citação:Pesca - 70 por cento dos navios já mudou de mãos
Espanhóis compram frota do Algarve
Armadores andaluzes estão a comprar embarcações e empresas de pesca algarvias, aproveitando-se da crise no sector. De acordo com fontes associativas, os espanhóis já estão em maioria nas licenças do arrasto de crustáceos e de bivalves e estão a assediar o arrasto de peixe.
Com os espanhóis a cobiçar as águas algarvias, o Estado português firmou um acordo transfronteiriço autorizando, desde 2003, a faina a 24 embarcações espanholas da ganchorra (arrasto de bivalves) na região. Para os fortes armadores da vizinha Andaluzia não foi suficiente.
Há dois anos que os espanhóis assediam os proprietários de pesca algarvios com propostas de compra das suas embarcações, por forma a terem mais licenças de pesca em águas algarvias. “Desanimados com os custos de produção e a não evolução do preço do pescado, muitos acabam por vender”, reconhece Edgar Correia, director regional das Pescas. De acordo com Carlos Silva, vice-presidente da Associação de Armadores da Pesca Artesanal do Barlavento, os espanhóis já controlam 70 por cento das licenças do arrasto de crustáceos (gamba e lagostim). Rui Vairinhos, presidente da Associação de Armadores de Vila Real de Santo António, confirma que ele próprio vendeu a um espanhol um moderno arrastão com 25 metros. “São uns piratas. Aproveitam-se da nossa fraqueza”, lamenta.
O presidente da Organização de Produtores de Pesca do Algarve – Olhãopesca diz que os espanhóis controlam 30 das 54 licenças da ganchora na região. António da Branca lamenta a falta de apoios do Governo. Por isso, os homens da ganchorra estiveram parados no último sábado e também ontem planeavam não fazer-se ao mar.
PESO DA REGIÃO
O peso do Algarve na produção nacional de bivalves, moluscos e crustáceos é esmagador. De acordo com o director regional das Pescas, Edgar Correia, o Algarve é responsável por 50 a 60 por cento das capturas marítimas nacionais de moluscos e bivalves e por 70 a 80 por cento das capturas de crustáceos. Incluindo a aquacultura, a região passa a ser responsável por 80% da produção nacional de bivalves, área onde a aquacultura algarvia representa 90 por cento do total nacional.
Ao peso da quantidade alia-se o factor da qualidade. O presidente da Olhãopesca pergunta: “Porque é que não se diz aos portugueses que temos a melhor amêijoa pé-de-burrinho do Mundo?” É que, segundo António da Branca, esta amêijoa portuguesa acaba por ir toda para Espanha e “os espanhóis mandam-na para onde querem dizendo que é da Andaluzia”.
PEIXE ESPANHOL AUMENTA NO MERCADO NACIONAL
Os armadores espanhóis estão a colocar mais peixe no mercado nacional em 2.ª venda (a que é feita directamente aos comerciantes ou por contrato de abastecimento), o que tem provocado a estagnação de preços, principalmente ao nível da 1.ª venda em Lota. Essencialmente, são as espécies de baixo valor comercial (pouco interessantes para o mercado espanhol) que são vendidas, como é o caso do carapau, cavala e faneca.
Os mesmos armadores, que possuem barcos com bandeiras dos dois países, e que operam em águas nacionais, levam os peixes de valor acrescentado (tamboril, pescada, safio e goraz) para o território espanhol.
LINHA DE CRÉDITO PROMETIDA PARA BREVE
O ministro da Agricultura e Pescas garantiu ontem, no Algarve, que a atribuição de uma linha de crédito aos pescadores será discutida em Conselho de Ministros na próxima semana, devendo ser aprovada em breve. Confrontado com a venda de embarcações algarvias a armadores espanhóis, Jaime Silva rejeita que este seja um efeito de dificuldades económicas que atingem o sector nacional, já que estas transacções já se verificavam antes do agudizar da crise.
“Das 30 embarcações financiadas pelo anterior Quadro de Apoio, cinco já foram vendidas a espanhóis”, ironizou o ministro, que exorta os homens do mar a aproveitarem os próximos apoios financeiros para ganharem competitividade.
NEGÓCIOS POR METADE DO PREÇO
Cada vez mais armadores nacionais estão a vender embarcações e empresas a capitais espanhóis. Não é apenas no Algarve, mas por todo o País, onde se contabiliza cerca de uma dezena de licenças transferidas, ou seja 20 por cento da frota.
Segundo António Cabral, da ADAPI, “a falta de apoios à pesca, a inexistência de subsídios ao abate e agora o gravíssimo problema dos custos com o gasóleo estão a deixar alguns armadores sem perspectivas de futuro. Preferem vender as embarcações a cair numa situação de ruptura”.
O mesmo responsável adianta que “muitas destas vendas têm sido feitas por metade do valor de mercado”, ou seja, um navio avaliado em 1,5 milhões de euros pode acabar transaccionado por 600 ou 700 mil euros.
CONQUILHEIROS VÃO RECEBER COMPENSAÇÃO
Os conquilheiros vão contar com uma compensação salarial nos períodos de paragem sanitária, garantiu ontem o ministro da Agricultura e Pescas. A proposta será discutida em Conselho de Ministros na próxima semana, revelou Jaime Silva. Desde Maio, dezenas de profissionais algarvios debatem-se com graves problemas económicos face à interdição da apanha da conquilha.
NOTAS
COMÉRCIO
Os pescadores queixam-se da especulação. Vendem a sardinha em lota a 30 cêntimos o quilo, por exemplo, e esta aparece depois nos mercados a 4 ou 5 euros o quilo.
GASÓLEO
Metade das receitas dos barcos é gasta em combustível. O preço do gasóleo subiu de 40 para 53 cêntimos em seis anos. Os espanhóis têm subsídios, os portugueses não.
CRÉDITO
O ministro da Agricultura e Pescas anunciou uma linha de crédito de 30 milhões de euros. Os pescadores ainda esperam por uma reunião para saber como aceder ao dinheiro.
CONFLITOS
De acordo com o relatório Anual de Segurança Interna, em 2005, existiram vários conflitos entre pescadores espanhóis e as autoridades portuguesas em águas algarvias, de que resultaram várias perseguições e detenções.
Paulo Marcelino/C.P. /A.I.C.
Fonte http://www.correiodamanha.pt/noticia...dCanal=181&p=0
Espanhóis compram frota do Algarve
Armadores andaluzes estão a comprar embarcações e empresas de pesca algarvias, aproveitando-se da crise no sector. De acordo com fontes associativas, os espanhóis já estão em maioria nas licenças do arrasto de crustáceos e de bivalves e estão a assediar o arrasto de peixe.
Com os espanhóis a cobiçar as águas algarvias, o Estado português firmou um acordo transfronteiriço autorizando, desde 2003, a faina a 24 embarcações espanholas da ganchorra (arrasto de bivalves) na região. Para os fortes armadores da vizinha Andaluzia não foi suficiente.
Há dois anos que os espanhóis assediam os proprietários de pesca algarvios com propostas de compra das suas embarcações, por forma a terem mais licenças de pesca em águas algarvias. “Desanimados com os custos de produção e a não evolução do preço do pescado, muitos acabam por vender”, reconhece Edgar Correia, director regional das Pescas. De acordo com Carlos Silva, vice-presidente da Associação de Armadores da Pesca Artesanal do Barlavento, os espanhóis já controlam 70 por cento das licenças do arrasto de crustáceos (gamba e lagostim). Rui Vairinhos, presidente da Associação de Armadores de Vila Real de Santo António, confirma que ele próprio vendeu a um espanhol um moderno arrastão com 25 metros. “São uns piratas. Aproveitam-se da nossa fraqueza”, lamenta.
O presidente da Organização de Produtores de Pesca do Algarve – Olhãopesca diz que os espanhóis controlam 30 das 54 licenças da ganchora na região. António da Branca lamenta a falta de apoios do Governo. Por isso, os homens da ganchorra estiveram parados no último sábado e também ontem planeavam não fazer-se ao mar.
PESO DA REGIÃO
O peso do Algarve na produção nacional de bivalves, moluscos e crustáceos é esmagador. De acordo com o director regional das Pescas, Edgar Correia, o Algarve é responsável por 50 a 60 por cento das capturas marítimas nacionais de moluscos e bivalves e por 70 a 80 por cento das capturas de crustáceos. Incluindo a aquacultura, a região passa a ser responsável por 80% da produção nacional de bivalves, área onde a aquacultura algarvia representa 90 por cento do total nacional.
Ao peso da quantidade alia-se o factor da qualidade. O presidente da Olhãopesca pergunta: “Porque é que não se diz aos portugueses que temos a melhor amêijoa pé-de-burrinho do Mundo?” É que, segundo António da Branca, esta amêijoa portuguesa acaba por ir toda para Espanha e “os espanhóis mandam-na para onde querem dizendo que é da Andaluzia”.
PEIXE ESPANHOL AUMENTA NO MERCADO NACIONAL
Os armadores espanhóis estão a colocar mais peixe no mercado nacional em 2.ª venda (a que é feita directamente aos comerciantes ou por contrato de abastecimento), o que tem provocado a estagnação de preços, principalmente ao nível da 1.ª venda em Lota. Essencialmente, são as espécies de baixo valor comercial (pouco interessantes para o mercado espanhol) que são vendidas, como é o caso do carapau, cavala e faneca.
Os mesmos armadores, que possuem barcos com bandeiras dos dois países, e que operam em águas nacionais, levam os peixes de valor acrescentado (tamboril, pescada, safio e goraz) para o território espanhol.
LINHA DE CRÉDITO PROMETIDA PARA BREVE
O ministro da Agricultura e Pescas garantiu ontem, no Algarve, que a atribuição de uma linha de crédito aos pescadores será discutida em Conselho de Ministros na próxima semana, devendo ser aprovada em breve. Confrontado com a venda de embarcações algarvias a armadores espanhóis, Jaime Silva rejeita que este seja um efeito de dificuldades económicas que atingem o sector nacional, já que estas transacções já se verificavam antes do agudizar da crise.
“Das 30 embarcações financiadas pelo anterior Quadro de Apoio, cinco já foram vendidas a espanhóis”, ironizou o ministro, que exorta os homens do mar a aproveitarem os próximos apoios financeiros para ganharem competitividade.
NEGÓCIOS POR METADE DO PREÇO
Cada vez mais armadores nacionais estão a vender embarcações e empresas a capitais espanhóis. Não é apenas no Algarve, mas por todo o País, onde se contabiliza cerca de uma dezena de licenças transferidas, ou seja 20 por cento da frota.
Segundo António Cabral, da ADAPI, “a falta de apoios à pesca, a inexistência de subsídios ao abate e agora o gravíssimo problema dos custos com o gasóleo estão a deixar alguns armadores sem perspectivas de futuro. Preferem vender as embarcações a cair numa situação de ruptura”.
O mesmo responsável adianta que “muitas destas vendas têm sido feitas por metade do valor de mercado”, ou seja, um navio avaliado em 1,5 milhões de euros pode acabar transaccionado por 600 ou 700 mil euros.
CONQUILHEIROS VÃO RECEBER COMPENSAÇÃO
Os conquilheiros vão contar com uma compensação salarial nos períodos de paragem sanitária, garantiu ontem o ministro da Agricultura e Pescas. A proposta será discutida em Conselho de Ministros na próxima semana, revelou Jaime Silva. Desde Maio, dezenas de profissionais algarvios debatem-se com graves problemas económicos face à interdição da apanha da conquilha.
NOTAS
COMÉRCIO
Os pescadores queixam-se da especulação. Vendem a sardinha em lota a 30 cêntimos o quilo, por exemplo, e esta aparece depois nos mercados a 4 ou 5 euros o quilo.
GASÓLEO
Metade das receitas dos barcos é gasta em combustível. O preço do gasóleo subiu de 40 para 53 cêntimos em seis anos. Os espanhóis têm subsídios, os portugueses não.
CRÉDITO
O ministro da Agricultura e Pescas anunciou uma linha de crédito de 30 milhões de euros. Os pescadores ainda esperam por uma reunião para saber como aceder ao dinheiro.
CONFLITOS
De acordo com o relatório Anual de Segurança Interna, em 2005, existiram vários conflitos entre pescadores espanhóis e as autoridades portuguesas em águas algarvias, de que resultaram várias perseguições e detenções.
Paulo Marcelino/C.P. /A.I.C.
Fonte http://www.correiodamanha.pt/noticia...dCanal=181&p=0
Comentário