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"Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal"

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    Sociedade "Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal"

    Apenas queria aqui partilhar uma excelente entrevista elaborada pelo Público nestes últimos dias....estranhei ninguem ter falado sobre isto:

    Entrevista a Christophe de Dejours
    "Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal"

    Nos últimos anos, três ferramentas de gestão estiveram na base de uma transformação radical da maneira como trabalhamos: a avaliação individual do desempenho, a exigência de “qualidade total” e o outsourcing. O fenómeno gerou doenças mentais ligadas ao trabalho. Christophe Dejours, especialista na matéria, desmonta a espiral de solidão e de desespero que pode levar ao suicídio.

    Psiquiatra, psicanalista e professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris, Christophe Dejours dirige ali o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção – uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental. Esteve há dias em Lisboa, onde, de gravata amarela, cabeleira “à Beethoven” e olhos risonhos a espreitar por detrás de pequenos óculos de massa redondos, falou do sofrimento no trabalho. Não apenas do sofrimento enquanto gerador de patologias mentais ou de esgotamentos, mas sobretudo enquanto base para a realização pessoal. Não há “trabalho vivo” sem sofrimento, sem afecto, sem envolvimento pessoal, explicou. É o sofrimento que mobiliza a inteligência e guia a intuição no trabalho, que permite chegar à solução que se procura.

    Claro que no outro extremo da escala, nas condições de injustiça ou de assédio que hoje em dia se vivem por vezes nas empresas, há um tipo de sofrimento no trabalho que conduz ao isolamento, ao desespero, à depressão. No seu último livro, publicado há uns meses em França e intitulado Suicide et Travail: Que Faire? , Dejours aborda especificamente a questão do suicídio no trabalho, que se tornou muito mediática com a vaga de suicídios que se verificou recentemente na France Télécom.

    Depois da conferência, o médico e cientista falou com o P2 sobre as causas laborais desses gestos extremos, trágicos e irreversíveis. Mais geralmente, explicou-nos como a destruição pelos gestores dos elos sociais no trabalho nos fragiliza a todos perante a doença mental.

    O suicídio ligado ao trabalho é um fenómeno novo?
    O que é muito novo é a emergência de suicídios e de tentativas de suicídio no próprio local de trabalho. Apareceu em França há apenas 12, 13 anos. E não só em França – as primeiras investigações foram feitas na Bélgica, nas linhas de montagem de automóveis alemães. É um fenómeno que atinge todos os países ocidentais. O facto de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem obviamente um significado. É uma mensagem extremamente brutal, a pior do que se possa imaginar – mas não é uma chantagem, porque essas pessoas não ganham nada com o seu suicídio. É dirigida à comunidade de trabalho, aos colegas, ao chefe, aos subalternos, à empresa. Toda a questão reside em descodificar essa mensagem.

    Totalidade da entrevista:

    "Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal" - Sociedade - PUBLICO.PT

    Desculpem a longevidade da entrevista, mas achei este tema realmente sério.
    Quantos de nós já não fomos vitimas de pressão para obter resultados intangíveis?
    Será que este sistema apenas virado para o lucro e ser liderado por tiranos que não sabem o sinificado e o valor da palavra ética e cooperação?
    As faculdades têm feito alguma coisa para contrariar este sistema? Na minha apenas se fala e calcula-se formas de obter "custos minimos para uma maior rendibilidade" e então e o resto?
    Será que a vida terá que ser apenas uma demonstração de resultados?? Comparar notas, vendas, lucros??

    Já não não será tempo de mudar esta "tecnocracia"? Ou será isto utópico?!

    #2

    Oppss...

    Já n fui a tempo de colocar aqui a entrevista, tenho aqui p/ ler mas, ainda n tive tempo!

    1º vou ler e dps já venho comentar.


    Edd

    Comentário


      #3
      belo texto! mas ha ai coisas que nao sao regra absoluta... por vezes sao meras coecidencias....

      facto e.. que um suicidio no local de rabalho pode deixar a pensar quais as razoes..... mas, muitas vezes, e apenas porque calhou de ser ali! porque tinha os instrumentos à mao!

      no meu caso (nao, nao vou cometer suicidio! ) trabalho com facas todo o dia.. e muitas vezes (na brincadeira) ponho me a simular que corto os pulsos... ora, obviamente que uma pessoa que trabalha nas mesmas circunstancias, e com ideias de suicidio, poderia usar os objectos la presentes... e uma questao de "onde, quando e como?"

      no entanto concordo que a pressao por vezes e sufocante! e sim, ja me mandaram completar tarefas a velocidade da luz!.. mas a vida e mesmo assim..
      ha que ter uns Obies porreiros para soltar o stress acumulado...

      quanto a mim.. eu considero isso utopico!.... os patroes irao sempre querer fazer o maximo usando o minimo (chama se a isso, rendimento!)

      e os empregados sempre irao procurar fazer o minimo para obter o necessario...

      assim sendo, fica dificil sair dessa "espiral" hehe...

      Abraço

      Comentário


        #4
        "Um suicídio no trabalho é uma mensagem brutal" Entrevista a Christophe de Dejours
        Tive conhecimento deste texto e depois de o ler, considerei o dever de o partilhar com o maior número de pessoas. Não o coloco em quote, para ser de mais fácil leitura.

        Percam tempo a ler esta entrevista, pois vale mesmo a pena,...





        Nos últimos anos, três ferramentas de gestão estiveram na base de uma transformação radical da maneira como trabalhamos: a avaliação individual do desempenho, a exigência de “qualidade total” e o outsourcing. O fenómeno gerou doenças mentais ligadas ao trabalho. Christophe Dejours, especialista na matéria, desmonta a espiral de solidão e de desespero que pode levar ao suicídio.
        Christophe Dejours (foto de Enric Vives-Rubio)



        Psiquiatra, psicanalista e professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, em Paris, Christophe Dejours dirige ali o Laboratório de Psicologia do Trabalho e da Acção – uma das raras equipas no mundo que estuda a relação entre trabalho e doença mental. Esteve há dias em Lisboa, onde, de gravata amarela, cabeleira “à Beethoven” e olhos risonhos a espreitar por detrás de pequenos óculos de massa redondos, falou do sofrimento no trabalho. Não apenas do sofrimento enquanto gerador de patologias mentais ou de esgotamentos, mas sobretudo enquanto base para a realização pessoal. Não há “trabalho vivo” sem sofrimento, sem afecto, sem envolvimento pessoal, explicou. É o sofrimento que mobiliza a inteligência e guia a intuição no trabalho, que permite chegar à solução que se procura.

        Claro que no outro extremo da escala, nas condições de injustiça ou de assédio que hoje em dia se vivem por vezes nas empresas, há um tipo de sofrimento no trabalho que conduz ao isolamento, ao desespero, à depressão. No seu último livro, publicado há uns meses em França e intitulado Suicide et Travail: Que Faire? , Dejours aborda especificamente a questão do suicídio no trabalho, que se tornou muito mediática com a vaga de suicídios que se verificou recentemente na France Télécom.

        Depois da conferência, o médico e cientista falou com o P2 sobre as causas laborais desses gestos extremos, trágicos e irreversíveis. Mais geralmente, explicou-nos como a destruição pelos gestores dos elos sociais no trabalho nos fragiliza a todos perante a doença mental.

        O suicídio ligado ao trabalho é um fenómeno novo?
        O que é muito novo é a emergência de suicídios e de tentativas de suicídio no próprio local de trabalho. Apareceu em França há apenas 12, 13 anos. E não só em França – as primeiras investigações foram feitas na Bélgica, nas linhas de montagem de automóveis alemães. É um fenómeno que atinge todos os países ocidentais. O facto de as pessoas irem suicidar-se no local de trabalho tem obviamente um significado. É uma mensagem extremamente brutal, a pior do que se possa imaginar – mas não é uma chantagem, porque essas pessoas não ganham nada com o seu suicídio. É dirigida à comunidade de trabalho, aos colegas, ao chefe, aos subalternos, à empresa. Toda a questão reside em descodificar essa mensagem.

        Afecta certas categorias de trabalhadores mais do que outras?
        Na minha experiência, há suicídios em todas as categorias – nas linhas de montagem, entre os quadros superiores das telecomunicações, entre os bancários, nos trabalhadores dos serviços, nas actividades industriais, na agricultura.

        No passado, não havia suicídios ligados ao trabalho na indústria. Eram os agricultores que se suicidavam por causa do trabalho – os assalariados agrícolas e os pequenos proprietários cuja actividade tinha sido destruída pela concorrência das grandes explorações. Ainda há suicídios no mundo agrícola.

        O que é que mudou nas empresas?
        A organização do trabalho. Para nós, clínicos, o que mudou foram principalmente três coisas: a introdução de novos métodos de avaliação do trabalho, em particular a avaliação individual do desempenho; a introdução de técnicas ligadas à chamada “qualidade total”; e o outsourcing, que tornou o trabalho mais precário.

        A avaliação individual é uma técnica extremamente poderosa que modificou totalmente o mundo do trabalho, porque pôs em concorrência os serviços, as empresas, as sucursais – e também os indivíduos. E se estiver associada quer a prémios ou promoções, quer a ameaças em relação à manutenção do emprego, isso gera o medo. E como as pessoas estão agora a competir entre elas, o êxito dos colegas constitui uma ameaça, altera profundamente as relações no trabalho: “O que quero é que os outros não consigam fazer bem o seu trabalho.”

        Muito rapidamente, as pessoas aprendem a sonegar informação, a fazer circular boatos e, aos poucos, todos os elos que existiam até aí – a atenção aos outros, a consideração, a ajuda mútua – acabam por ser destruídos. As pessoas já não se falam, já não olham umas para as outras. E quando uma delas é vítima de uma injustiça, quando é escolhida como alvo de um assédio, ninguém se mexe…

        Mas o assédio no trabalho é novo?
        Não, mas a diferença é que, antes, as pessoas não adoeciam. O que mudou não foi o assédio, o que mudou é que as solidariedades desapareceram. Quando alguém era assediado, beneficiava do olhar dos outros, da ajuda dos outros, ou simplesmente do testemunho dos outros. Agora estão sós perante o assediador – é isso que é particularmente difícil de suportar. O mais difícil em tudo isto não é o facto de ser assediado, mas o facto de viver uma traição – a traição dos outros. Descobrimos de repente que as pessoas com quem trabalhamos há anos são cobardes, que se recusam a testemunhar, que nos evitam, que não querem falar connosco. Aí é que se torna difícil sair do poço, sobretudo para os que gostam do seu trabalho, para os mais envolvidos profissionalmente. Muitas vezes, a empresa pediu-lhes sacrifícios importantes, em termos de sobrecarga de trabalho, de ritmo de trabalho, de objectivos a atingir. E até lhes pode ter pedido (o que é algo de relativamente novo) para fazerem coisas que vão contra a sua ética de trabalho, que moralmente desaprovam.

        Qual é o perfil das pessoas que são alvo de assédio?
        São justamente pessoas que acreditam no seu trabalho, que estão envolvidas e que, quando começam a ser censuradas de forma injusta, são muito vulneráveis. Por outro lado, são frequentemente pessoas muito honestas e algo ingénuas. Portanto, quando lhes pedem coisas que vão contra as regras da profissão, contra a lei e os regulamentos, contra o código do trabalho, recusam-se a fazê-las. Por exemplo, recusam-se a assinar um balanço contabilista manipulado. E em vez de ficarem caladas, dizem-no bem alto. Os colegas não dizem nada, já perceberam há muito tempo como as coisas funcionam na empresa, já há muito que desviaram o olhar. Toda a gente é cúmplice. Mas o tipo empenhado, honesto e algo ingénuo continua a falar. Não devia ter insistido. E como falou à frente de todos, torna-se um alvo. O chefe vai mostrar a todos quão impensável é dizer abertamente coisas que não devem aparecer nos relatórios de actividade.

        Um único caso de assédio tem um efeito extremamente potente sobre toda a comunidade de uma empresa. Uma mulher está a ser assediada e vai ser destruída, uma situação de uma total injustiça; ninguém se mexe, mas todos ficam ainda com mais medo do que antes. O medo instala-se. Com um único assédio, consegue-se dominar o colectivo de trabalho todo. Por isso, é importante, ao contrário do que se diz, que o assédio seja bem visível para todos. Há técnicas que são ensinadas, que fazem parte da formação em matéria de assédio, com psicólogos a fazer essa formação.

        Uma formação para o assédio?
        Exactamente. Há estágios para aprenderem essas técnicas. Posso contar, por exemplo, o caso de um estágio de formação em França em que, no início, cada um dos 15 participantes, todos eles quadros superiores, recebeu um gatinho. O estágio durou uma semana e, durante essa semana, cada participante tinha de tomar conta do seu gatinho. Como é óbvio, as pessoas afeiçoaram-se ao seu gato, cada um falava do seu gato durante as reuniões, etc.. E, no fim do estágio, o director do estágio deu a todos a ordem de… matar o seu gato.

        Está a descrever um cenário totalmente nazi...
        Só que aqui ninguém estava a apontar uma espingarda à cabeça de ninguém para o obrigar a matar o gato. Seja como for, um dos participantes, uma mulher, adoeceu. Teve uma descompensação aguda e eu tive de tratá-la – foi assim que soube do caso. Mas os outros 14 mataram os seus gatos. O estágio era para aprender a ser impiedoso, uma aprendizagem do assédio.

        Penso que há bastantes empresas que recorrem a este tipo de formação – muitas empresas cujos quadros, responsáveis de recursos humanos, etc., são ensinados a comportar-se dessa maneira.

        Voltando ao perfil do assediado, é perigoso acreditar realmente no seu trabalho?
        É. O que vemos é que, hoje em dia, envolver-se demasiado no seu trabalho representa um verdadeiro perigo. Mas, ao mesmo tempo, não pode haver inteligência no trabalho sem envolvimento pessoal – sem um envolvimento total.

        Isso gera, aliás, um dilema terrível, nomeadamente em relação aos nossos filhos. As pessoas suicidam-se no trabalho, portanto não podemos dizer aos nossos filhos, como os nossos pais nos disseram a nós, que é graças ao trabalho que nos podemos emancipar e realizar-nos pessoalmente. Hoje, vemo-nos obrigados a dizer aos nossos filhos que é preciso trabalhar, mas não muito. É uma mensagem totalmente contraditória.

        E os sindicatos?
        Penso que os sindicatos foram em parte destruídos pela evolução da organização do trabalho. Não se opuseram à introdução dos novos métodos de avaliação. Mesmo os trabalhadores sindicalizados viram-se presos numa dinâmica em que aceitaram compromissos com a direcção. Em França, a sindicalização diminuiu imenso – as pessoas já não acreditam nos sindicatos porque conhecem as suas práticas desleais.

        Como distinguir um suicídio ligado ao trabalho de um suicídio devido a outras causas?
        É uma pergunta à qual nem sempre é possível responder. Hoje em dia, não somos capazes de esclarecer todos os suicídios no trabalho. Mas há casos em que é indiscutível que o que está em causa é o trabalho. Quando as pessoas se matam no local de trabalho, não há dúvida de que o trabalho está em causa. Quando o suicídio acontece fora do local de trabalho e a pessoa deixa cartas, um diário, onde explica por que se suicida, também não há dúvidas – são documentos aterradores. Mas quando as pessoas se suicidam fora do local do trabalho e não deixam uma nota, é muito complicado fazer a distinção. Porém, às vezes é possível. Um caso recente – e uma das minhas vitórias pessoais – foi julgado antes do Natal, em Paris. Foi um processo bastante longo contra a Renault por causa do suicídio de vários engenheiros e cientistas altamente qualificados que trabalhavam na concepção dos veículos, num centro de pesquisas da empresa em Guyancourt, perto de Paris.

        Quando é que isso aconteceu?
        Em 2006-2007. Houve cinco suicídios consecutivos; quatro atiraram-se do topo de umas escadas interiores, do quinto andar, à frente dos colegas, num local com muita passagem à hora do almoço. Mas um deles – aliás de origem portuguesa – não se suicidou no local do trabalho. Era muitíssimo utilizado pela Renault nas discussões e negociações sobre novos modelos e produção de peças no Brasil. Foi utilizado, explorado de forma aterradora. Pediam-lhe constantemente para ir ao Brasil e o homem estava exausto por causa da diferença horária. Era uma pessoa totalmente dedicada, tinha mesmo feito coisas sem ninguém lhe pedir, como traduzir documentos técnicos para português, para tentar ganhar o mercado brasileiro para a empresa. A dada altura, teve uma depressão bastante grave e acabou por se suicidar.

        A viúva processou a Renault, que em Dezembro acabou por ser condenada por “falta imperdoável do empregador” [conceito do direito da segurança social em França], por não ter tomado as devidas precauções.

        Foi um acontecimento importante porque, pela primeira vez, uma grande multinacional foi condenada em virtude das suas práticas inadmissíveis. Os advogados do trabalho apoiaram-se muito nos resultados científicos do meu laboratório. O acórdão do tribunal tinha 25 páginas e as provas foram consideradas esmagadoras. Havia e-mails onde o engenheiro dizia que já não aguentava mais – e que a empresa fez desaparecer limpando o disco rígido do seu computador. Mas ele tinha cópias dos documentos no seu computador de casa. A argumentação foi imparável.

        Mesmo assim, as empresas continuam a dizer que os suicídios dos seus funcionários têm a ver com a vida privada e não com o trabalho.
        Toda a gente tem problemas pessoais. Portanto, quando alguém diz que uma pessoa se suicidou por razões pessoais, não está totalmente errado. Se procurarmos bem, vamos acabar por encontrar, na maioria dos casos, sinais precursores, sinais de fragilidade. Há quem já tenha estado doente, há quem tenha tido episódios depressivos no passado. É preciso fazer uma investigação muito aprofundada.

        Mas se a empresa pretender provar que a crise depressiva de uma pessoa se deve a problemas pessoais, vai ter de explicar por que é que, durante 10, 15, 20 anos, essa pessoa, apesar das suas fragilidades, funcionou bem no trabalho e não adoeceu.

        Mas como é que o trabalho pode conduzir ao suicídio? Só acontece a pessoas com determinada vulnerabilidade?
        Só muito recentemente é que percebi que uma pessoa podia ser levada ao suicídio sem que tivesse até ali apresentado qualquer sinal de vulnerabilidade psicopatológica. Fiquei extremamente surpreendido com um caso em especial, do qual não posso falar muito aqui, porque ainda não foi julgado, de uma mulher que se suicidou na sequência de um assédio no trabalho.

        A Polícia Judiciária [francesa] tinha interrogado os seus colegas de trabalho e, como a ordem vinha de um juiz, as pessoas falaram. Foram 40 depoimentos que descreviam a maneira como essa mulher tinha sido tratada pelo patrão (apenas uma contradiz as restantes 39). E o que emerge é que, devido ao assédio, ela caiu num estado psicopatológico muito parecido com um acesso de melancolia.

        Ora, o que mais me espantou, quando procurei sinais precursores, é que não encontrei absolutamente nada. E, pela primeira vez, comecei a pensar que, em certas situações, quando uma pessoa que não é melancólica é escolhida como alvo de assédio, é possível fabricar, desencadear, uma verdadeira depressão em tudo igual à melancolia. Quando essa pessoa se vai abaixo, tem uma depressão, autodesvaloriza-se, torna-se pessimista, pensa que não vale nada, que merece realmente morrer.

        Era uma mulher hiperbrilhante, muitíssimo apreciada, muito envolvida, imaginativa, produtiva. Tinha duas crianças óptimas e um marido excepcional. Falei com os seus amigos, o marido, a mãe. Não encontrei nenhum sinal precursor, nem sequer na sua infância.

        Aconteceu sem pré-aviso?
        Houve um período crítico que terá durado um mês. As pessoas à sua volta deram por isso. Viram que ela estava muito mal, o médico do trabalho foi avisado e obrigou-a a parar de trabalhar e pediu a alguém que a levasse para casa. Mas ela não queria parar, insistia que queria fazer o que tinha a fazer. A família também percebeu que algo estava a acontecer, ela consultou um psiquiatra, mas é impossível travar este tipo de descompensação. Foi para casa da mãe, mas quando pensaram que estava a melhorar um pouco, relaxaram a vigilância e ela atirou-se pela janela.

        Nos testemunhos recolhidos pela polícia, vê-se claramente que ninguém se atreveu a ajudá-la; todos dizem que tinham medo. Tinham medo do patrão, que era um tirano. Também assediava sexualmente as mulheres e esta mulher era muito bonita. Não consegui saber se tinha havido assédio sexual, mas várias pessoas evocam no seu depoimento que ela terá caído em desgraça porque se tinha recusado a fazer o que ele queria.

        O caso da France Télécom foi muito mediático, com 25 suicídios. O suicídio é mais frequente nas grandes empresas?
        Não. Nas grandes empresas pode ser mais visível, mas há também muitas pequenas empresas onde as coisas correm muito mal, onde os critérios são incrivelmente arbitrários e onde o assédio pode ser pior. Nas grandes empresas, subsiste por vezes uma presença sindical que faz com que os casos venham a público. Foi assim na France Télécom. Mas não acredito que a destruição actual do mundo do trabalho esteja a acontecer apenas nalgumas grandes multinacionais. E é importante salientar que também há multinacionais onde as coisas correm bem.

        Quantas pessoas se suicidam por ano, em França e noutros países?
        Não há estatísticas do suicídio no trabalho. Em França, foi constituída uma comissão ministerial onde pela primeira vez foi dito claramente que é urgente aplicar ferramentas que permitam analisar a relação entre suicídio e trabalho. Mas, por enquanto, isso não existe. Nem na Bélgica, nem no Canadá, nem nos Estados Unidos, não existe em sítio nenhum.

        Na Suécia, por exemplo, há provavelmente tantos suicídios no trabalho como em França. Mas não há debate. Em muitos países não há debate, porque não existe esse espaço clínico, essa nova medicina do trabalho que estamos a desenvolver em França. De facto, a França é dos sítios onde mais se fala do assunto. O debate francês interessa muita gente, mas também mete muito medo.

        Em França, foi feito um único inquérito, há quatro anos, pela Inspecção Médica do Trabalho, em três departamentos [divisões administrativas], passando pelos médicos do trabalho, e chegaram a um total de 50 suicídios em cinco anos. É provavelmente um valor subestimado, mas, extrapolando-o a todos os departamentos, dá entre 300 e 400 suicídios no trabalho por ano.

        Falou de “qualidade total”. O que é exactamente?
        É uma segunda medida que foi introduzida na sequência da avaliação individual. Acontece que, quando se faz a avaliação individual do desempenho, está-se a querer avaliar algo, o trabalho, que não é possível avaliar de forma quantitativa, objectiva, através de medições. Portanto, o que está a ser medido na avaliação não é o trabalho. No melhor dos casos, está-se a medir o resultado do trabalho. Mas isso não é a mesma coisa. Não existe uma relação de proporcionalidade entre o trabalho e o resultado do trabalho.

        É como se em vez de olhar para o conteúdo dos artigos de um jornalista, apenas se contasse o número de artigos que esse jornalista escreveu. Há quem escreva artigos todos os dias, mas enfim... é para contar que houve um acidente de viação ou outra coisa qualquer. Uma única entrevista, como esta por exemplo, demora muito mais tempo a escrever e, para fazer as coisas seriamente, vai implicar que o jornalista escreva entretanto menos artigos. Hoje em dia, julga-se os cientistas pelo número de artigos que publicam. Mas isso não reflecte o trabalho do cientista, que talvez esteja a fazer um trabalho difícil e não tenha publicado durante vários anos porque não conseguiu obter resultados.

        Passados uns tempos, surgem queixas a dizer que a qualidade [da produção ou do serviço] está a degradar-se. Então, para além das avaliações, os gestores começam a controlar a qualidade e declaram como objectivo a “qualidade total”. Não conhecem os ofícios, mas vão definir pontos de controlo da qualidade. É verdadeiramente alucinante.

        Para além de que declarar a qualidade total é catastrófico, justamente porque a qualidade total é um ideal. É importante ter o ideal da qualidade total, ter o ideal do “zero-defeitos”, do “zero-acidentes”, mas apenas como ideal.

        Em diabetologia, por exemplo, os gestores introduziram a obrigação de os médicos fazerem, para cada um dos seus doentes, ao longo de três meses, a média dos níveis de hemoglobina glicosilada A1c [ri-se], que é um indicador da concentração de açúcar no sangue. A seguir, comparam entre si os grupos de doentes de cada médico – é assim que controlam a qualidade dos cuidados médicos. [ri-se].

        Só que, na realidade, quando tratamos um doente, às vezes o tratamento não funciona e temos de perceber porquê. E finalmente, o doente acaba por nos confessar que não consegue respeitar o regime alimentar que lhe prescrevemos, porque inclui legumes e não féculas e que os legumes são mais caros... Tem três filhos e não tem dinheiro para legumes. E então, vamos ter de encontrar um compromisso.

        Da mesma forma, se um doente diabético é engenheiro e tem de viajar frequentemente para outros fusos horários, torna-se muito difícil controlar a sua glicemia com insulina. Mais uma vez, vai ser preciso encontrar um meio-termo. E isso é difícil.

        Mesmo uma central nuclear nunca funciona como previsto. Nunca. Por isso é que precisamos de “trabalho vivo”. A qualidade total é um contra-senso porque a realidade se encarrega de fazer com que as coisas não funcionem de forma ideal. Mas o gestor não quer ouvir falar disso.

        Ora, quando o ideal se transforma na condição para obter uma certificação, o que acontece é que se está a obrigar toda a gente a dissimular o que realmente se passa no trabalho. Deixa de ser possível falar do que não funciona, das dificuldades encontradas. Quando há um incidente numa central nuclear, o melhor é não dizer nada.

        Isso é extremamente grave.
        É. E em medicina passa-se a mesma coisa. Faz-se batota. Hoje, existem nos hospitais as chamadas “conferências de consenso” – acho que existem em toda a Europa – onde são feitas recomendações precisas para o tratamento de tal ou tal doença. E quando um médico recebe um doente, tem de teclar no computador para ver o que foi estabelecido pela conferência de consenso. O médico, que tem o doente à sua frente, pensa que essa não é a boa abordagem – porque sabe que o doente tem problemas com a mulher, com os filhos e não vai conseguir fazer o tratamento recomendado. Mas sabe também que se não fizer o que está lá escrito, e se por acaso as coisas derem para o torto, poderá haver um inquérito, a pedido da família ou de um gestor, e vão dizer que foi o médico que não fez o que devia. O problema da qualidade total é que obriga muitos de nós a viver essa experiência atroz que consiste em fazer o nosso trabalho de uma forma que nos envergonha.

        Há muitos suicídios entre os médicos?
        Cada vez mais. Há especialidades com mais suicídios do que outras – nomeadamente entre os médicos reanimadores. Em França é uma verdadeira hecatombe: é sabido que a profissão de anestesista-reanimador é das que têm maior taxa de suicídios. Nesta especialidade, os riscos de ser-se atacado em tribunal porque alguém morreu são tão elevados que os médicos se protegem seguindo as instruções. Mesmo que tenham a íntima convicção de que não era isso que deveriam fazer. Chegámos a esse ponto.

        É uma situação insuportável e há médicos que não aguentam ver um doente morrer porque tiveram medo de que isso se virasse contra eles. “Fiz o que estava escrito e o doente morreu. Matei o doente.” Há cada vez mais reanimadores que se confrontam com esta situação. Ainda por cima os cirurgiões atiram sempre as dificuldades que encontram nas operações para cima do reanimador. Sempre. Cada vez que acontece qualquer coisa, é porque o anestesista não adormeceu bem o doente, ou não o acordou correctamente, ou não soube restabelecer a pressão arterial. O cirurgião nunca admitirá que falhou nas suturas e que por isso o doente se esvaiu em sangue.

        Os médicos sempre foram considerados uma classe muito solidária…
        Foram. Já não são. Eu trabalhei anos nos hospitais, e adorava trabalhar lá, porque existia um espírito de equipa fantástico. Éramos felizes no nosso trabalho. Hoje, as pessoas não querem trabalhar nos hospitais, não querem fazer bancos, tentam safar-se. São todos contra todos. Bastaram uns anos para destruir a solidariedade no hospital. O que aconteceu é aterrador.

        O que é importante perceber é que a destruição dos elos sociais no trabalho pelos gestores nos fragiliza a todos perante a doença mental. E é por isso que as pessoas se suicidam. Não quer dizer que o sofrimento seja maior do que no passado; são as nossas defesas que deixaram de funcionar.

        Continua no segundo post,...

        Versão integral da entrevista publicada no PÚBLICO
        Editado pela última vez por MariaHelena; 18 February 2010, 14:14.

        Comentário


          #5
          Continuação,...



          Portanto, as ferramentas de gestão são na realidade ferramentas de repressão, de dominação pelo medo.
          Sim, o termo exacto é dominação; são técnicas de dominação.

          Então, é preciso acabar com essas práticas?
          Eu não diria que é preciso acabar com tudo. Acho que não devemos renunciar à avaliação, incluindo a individual. Mas é preciso renunciar a certas técnicas. Em particular, tudo o que é quantitativo e objectivo é falso e é preciso acabar com isso. Mas há avaliações que não são quantitativas e objectivas – a avaliação dos pares, da colectividade, a avaliação da beleza, da elegância de um trabalho, do facto de ser conforme às regras profissionais. Trata-se de avaliações assentes na qualidade e no desempenho do ofício. Mesmo a entrevista de avaliação pode ser interessante e as pessoas não são contra.

          Mas sobretudo, a avaliação não deve ser apenas individual. É extremamente importante começar a concentrar os esforços na avaliação do trabalho colectivo e nomeadamente da cooperação, do contributo de cada um. Mas como não sabemos analisar a cooperação, analisa-se somente o desempenho individual.

          O resultado é desastroso. Não é verdade que a qualidade da produção melhorou. A General Motors foi obrigada a alertar o mundo da má qualidade dos seus pneus; a Toyota teve de trocar um milhão de veículos por veículos novos ou reembolsar os clientes porque descobriu um defeito de fabrico. É essa a qualidade total japonesa?

          Hoje, nos hospitais em França, a qualidade do trabalho não aumentou – diminui. O desempenho supostamente melhorou, mas isso não é verdade, porque não se toma em conta o que está a acontecer do lado do trabalho colectivo.

          Temos de aprender a pensar o trabalho colectivo, de desenvolver métodos para o analisar, avaliar – para o cultivar. A riqueza do trabalho está aí, no trabalho colectivo como cooperação, como maneira de viver juntos. Se conseguirmos salvar isso no trabalho, ficamos com o melhor, aprendemos a respeitar os outros, a evitar a violência, aprendemos a falar, a defender o nosso ponto de vista e a ouvir o dos outros.

          Não haverá por detrás desta nova organização do trabalho objectivos de controlo das pessoas, de redução da liberdade individual, que extravasam o âmbito empresarial?
          É uma questão difícil. Acho que qualquer método de organização do trabalho é ao mesmo tempo um método de dominação. Não é possível dissociar as duas coisas. Há 40 anos que os sociólogos trabalham nisto. Todos os métodos de organização do trabalho visam uma divisão das tarefas, por razões técnicas, de racionalidade, de gestão. Mas não há nenhuma divisão técnica do trabalho que não venha acompanhada de um sistema de controlo, em virtude do qual as pessoas vão cumprir as ordens.

          Há tecnologias da dominação. O sistema de Taylor, ou taylorismo, é essencialmente um método de dominação e não um método de trabalho. O método de Ford é um método de trabalho.

          Contudo, não penso que a intenção do patronato (francês, em particular), nem dos homens de Estado seja instaurar o totalitarismo. Mas é indubitável que introduzem métodos de dominação, através da organização do trabalho que, de facto, destroem o mundo social.

          Qual é a diferença entre taylorismo e fordismo?
          Taylor inventou a divisão das tarefas entre as pessoas e a interposição, entre cada tarefa, de uma intervenção da direcção, através de um capataz. Há constantemente alguém a vigiar e a exigir obediência ao trabalhador. A palavra-chave é obediência. “Quando eu disser para parar de trabalhar e ir comer qualquer coisa, você vai obedecer. Se concordar, será pago mais 50 cêntimos pela sua obediência.” A única coisa que importa é a obediência. O objectivo é acabar com o ócio, os tempos mortos.

          Só muito mais tarde é que Ford introduziu uma nova técnica, a linha de montagem, que é uma aplicação do taylorismo. Na realidade, não é o progresso tecnológico que determina a transformação das relações sociais, mas a transformação das relações de dominação que abre o caminho a novas tecnologias.

          O toyotismo [ou Sistema Toyota de Produção] utiliza um outro método de dominação, o ohnismo [inventado por Taiichi Ohno (1912-1990)], diferente do taylorismo. É um método particular que extrai a inteligência das pessoas de uma forma muito mais subtil que o taylorismo, que apenas estipula que há pessoas que têm de obedecer e outras que mandam.

          No ohnismo, trata-se de fazer com que pessoas beneficiem a empresa oferecendo a sua inteligência e os conhecimentos adquiridos através da experiência. Para o fazer, nos anos 1980, introduziu-se algo de totalmente novo: os chamados “círculos de qualidade”.

          O sistema japonês foi realmente uma novidade em relação ao taylorismo, porque ensinou as pessoas a colaborar sem as obrigar a obedecer – dando-lhes prémios, pelo contrário. Quando uma sugestão de uma pessoa dá lucro, a empresa faz o cálculo do dinheiro que a empresa ganhou com a ideia e reverte para o trabalhador uma parte desse lucro. Trata-se de prémios substanciais.

          Mas há uma batota: os círculos de qualidade podiam durar horas, todos os dias, reunindo as pessoas a seguir ao trabalho para alimentar a caixinha das ideias. Todos se envolviam porque, por um lado, uma ideia que permitisse melhorar a produção valia-lhes chorudos prémios, mas também porque quem participava neles tinha um emprego vitalício garantido na empresa.

          O sistema foi exportado para a Europa, os EUA, etc. porque durante uns tempos, a qualidade melhorou de facto. Mas a dada altura, as pessoas no Japão trabalhavam tanto que começou a haver mortes por karōshi [literalmente “morte por excesso de trabalho”].

          O que é o karōshi?
          É uma morte súbita, geralmente por hemorragia cerebral (AVC), de pessoas novas que não apresentam qualquer factor de risco cardiovascular. Não são obesos, não sofrem de hipertensão, não têm níveis de colesterol elevados, não são diabéticos, não fumam, não são alcoólicos, não tem uma história familiar de AVC. Nada. A único factor que é possível detectar é o excesso de trabalho. Estas pessoas trabalham mais de 70 horas por semana, sem contar as horas passadas nos círculos de qualidade. Ou seja, são pessoas que estão literalmente sempre a trabalhar. Mal param de trabalhar, vão dormir. As descrições de colegas que foram fazer inquéritos no Japão são aterrorizadoras.

          O mundo do trabalho no Japão é alucinante. Há raparigas que entram nas fábricas de electrónica, por exemplo, e que são utilizadas entre os 18 e os 21 anos – porque aos 21 anos, já não conseguem aguentar as cadências de trabalho.

          As famílias confiam-nas às empresas por esses três anos, durante os quais elas se entregam de corpo e alma ao trabalho. E nalguns casos, a empresa compromete-se a casar a rapariga no fim dos três anos. É mesmo um sistema totalitário. E mais: essas jovens trabalham 12 a 14 horas por dia e depois vão para uns dormitórios onde há uma série de gavetões – cada um com cama e um colchão –, deitam-se na cama e fecha-se o gavetão. Dormem assim, empilhadas em gavetões. Três anos… em gavetões… é preciso ver para crer.

          Mas uma coisa destas não é aplicável na Europa
          Não, pelo menos em França nunca funcionaria. Ainda não chegámos lá, disso tenho a certeza.

          Mas acha que poderia acontecer?
          Sim, acho que poderíamos lá chegar. Tudo é possível. Mas ao contrário do que se diz, não há uma fatalidade, não é a mundialização que determina as coisas, não é a guerra económica. É perfeitamente possível, no contexto actual, trabalhar de outra maneira, e há empresas que o fazem, com uma verdadeira preocupação de preservar o “viver juntos”, para tentar encontrar alternativas à abordagem puramente de gestão. O que não impede que a tendência seja para a desestruturação um pouco por todo o lado. É difícil resistir-lhe.

          Uma empresa que defendesse os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade conseguiria sobreviver no actual contexto de mercado?
          Hoje, estou em condições de responder pela afirmativa, porque tenho trabalhado com algumas empresas assim. Ao contrário do que se pensa, certas empresas e alguns patrões não participam do cinismo geral e pensam que a empresa não é só uma máquina de produzir e de ganhar dinheiro, mas também que há qualquer coisa de nobre na produção, que não pode ser posta de lado. Um exemplo fácil de perceber são os serviços públicos, cuja ética é permitir que os pobres sejam tão bem servidos como os ricos – que tenham aquecimento, telefone, electricidade. É possível, portanto, trabalhar no sentido da igualdade.

          Há também muita gente que acha que produz coisas boas – os aviões, por exemplo, são coisas belas, são um sucesso tecnológico, podem progredir no sentido da protecção do ambiente. O lucro não é a única preocupação destas pessoas.

          E, entre os empresários, há pessoas assim – não muitas, mas há. Pessoas muito instruídas que respeitam esse aspecto nobre. E, na sequência das histórias de suicídios, alguns desses empresários vieram ter comigo porque queriam repensar a avaliação do desempenho. Comecei a trabalhar com eles e está a dar resultados positivos.

          O que fizeram?
          Abandonaram a avaliação individual – aliás, esses patrões estavam totalmente fartos dela. Durante um encontro que tive com o presidente de uma das empresas, ele confessou-me, após um longo momento de reflexão, que o que mais odiava no seu trabalho era ter de fazer a avaliação dos seus subordinados e que essa era a altura mais infernal do ano. Surpreendente, não? E a razão que me deu foi que a avaliação individual não ajuda a resolver os problemas da empresa. Pelo contrário, agrava as coisas.

          Neste caso, trata-se de uma pequena empresa privada que se preocupa com a qualidade da sua produção e não apenas por razões monetárias, mas por questões de bem-estar e convivialidade do consumidor final. O resultado é que pensar em termos de convivialidade faz melhorar a qualidade da produção e fará com que a empresa seja escolhida pelos clientes face a outras do mesmo ramo.

          Para o conseguir, foi preciso que existisse cooperação dentro da empresa, sinergias entre as pessoas e que os pontos de vista contraditórios pudessem ser discutidos. E isso só é possível num ambiente de confiança mútua, de lealdade, onde ninguém tem medo de arriscar falar alto.

          Se conseguirmos mostrar cientificamente, numa ou duas empresas com grande visibilidade, que este tipo de organização do trabalho funciona, teremos dado um grande passo em frente.

          Versão integral da entrevista publicada no PÚBLICO
          Editado pela última vez por MariaHelena; 18 February 2010, 14:15.

          Comentário


            #6
            Obrigado pela partilha, está tudo dito.

            Comentário


              #7
              Maria Helena,

              Lamento mas é repost...!


              Edd

              Comentário


                #8
                Originalmente Colocado por Eddy Ver Post
                Maria Helena,

                Lamento mas é repost...!


                Edd
                Desta vez digo,...ainda bem que é repost, pois é sinal que as pessoas ainda se preocupam com o que é importante.

                Considero no entanto que há coisas que ao ter delas conhecimento, devem modificar a forma como integramos essa informação, de tal forma que nos deve transformar um pouco, assim como à forma como pensamos.

                Confesso que esta entrevista, me transtornou,...
                Editado pela última vez por MariaHelena; 18 February 2010, 14:57.

                Comentário


                  #9
                  Ainda não li toda a noticia, que quero o fazer com a maior atenção, o que desde já agradeço a partilha.

                  Muitas vezes a pressão laboral e social aos dias de hoje que correm leva-nos a criar estes caminhos e que se não o for preventivamente cuidado, o que muito das pessoas que se confrontam por isso, não conseguem ter a percepção de que o strees psiquico que afecta a própria pessoa enredada nisto leva a que estas situações ocorram.

                  Comentário


                    #10
                    Então baniram a rapariga???


                    Edd

                    Comentário


                      #11
                      Originalmente Colocado por Eddy Ver Post
                      Então baniram a rapariga???


                      Edd

                      Não é a primeira vez que alguém é banido por colocar um "repost"
                      Já me aconteceu também..
                      Vou ficar por aqui, cada um pensa o que quiser ;)

                      Comentário


                        #12
                        Li a reportagem toda e ainda bem que, felizmente, não tenho muita noção do que é o ambiente em certo tipo de empresas.

                        Achei aquela curiosidade de matar os gatinhos demais...

                        Comentário


                          #13
                          Também acho a avaliação pessoal uma estupidez.

                          Comentário


                            #14
                            O texto é grande e, por isso, a maioria está-se nas tintas para o ler. Se estivesse dividido em 20 posts pequenos ou tivesse uma mulher seminua toda a gente era capaz de o fazer. Assim…
                            Mas lê e participa quem quer. Mas há sempre quem queira, pois além de interessante, o assunto é muito sério… e quer queiram quer não, mesmo para muitos que não têm tempo ou paciência para o ler, é um assunto que nos toca a todos.

                            Todos trabalhamos e lidamos com as novas realidades e leis do trabalho. Todos nós que estamos agora aqui a distrair um pouco, viemos do trabalho e para o trabalho voltaremos amanhã. E por isso, quanto a mim, é assunto que diz respeito a toda gente, podendo, em jeito de conversa, abordar-se muito da nossa vida. Falar-se de uma realidade perturbante que, em certos casos, chega mesmo a levar ao extremo do suicídio.
                            (to be continued)

                            Comentário


                              #15
                              Mas se só interessa a alguns, eu sou um deles. E digo que o suicídio no trabalho é um grito de alerta que deveria ser escutado pela sociedade que o ignora. No fundo, queixamo-nos tanto da precariedade, desonestidade e exploração no trabalho, mas depois não somos capazes de ter uma conversa construtiva e adulta acerca de algo tão importante para a vida de todos nós: o trabalho.

                              Devo dizer que muito do que foi dito nesse excelente artigo também o sinto cada vez mais presente na minha vida profissional, constituindo motivo de forte preocupação. Algo que vai fazendo com que o prazer de trabalhar vá perdendo terreno para o medo no local de trabalho. As pessoas começam a sentir muito desconforto e uma injustiça crescente no desempenho da sua actividade.
                              (to be continued)

                              Comentário


                                #16
                                Muitos dos que aqui estão sabem bem perfeitamente que isto acontece no seu local de trabalho no dia-a-dia. Um local onde a ideia do sucesso dos outros poderá implicar a perda da minha fatia do bolo, acaba cada vez mais por afastar as pessoas, prejudicando a entreajuda, a lealdade e a amizade verdadeira.

                                A pressão e a desconfiança tomam conta do resto, sendo que exercer a sua profissão começa cada vez mais a deixar de ser um prazer. A qualidade do trabalho pode não ser traduzida em recompensa se existirem valores e interesses pelo meio a deturpá-lo. Deixa de ser importante a realidade do trabalho passando a interessar a aparência do trabalho – aquilo que é visível. As pessoas começam a trabalhar sem o intuito de fazer e de cumprir, para passarem a interessar-se apenas com a imagem que vai transparecer daquilo que (não) fizeram.
                                Perde-se o profissionalismo em benefício do exibicionismo. Perdem-se os valores de cooperativismo em favor do individualismo. Enfim, perdem-se as pessoas.
                                (Não digo mais, senão também ninguém lê)

                                Comentário


                                  #17
                                  Se me é permitido, vou fazer citação e retirar este tópico, pois o problema é o mesmo na sua essencia e nas palavras vãs que tenho tentado transmitir e não queremos (melhor dizendo, por vezes) reconhecer isto mesmo.

                                  http://forum.autohoje.com/off-topic/...io-porque.html

                                  Mas e que problema é este que levanto (???), será a própria pessoa a culpada de tudo isto e destas ocorrências, será só e apenas dela um problema que não nos cabe a nós, será isto de uma sociedade que não vê ou quer ver o que isto provoca e as vidas que se perdem, não seremos nós também os culpados, não compreenderemos estas situações, seremos capazes de ajudar ou tentar prevenir estes casos, ter atitudes positivistas a que as pessoas não se sintam de certa e na sua forma denegridas na sua integridade e como pessoas.

                                  Muitas da pessoas podem revelar actos destes sendo intrinsecos, mas, também somos nós que por vezes acendemos o rastilho, e chega a um dia no limite do seu ponto ruptura, e sei-o bem que a própria coisa com que podemos viver é com sentimentos de culpa e quando por vezes provocados por nós.

                                  É claro (ou nem tanto), que olhamos para isto como se observassemos o horizonte toldado por uma neblusidade extrema que não nos permite ver, e assim abandonamos estas paisagens; miragens (ou melhor realidades).

                                  Vos digo sinceramente, que as minha mãos não as lavo, e por muito que tenha que sujar por isto assim o farei.

                                  Comentário


                                    #18
                                    Concordo com tudo o que disse o BLADERUNNER. Muito bem. O SIADAP por exemplo é uma vergonha!
                                    Editado pela última vez por MegaMaster; 18 February 2010, 20:48.

                                    Comentário


                                      #19
                                      Originalmente Colocado por SavageXp Ver Post
                                      Também acho a avaliação pessoal uma estupidez.
                                      Trabalho há 10 anos e sempre fui avaliado em termos de desempenho e, consequentemente, recompensado ou não com base nessa avaliação.

                                      Não vejo nada de mal.

                                      Originalmente Colocado por BLADERUNNER Ver Post
                                      Muitos dos que aqui estão sabem bem perfeitamente que isto acontece no seu local de trabalho no dia-a-dia. Um local onde a ideia do sucesso dos outros poderá implicar a perda da minha fatia do bolo, acaba cada vez mais por afastar as pessoas, prejudicando a entreajuda, a lealdade e a amizade verdadeira.

                                      A pressão e a desconfiança tomam conta do resto, sendo que exercer a sua profissão começa cada vez mais a deixar de ser um prazer. A qualidade do trabalho pode não ser traduzida em recompensa se existirem valores e interesses pelo meio a deturpá-lo. Deixa de ser importante a realidade do trabalho passando a interessar a aparência do trabalho – aquilo que é visível. As pessoas começam a trabalhar sem o intuito de fazer e de cumprir, para passarem a interessar-se apenas com a imagem que vai transparecer daquilo que (não) fizeram.
                                      Perde-se o profissionalismo em benefício do exibicionismo. Perdem-se os valores de cooperativismo em favor do individualismo. Enfim, perdem-se as pessoas.
                                      (Não digo mais, senão também ninguém lê)
                                      Concordo em parte.
                                      Depende do espírito da empresa e o espírito do próprio grupo onde estás inserido.
                                      Se estiveres tu, enquanto trabalhador de bem e a tentar dar o teu melhor, não terás problemas com o mérito de quem é melhor que tu e irás tentar acompanhar.
                                      Obviamente se não consegues podes ter menos "bolo" que o outro, mas tens duas alternativas: ou és profissional e tentas ser melhor ou ficas a remoer e a tentar "lixar" o próximo.

                                      Eu avalio pessoas e tento ser o mais justo possível, não me interessam aparências, mas sim o trabalho de cada no dia-a-dia e resultados de cada um, de acordo com o que é pretendido e previamente estabelecido.
                                      Importante igualmente defender a equipa ou a pessoa, quando o tem que ser e chamar a atenção quando o tem que ser chamada, o "nacional porreirismo" não é boa política embora seja o caminho mais fácil...

                                      Comentário


                                        #20
                                        Originalmente Colocado por Porco Ver Post
                                        Não é a primeira vez que alguém é banido por colocar um "repost"
                                        Já me aconteceu também..
                                        Vou ficar por aqui, cada um pensa o que quiser ;)
                                        Desculpe-me a Admin e os demais users o Off Topic mas, quero desde já pedir desculpa à MariaHelena, n era minha intenção o seu ban! N estou c isto a contestar a decisão da Admin.

                                        P isso, MariaHelena se me está a ler... volte q está perdoada!
                                        Se voltar bem disposta sou rapaz p/ pagar um copo de água aqui...


                                        Edd

                                        Comentário


                                          #21
                                          Qt ao assunto do tópico, infeliz/ fala num assunto q dps n é mt abordado e é ele: o mundo do Outsorcing ( - onde me insiro)!
                                          É uma vergonha o maltrato dado a mts trabalhadores deste método "barato" de trabalho.

                                          Ainda n vi qq vantagem deste modo de vida nas empresas PT e q já está a ser deixado p esses países mais desenvolvidos. P/ além da flexibilidade do nº da massa trabalhadora n vejo qq outra vantagem neste.

                                          O desligamento do trabalhador em outsorcing é tal... a frieza c q executa as ordens sem questionar ou ser questionado...


                                          Edd
                                          (continua...)

                                          Comentário


                                            #22
                                            A aberração do SIADAP ....

                                            Comentário


                                              #23
                                              Obrigado pela partilha!

                                              Dá mesmo que pensar, e algumas coisas que se lêem no artigo por enquanto ainda não se sentem cá, mas um dia....

                                              Comentário


                                                #24
                                                Originalmente Colocado por Porco Ver Post
                                                Vou ficar por aqui, cada um pensa o que quiser ;)
                                                Também eu.

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                                                  #25
                                                  Originalmente Colocado por Eddy Ver Post
                                                  Qt ao assunto do tópico, infeliz/ fala num assunto q dps n é mt abordado e é ele: o mundo do Outsorcing ( - onde me insiro)!
                                                  É uma vergonha o maltrato dado a mts trabalhadores deste método "barato" de trabalho.

                                                  Ainda n vi qq vantagem deste modo de vida nas empresas PT e q já está a ser deixado p esses países mais desenvolvidos. P/ além da flexibilidade do nº da massa trabalhadora n vejo qq outra vantagem neste.

                                                  O desligamento do trabalhador em outsorcing é tal... a frieza c q executa as ordens sem questionar ou ser questionado...


                                                  Edd
                                                  (continua...)
                                                  Ainda hoje de manhã passou uma reportagem sobre os CTT, em que as entregas de correio em algumas zonas no Norte é feita por particulares, com veículos próprios (ao serviço dos CTT).

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                                                    #26
                                                    Originalmente Colocado por Valium Ver Post
                                                    Ainda hoje de manhã passou uma reportagem sobre os CTT, em que as entregas de correio em algumas zonas no Norte é feita por particulares, com veículos próprios (ao serviço dos CTT).
                                                    Não é só no Norte. Tambem é assim o serviço CTT Expresso.
                                                    E também há estações de correios que são particulares, tipo franchising dos CTT

                                                    Não vejo nenhum problema nisso

                                                    Comentário


                                                      #27
                                                      Toda a sociedade laboral actual está assente em pressupostos errados!
                                                      A desumanização do trabalho, o trabalho precário, os baixos salários, a obsessão pelo lucro imediato, a cada vez maior diferença salarial entre dirigentes e dirigidos, etc.
                                                      E isso está contagiar as relações familiares, cada vez veremos mais casais sem filhos, e pessoas a viver sozinhas e consequentemente veremos também cada vez mais pessoas a "cair nas ruas"!
                                                      A crise económica recente foi um aviso, que após alguns manifestos de boas intenções, que não passaram disso mesmo de nada serviu, pelo contrário!
                                                      O mundo está doente, por causa da obsessão cega pela economia!
                                                      Os nosso avós eram mais pobres sem duvida, mas muito mais felizes!

                                                      Comentário


                                                        #28
                                                        A avaliação de desempenho, a qualidade total e o outsourcing não são factores de suicídio.

                                                        Associar o suicídio nas empresas a algum dos 3 factores enunciados em cima é imoral e desonesto !!

                                                        Má liderança, atitudes persecutórias e de assédio já o poderão ser.

                                                        Comentário


                                                          #29
                                                          Originalmente Colocado por Alpiger Ver Post
                                                          Não é só no Norte. Tambem é assim o serviço CTT Expresso.
                                                          E também há estações de correios que são particulares, tipo franchising dos CTT

                                                          Não vejo nenhum problema nisso
                                                          Mas o CTT expresso é por uma empresa, certo?


                                                          Originalmente Colocado por hpventura Ver Post
                                                          A avaliação de desempenho, a qualidade total e o outsourcing não são factores de suicídio.

                                                          Associar o suicídio nas empresas a algum dos 3 factores enunciados em cima é imoral e desonesto !!

                                                          Má liderança, atitudes persecutórias e de assédio já o poderão ser.
                                                          Completamente de acordo.
                                                          Poderá aqui aliar-se à pressão exercida por maus resultados de responsabilidade daquela pessoa ou a perspectiva de despedimento.

                                                          Comentário


                                                            #30
                                                            Originalmente Colocado por Valium Ver Post
                                                            Concordo em parte.
                                                            Depende do espírito da empresa e o espírito do próprio grupo onde estás inserido.
                                                            Se estiveres tu, enquanto trabalhador de bem e a tentar dar o teu melhor, não terás problemas com o mérito de quem é melhor que tu e irás tentar acompanhar.
                                                            Obviamente se não consegues podes ter menos "bolo" que o outro, mas tens duas alternativas: ou és profissional e tentas ser melhor ou ficas a remoer e a tentar "lixar" o próximo.

                                                            Eu avalio pessoas e tento ser o mais justo possível, não me interessam aparências, mas sim o trabalho de cada no dia-a-dia e resultados de cada um, de acordo com o que é pretendido e previamente estabelecido.
                                                            Importante igualmente defender a equipa ou a pessoa, quando o tem que ser e chamar a atenção quando o tem que ser chamada, o "nacional porreirismo" não é boa política embora seja o caminho mais fácil...
                                                            Embora saiba que te estás a referir à generalidade, importa frisar que me esforço para conseguir a excelência no meu trabalho. E também concordo contigo no que concerne a separar o trigo do joio, pois existem maus profissionais em todo o lado que, além de se aproveitarem do sistema, também vão denegrindo a imagem da profissão que representam.

                                                            Aquilo que mais me aborrece é precisamente o contrário da realidade que defendes. É que a forma como o mérito está a ser avaliado permite que muitos dos tais incompetentes, se preocupem essencialmente com a imagem que passam para o exterior e em especial para o avaliador. Enquanto uns estão preocupados em trabalhar e produzir um trabalho válido, sério e eficiente, outros preocupam-se apenas com as aparências. E com isso, a verdade dos factos é deturpada. Pessoas que não tentam acompanhar o trabalho, mas mostrar o trabalho que não fazem. Fazer circo em vez do trabalho que deveriam fazer. E podes ter a certeza de que isso é mais comum do que imaginas.

                                                            Não é possível dizer que isso não existe ou não afecta a verdade do trabalho, pois estaríamos a ser naifs. Basta olharmos em redor para a sociedade que temos para nos apercebermos no mundo em que estamos. Mas outro grande problema que surge tem a ver com os compadrios e cunhas. Havendo quem não se deixa afectar por isso, muitos há que são permissivos aos jogos de interesses. Com a cunha, a denúncia e o falso testemunho cria-se um ambiente de desconfiança e de oportunismo. As chefias aproveitam-se disso para estender os seus olhos sobre os seus trabalhadores… e assim voltamos a ter ambientes dignos dos tempos da PIDE.

                                                            Depois existe o factor exploratório das entidades patronais que vão instalando o clima de medo para controlar os seus súbditos e impondo os seus abusos de autoridade. E esta realidade é cada vez mais visível nos dias que correm. Assim, desta forma, conseguem obrigar os trabalhadores a fazer serviço fora de horas, em feriados ou fds, a cumprir horas extra não remuneradas, impedir licenças ou dispensas apadrinhadas pela lei, a proibir direitos tão simples como ir à casa de banho ou uma pausa ao meio do turno de trabalho, obrigar à aceitação de condições precárias de trabalho chegando mesmo ao extremo de colocar em risco a integridade física dos empregados (seja pelo incumprimento de normas de segurança no trabalho, seja pelo assédio sexual).

                                                            No meio de tudo isto impera a violência e chantagem psicológica que leva as pessoas ao desespero; pessoas que muitas vezes dependem do seu emprego para subsistir, pagar as contas e manter as suas famílias. Pessoas que têm de se submeter face a uma diminuição abrupta dos direitos dos trabalhadores bem aproveitada pelas entidades patronais menos escrupulosas. Isto começa a dar azo a abusos para todos os gostos. Começamos cada vez mais a ser apenas uma fonte de rendimento. Unicamente carne para canhão.

                                                            Embora não me afectando a mim, conheço muita gente que sofre isto na pele. Todos nós temos muita garganta para vir para aqui dizer isto e aquilo, mas quantos não há que têm de se sujeitar a serem explorados para ir mantendo o seu emprego?! Aqui somos todos uns heróis, mas na vida real, se o formos sujeitamo-nos a ficar sem emprego e a não ter o que dar de comer aos filhos. Esta é a realidade que algum patronato sabe bem e da qual se aproveita.
                                                            Por isso, a miséria de um povo sempre é boa para quem está melhor na vida e está mal intencionado. O excesso de desemprego criou uma vasta oferta que permite aos patrões abusarem dos trabalhadores. Leva-me a comparar com a crise de 1929 em que devido ao elevado desemprego regressou-se a um estado de semi-escravatura em que chegavam camiões aos aglomerados de desempregados e os embarcavam como se fossem gado, escolhendo-os a olho, sem nenhum vínculo laboral protector.

                                                            Por isso, também a miséria de um povo faz aumentar certo género de crimes. A pedofilia, a prostituição e o abuso de menores. No ano transacto em Portugal a prostituição de menores aumentou para mais do dobro. Depois da catástrofe que aconteceu no Taiti, surgiram logo inúmeros pedófilos e redes de tráfico a aproveitarem-se da miséria desse povo (mas estou a entrar um pouco em off topic).

                                                            Comentário

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