Isso não é verdade: os confrontos visíveis são também índices de numerosos intercâmbios invisíveis: estamos perante uma ‘revolução’ no sentido copernicano, nas formulações dos nossos conhecimentos e dos nossos métodos”. 1
    O que se pode desde já dizer é que o impacto desta nova revolução operada pelas ciências cognitivas é bastante mais radical que o das revoluções anteriores, já que pretende, em certos aspectos, englobá-las e, ao mesmo tempo, superá-las numa síntese nova e aberta a contínuas e inesperadas novidades. Trata-se sobretudo dos aspectos que se referem à concepção tradicional do ser humano, concepção que continua a sofrer transformações - talvez possamos dizer mesmo, radicais transformações. Estas concepções constituem um movimento cultural e filosófico com início no Renascimento e que parece conhecer agora desenvolvimentos tão decisivos quanto insuspeitados. O fio condutor destas revoluções é, de facto, o da naturalização completa do ser humano, o qual é agora convidado com maior insistência a descer do pedestal da esfera sobrenatural na qual pensara ter sido colocado por Deus no acto da sua criação, e que lhe conferia uma natureza que o distinguia substancialmente de todos os demais seres criados, constituindo-o a única criatura com uma alma espiritual que lhe assegurava a imortalidade. As revoluções atrás referidas tenderam a aproximar tão perigosamente o ser humano dos demais seres vivos, que a sua dignidade parece diminuir progressivamente. O mesmo ser humano poderá estar destinado a desaparecer da face da Terra, dando lugar a uma nova geração de seres vivos radicalmente diferentes: seres que, para alguns, tanto poderão resultar de uma total simbiose homem-máquina como da completa substituição dos seres humanos por máquinas supertinteligentes, ou ainda por uma nove espécie de mamíferos que conduza ao desaparecimento do homo sapiens.

    2. As ciências cognitivas e a pergunta: “O que é ser humano?”

    As ciências cognitivas têm sido objecto de diversas definições. Para alguns, são “o estudo interdisciplinar dos processos cognitivos envolvidos na aquisição, representação e uso do conhecimento humano, incluindo em particular o estudo da linguagem natural, memória, resolução de problemas, aprendizagem, visão e raciocínio”2 Para outros são “o conjunto de investigações interdisciplinares que procura explicar a actividade inteligente, quer a que é própria dos seres vivos (especialmente humanos adultos), quer a das máquinas.”3 Muitas outras definições se poderiam apresentar, mas vale a pena sublinhar que praticamente todas elas acentuam a estreita ligação entre cognição ou conhecimento e acção ou comportamento. Este facto deve-se à predominância que a inteligência artificial e a psicologia assumiram no contexto das ciências cognitivas durante várias décadas, desde a sua ‘pré-história’, a partir dos anos 30, com a concepção por Alan Turing de uma máquina inteligente, até ao famoso “Symposium on Information Theory”, realizado em 1956 no não menos famoso Massachusetts Institute of Technology, e ao “Encontro de Darmouth”, realizado no mesmo ano. O Simpósio marca o nascimento oficial das ciências cognitivas.
    Os estudos de informática, lógica, linguística e psicologia constituíram desde o início uma aliança que olhou a acção e o conhecimento humanos como algo cujos mistérios poderiam ser plenamente compreendidos a partir da explicação do funcionamento de máquinas inteligentes. Esta corrente, na qual a lógica assumia um papel central, ficou conhecida como cognitivismo. Mas há que ter em conta que as ciências cognitivas só aparentemente se centram no nível epistemológico ou do conhecimento, e da acção ou comportamento. Com efeito, a epistemologia não é dissociável de uma ontologia e, no caso das ciências cognitivas, de uma onto-antropologia. Não se trata apenas de proceder a investigações sobre a questão de saber quais são os mecanismos da acção e do conhecimento humanos e como simulá-los, mas de procurar responder à questão que constitui o título do capítulo introdutivo da obra de Mark Johnson e George Lakoff Philosophy in the Flesh: “Quem somos nós? Como a ciência cognitiva reabre questões filosóficas centrais”.4 Segundo os autores, estas questões são reabertas a partir de uma nova abordagem paradigmática da mente e da razão humanas, uma abordagem empírica, corpórea. Johnson e Lakoff consideram que o conceito de razão “inclui não apenas a nossa capacidade de inferência lógica, mas também a nossa capacidade para investigar, para resolver problemas, para avaliar, criticar, deliberar acerca do nosso modo de agir, e para chegar a uma compreensão de nós mesmos, das outras pessoas e do mundo.”5 Está feita aqui de um modo explícito a ligação entre epistemologia e onto-antropologia: “Uma mudança radical na nossa compreensão da razão”, continuam os autores, “representa por conseguinte uma mudança radical na compreensão de nós mesmos”.6 Numa tentativa de resposta à questão “quem somos nós?”, Mark Johnson e George Lakoff pensam poder adiantar já algumas das transformações que as ciências cognitivas estão a provocar na compreensão de nós mesmos como seres humanos. Os autores começam por elencar as principais descobertas destas ciências que parecem estar a mudar radical e definitivamente a nossa concepção do que é ser humano:
    “A mente é por natureza incarnada. O pensamento é na sua maior parte inconsciente. Os conceitos abstractos são largamente metafóricos.
    Estas são três das descobertas mais importantes da ciência cognitiva. Mais de dois mil anos de especulação filosófica apriorística acerca destes aspectos da razão pertencem já ao passado. Devido a estas descobertas, a filosofia nunca mais será a mesma.”7
    Os autores notam, não sem alguma razão, que estas teses das ciências cognitivas introduzem uma ruptura paradigmática com toda a tradição da filosofia ocidental, no que se refere não apenas às correntes metafísicas aristotélico-tomista e kantiana, mas também à tradição analítica, anti-metafísica, e até mesmo às correntes filosóficas pós-modernas. Johnson e Lakoff assumem em relação a estas tradições uma atitude radical. Propõem, nada mais nada menos, que um recomeço a partir do zero. São mais de dois mil anos de pensamento filosófico que se torna necessário arquivar até que a poeira do tempo os acabe por cobrir e nós próprios acabemos por deles nos libertarmos.
    Quais seriam as consequências de uma atitude tão radical como esta? “O que aconteceria se começássemos com estas descobertas empíricas acerca da natureza da mente e elaborássemos a filosofia a partir do zero?”, perguntam. E continuam: “A resposta é a seguinte: uma filosofia empiricamente responsável exigiria que a nossa cultura abandonasse alguns dos seus pressupostos filosóficos mais profundos” Os autores recusam assim qualquer projecto de continuidade com a tradição filosófica ocidental. Contudo, esta posição supõe uma visão dessa tradição que parece desconhecer modificações importantes que se têm verificado na filosofia e na teologia ocidentais, sobretudo ao longo do século XX, especialmente no que se refere à auto-compreensão do ser humano, como veremos mais adiante.
    Se a natureza da mente e da razão, bem como dos conceitos que utilizamos para pensar, conhecer e decidir, é empírica e não incorpórea, contrariamente ao que a tradição ocidental considerou durante mais de dois mil anos, então a conclusão a tirar é tão óbvia quanto surpreendente: “ É, de facto, chocante”, ainda segundo Johnson e Lakoff, “descobrir que somos muito diferentes daquilo que a nossa tradição filosófica nos tem dito.”8 O que de início poderia parecer uma questão meramente epistemológica transformou-se rapidamente numa questão ontológica, não apenas no que se refere à realidade em geral, mas também, e muito mais concretamente, à realidade do ser humano.

    3. O impacto das neurociências

    Esta dimensão onto-antropológica das ciências cognitivas tornou-se mais evidente sobretudo com o recente desenvolvimento das neurociências. Patricia Churchland considera que é precisamente a cada avanço experimental que “a neurociência está a moldar a nossa concepção sobre quem somos. A evidência hoje acumulada implica que é o cérebro, e não alguma realidade não física que sente, pensa e decide...Isto significa que não existe nenhuma alma que viva a sua eternidade postmortem feliz no Céu ou infeliz no Inferno.”9 Foi de facto com o surpreendente desenvolvimento das neurociências, sobretudo com o aperfeiçoamento das técnicas de estudo do funcionamento cerebral nas décadas de 80 e 90, que a complexidade do comportamento humano, no qual a razão e a emoção interagem constantemente, provocou uma significativa mudança nas ciências cognitivas. A partir de um conhecimento muito mais pormenorizado do funcionamento do sistema nervoso e, em particular, do cérebro humano, cujas conexões sinápticas seguem um esquema de distribuição em paralelo e não em série, ao contrário do que era pressuposto pelos cognitivistas, as máquinas inteligentes começaram a ser pensadas a partir do conhecimento do cérebro humano, e não inversamente, como antes sucedia. Nascia o conexionismo.
    A partir deste momento, as ciências cognitivas adquiriram um carácter mais filosófico ou, dito de outra maneira, começaram a abordar mais aprofundadamente questões que até então eram consideradas específicas da filosofia e da teologia. Conceitos como os de alma, espírito, mente, auto-consciência, pensamento, liberdade, etc., designam outros tantos problemas de que as ciências cognitivas se apropriaram inteiramente. A vertente ontológica relativa à natureza dos seres que conhecem, acaba por ser compreendida também no mesmo domínio das neurociências, da psicologia cognitiva e da inteligência artificial. Estes três campos de estudo parecem fornecer exaustivamente informações sobre todos os processos cognoscitivos dos seres vivos e, a partir daí, explicar também as actividades que realizam, isto é, os seus comportamentos e, em última análise, a sua própria natureza.
    Dado que os processos cognoscitivos realizados pelos seres vivos em geral, parecem ter muito em comum, já que têm a sua origem no dinamismo da evolução das espécies, facilmente se conclui que o substracto ontológico desses processos deve ser também basicamente o mesmo. Daqui a facilidade com que se crê nas profundas afinidades entre os seres humanos e os seres vivos em geral, sobretudo os mamíferos. E se é verdade que todos os seres vivos pertencem pura e simplesmente ao mundo natural, a sua estrutura ontológica, aparece despida de qualquer sentido metafísico, transcendente ou sobrenatural. As tradicionais noções de alma, espírito e mente perdem todos os seus mistérios. Para alguns, estes mistérios poderão continuar, quando muito, nas abordagens da filosofia e da religião tradicionais, sobretudo no ocidente. Mas por pouco tempo mais. Dentro em breve, a resposta à pergunta ‘o que é ser humano’ será esclarecida na sua totalidade pela conjugação de esforços das diversas ciências cognitivas. É para aqui que conduzem, segundo Howard Gardner, os actuais desenvolvimentos interdiscipinares:. “Hoje em dia, a maior parte dos cientistas cognitivos são oriundos do campo de disciplinas específicas – em particular, da filosofia, da psicologia, da inteligência artificial, da linguística, da antropologia e das neurociências. A esperança é que um dia as fronteiras entre estas disciplinas possam ser atenuadas ou mesmo desaparecer por completo, originando uma ciência cognitiva única e unificada.”10 A expressão ‘ciência cognitiva única e unificada’ está longe de ser clara, e embora possa ser entendida num sentido algo profético mas não necessariamente apocalíptico, não pode deixar de nos trazer à memória o fracassado projecto neopositivista de unificação das ciências.
    Nesta mesma linha profética de absorção de todos os grandes domínios do saber pelas ciências cognitivas tendem a pronunciar-se diversos outros autores. Segundo Patricia Churchland, “nesta fase da sua história o cérebro e as ciências do comportamento são extremamente excitantes, porque tudo indica que iniciámos um período no qual obteremos uma compreensão científica global da relação mente-cérebro, numa extensão não trivial. Teorias de vasto alcance, do tipo paradigma orientador, ou contexto unificador, estão a começar a emergir, e evoluirão e estruturarão tanto o trabalho de investigação como, indubitavelmente, o nosso modo de pensarmos sobre nós mesmos. E seria de admirar que as novas teorias e as novas descobertas não contivessem surpresas de tal magnitude que venham a constituir uma revolução no nosso modo de entender. (...) Já é evidente que alguns conceitos profundamente centrais da psicologia do senso comum, tais como a memória, a aprendizagem e a consciência, ou estão a fragmentar-se ou serão substituídos por categorias mais adequadas.”11 Que através do desenvolvimento das ciências cognitivas venhamos a obter progressivamente um conhecimento mais profundo do que é ser humano parece claro. Já é menos claro que nova imagem irá emergir dos constantes e por vezes apressados progressos científicos.
    Na linha de Patricia Churchland, e de um ponto de vista estritamente neurobiológico, Francis Crick crê que se pode dizer a um ser humano: “Você não passa de um embrulho de neurónios”. Esta é, segundo o autor, uma “hipótese espantosa”, tão espantosa que a maior parte das pessoas, mesmo as mais cultas, se recusarão a aceitá-la. “A Hipótese Espantosa”, afirma Crick, “é a de que você, as suas alegrias e as suas tristezas, as suas memórias e as suas ambições, o seu sentido de identidade pessoal e de livre arbítrio, não sejam de facto mais do que o comportamento de um vasto conjunto de células nervosas e das suas moléculas associadas. ... Esta hipótese é de tal forma estranha às ideias da maioria das pessoas hoje vivas que bem pode ser considerada como espantosa.”12
    Para autores como Francis Crick, Patricia Churchland, Mark Johnson e George Lakoff, o movimento de naturalização do ser e do saber humanos parece ter entrado em contradição insanável com a perspectiva filosófico-teológica do carácter sobrenatural dos elementos característicos da humanidade como, por exemplo, a alma, a mente, a consciência ou o espírito que, segundo a tradição ocidental, especificam o ser humano. É de facto impressionante que grande parte das obras de carácter mais filosófico que hoje são publicadas na área das ciências cognitivas se baseiem numa repetida afirmação da oposição entre as perspectivas natural/sobrenatural e imanente/transcendente. Os autores destas obras parecem ignorar que é possível dispensar tais dualismos sem com isso necessitar de introduzir uma ruptura radical com a reflexão humana amadurecida no ocidente ao longo de mais de dois mil anos. O dualismo corpo-alma é um dos que mais suscita críticas demolidoras. Mas serão elas tão justificadas e destrutivas como parecem?

    4. Quem somos nós? Crick e Flanagan sobre a alma humana

    A questão da existência e da natureza da alma humana constitui actualmente uma das questões mais debatidas pelos autores que desenvolvem a perspectiva filosófica das ciências cognitivas, já que se trata de um conceito no qual converge muito da tradição filosófico-teológica ocidental, e que aparece tradicionalmente associado ao conceito de corpo, criando assim um dualismo hoje posto em causa.
    Francis Crick, como muitos outros, parece ter ideias claras e definitivas sobre a questão da alma. O autor considera, não sem razão, que, cientificamente falando, se trata de um conceito desnecessário para a compreensão do mesmo ser humano. “Um neurobiólogo moderno”, afirma ele, “não precisa do conceito religioso de alma para explicar o comportamento dos humanos e de outros animais.” A afirmação é tão óbvia que quase parece trivial E, evocando as transformações na compreensão do cosmos provocadas pelas descobertas de Galileu, Kepler e Newton, Crick continua: “faz lembrar a pergunta que Napoleão fez, depois de Pierre-Simon Laplace lhe ter explicado como é que o sistema solar funcionava: ‘Onde é que Deus entra nisto tudo?’ Ao que Laplace respondeu: ‘Sire, não preciso dessa hipótese’”. E prossegue:. “Nem todos os neurocientistas acreditam que a ideia da alma seja um mito -Sir John Eccles é a excepção mais notável- mas não há dúvida de que a maioria é dessa opinião. Não é que tenham conseguido provar que a ideia seja falsa. Mais propriamente, tal como as coisas de momento se apresentam, não vêem qualquer necessidade dessa hipótese.” E conclui: “considerado sob a perspectiva da história humana, o principal objectivo da investigação científica do cérebro não é o de compreender meramente e de curar várias situações clínicas, por muito importante que a tarefa possa ser, mas antes abarcar a natureza real da alma humana. O que se tenta descobrir é se este termo será metafórico ou literal.”13 Devo dizer que julgo altamente improvável que os investigadores que estudam o cérebro humano considerem sua tarefa prioritária esclarecer se o conceito de alma deve ser tomado em sentido literal ou metafórico. Em todo o caso, há quem pareça, segundo Crick, ter já resolvido o problema: “Muitas pessoas instruídas, sobretudo no mundo ocidental, também partilham a convicção de que a alma é uma metáfora e que não existe vida pessoal antes da concepção, nem depois da morte. Poderão auto-denominar-se ateus, agnósticos, humanistas ou apenas crentes apóstatas, mas todos eles negam os principais argumentos das religiões tradicionais.”14
    Na mesma linha de Crick, Owen Flanagan dedicou recentemente uma obra15 à questão do conflito que, no que se refere à compreensão do ser humano, parece existir entre a perspectiva das ciências naturais, particularmente a das ciências cognitivas, e a das humanidades tradicionais, particularmente a da filosofia e a da teologia. Um dos pontos em que este conflito surge com maior evidência é segundo o autor a questão da existência ou não de um “eu” substancial e de uma alma humana em sentido subsistente e imortal. Flanagan considera que a questão da alma é muito mais ampla do que habitualmente se supõe, afirmando que “ ‘o problema da alma’ é uma forma abreviada de referência a um conjunto de problemas filosóficos centrais na perspectiva humanista dominante. Estes conceitos incluem, antes de mais, uma mente não física, a liberdade e um self ou alma permanente, subsistente e imutável.” Flanagan reconhece com razão que para muitas pessoas estes conceitos estão ameaçados pelo progresso científico, e é esta percepção que causa nessas pessoas uma grande resistência à perspectiva científica, já que daqueles conceitos parece depender definitivamente para eles o próprio sentido da existência humana. Por isso, continua Flanagan, para essas pessoas, uma vez que “sem uma mente não física, a liberdade e a alma não são coisas reais mas apenas meras aparências, então, é o fim do mundo – pelo menos do mundo tal como o conhecemos.”16.Tocamos aqui de novo o tema da revolução paradigmática copernicana que em muitos aspectos parece estar a levar-nos para um ‘outro mundo’ conceptual e de auto-compreensão, mas que pode contudo conduzir-nos também a um enorme progresso.
    Flanagan propõe-se resolver o conflito entre as imagens do ser humano que nos são dadas pelas ciências naturais, por um lado, e as que nos vêm das humanidades, por outro, sugerindo que devemos desistir de acreditar na existência quer de um eu, quer de uma alma, no sentido subsistente que lhes dão as humanidades tradicionais, particularmente a filosofia e a teologia ocidentais, dado não haver qualquer base para uma tal crença. No entanto, o autor evita assumir uma posição demasiado radical. Há que preservar as referências fundamentais que nos têm permitido compreender o sentido da vida. Podemos pois, segundo ele, continuar a utilizar os termos antropológicos fundamentais desde que deixemos de lhes atribuir o sentido substancial tradicional: “podemos preservar muito daquilo que queremos significar quando falamos de ‘mente’, ‘alma’, ‘self’ e ‘liberdade’, sem continuar a atribuir-lhes aqueles aspecto de significado procedentes das suas raízes religiosas e teológicas.”17. Há que aceitar, continua Flanagan, que “a nossa dimensão animal é a nossa única dimensão. Somos todos animais e o cérebro é a nossa alma.18” Mas esta solução do problema da nossa identidade e auto-compreensão parece demasiado simples e desfundamentada para poder ser tomada acriticamente
    Flanagan considera que, não existindo uma alma humana subsistente e imortal, também não terá sentido qualquer discurso sobre um Deus igualmente subsistente e imortal. O autor parte do princípio que a única forma de defender a imortalidade do ser humano consiste em acreditar que existe nele uma alma, e que esta alma é subsistente e imortal. Mas será este pressuposto necessário para se falar da imortalidade do ser humano? Poder-se-á conceber a imortalidade em termos relacionais?

    5. O ser humano como relação

    A concepção substancial do ser humano era sem dúvida, e ainda é, o pressuposto tradicional da filosofia e da teologia cristãs, que continuam a ter um discurso cuja linguagem pertence a um paradigma – o paradigma aristotélico-tomista - que em muitos aspectos se afigura cada vez mais inadequado para a compreensão de quem somos nós. Embora sem negar a importância relacional do ser humano, este paradigma baseia-se na categoria de “substância” como sua trave mestra. Creio porém que num paradigma mais actual, o conceito de “relação” é muito mais adequado para exprimir aquilo que existe de fundamental no ser humano e que desejaríamos fosse eterno, - a relação com os outros vivida como amor. S. Tomás considera que embora em Deus se deva afirmar que existem relações subsistentes entre as três pessoas divinas, dado que essas relações não poderiam ser consideradas acidentais, no ser humano, pelo contrário, não há relações subsistentes. Mas não poderemos abandonar o dualismo substância/acidente, e considerar que aquilo que nos dá “alma”, que nos dá vida, é a nossa experiência de relação interpessoal? Para os que acreditam que Deus estabelece uma relação pessoal com cada ser humano, porque não considerar que essa relação é subsistente, isto é, eterna, sem que para isso tenhamos que recorrer necessariamente ao conceito de substância?
    É evidente que esta nova perspectiva paradigmática onto-epistemológica parte de um pressuposto antropológico muito diferente daquele que nos foi legado não apenas pela tradição aristotélico-tomista mas também pela modernidade. Em ambas as tradições, o ser humano é definido fundamentalmente pela sua estrutura ontológica e pelas suas competências epistemológicas e práticas, isto é, mais como indivíduo autónomo e racional do que como ser de relação. O tema do ser humano como ser-em-relação foi desenvolvido no século XX particularmente pelas correntes existencialistas e fenomenológicas.19 Mas agora essa abordagem já não é realizada apenas no contexto do pensar filosófico como um domínio separado da ciência. Trata-se de uma abordagem que é hoje realizada no interior das próprias ciências cognitivas. Um novo paradigma emerge. Com efeito, recentes publicações sobre a empatia e a chamada perspectiva da segunda pessoa20 (distinta quer da perspectiva da primeira pessoa, a da introspecção, quer da perspectiva da terceira pessoa, a científica) têm posto em evidência a importância central da relacionalidade como constituinte do ser humano.
    O que muda então se se definir o ser humano mais como ser-em-relação, isto é, como ser constituído por relações inter-subjectivas, do que como substância individual?
    Antes de mais, muda o conceito de corpo, o qual não pode ser considerado apenas na sua dimensão biológica como se de uma simples substância individual se tratasse. Seria regressar a uma ontologia substancialista que se pretende superar. A dimensão relacional do corpo humano e de todas as suas capacidades, nomeadamente as de natureza neurobiológica, é que permite superar o simples ponto de vista individual e ver o ser humano como pessoa. Nesta perspectiva, domínios como a filosofia, a ética e a religião aparecem não pouco transformados, mas não no sentido proposto pelas ciências cognitivas que são, também elas, substancialistas, já que se baseiam num substancialismo de tipo neurobiológico.
    Muda também o conceito de alma e o correspondente conceito de imortalidade. Em diálogo com as ciências cognitivas, Warren Brown considera que “a alma sendo uma dimensão da experiência humana, emerge da relacionalidade pessoal”.21 Além disso, “a capacidade de relacionalidade pessoal pode, por seu lado, ser vista como uma propriedade emergente de determinadas competências cognitivas críticas.”22 Considerar a alma como propriedade emergente não significa necessariamente considerá-la como uma substância espiritual, nem sequer como um princípio substancial do corpo, à maneira de S. Tomás. Isso seria regressar aos dualismos onto-epistemológicos que se pretende hoje superar. É na relação com Deus que o autor vê a possibilidade de falar na imortalidade da alma, e não num seu espiritual de natureza substancial: “Enquanto que a cognição contribui para (a emergência de) a alma, é, em última análise, o acto relacional de Deus que cria a alma em cada ser humano.”23
    Não deixa de ser curioso constatar que esta perspectiva não é inteiramente nova nem específica do diálogo com as ciências cognitivas. Ela encontra-se, por exemplo, em textos mais alinhados com a tradição filosófico-teológica da Igreja Católica. Joseph Ratzinger, por exemplo, considera que “ ‘ter alma espiritual’ significa exactamente ser objecto de um bem-querer especial, de um especial conhecimento e amor de Deus; ter uma alma espiritual denota: ser um ente chamado por Deus para o diálogo eterno e, por isso, estar em condições de conhecer Deus e de responder-lhe.”24 Por conseguinte, “a imortalidade concebida pela Bíblia não é fruto da própria capacidade daquilo que, por si mesmo, é indestrutível, mas da participação no diálogo com o Criador... Trata-se de uma ‘imortalidade dialógica’ “.25 É verdade que Ratzinger não recusa a perspectiva substancialista, mas não deixa de ser significativa a análise que o autor faz da alma e da sua imortalidade em termos relacionais no contexto da historicidade do ser humano, uma perspectiva que para ele parece ser complementar da primeira.
    Parte I

    #2

    • 6. As ciências cognitivas contra o ser humano?
    Depois de tudo o que ficou dito, parece lícito perguntar: estarão as ciências cognitivas contra o ser humano, desenhando um futuro em que a sua dignidade acabará por desaparecer completamente? Patricia Churchland não o crê. Pelo contrário, acredita que estas ciências nos ajudarão a compreender o mesmo ser humano de uma forma mais objectiva e profunda. “Os que supõem que a ciência e o humanismo devem estar necessariamente em conflito”, afirma a autora, “saudarão esta previsão do futuro sem entusiasmo. Eles podem tender a ver a revisão da teoria do senso comum e a emergência da teoria psicológica neural como a perda irreparável da nossa humanidade. Mas podemos ver isto de outro modo. Pode ser uma perda, não de algo necessário para a nossa humanidade, mas apenas de algo meramente familiar e habitual. Pode ser a perda de algo que, apesar de constituir uma segunda natureza, ilumina o nosso entendimento e reorienta a nossa compreensão.” A autora considera que o que se ganha na compreensão do ser humano proporcionada pelas ciências cognitivas compensará em muito o desconforto provocado em nós pela perda de muitas ideias a que estávamos habituados mas que, segundo ela, não têm qualquer fundamento. E continua: “o que vamos ganhar pode, por conseguinte, ser um enorme progresso na compreensão de nós mesmos, progresso que, no seu sentido mais profundo, contribuirá para aumentar e não para diminuir, o valor da nossa humanidade. Além disso, a perda pode incluir certos pressupostos do senso comum e mitos que, do ponto de vista da justiça e da decência, nós acabamos por considerar inumanos. E entre as perdas desejáveis podem ser incluídas também certas doenças generalizadas e horríveis relacionadas com a mente-cérebro.” E procurando, tal como Flanagan, resolver o conflito entre a perspectiva científica do ser humano e a perspectiva tradicional das humanidades, a autora conclui: “Libertarmo-nos de coisas como estas está claramente no espírito do humanismo e da ciência. Em todo o caso, é um engano ver a ciência como estando em oposição ao humanismo. Pelo contrário, são os abusos políticos e empresariais do conhecimento científico que revelaram um descuido catastrófico por princípios humanísticos. E nós teremos que nos defender de semelhantes abusos do conhecimento neurocientífico.”26 Embora esteja basicamente de acordo com esta afirmação de Patricia Churchland, devo dizer que os critérios para se identificar aquilo a que a autora chama “abusos do conhecimento neurocientífico” estão longe de merecer um generalizado consenso. Creio que a autora, e outros na mesma linha de pensamento, poderão estar a cometer semelhantes abusos, ainda que com a melhor das intenções.

    Também Owen Flanagan crê que mesmo esvaziando do seu significado tradicional os conceitos que definem o ser humano (alma, mente, eu, liberdade), isso não significa o fim do mundo e da civilização. “Há amor e amizade. Há benevolência e compaixão que se exprimem num sentimento de ligação a todas as criaturas, e até mesmo ao admirável e inanimado universo”. Flanagan revela aqui a sua inspiração budista, e é dessa perspectiva que se compreende melhor a sua afirmação de que “a perspectiva científica deixa um amplo espaço para um conceito humano e digno da pessoa.”27
    Parece-me que um dos domínios em que se decide a nossa humanidade e dignidade é o dos critérios de decisão, sobretudo em ética. Tais critérios têm sido profundamente reformulados pelas ciências cognitivas, ao proporem o abandonado dos critérios de decisão tradicionais. Todavia, não me parece que as ciências cognitivas possam orientar-nos nas nossas escolhas éticas, ainda que nos possam explicar o funcionamento das estruturas e mecanismos neurobiológicos que tornam possíveis essas escolhas. Com efeito, ainda que se conheçam os processos neurobiológicos que permitem ao ser humano pensar, as mesmas ciências pouco nos podem ajudar quando chega o momento de tomar decisões éticas, por vezes muito complexas e subjectivas, sobretudo nas chamadas situações-limite.28
    Tendo em conta tudo o que ficou dito acerca da revolução cognitiva em curso, uma revolução que não é possível ignorar, mas acerca da qual há que manter um esclarecido espírito crítico, não nos resta então outra alternativa senão enfrentar corajosamente os grandes desafios que nos são lançados pelas ciências cognitivas.
    • 7. Dez grandes desafios colocados pelas ciências cognitivas actuais
    1º- Poderão as ciências humanas aceitar que a estrutura do pensamento, da mente, da consciência, da razão, se compreenderá por uma metodologia que proceda “de baixo para cima” (bottom-up), isto é, que elabore os conceitos psicológicos, éticos, estéticos e religiosos fundamentais a partir da estrutura neurobiológica do ser humano? De que modo esta perspectiva se harmoniza com a mais tradicional, que procede “de cima para baixo” (top-down), isto é, a partir dos princípios racionais abstractos e universais em filosofia e dos princípios baseados na revelação de Deus, em teologia?

    2º O que teremos que mudar na nossa maneira de compreender o ser humano se considerarmos que a mente, o pensamento, a razão e a consciência são realidades que têm uma natureza fundamentalmente neurobiológica?
    3º Dado o conhecimento cada vez mais pormenorizado dos condicionalismos neurobiológicos do nosso comportamento pessoal e social, poderemos ainda falar de uma ética de liberdade e de responsabilidade?
    4º Poderemos aceitar que ao dualismo tradicional corpo-alma não correspondem duas entidades separadas nem separáveis e que, de facto, deveremos repensar o ser humano sem recorrer a este dualismo? Poderemos, por exemplo, pensar a imortalidade do ser humano sem o conceito de uma alma subsistente e tão radicalmente diferente do corpo que tenha a capacidade de permanecer depois da desintegração do mesmo corpo?
    5º Poderemos renunciar a um conceito substancial do eu, e passar a considerar-nos a nós mesmos como “processos”, como seres em mudança e sem um substracto permanente, como “eus” identificados simplesmente com a sucessão dos nossos estados passageiros – estados cognoscitivos, emocionais, estéticos, etc. no contexto de uma vida pessoal que é essencialmente relacional?
    6º Deveremos reconhecer que o paradigma filosófico-teológico de inspiração aristotélico-tomista e kantiana deixou de ser adequado para pensar o ser humano hoje, e que um novo paradigma – não necessariamente um novo neotomismo ou um neokantismo– se torna possível, necessário e urgente?
    7º Teremos que voltar a ler de uma forma nova algumas passagens da Bíblia, desde o Génesis ao Apocalipse (e até mesmo algumas passagens dos livros sagrados de outras grandes religiões), particularmente as que se referem à natureza do ser humano e às suas relações com o universo e com Deus, tal como aconteceu depois das revoluções galilaica e darwiniana?
    8º Considerando que a nossa natureza evolutiva nos aproxima dos outros animais, até que ponto podemos insistir numa radical diferença entre nós e eles?
    9º Poderemos admitir que as máquinas inteligentes do futuro possam vir a ter consciência, emoções, liberdade, e até o mesmo desejo de eternidade que possuem os seres humanos? Poderemos aceitar a hipótese de a evolução da vida continuar para formas radicalmente novas, biológicas ou não, que superarão definitivamente a humanidade tal como a conhecemos hoje?
    10º Finalmente, quais são as características do ser humano que o tornam especificamente humano?

    8. Responder aos desafios: por onde começar?

    Creio que para se poder começar a responder a estes desafios há que resolver definitivamente um problema mais fundamental, o da natureza e relevância onto-epistemológica dos inúmeros dualismos que herdámos do passado, dualismos como corpo/alma, matéria/espírito, natural/sobrenatural, imanente/transcendente, matéria/forma, substância/acidente, etc. Para se resolver esta questão, deveremos compreender melhor a origem de tais dualismos.
    Fundamentalmente, estes dualismos correspondem à necessidade sentida por filósofos e teólogos ao longo dos últimos dois ou três milénios de distinguir dois níveis de realidade. A ontologia apareceu como uma exigência epistemológica, isto é, de inteligibilidade do mundo na sua complexidade antropológica, cosmológica e teológica. As distinções ontológicas entre corpo e alma, matéria corruptível e matéria incorruptível, e entre a habitação dos homens e a dos deuses, permitiram uma visão onto-epistemológica integrada de toda a experiência e conhecimento humanos. E não é demais repetir que a introdução destas diferenças ontológicas foi uma condição de possibilidade epistemológica de progresso no conhecimento dos seres humanos, da natureza e dos deuses. Este facto parece-me da maior relevância, já que ele implica que mudanças significativas nestas condições de possibilidade epistemológicas no que se refere aos três domínios atrás referidos – antropológico, cosmológico e teológico - acabam por provocar, mais tarde ou mais cedo, mudanças ontológicas igualmente significativas.
    Creio que essas mudanças têm estado a acontecer sobretudo desde as revoluções galilaica e darwiniana, e que o seu ritmo se intensificou com a revolução cognitiva actualmente em curso. A revolução galilaica terminou com o esquema cosmológico medieval que integrava não só o dualismo corruptível-incorruptível em relação aos corpos terrestres e celestes, como também a existência do empíreo, o mundo transcendente onde habitavam Deus, os anjos e os santos, por detrás da esfera de água cristalina que se seguia à esfera das estrelas fixas, de acordo com a narração do Genesis. Uma transformação epistemológica no domínio cosmológico arrastou uma mudança ontológica no mesmo domínio, e uma mudança igualmente ontológica no domínio teológico. Os céus aproximaram-se perigosamente da Terra, o mundo transcendente pareceu fundir-se com o mundo imanente. Mas também no domínio antropológico a mudança ontológica tinha começado. O facto de o ser humano não continuar no centro do universo retirou-lhe alguma da sua dignidade ontológica.
    Mas foi com Darwin que esta dignidade pareceu desvanecer-se. Foi mais uma vez uma significativa mudança epistemológica, a da explicação do aparecimento da vida sobre a terra, incluindo naturalmente a vida humana através da teoria da evolução das espécies, que arrastou mudanças ontológicas em antropologia, sobretudo no que se refere ao dualismo alma-corpo, duas realidades que se uniram perigosamente numa completa fusão. O abismo ontológico que separava matéria e espírito tornou-se de súbito epistemologicamente desnecessário. A mente, que era para S. Tomás uma potência da alma, acabou por ser considerada por António Damásio um produto do cérebro. E assim, os dualismos ontológicos criados por esquemas epistemológicos igualmente dualistas estão a ser rapidamente transformados no sentido de uma unificação radical, unificação em que o ser humano e Deus se tornam radicalmente co-presentes na imanência do universo criado. Parece assim não ter mais sentido falar seja epistemológica, seja ontologicamente, de “este mundo” e de um “outro mundo”, a não ser de “um outro mundo dentro deste mundo”, isto é, o mundo das relações interpessoais que decorrem no mundo espácio-temporal em que vivemos, e do qual Deus não está ausente, mas onde se torna acessível através de uma presença que é ela também inter-relacional.
    No mundo da era pré-moderna, filosofia, teologia e conhecimento da natureza implicavam-se reciprocamente. Com a modernidade estes três domínios do saber pareceram afastar-se uns dos outros, olhando-se com algum temor e suspeita, levando ao afirmar da autonomia, senão mesmo da independência de cada um. Hoje só muito descuidadamente podemos dizer que a modernidade pertence ao passado. Ela convive com aquilo a que se convencionou chamar pós-modernidade, um movimento cultural muito mais aberto à convivência dos saberes. Daqui as ambiguidades e conflitos que não foram ainda resolvidos, como o da relação entre a ciência e as humanidades. Esta questão foi objecto de um recente colóquio na prestigiada Academia das Ciências de New York, cujos textos foram publicados sob o significativo título Unity of Knowledge. The Convergence of Natural and Human Science. Neste colóquio Edward Wilson afirmou acreditar na completa integração de todo o género de conhecimento humano numa perspectiva de absorção das ciências humanas pelas ciências naturais.29 Mas nem todos os participantes partilharam esta perspectiva. Henry Moss, procedendo a um balanço das várias intervenções concluiu que “o debate acerca dos primeiros princípios não terminará a curto prazo. O homem pode ser uma máquina bioquímica, mas a percepção de que ele é mais do que uma máquina está baseada em veneráveis interpretações históricas acerca da actividade humana que conduzem a concepções tais como a liberdade e a responsabilidade moral que não são facilmente redutíveis a normas epigenéticas”.30
    Considero que cada uma das três áreas do saber atrás referidas deverá evoluir no sentido de reconhecer que não só influencia como também é influenciada pelas outras, algo que é mais difícil de se conseguir do que poderá parecer à primeira vista. Por outro lado, há que reconhecer que é no estudo do ser humano que as três áreas se intersectam da forma mais estimulante e prometedora. Creio que se a dimensão relacional do ser humano se tornar central na investigação quer no domínio das ciências naturais, quer no das humanidades, encontraremos um ponto em comum que se revelará fundamental na incessante peregrinação que fazemos à procura de respostas cada vez mais adequadas para a grande questão que continuará em aberto: o que é ser humano?
    Parte II

    O que é ser humano

    Comentário


      #3
      Creio que não vou dizer nada de novo.

      A nossa espécie é capaz das coisas mais bonitas e das coisas mais atrozes. Isto existe a nível social, mas existe também a nível pessoal. Mesmo a pessoa mais simpática, amigável e calma pode ser capaz de fazer grande mal, tal como o maior assassino, violador, fdp ter actos de compaixão. As razões de tal são-me desconhecidas, mas creio que tem a ver com a maneira como o nosso Universo é e as regras que tem. Tudo tem um oposto, um Alfa, um Omega. Porque seriamos nós diferentes?
      Somos mais complicados no aspecto em que a nossa capacidade cognitiva permite elevar esta dicotomia bom/mau a níveis impensáveis para outras espécies mais baseadas em puro instinto.
      Somos extremamente curiosos, teimosos, persistentes e de certa forma temerários- arriscava dizer inconscientes porque de corajoso a parvo vai uma pequena diferença muitas vezes. Somos engenhosos e capazes, mas também muito egocentricos e convencidos. Somos desrespeitadores e iludidos. Pensamos que conseguimos fazer e resolver tudo, e ignoramos que o controlar é uma ilusão e que nem a nossa própria vida é controlável quanto mais tudo o resto.
      Não sei para onde vamos nem como vamos lá chegar. A minha visão e perspectiva é condicionada pelo que aprendi, pelo que vi, pelo que li, por isso aponto dois a três cenários que nenhum é da minha autoria, mas fazem sentido:
      O primeiro é continuarmos sempre como já fomos e somos, com estas incoerencias comportamentais; Teremos sempre fome, miséria, doenças, guerras, estruturas de classes com grandes diferenças, etc, ou por outras palavras a evolução dar-se mas os problemas de sempre continuarem (sempre existiram).
      O segundo é chegar a um ponto em que alguém faz m**** e bye-bye espécie humana e possivelmente planeta Terra por arrasto.
      O terceiro é um dia a nossa evolução mental ser "jeitosa" e finalmente conseguirmos eliminar os problemas anteriormente referidos e passarmos a ser uma espécie pacífica e respeitadora. Mas este não me parece possível.

      A apontar, devo dizer que do ponto de vista do planeta e dos outros seres vivos que o habitam, mesmo com as coisas boas que temos era melhor nunca termos existido.

      Comentário


        #4
        eu nao vou estar para aqui a escrever textos enormes, só vou escrever o que costumo dizer:

        O SER HUMANO É UM BICHO CURIOSO!


        reparem nas figuras que fazemos, como somos diferentes e no entanto bastante parecidos uns dos outros, como somos levados pelos nossos impulsos, como conseguimos ao mesmo tempo criar coisas fantásticas quando nos predispomos a inventar "ferramentas" para trabalhar, as relaçoes que temos com os outros, cada uma com uma diferença enorme da outra, o tipo de comportamento perante o desconhecido e o inesperado, etc, etc, etc.

        agimos em diversas situaçoes e interagimos com o mundo como pessoas ou animais irracionais? há uma mistura contínua e intrínseca dos dois.

        Comentário


          #5
          O problema do ser humano é fazer o contrario do que foi planeado pela natureza. Em vez de se reproduzir, destrói-se.
          Ainda bem que não somos todos iguais.

          Comentário


            #6
            Tanta citação para dizer o que se pensa do ser humano !

            Ora cá vai : há mais pessoas a fazer o mal do que o bem, há menos pessoas a contribuir para um Mundo melhor, há mais pessoas a estragar, a fazer mal e a contribuir para que não harmonia entre nós e a nossa Mãe Natureza.

            Muitas pessoas, imensas, para aí 90 % têm mau íntimo.
            Não espero nada do ser humano. Mas há pessoas que são especiais, que ajudam os outros, que ajudam a Natureza e os animais, que ajudam quem está doente e sofre, que dão a mão a quem necessita.

            São essas pessoas que merecem o Mundo, as outras... mereciam o que plantam.

            Foi escrito à pressa e é o que eu acho.

            Contínuo a acreditar que alguns seres humanos são boas pessoas, que também não é tudo mau, mal de nós.

            Não li o que estava para trás.

            Comentário


              #7
              O ser humano... gosta de textos um pouco mais sintéticos

              Comentário


                #8
                Eu não tenho a nossa espécie em grande consideração,...

                Comentário


                  #9
                  No fundo, tudo começa com as 3 questões básicas existenciais: Quem somos, de onde viemos e para onde vamos?
                  Quem somos? Somos o homo sapiens sapiens derivado do Australopithecus, ramificado do Ramopithecus, que por sua vez descendia do … De onde vimos? Vimos do átomo. Para onde vamos? Vamos em direcção à morte e em pó nos transformaremos. A ciência responde-nos desta forma nua e crua a estas questões. Mas nós queremos saber mais. É a tal curiosidade que nos tem feito evoluir e distanciar das demais espécies.

                  O aspecto cognitivo de que tanto nos vangloriamos ao longo da nossa existência por nos distinguir das restantes formas de vida, está a ser o propenso causador da nossa possível extinção. A sede desmedida pelo progresso não sustentado só vem acelerar essa fatalidade sem que a consigamos parar, tal é a vaidade que temos pela nossa própria inteligência. Inteligência essa que nos está a levar na direcção da criação do inevitável: as máquinas pensantes. Máquinas que se perfilam para a nossa substituição a par de novas espécies que evoluirão e tomarão o nosso lugar quando como humanos deixarmos de existir. Se um dia tomarmos consciência disso ainda a tempo, talvez possamos encontrar o tal lugar neste mundo que ainda não descobrimos.

                  Embora uma enorme parte da população ainda acredite na teoria criacionista, cada vez mais pessoas se baseiam no Evolucionismo para explicar a nossa existência no mundo como algo natural explicável a nível científico. É aqui que reside o cerne da questão. Sermos capazes de olhar para toda a vida que se faz como sendo nossa semelhante em alguma coisa da qual também fazemos parte. Só assim estaremos em pé de igualdade e em harmonia com todas as espécies que connosco coabitam neste maravilhoso lugar.
                  Deus só existe e é imortal dentro das nossas cabeças onde o criámos e lhe temos dado vida eterna ao longo de gerações desde que o homem é homem e se reconhece como tal. É a explicação última às 3 perguntas existenciais cuja resposta não conseguimos ainda obter.
                  Talvez deus tenha sido ao mesmo tempo a nossa melhor e pior criação. Dá-nos paz existencial ao mesmo tempo que retarda o nosso progresso. Em nome dele temos feito tanto de bom como de mau, evidenciando as nossas maiores virtudes e defeitos.

                  E agora a ciência veio baralhar todas estas contas atirando-nos para o mesmo patamar existencial que as demais espécies, retirando-nos a natureza divina que tem justificado os nossos comportamentos injustificados de implementação de domínio sobre as espécies inferiores, sem alma, como tanto gostávamos de lhes chamar. A ciência é a nova religião do homem na qual tem procurado as respostas que estiveram desde sempre dentro de si. É neste novo sentimento de perenidade que estará a salvação da existência humana como espécie. É na sua responsabilização por este mundo, por aquilo que nele fez e vier a fazer que se encontrará a solução da nossa própria subsistência como espécie. Todavia, a ciência cada vez mais nos consegue explicar o que somos, mas ainda reside a enorme incógnita: afinal, quem somos?
                  Porém, num mundo de contrastes tão antagónicos onde coabitam humanos que vivem e pensam como há milhares de anos com outros que começam a encontrar o seu lugar no universo à luz das novas ciências, a evolução conjunta e sustentada é algo de impraticável. Existem, por isso, dois mundos: o mundo real da Natureza e o mundo criado dentro da cabeça de cada um de nós humanos racionais. Este segundo, é sem dúvida o mundo perigoso pelo seu desequilíbrio pois tem arrastado consigo o primeiro de modo irracional.

                  Nós que somos seres pensantes de elevada performance intelectual, encontramos no nosso intelecto o melhor e o pior de nós. Nós que somos a tal casta capaz de criar e recriar coisas magníficas, somos os mesmos capazes de destruir tudo à nossa volta, semeando desgraça, dor e destruição. Somos a única espécie que não está de bem com o mundo. Somos uns autênticos devoradores de mundos. Esse é o nosso maior problema existencial. Não conseguimos evoluir sem destruir o que nos rodeia. Como inadaptados que somos à Natureza que nos rodeia, tentamos à força adaptar a Natureza à nossa imagem, causando-lhe as maiores crueldades.
                  Por desporto, prazer, ou por pura maldade perseguimos e matamos tudo aquilo que se mova, animais naturais ou animais irracionais com armas na mão. O que não se move mas é fonte de vida, é derrubado para fazer face à ganância humana que é cada vez mais desmedida. Nós que nos maravilhamos com as nossas próprias capacidades não sabemos canalizá-las para criar um mundo melhor. Nós que queremos controlar tudo teremos de ter a humildade de saber controlar-nos a nós próprios.
                  Estamos num mundo onde não temos lugar. Num mundo onde ser-se humano é ser-se indesejável pelas restantes formas vida. O mundo que já era mundo antes de nós nos apercebermos, viu-nos surgir e evoluir para depois destruirmos aquele que nos deu vida. Um mundo que, afinal, até passaria muito bem sem nós. Este nosso mundo agora só nos concede a hipótese de evoluirmos de forma sustentada e harmoniosa ou então sermos pura e simplesmente varridos definitivamente da face da terra.
                  Resta-nos progredir e crescer para encontrarmos o nosso lugar no mundo, ou então destruirmo-nos a nós próprios ou ao mundo envolvente até nada mais restar… a não ser o nosso próprio orgulho.

                  De onde vimos? Não sabemos ainda ao certo. Quem somos? Infelizmente, aos poucos vamos sabendo cada vez mais e compreendendo cada vez menos. Para onde vamos? É a única pergunta para a qual poderemos ter uma palavra importante a dizer. Talvez não tanto acerca de um futuro longínquo e incógnito que deveria dar explicação à existência não só de nós próprios mas também de tudo quanto existe, mas dum amanhã do qual queremos fazer parte com a vida que nos viu nascer. Só assim poderemos um dia vir a almejar descobrir afinal quem nós somos e qual o nosso papel neste imenso universo.

                  Comentário


                    #10
                    Eu penso que o ser humano é uma espécie inteligente ainda com muito para aprender.
                    Editado pela última vez por mELIANTE; 06 October 2009, 12:47.

                    Comentário


                      #11


                      Humanity is the devil.

                      Comentário


                        #12
                        Originalmente Colocado por eu Ver Post
                        O ser humano... gosta de textos um pouco mais sintéticos
                        Uma boa síntese:

                        Se fossemos cães, teríamos mais humanidade.

                        Comentário


                          #13
                          Ora, resumidamente, o que eu penso do ser humano?
                          Que é um ser que não pensa, porque se pensasse um pouco não estaria tão perdido num mundo onde é cada vez mais um estranho.

                          "Os homens são animais muito estranhos: uma mistura do nervosismo de um cavalo, da teimosia de uma mula e da malícia de um camelo" (Huxley, Aldous)
                          Editado pela última vez por BLADERUNNER; 04 October 2009, 17:01.

                          Comentário


                            #14
                            O que eu penso do ser humano/humanidade?Vou usar uma analogia automobilística:

                            Estamos na estrada errada,em excesso de velocidade e ainda por cima a guiar em contra-mão.

                            Comentário


                              #15
                              Originalmente Colocado por Nuno156 Ver Post
                              Uma boa síntese:

                              Se fossemos cães, teríamos mais humanidade.
                              E quem disse que não somos?

                              Comentário


                                #16
                                Originalmente Colocado por eu Ver Post
                                E quem disse que não somos?

                                Essa foi profunda
                                "Antigamente os animais falavam, hoje, escrevem!" (Camilo Castelo Branco)

                                Comentário


                                  #17
                                  Excelentes intervenções que vi por aqui.

                                  O modo como vejo o ser humano, vejo na forma positiva e o que podemos realçar dele, é certo que o lado mau da sua forma é mais perceptivel aos nossos olhos e hoje em dia pode-se denotar isso, mas para podermos retirar da essencia do melhor deste ser deveremos e temos a capacidade para o reconhecer; é certo que todos nós erramos mas sempre esperamos corrigir e aprender com os mesmos, que é uma capacidade única de nós, e podermos contribuir para uma sociedade e humanidade melhor.

                                  Penso que nos falta reflectir mais e podermos tomar as atitudes correctas, começa sempre por, e em nós. Reside aqui nas nossas atitudes aquilo que reflectirá numa humanidade mais sadia.

                                  Somos seres de capacidades únicas e que utilizemos isso para o melhor que podemos proporcionar.

                                  Comentário


                                    #18
                                    Lol escrevi grande texto mas apaguei.

                                    Resumidamente os humanos sao a fossa e o mundo ficava muito melhor sem nos,e em ultima analise penso que o comportamento perante outros animais nos identifica como a rale' que somos.
                                    Somos todos muito inteligentes e evoluidos,somos os mais fixes de todos e nao conseguimos fazer nada de bom.
                                    Os animais sao maltratados e torturados pela tradicao,a tradicao 'e mais importante do que a humanidade,so por ai ja se ve o nivel da humanidade,0...

                                    Se nao existissimos na Terra a Terra era verde e os oceanos estavam limpos etc,mas nos os mais inteligentes de todos...nem 'e preciso dizer nada.

                                    Ha pouco tempo deu no canal de historia um programa sobre o apocalipse e sobre a batalha final e eu comentei com a minha namorada "A batalha ja acabou e 'e facil ver quem ganhou..."

                                    Guerras por todo o mundo,violacoes a cada minuto,o muro de berlim,guerras mundiais,fome,atrocidades de todos os tipos...ficava aqui ate amanha.

                                    E coisas positivas?So precisava de 5,10 minutos...

                                    Comentário


                                      #19
                                      Não percebo toda esta revolta contra o ser humano... Estamos longe da perfeição, mas daí a dizer que o mundo seria melhor sem nós...

                                      Comentário


                                        #20
                                        Originalmente Colocado por erocha Ver Post
                                        Não percebo toda esta revolta contra o ser humano... Estamos longe da perfeição, mas daí a dizer que o mundo seria melhor sem nós...
                                        Também me custa a perceber um bocadinho essa posição...

                                        Eu já sei que somos todos umas grandes bestas e que andamos a destruir tudo e que somos maus, egoístas...

                                        Na realidade, custa-me a aceitar essa tal visão idílica de um Mundo perfeito onde eu não teria lugar...

                                        Comentário


                                          #21
                                          Alguns seres humanos são uns idiotas.

                                          Comentário


                                            #22
                                            Originalmente Colocado por MariaHelena Ver Post
                                            Eu não tenho a nossa espécie em grande consideração,...
                                            Tens alguma espécie em grande consideração?

                                            Tens consideração por alguma espécie?


                                            errrr se calhar os periquitos????
                                            Editado pela última vez por Jacare; 06 October 2009, 11:30.

                                            Comentário


                                              #23
                                              Originalmente Colocado por erocha Ver Post
                                              Não percebo toda esta revolta contra o ser humano... Estamos longe da perfeição, mas daí a dizer que o mundo seria melhor sem nós...
                                              Nao 'e seria... 'e que era melhor sem nos,nao tamos ca desde o inicio...
                                              Desertificacao,Camada de Ozono,Extincoes de especies,poluicao...

                                              Acho mesmo que 'e um facto,nao digo que seja,mas 'e a minha sincera opiniao.

                                              E nao 'e estar longe da perfeicao,'e afastarmo-nos dela e ate muitas vezes com consciencia disso

                                              Comentário


                                                #24
                                                Porquê que o planeta passaria muito bem sem nós? Ainda há dúvidas?
                                                (para quem não concorda comigo, pelo menos que tenha a paciência de ler para tentar compreender aquilo que ao certo pretendo dizer)

                                                Tal facto é uma evidência. Basta olhar de forma isenta para aquilo que o planeta era séculos atrás e aquilo que é hoje: milhares de espécies animais e vegetais que existiam há milhões de anos foram exterminadas pela caça e pesca excessiva e pela destruição de habitats; rios e mares estão contaminados sendo que em certas zonas a água é vermelha ou amarela contribuindo para que neste momento a morte animal e vegetal marinha se adense e 2 em cada 3 pessoas não tenham água potável; a radioactividade existente em algumas zonas do pacífico onde foram e continuam a ser efectuados ensaios nucleares, é algo que se vai adensando causado destruição dos fundos marinhos e o surgimento de mutações genéticas inexplicáveis; a pesca de arrastão destruiu uma enorme quantidade do fundo dos oceanos; a enorme poluição atmosférica tem contribuído para o efeito de estufa, para as chuvas ácidas e para os crescentes problemas respiratórios e alergias; a camada de ozono está muito mais fina do que há décadas atrás contribuindo para o cancro de pele e a maior desertificação do planeta; para esta desertificação também tem contribuído o abate indiscriminado das nossas florestas, habitat de tantas espécies; as montanhas que são reduzidas a crateras pela extracção desmedida de minério também contribuem para a diminuição das chuvas e consequente desertificação do planeta (2/3 do planeta já são um deserto em expansão desmedida); O aquecimento global e o degelo de 1/3 dos glaciares estão a causar o extermínio da vida animal polar e a desequilíbrios climatológicos graves; a esmagadora maioria das pessoas do planeta, não são pobres, são miseráveis e lutam diariamente pela sobrevivência devida à falta de recursos e à sua má distribuição; todos nós seres humanos, sem excepção, actualmente temos dioxinas no nosso organismo que causam inúmeras doenças (em especial a infertilidade masculina) derivado aos químicos que nos rodeiam no ambiente e em especial na maior parte dos objectos que utilizamos no nosso dia-a-dia e nos produtos mais básicos que consumimos como leite, ovos, carne, …

                                                Perguntar se o mundo está melhor? Para quem passa o dia inteiro à frente de um computador, ou no cinema, ou no emprego, ou nos transportes, ou em casa, ou seja, na cidade, alheado da realidade como a maioria de nós, talvez seja fácil acreditar que sim, que está melhor. Como não vemos a realidade global do que se está a passar não podemos aperceber-nos da nossa responsabilidade e da culpa que temos nisso. Muitas vezes por estar alheados dessa realidade que não presenciamos acabamos por não ter consciência disso. A realidade é esta que acabei de demonstrar, tendo levantando apenas um pouquinho do véu.

                                                Ninguém aqui está a apelar ao extermínio da espécie humana. Nada disso. Ninguém aqui disse isso, nem o poderia dizer. Há que não confundir as coisas. Afinal, a espécie humana também sou eu e aqueles que eu amo e a quem não desejo mal. Mas se voltarmos o olhar para o mundo ao nosso redor e perguntarmos às espécies que não podem falar, o que elas acham do seu extermínio e extinção pela acção humana, então a resposta é mais do que óbvia (2 em cada 3 espécies vegetais e animais estarão extintas até 2050). Da nossa poltrona, com os nossos aquecimentos e ar condicionados, debaixo de um teto, cheios de conforto e diversão com tudo à mão, não temos a capacidade de sentir na pele e ver a realidade do mundo real que mora lá fora, fora das nossas cidades e que vai morrendo às nossas mãos. Isto é mais do que óbvio. E nós começamos a ser atingidos gravemente por isso. Os maiores especialistas mundiais, pagos pelos seus governos, já adiantaram que daqui por 20 anos 2 em cada três guerras ou conflitos serão despoletados pela falta de água potável.
                                                Felizmente que, mais do que nunca, se começa a falar no que deve ser feito para salvar o planeta. Chegou-se (espero que ainda a tempo) à conclusão que os nossos recursos não são infinitos e que o planeta não está a conseguir regenerar-se dos males que lhe temos infringido.
                                                O ser humano, essa espécie que foi capaz de realizar coisas magníficas que nenhuma outra conseguiu, depois de ter semeado tanta morte e destruição, tem agora pela frente o maior de todos os seus desafios: emendar a porcaria que fez aproveitando a oportunidade de demonstrar que também é capaz do melhor salvando o mundo salvando-se a si mesmo.

                                                Comentário


                                                  #25

                                                  Lista mortuária de alguns dos muitos animais extintos:
                                                  Alce-do-cáucaso (início séc XIX, cordilheira do Cáucaso)
                                                  Auroque (1627, Polónia)
                                                  Bisão-caucasiano (1927, Cáucaso)
                                                  Baiji (2005, Rio Yangtzé, China)
                                                  Bisão-dos-cárpatos (1790, Europa central)
                                                  Caribu-anão (1908, Canadá)
                                                  Cervo-de-schomburgk (1938, Tailândia)
                                                  Dugongo-de-steller (1768, Alasca)
                                                  Elefante-sírio (100 a.C., Oriente Médio)
                                                  Foca-monge-das-caraíbas (séc. XX)
                                                  Ibex Portuguesa (1892, Portugal)
                                                  Ibex-dos-pirinéus (2000, Espanha e França)
                                                  Leão-do-atlas (1922, norte da África)
                                                  Leão-do-cabo (1865, África do Sul)
                                                  Leão-europeu (100 d.C., sul e centro da Europa)
                                                  Lobo-da-tasmânia (1936)
                                                  Lobo-de-ezo (1889, Japão)
                                                  Lobo-de-honshu (1905, Japão)
                                                  Onça-do-arizona (1905, sul dos EUA)
                                                  Palanca-azul (séc. XIX, África)
                                                  Pika-da-sardenha
                                                  Quagga (12/8/1883, África do Sul)
                                                  Raposa-das-falkland (1876)
                                                  Tarpan (séc. XIX, Polónia)
                                                  Tigre-de-bali (27/9/1937, ilha de Bali)
                                                  Tigre-de-java (1988, ilha de Java)
                                                  Tigre-do-cáspio (1980, Cáucaso, baixo Volga, Curdistão, Irã, Ásia central)
                                                  Urso-do-atlas (1844, norte da África)
                                                  Urso-gigante-de-kamchatka (1920, Sibéria)
                                                  Vison-marinho (1894, Canadá)
                                                  Wapiti-de-merriam (1906, EUA)
                                                  Águia-de-haast (séc. XVI, Nova Zelândia)
                                                  Ararinha-azul (2002, Brasil)
                                                  Arau-gigante (ca. 1840)
                                                  Avestruz-árabe (1942, Oriente Médio)
                                                  Caracara-de-guadalupe (1900, Guadalupe)
                                                  Cormorão-de-lunetas (1850, Mar de Bering)
                                                  Cotovia-da-ilha-stephen (1894, Ilha Stephen)
                                                  Dodó (1693, Ilhas Maurícias)
                                                  Huia (séc. XX, Nova Zelândia)
                                                  Íbis-terrestre-de-reunião (séc. XVIII, Reunião)
                                                  Maçarico-esquimó
                                                  Mamos (Hawaii)
                                                  Mergulhão-de-atitlan (1989, Guatemala)
                                                  Moa (séc. XVIII, Nova Zelândia)
                                                  'O'os (Hawaii)
                                                  Papagaio-cinzento-das-maurícias (1764, Ilhas Maurício)
                                                  Papagaio-de-bico-largo (1680, Ilhas Maurício)
                                                  Pássaro-elefante (séc. XVII, Madagscár)
                                                  Pato-de-cabeça-rosa (1936, Índia e Bangladesh)
                                                  Pato-de-crista-da-coréia (1964, Coreia e Rússia)
                                                  Pato-do-labrador (séc. XX, Canadá)
                                                  Periquito-da-carolina (séc. XX, EUA)
                                                  Painho-de-guadalupe (1911, Guadalupe)
                                                  Piopio (séc. XX, Nova Zelândia)
                                                  Pombo-passageiro (1/9/1914, América do Norte)
                                                  Solitário-de-rodrigues (Ilhas Rodrigues)
                                                  Tetraz-das-pradarias (1932, nordeste dos Estados Unidos)
                                                  Jibóia-da-ilha-round (1974, ilha Round)
                                                  Cobra-Naruto (1520, Japão)
                                                  Rã-pintada-da-palestina (1955, Palestina)
                                                  Phrynomedusa fimbriata (1920, Brasil)
                                                  Megadytes ducalis (1996, Brasil)
                                                  Rhantus orbignyi (Argentina e Brasil)
                                                  Megalobulimus cardosoi (1996, Brasil)

                                                  Comentário


                                                    #26
                                                    bioquimicamente, o ser humano é fantástico.

                                                    Comentário


                                                      #27
                                                      Originalmente Colocado por Jacare Ver Post
                                                      Tens alguma espécie em grande consideração?

                                                      Tens consideração por alguma espécie?


                                                      errrr se calhar os periquitos????

                                                      Explique lá melhor que não entendi se:

                                                      - O seu post é um ataque pessoal,...se é outra coisa qualquer. Também não entendi o seu tom irónico.

                                                      Já agora agradecia que não me tratasse por tu, porque eu também não o trato e, como não andamos os dois na costura,...

                                                      Comentário


                                                        #28
                                                        Originalmente Colocado por MariaHelena Ver Post
                                                        Explique lá melhor que não entendi se:

                                                        - O seu post é um ataque pessoal,...se é outra coisa qualquer. Também não entendi o seu tom irónico.

                                                        Já agora agradecia que não me tratasse por tu, porque eu também não o trato e, como não andamos os dois na costura,...
                                                        xiiii


                                                        bom..... vamos lá a ver.... isto não é nenhum ataque pessoal... vamos lá a esclarecer a questão..

                                                        1. Eu não trato nem nunca tratei ninguém por você neste fórum... nem em nenhum fórum! Aliás na minha opinião o tratar por você é uma idiotice pegada que não leva a lado nenhum e apenas serve para fazer subir o ego e mais umas coisas que prefiro guardar para mim.... Benditos anglo-saxónicos que são muito mais simples e práticos nestas coisas.

                                                        2. O tratar por você dava na minha opinião um tópico dedicado... Gostava de perceber qual a necessidade real disso.... e porque motivo temos isso tão culturalmente enraizado na nossa cultura

                                                        3. Podes-me tratar por tu... mas se ficas mais confortável com o você então força! Para mim é igual... mas eu, em foruns de internet, qualquer que seja ele, trato todos por igual... e tu não és excepção.

                                                        Voltando ao assunto do tópico as perguntas são simples:

                                                        -Tens alguma espécie em grande consideração?

                                                        -Tens consideração por alguma espécie?

                                                        E sim, fiz-te as perguntas com interesse de saber as respostas.

                                                        Em relação aos periquito... é verdade e foi uma sugestão! Em vez de Periquitos poderiam ser cães, gatos ou outro animal qualquer. Afinal não são raras as vezes que se vêm pessoas a defenderem que o ser humano é pior que um animal doméstico.

                                                        A escolha do periquito não foi inocente. É uma ave que vive muitas vezes confinado pelo homem a um espaço pequeno. Mas nele também podemos ver liberdade que lhe foi retirada e facilmente podemos projectar muito o que há de bom na natureza.... E nele podemos ver um animal em que temos muito mais consideração do que o homem.

                                                        Claro que essa não é a minha opinião... considero e tenho uma GRANDE CONSIDERAÇÃO pelo ser humano... (mais do que por qualquer outro animal!!) o que acontece é que há alguns seres humanos que são... uns idiotas! (a quantidade tb não deve ajudar)
                                                        Editado pela última vez por Jacare; 06 October 2009, 15:20.

                                                        Comentário


                                                          #29
                                                          Originalmente Colocado por Jacare Ver Post
                                                          xiiii


                                                          bom..... vamos lá a ver.... isto não é nenhum ataque pessoal... vamos lá a esclarecer a questão..

                                                          1. Eu não trato nem nunca tratei ninguém por você neste fórum... nem em nenhum fórum! Aliás na minha opinião o tratar por você é uma idiotice pegada que não leva a lado nenhum e apenas serve para fazer subir o ego e mais umas coisas que prefiro guardar para mim.... Benditos anglo-saxónicos que são muito mais simples e práticos nestas coisas.

                                                          2. O tratar por você dava na minha opinião um tópico dedicado... Gostava de perceber qual a necessidade real disso.... e porque motivo temos isso tão culturalmente enraizado na nossa cultura

                                                          3. Podes-me tratar por tu... mas se ficas mais confortável com o você então força! Para mim é igual... mas eu, em foruns de internet, qualquer que seja ele, trato todos por igual... e tu não és excepção.

                                                          A seus pensamentos e filosofias guarde-as, para quem as quiser ou estiver interessado nelas, que não é o meu caso.

                                                          No que respeita ao resto, fique a falar sozinho e, aí trate por tu,...ou como quiser já que abandono o diálogo consigo a partir deste meu post, porque eu assim o acabei de decidir. Boas aulas de costura!!!

                                                          Comentário


                                                            #30
                                                            Originalmente Colocado por erocha Ver Post
                                                            Não percebo toda esta revolta contra o ser humano... Estamos longe da perfeição, mas daí a dizer que o mundo seria melhor sem nós...
                                                            Originalmente Colocado por NinaChampa Ver Post
                                                            Também me custa a perceber um bocadinho essa posição...

                                                            Eu já sei que somos todos umas grandes bestas e que andamos a destruir tudo e que somos maus, egoístas...

                                                            Na realidade, custa-me a aceitar essa tal visão idílica de um Mundo perfeito onde eu não teria lugar...
                                                            Vou tentar explicar-vos a minha perspectiva. Não é uma questão de revolta contra os seres humanos. Como já disse até noutros tópicos a nossa espécie é uma coisa fantástica, única e com um potencial inimaginável. Quando se vê o que éramos há uns milhões de anos e o que somos agora por comparação com o que outras espécies eram e o que somos, nota-se uma diferença quase surreal. O problema é que aquilo que nos torna únicos é exactamente o que nos separa e torna prejudiciais para tudo o resto. O mundo estaria melhor sem a espécie humana no sentido em que estaria mais balanceado e seguiria a ordem natural. Quantas espécies conhecem vocês com a capacidade para destruir literalmente o planeta? Agora ponderem onde estaremos daqui a 1000 anos, 1 milhão...Se ainda existirmos esse poder deverá ter ascendido à capacidade de destruir a galáxia. é como um campeonato qualquer onde sempre ganhou o mesmo e sempre ganhará. Não é bom para o campeonato.
                                                            Sem nós o planeta não seria um sítio idílico. Continuaria a haver desastres naturais, espécies que dizimam outras espécies, etc. Mas o grau em que tal aconteceria seria menor e de acordo com parametros mais equivalentes.
                                                            Também não acho que de repente deviamos morrer todos para bem do planeta, mas que a nossa singularidade foi prejudicial, foi.


                                                            EDIT: Ah, uma coisa. Possivelmente (se não lixarmos tudo até lá) também seremos a única espécie (conhecida :P ) a conseguir impedir que o seu planeta seja destruido. É a nossa hipótese de redenção.
                                                            Editado pela última vez por Torres; 06 October 2009, 16:12.

                                                            Comentário

                                                            AD fim dos posts Desktop

                                                            Collapse

                                                            Ad Fim dos Posts Mobile

                                                            Collapse
                                                            Working...
                                                            X