Teófilo Santiago passa a ser o único assessor de investigação criminal com saída de José Braz, Jaime Fernandes e Mouro Pinto.
Desiludidos com a Justiça e inconformados com os recentes cortes orçamentais, vários históricos da Polícia Judiciária decidiram abandonar a instituição. José Braz, director da PJ de Lisboa, Jaime Fernandes, da Unidade de Cooperação Internacional, e Mouro Pinto, da Directoria do Porto, passam à situação de reforma, deixando a Judiciária apenas com um assessor de investigação criminal: Teófilo Santiago, crachá de ouro e responsável pelo processo ‘Face Oculta’, que passa a preencher sozinho o cargo de topo da instituição.
Quatro coordenadores superiores e dois coordenadores de investigação criminal, entre os quais estão Paulo Rebelo, ex-director da PJ de Faro e de Lisboa, e Calado Oliveira, coordenador da PJ de Setúbal, também deverão abandonar a instituição, embora por motivos diferentes: o primeiro confidenciou o desejo de pedir uma licença sem vencimentos e o segundo já requereu a antecipação da reforma. Para a situação de reforma deverão também passar os coordenadores superiores Ana Mafalda, do gabinete da Interpol, João Neto, da Directoria de Faro, e os coordenadores Luís Baptista e António Carvalho, que chefiam o combate aos roubos e incêndios, ambos da Directoria de Lisboa.
A decepção com a instituição à qual dedicaram tantos anos de carreira é o principal motivo que leva os históricos da Judiciária a baterem com a porta. A dedicação à causa pública deixa de ser suficiente, e os responsáveis dão mostras de cansaço para continuarem a lutar por algo que consideram não ser defendido. "Ser da Polícia Judiciária é quase uma vergonha que temos de esconder dos vizinhos", dizem, a brincar, alguns dos quadros mais qualificados da instituição.
A razia atinge também os quadros intermédios. Trinta e um inspectores-chefes entraram com pedidos de aposentação, o que faz com que em muitas secções se verifique a necessidade de funcionarem regimes de acumulação ou ocorram exercícios de funções interinas. "Há inspectores-chefes a exercerem as funções de coordenadores e há inspectores a exercerem as funções de inspectores-chefes", revela ao CM Carlos Garcia, garantindo também que a previsível chegada de 30 novos inspectores-chefes poderá já não colmatar as carências. "O curso para novos 30 inspectores-chefes pode já não chegar", conclui.
PJ DE LISBOA PERDE AS CHEFIAS
A PJ de Lisboa será a Directoria mais afectada pelas saídas. Para além do director José Braz, a unidade irá ainda perder o coordenador superior Paulo Rebelo. António Carvalho e Luís Baptista, ambos coordenadores, também estão de saída. A direcção da Judiciária de Lisboa irá assim ficar profundamente afectada com a saída das chefias. José Braz exerce um cargo fundamental naquela directoria.
MEDIDAS PODEM SER AGRAVADAS
Caso a manifestação em frente ao Ministério da Justiça não surta qualquer efeito, os investigadores da Polícia Judiciária ameaçam agravar as medidas. "Se a nossa situação não ficar resolvida vamos tomar medidas mais graves. Não vamos permitir que esta situação se prolongue por mais tempo", explicou Carlos Garcia, da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da PJ.
"DÓI MUITO ABANDONAR OS SUSPEITOS": Carlos Garcia, Presidente da ASFIC/PJ
Correio da Manhã – Que balanço faz da greve?
Carlos Garcia – A greve superou as nossas expectativas, temos uma adesão de quase 100%. O descontentamento e desânimo dos investigadores proporcionaram esta situação.
– Não teme que a imagem da PJ saia prejudicada?
– Os cidadãos sabem que damos o máximo todos os dias. Dói-nos muito quando chegamos às 17h30 e abandonamos os suspeitos. Mas a responsabilidade é do Governo, e de uma vez por todas têm de assumir que a culpa é deles.
– Quando terminarem a greve vão regressar ao horário habitual?
– Estamos cansados de trabalhar de graça, de fazer horas extra sem receber nada em troca. Neste momento sabemos que o Governo não tem dinheiro, pelo que apenas queremos ver a nossa carreira dignificada.
– Para dia 18 está marcada uma manifestação?
– Vamos protestar em frente ao Ministério da Justiça. Sabemos para já que pelo menos 600 inspectores irão estar presentes na manifestação.
GREVE PÁRA INVESTIGAÇÕES E DEIXA SUSPEITOS À SOLTA
Há mais de um mês em greve, os investigadores da Polícia Judiciária não parecem ter intenções de abandonar a sua causa. E nem o facto de a adesão de quase 100% estar a comprometer investigações de vários anos e de diversos suspeitos continuarem em liberdade parece demovê-los da sua intenção. Nas últimas semanas vários mandados de detenção ficaram por cumprir. Desde 15 de Dezembro, a PJ apenas deteve uma pessoa por roubos em Lisboa. No ano passado, em igual período, 39 ladrões já tinham sido presos.
O facto de os inspectores deixarem de fazer escutas após as 17h30 permitiu que carregamentos de droga dessem entrada em Portugal e que ladrões cometessem assaltos após a PJ ter deixado de os vigiar. Investigações complexas e demoradas foram por água abaixo. Muitos suspeitos de roubo alertados com a greve evitaram estar em casa antes das 09h00, para não serem apanhados nas buscas domiciliárias. Pelo menos 50% dos processos ficaram também parados, à espera de seguirem para o Ministério Público.
GANG APROVEITA-SE DA PARALISAÇÃO PARA EFECTUAR VAGA DE ASSALTOS
Nas últimas semanas do ano passado, um gang violento aproveitou-se da paralisação na Judiciária para lançar uma vaga de assaltos sem precedentes nas zonas de Fafe, Guimarães e Felgueiras. Farmácias, mercearias e carros foram alguns dos alvos dos ladrões, que chegaram a efectuar mais de um roubo por dia.
O exemplo disso ocorreu a 15 de Dezembro. Em menos de uma hora, o gang assaltou uma farmácia em Atães, Fafe, de onde levou uma elevada quantia em dinheiro. Menos de 40 minutos depois, o mesmo grupo abordou um homem numa oficina em Silvares, também em Fafe. Sob ameaça de arma, a vítima foi obrigada a entregar um jipe. Na altura, a Polícia Judiciária foi de imediato avisada, mas a greve impediu que os inspectores se deslocassem ao local do crime.
Desiludidos com a Justiça e inconformados com os recentes cortes orçamentais, vários históricos da Polícia Judiciária decidiram abandonar a instituição. José Braz, director da PJ de Lisboa, Jaime Fernandes, da Unidade de Cooperação Internacional, e Mouro Pinto, da Directoria do Porto, passam à situação de reforma, deixando a Judiciária apenas com um assessor de investigação criminal: Teófilo Santiago, crachá de ouro e responsável pelo processo ‘Face Oculta’, que passa a preencher sozinho o cargo de topo da instituição.
Quatro coordenadores superiores e dois coordenadores de investigação criminal, entre os quais estão Paulo Rebelo, ex-director da PJ de Faro e de Lisboa, e Calado Oliveira, coordenador da PJ de Setúbal, também deverão abandonar a instituição, embora por motivos diferentes: o primeiro confidenciou o desejo de pedir uma licença sem vencimentos e o segundo já requereu a antecipação da reforma. Para a situação de reforma deverão também passar os coordenadores superiores Ana Mafalda, do gabinete da Interpol, João Neto, da Directoria de Faro, e os coordenadores Luís Baptista e António Carvalho, que chefiam o combate aos roubos e incêndios, ambos da Directoria de Lisboa.
A decepção com a instituição à qual dedicaram tantos anos de carreira é o principal motivo que leva os históricos da Judiciária a baterem com a porta. A dedicação à causa pública deixa de ser suficiente, e os responsáveis dão mostras de cansaço para continuarem a lutar por algo que consideram não ser defendido. "Ser da Polícia Judiciária é quase uma vergonha que temos de esconder dos vizinhos", dizem, a brincar, alguns dos quadros mais qualificados da instituição.
A razia atinge também os quadros intermédios. Trinta e um inspectores-chefes entraram com pedidos de aposentação, o que faz com que em muitas secções se verifique a necessidade de funcionarem regimes de acumulação ou ocorram exercícios de funções interinas. "Há inspectores-chefes a exercerem as funções de coordenadores e há inspectores a exercerem as funções de inspectores-chefes", revela ao CM Carlos Garcia, garantindo também que a previsível chegada de 30 novos inspectores-chefes poderá já não colmatar as carências. "O curso para novos 30 inspectores-chefes pode já não chegar", conclui.
PJ DE LISBOA PERDE AS CHEFIAS
A PJ de Lisboa será a Directoria mais afectada pelas saídas. Para além do director José Braz, a unidade irá ainda perder o coordenador superior Paulo Rebelo. António Carvalho e Luís Baptista, ambos coordenadores, também estão de saída. A direcção da Judiciária de Lisboa irá assim ficar profundamente afectada com a saída das chefias. José Braz exerce um cargo fundamental naquela directoria.
MEDIDAS PODEM SER AGRAVADAS
Caso a manifestação em frente ao Ministério da Justiça não surta qualquer efeito, os investigadores da Polícia Judiciária ameaçam agravar as medidas. "Se a nossa situação não ficar resolvida vamos tomar medidas mais graves. Não vamos permitir que esta situação se prolongue por mais tempo", explicou Carlos Garcia, da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da PJ.
"DÓI MUITO ABANDONAR OS SUSPEITOS": Carlos Garcia, Presidente da ASFIC/PJ
Correio da Manhã – Que balanço faz da greve?
Carlos Garcia – A greve superou as nossas expectativas, temos uma adesão de quase 100%. O descontentamento e desânimo dos investigadores proporcionaram esta situação.
– Não teme que a imagem da PJ saia prejudicada?
– Os cidadãos sabem que damos o máximo todos os dias. Dói-nos muito quando chegamos às 17h30 e abandonamos os suspeitos. Mas a responsabilidade é do Governo, e de uma vez por todas têm de assumir que a culpa é deles.
– Quando terminarem a greve vão regressar ao horário habitual?
– Estamos cansados de trabalhar de graça, de fazer horas extra sem receber nada em troca. Neste momento sabemos que o Governo não tem dinheiro, pelo que apenas queremos ver a nossa carreira dignificada.
– Para dia 18 está marcada uma manifestação?
– Vamos protestar em frente ao Ministério da Justiça. Sabemos para já que pelo menos 600 inspectores irão estar presentes na manifestação.
GREVE PÁRA INVESTIGAÇÕES E DEIXA SUSPEITOS À SOLTA
Há mais de um mês em greve, os investigadores da Polícia Judiciária não parecem ter intenções de abandonar a sua causa. E nem o facto de a adesão de quase 100% estar a comprometer investigações de vários anos e de diversos suspeitos continuarem em liberdade parece demovê-los da sua intenção. Nas últimas semanas vários mandados de detenção ficaram por cumprir. Desde 15 de Dezembro, a PJ apenas deteve uma pessoa por roubos em Lisboa. No ano passado, em igual período, 39 ladrões já tinham sido presos.
O facto de os inspectores deixarem de fazer escutas após as 17h30 permitiu que carregamentos de droga dessem entrada em Portugal e que ladrões cometessem assaltos após a PJ ter deixado de os vigiar. Investigações complexas e demoradas foram por água abaixo. Muitos suspeitos de roubo alertados com a greve evitaram estar em casa antes das 09h00, para não serem apanhados nas buscas domiciliárias. Pelo menos 50% dos processos ficaram também parados, à espera de seguirem para o Ministério Público.
GANG APROVEITA-SE DA PARALISAÇÃO PARA EFECTUAR VAGA DE ASSALTOS
Nas últimas semanas do ano passado, um gang violento aproveitou-se da paralisação na Judiciária para lançar uma vaga de assaltos sem precedentes nas zonas de Fafe, Guimarães e Felgueiras. Farmácias, mercearias e carros foram alguns dos alvos dos ladrões, que chegaram a efectuar mais de um roubo por dia.
O exemplo disso ocorreu a 15 de Dezembro. Em menos de uma hora, o gang assaltou uma farmácia em Atães, Fafe, de onde levou uma elevada quantia em dinheiro. Menos de 40 minutos depois, o mesmo grupo abordou um homem numa oficina em Silvares, também em Fafe. Sob ameaça de arma, a vítima foi obrigada a entregar um jipe. Na altura, a Polícia Judiciária foi de imediato avisada, mas a greve impediu que os inspectores se deslocassem ao local do crime.
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