Boas,
Poderão, eventualmente, achar a minha questão absurda, mas a verdade é que a mesma me acompanha há alguns anos e não encontro uma resposta aceitável na minha cabeça para a mesma.
Básicamente o que se passa é o seguinte: na zona onde moro (zona urbana, na periferia de Lisboa) existe um homem, da geração do meu pai, que deverá por isso rondar os 50 e tal anos, que fazia parte do seu grupo de amigos e conhecidos, nos anos 60/70. Fez por isso parte de uma geração em que a droga era novidade e tudo o que disso adveio. Muita da gente que entrou nesse mundo já não saiu e morreu, alguns como o meu pai seguiram uma vida normal e outros, sendo este o caso do homem que vos falo, "queimaram" total e definitivamente.
Sei que este chegou a estar preso, mas terá sido já há muitos anos. Seguramente mais de 25.
Tendo eu 30 anos e tendo sempre vivido aqui e tendo a minha memória consciente pelo menos 25 anos, é esse o tempo a que assisto diáriamente a algo que inicialmente me fazia rir e parodiar com os meus colegas de escola, mais tarde tornou-me quase imune e indiferente à presença deste homem e de há algum tempo para cá, me fez aperceber que algo aqui não seria normal.
O que eu sei deste homem é o que vejo diariamente, mas que não andará muito longe da realidade:
Ele vive na rua, não tem familia ou se tem não lhe ligam nenhuma. Anda sempre muito sujo, com uma barba e cabelo enormes, que só são cortados uma vez por ano, porque alguém o fará (não sei quem). Como disse antes está totalmente "queimado" a nível mental (era uma pessoa normal antes da droga) tendo como principais atitudes andar pelas ruas a vaguear durante 24 HORAS ... repito: 24 HORAS consecutivas, sem nunca parar, seja Inverno e estejam 2ºC ou seja Verão e estejam 40ºC. Esteja sol ou esteja a chover. Já passou por várias fases, desde apenas abanar um braço enquanto andava, até actualmente gritar, discutir, chamar nomes a alguém imaginário. Nunca se mete com ninguém, a não ser quando o chamam para lhe dar qualquer coisa e então ele recebe e agradece, sendo que de imediato volta ao seu mundo. Às vezes anda com uma garrafa de vinho pela mão e não acredito que tenha dinheiro para droga. Não arruma carros, nem nada do género.
Incomoda-me imaginar o sofrimento daquele indíviduo. Deve ser esgotante estar a andar indefinidamente pelas ruas, permanentemente a gritar, gesticular...
Toda a gente o conhece e ao que me apercebo as pessoas vão-no ajudando, porque se assim não fosse, não sobreviveria.
Porém, esta situação mantém-se, como disse há pelo menos 25 anos. Nunca este homem daqui saiu para alguma instituição, para um hospital psiquiátrico, um centro qualquer de apoio.
Quanto ao meu papel nisto tudo: confesso e não me orgulho de dizer que tenho alguma renitencia em o abordar. Não falo com as pessoas aqui da minha zona, por opção e por não ser muito o meu feitio dar-me com vizinhos. Por isso, não sei se alguma vez se tentou fazer alguma coisa ou, como me parece, nunca foi feito nada e apenas caiu na rotina das pessoas verem o "**" a vaguear por aí.
E depois fico na dúvida: como é óbvio isto não é caso único, mas será normal deixar um ser humano chegar a este nível de degradação e a este nível de sofrimento? Ou poder-se-ia fazer alguma coisa para minimizar a terrível situação em que vive. Mas o quê? Ele certamente não terá lucidez para entender a sua situação. Depois, que instituição o acolheria? Existem centenas de sem abrigo pelo país...
Notem que em nenhuma destas minhas últimas questões à alguma ponta de crítica a quem quer que seja. É apenas, mesmo, uma questão existencial.
Poderão, eventualmente, achar a minha questão absurda, mas a verdade é que a mesma me acompanha há alguns anos e não encontro uma resposta aceitável na minha cabeça para a mesma.
Básicamente o que se passa é o seguinte: na zona onde moro (zona urbana, na periferia de Lisboa) existe um homem, da geração do meu pai, que deverá por isso rondar os 50 e tal anos, que fazia parte do seu grupo de amigos e conhecidos, nos anos 60/70. Fez por isso parte de uma geração em que a droga era novidade e tudo o que disso adveio. Muita da gente que entrou nesse mundo já não saiu e morreu, alguns como o meu pai seguiram uma vida normal e outros, sendo este o caso do homem que vos falo, "queimaram" total e definitivamente.
Sei que este chegou a estar preso, mas terá sido já há muitos anos. Seguramente mais de 25.
Tendo eu 30 anos e tendo sempre vivido aqui e tendo a minha memória consciente pelo menos 25 anos, é esse o tempo a que assisto diáriamente a algo que inicialmente me fazia rir e parodiar com os meus colegas de escola, mais tarde tornou-me quase imune e indiferente à presença deste homem e de há algum tempo para cá, me fez aperceber que algo aqui não seria normal.
O que eu sei deste homem é o que vejo diariamente, mas que não andará muito longe da realidade:
Ele vive na rua, não tem familia ou se tem não lhe ligam nenhuma. Anda sempre muito sujo, com uma barba e cabelo enormes, que só são cortados uma vez por ano, porque alguém o fará (não sei quem). Como disse antes está totalmente "queimado" a nível mental (era uma pessoa normal antes da droga) tendo como principais atitudes andar pelas ruas a vaguear durante 24 HORAS ... repito: 24 HORAS consecutivas, sem nunca parar, seja Inverno e estejam 2ºC ou seja Verão e estejam 40ºC. Esteja sol ou esteja a chover. Já passou por várias fases, desde apenas abanar um braço enquanto andava, até actualmente gritar, discutir, chamar nomes a alguém imaginário. Nunca se mete com ninguém, a não ser quando o chamam para lhe dar qualquer coisa e então ele recebe e agradece, sendo que de imediato volta ao seu mundo. Às vezes anda com uma garrafa de vinho pela mão e não acredito que tenha dinheiro para droga. Não arruma carros, nem nada do género.
Incomoda-me imaginar o sofrimento daquele indíviduo. Deve ser esgotante estar a andar indefinidamente pelas ruas, permanentemente a gritar, gesticular...
Toda a gente o conhece e ao que me apercebo as pessoas vão-no ajudando, porque se assim não fosse, não sobreviveria.
Porém, esta situação mantém-se, como disse há pelo menos 25 anos. Nunca este homem daqui saiu para alguma instituição, para um hospital psiquiátrico, um centro qualquer de apoio.
Quanto ao meu papel nisto tudo: confesso e não me orgulho de dizer que tenho alguma renitencia em o abordar. Não falo com as pessoas aqui da minha zona, por opção e por não ser muito o meu feitio dar-me com vizinhos. Por isso, não sei se alguma vez se tentou fazer alguma coisa ou, como me parece, nunca foi feito nada e apenas caiu na rotina das pessoas verem o "**" a vaguear por aí.
E depois fico na dúvida: como é óbvio isto não é caso único, mas será normal deixar um ser humano chegar a este nível de degradação e a este nível de sofrimento? Ou poder-se-ia fazer alguma coisa para minimizar a terrível situação em que vive. Mas o quê? Ele certamente não terá lucidez para entender a sua situação. Depois, que instituição o acolheria? Existem centenas de sem abrigo pelo país...
Notem que em nenhuma destas minhas últimas questões à alguma ponta de crítica a quem quer que seja. É apenas, mesmo, uma questão existencial.
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