O texto mostra que se calhar os gregos ainda podem fazer implodir a UE e a Angie como é conhecida pelos seus conterrâneos a Frau Merkel ainda se fica a braços com um problema.
Sábado, 25 de Junho de 2011
“A Alemanha deve 575 mil milhões de euros à Grécia” Jacques Delpla:
O economista Jacques Delpla , membro do Conseil d'Analyse Économique, calculou que os Alemães devem aos Gregos pelo menos 575 mil milhões de euros nos termos da segunda guerra mundial. Considera que a Europa deve absorver o excesso de dívida refinanciando-o com taxas de juro muito baixas, em troca de reformas estruturais.
Entrevista feita por Catherine Chatignoux e Richard Hiault
O acordo dos ministros das Finanças, no domingo, a favor de uma nova ajuda à Grécia e de uma participação do sector privado no financiamento da sua dívida vai acalmar duravelmente os mercados?
Os mercados já não são, na verdade, o problema da Grécia. Dentro dos próximos 10 a 20 anos o financiamento da dívida grega vai ser realizado por dois meios: para uma boa metade , vai ser feito por financiamentos públicos e para a outra parte, mais pequena, será financiada pelos bancos e pelas seguradores, via a famosa “Iniciativa de Viena”, ou seja a manutenção da sua exposição. Não haverá mais passagem pelos mercados.
A Alemanha renunciou à sua proposta de reescalonamento da dívida. É uma boa notícia?
Os Alemães não tinham visto que a sua proposta de troca obrigatória de títulos de dívida conduzia directamente à situação de incumprimento da Grécia. Ora se há um incumprimento sobre a dívida grega, é a falência imediata de todo o seu sector financeiro que está cheio de obrigações soberanas. Nenhum banco central pode refinanciar com uma dívida em incumprimento aceite por colateral: o BCE não o fará. É por conseguinte o ataque cardíaco imediato assegurado para a Grécia com uma interrupção do sistema dos pagamentos internos, até mesmo do pagamento dos salários e do funcionamento dos hospitais. A Grécia reencontrar-se-ia no euro sem poder estar a utilizar o euro. A única solução para ela seria então sair do euro, com uma mega recessão e com o risco de contágio que se conhece.
Para si, é a solidariedade financeira que deve ser mais importante?
Todo o mundo conhece a fábula da cigarra e da formiga. Mas a história tém a sua continuação e nesta é a formiga que financiou a cigarra no passado e que acarreta por conseguinte com as suas dívidas; os seus avós, os da formiga, outrora tinham exterminado os avós da cigarra e carregam pois com uma pesada responsabilidade política e financeira. De acordo com os meus cálculos, os Alemães devem aos Gregos pelo menos 575 mil milhões de euros nos termos da segunda guerra mundial. Os Alemães devem muito mais à Grécia que os Gregos devem à Alemanha. E por último, habitam ambos no mesmo edifício, e se deixamos que se faça a implosão do apartamento da cigarra, como se está no mesmo prédio é certo que serão todos a implodir.. A moral da história é que as duas coisas devem, do meu ponto de vista, ser respeitadas: o contrato da Grécia com a
Europa e o contrato da Alemanha com a Europa.
Comecemos pelo contrato da Alemanha com a Europa
A Alemanha pagou a sua reunificação oferecendo a sua moeda e aceitando o euro. Do seu lado, os seus parceiros comprometeram-se a ser sérios. O contrato não foi honrado. E os Alemães pensam a justo título que o espírito do tratado de Maastricht foi violado. Também é necessário reformar a Europa económica. Mas é necessário também que cada um assuma as suas responsabilidades e partilhe o custo dos erros cometidos e as perdas com eles geradas. É necessário que os Europeus absorvam juntos a dívida excessiva dos três países (Grécia, Portugal e Irlanda) refinanciando-os com taxas de juro extremamente baixas, na ordem 3% a 4%, durante 10 ou 20 anos. Em troca, estes países devem fazer todas as reformas orçamentais e estruturais necessárias, e por muito tempo. É a única solução.
Os Alemães não parecem muito entusiastas com esta ideia?
Os Alemães esquecem a sua dívida política. É necessário recordar-lhes isso precisamente. Em 1945 os vencedores da guerra perdoaram os custos em termos de capital humano e físico destruído pelos Nazis. Fizeram-se a CECA e o Tratado de Roma. O passivo político e financeiro da Alemanha nos termos da guerra atinge cerca de 16 vezes o PIB alemão, a que se pode chamar a dívida implícita da Alemanha. Ninguém lha reclama e em troca pede-se que faça o jogo da Europa , de um ponto de vista político e financeiro. Hoje, isso significa salvar a Grécia.
Os Gregos poderão reembolsar a sua dívida?
Devem-no! E podem-no! Devem reformar, privatizar, terminar com a corrupção e nepotismo e passar de um défice de (-15%) do PIB ao equilíbrio em alguns anos. Com isso reporão a sua dívida entre 60% e 90% do PIB daqui a 2025 ou 2030. A Grécia tem os meios para poder prosperar: dispõe do mais bonito património arqueológico do mundo, ilhas magníficas onde se tem bom viver. Penso que a Primavera árabe é uma formidável oportunidade para este país, plataforma da Europa no Mar Mediterrâneo oriental.
Exclui por conseguinte totalmente a hipótese de uma reestruturação?
Não se podem impedir as pessoas de se suicidarem. Os Gregos podem escolher entre toboggan e o salto em pára-quedas… sem pára-quedas. Devem compreender que lhes é impossível conservar o seu nível de vida de antes da crise, financiado por um défice orçamental alucinante . Ou seja, escolhem toboggan com uma baixa do nível de vida de 10% durante 5 anos. E terão interesse nisso porque a ajuda europeia é considerável: consiste numa subvenção implícita de taxa de juro que representa de 15 para 20% do PIB grego (12% para os Irlandeses e 10% para os Portugueses). Mas também podem fazer a outra opção, isto é, democraticamente podem recusar assinalar este desafio. Mas então, a sua economia afundar-se-á; os gregos deixarão de ter mais ajuda e deverão sair do euro… sem pára-quedas.
A Alemanha reflectiria no entanto seriamente numa zona euro a duas velocidades?
No inconsciente alemão, os Gregos não merecem pertencer à zona euro. É o discurso da direita conservadora alemã que sonha com uma zona euro constituida com a Áustria, a Eslováquia, a Finlândia, a Holanda - e a França por razões históricas. Mas um tal sistema, a França não o quer e, sobretudo, viola o contrato europeu básico do após-guerra. Se estamos a recriar uma zona euro com todos os bons alunos da turma e uma outra com os países periféricos, a segunda explodirá rapidamente em hiperinflação.
Concretamente, como é que se vai organizar a participação do sector privado no financiamento próximo da dívida grega?
O ideal seria que estejamos baseados na distribuição da exposição à Grécia pelo sector privado europeu antes da crise e que os resgates de títulos sejam repartidos em função. Tudo isto permitirá uma distribuição da carga, que considero em cerca de 100 mil milhões de euros para os bancos e seguradoras europeias não gregas. E assim se evita que os bancos que jogaram o jogo de uma manutenção da exposição não sejam prejudicados.
Os bancos alemães encontram o princípio de “roll over” demasiado restrito. Desejam estímulos para a sua contribuição no processo. O que pensa?
Os banqueiros queriam ter sido salvos pelos governos e não reenviarem o ascensor. Os dirigentes alemães não foram bastante claros a este respeito com os seus bancos.
Como fazer de modo que uma crise desta natureza não se reproduza?
A solução que preconizo é alterar radicalmente a estrutura do mercado obrigacionista na Europa. Separar-se-iam as dívidas dos países da zona euro em duas partes . De um lado, a dívida sénior, a que chamo dívida azul, até aos 60% do PIB, que seria emitida em comum a nível da zona euro e que seria gerida por uma agência europeia da dívida soberana. Representaria 6000 mil milhões de euros e tornar-se-ia a dívida mais segura do mundo. Seria mesmo menos cara que os títulos alemães ou franceses actuais porque este mercado seria muito mais vasto e mais líquido.
Teríamos assim um concorrente ao mercado americano da dívida pública. A esta dívida azul estaria ligada uma garantia conjunta e solidária da dívida e, assim, não seria susceptível de qualquer situação de incumprimento . A prazo, a minha forte convicção é a de que não há futuro da zona euro sem uma dívida governamental comum, a dívida Azul. Por outro lado, acima destes 60% do PIB, teríamos a dívida vermelha, ou júnior que incorporaria o conjunto do risco soberano. Poderia absorver perdas ou mesmo entrar em situação de incumprimento sem que isso viesse a provocar uma catástrofe. A força das dívidas azul e vermelha é que este sistema dá todos as boas incitações : as taxas de juro terão muita dificuldade em subir.
Afirmações recolhidas por Catherine Chatignoux e Richard Hiault
Jacques Delpla : « L'Allemagne doit 575 milliards d'euros à la Grèce », Les Echos, 22.06.2011.
“A Alemanha deve 575 mil milhões de euros à Grécia” Jacques Delpla:
O economista Jacques Delpla , membro do Conseil d'Analyse Économique, calculou que os Alemães devem aos Gregos pelo menos 575 mil milhões de euros nos termos da segunda guerra mundial. Considera que a Europa deve absorver o excesso de dívida refinanciando-o com taxas de juro muito baixas, em troca de reformas estruturais.
Entrevista feita por Catherine Chatignoux e Richard Hiault
O acordo dos ministros das Finanças, no domingo, a favor de uma nova ajuda à Grécia e de uma participação do sector privado no financiamento da sua dívida vai acalmar duravelmente os mercados?
Os mercados já não são, na verdade, o problema da Grécia. Dentro dos próximos 10 a 20 anos o financiamento da dívida grega vai ser realizado por dois meios: para uma boa metade , vai ser feito por financiamentos públicos e para a outra parte, mais pequena, será financiada pelos bancos e pelas seguradores, via a famosa “Iniciativa de Viena”, ou seja a manutenção da sua exposição. Não haverá mais passagem pelos mercados.
A Alemanha renunciou à sua proposta de reescalonamento da dívida. É uma boa notícia?
Os Alemães não tinham visto que a sua proposta de troca obrigatória de títulos de dívida conduzia directamente à situação de incumprimento da Grécia. Ora se há um incumprimento sobre a dívida grega, é a falência imediata de todo o seu sector financeiro que está cheio de obrigações soberanas. Nenhum banco central pode refinanciar com uma dívida em incumprimento aceite por colateral: o BCE não o fará. É por conseguinte o ataque cardíaco imediato assegurado para a Grécia com uma interrupção do sistema dos pagamentos internos, até mesmo do pagamento dos salários e do funcionamento dos hospitais. A Grécia reencontrar-se-ia no euro sem poder estar a utilizar o euro. A única solução para ela seria então sair do euro, com uma mega recessão e com o risco de contágio que se conhece.
Para si, é a solidariedade financeira que deve ser mais importante?
Todo o mundo conhece a fábula da cigarra e da formiga. Mas a história tém a sua continuação e nesta é a formiga que financiou a cigarra no passado e que acarreta por conseguinte com as suas dívidas; os seus avós, os da formiga, outrora tinham exterminado os avós da cigarra e carregam pois com uma pesada responsabilidade política e financeira. De acordo com os meus cálculos, os Alemães devem aos Gregos pelo menos 575 mil milhões de euros nos termos da segunda guerra mundial. Os Alemães devem muito mais à Grécia que os Gregos devem à Alemanha. E por último, habitam ambos no mesmo edifício, e se deixamos que se faça a implosão do apartamento da cigarra, como se está no mesmo prédio é certo que serão todos a implodir.. A moral da história é que as duas coisas devem, do meu ponto de vista, ser respeitadas: o contrato da Grécia com a
Europa e o contrato da Alemanha com a Europa.
Comecemos pelo contrato da Alemanha com a Europa
A Alemanha pagou a sua reunificação oferecendo a sua moeda e aceitando o euro. Do seu lado, os seus parceiros comprometeram-se a ser sérios. O contrato não foi honrado. E os Alemães pensam a justo título que o espírito do tratado de Maastricht foi violado. Também é necessário reformar a Europa económica. Mas é necessário também que cada um assuma as suas responsabilidades e partilhe o custo dos erros cometidos e as perdas com eles geradas. É necessário que os Europeus absorvam juntos a dívida excessiva dos três países (Grécia, Portugal e Irlanda) refinanciando-os com taxas de juro extremamente baixas, na ordem 3% a 4%, durante 10 ou 20 anos. Em troca, estes países devem fazer todas as reformas orçamentais e estruturais necessárias, e por muito tempo. É a única solução.
Os Alemães não parecem muito entusiastas com esta ideia?
Os Alemães esquecem a sua dívida política. É necessário recordar-lhes isso precisamente. Em 1945 os vencedores da guerra perdoaram os custos em termos de capital humano e físico destruído pelos Nazis. Fizeram-se a CECA e o Tratado de Roma. O passivo político e financeiro da Alemanha nos termos da guerra atinge cerca de 16 vezes o PIB alemão, a que se pode chamar a dívida implícita da Alemanha. Ninguém lha reclama e em troca pede-se que faça o jogo da Europa , de um ponto de vista político e financeiro. Hoje, isso significa salvar a Grécia.
Os Gregos poderão reembolsar a sua dívida?
Devem-no! E podem-no! Devem reformar, privatizar, terminar com a corrupção e nepotismo e passar de um défice de (-15%) do PIB ao equilíbrio em alguns anos. Com isso reporão a sua dívida entre 60% e 90% do PIB daqui a 2025 ou 2030. A Grécia tem os meios para poder prosperar: dispõe do mais bonito património arqueológico do mundo, ilhas magníficas onde se tem bom viver. Penso que a Primavera árabe é uma formidável oportunidade para este país, plataforma da Europa no Mar Mediterrâneo oriental.
Exclui por conseguinte totalmente a hipótese de uma reestruturação?
Não se podem impedir as pessoas de se suicidarem. Os Gregos podem escolher entre toboggan e o salto em pára-quedas… sem pára-quedas. Devem compreender que lhes é impossível conservar o seu nível de vida de antes da crise, financiado por um défice orçamental alucinante . Ou seja, escolhem toboggan com uma baixa do nível de vida de 10% durante 5 anos. E terão interesse nisso porque a ajuda europeia é considerável: consiste numa subvenção implícita de taxa de juro que representa de 15 para 20% do PIB grego (12% para os Irlandeses e 10% para os Portugueses). Mas também podem fazer a outra opção, isto é, democraticamente podem recusar assinalar este desafio. Mas então, a sua economia afundar-se-á; os gregos deixarão de ter mais ajuda e deverão sair do euro… sem pára-quedas.
A Alemanha reflectiria no entanto seriamente numa zona euro a duas velocidades?
No inconsciente alemão, os Gregos não merecem pertencer à zona euro. É o discurso da direita conservadora alemã que sonha com uma zona euro constituida com a Áustria, a Eslováquia, a Finlândia, a Holanda - e a França por razões históricas. Mas um tal sistema, a França não o quer e, sobretudo, viola o contrato europeu básico do após-guerra. Se estamos a recriar uma zona euro com todos os bons alunos da turma e uma outra com os países periféricos, a segunda explodirá rapidamente em hiperinflação.
Concretamente, como é que se vai organizar a participação do sector privado no financiamento próximo da dívida grega?
O ideal seria que estejamos baseados na distribuição da exposição à Grécia pelo sector privado europeu antes da crise e que os resgates de títulos sejam repartidos em função. Tudo isto permitirá uma distribuição da carga, que considero em cerca de 100 mil milhões de euros para os bancos e seguradoras europeias não gregas. E assim se evita que os bancos que jogaram o jogo de uma manutenção da exposição não sejam prejudicados.
Os bancos alemães encontram o princípio de “roll over” demasiado restrito. Desejam estímulos para a sua contribuição no processo. O que pensa?
Os banqueiros queriam ter sido salvos pelos governos e não reenviarem o ascensor. Os dirigentes alemães não foram bastante claros a este respeito com os seus bancos.
Como fazer de modo que uma crise desta natureza não se reproduza?
A solução que preconizo é alterar radicalmente a estrutura do mercado obrigacionista na Europa. Separar-se-iam as dívidas dos países da zona euro em duas partes . De um lado, a dívida sénior, a que chamo dívida azul, até aos 60% do PIB, que seria emitida em comum a nível da zona euro e que seria gerida por uma agência europeia da dívida soberana. Representaria 6000 mil milhões de euros e tornar-se-ia a dívida mais segura do mundo. Seria mesmo menos cara que os títulos alemães ou franceses actuais porque este mercado seria muito mais vasto e mais líquido.
Teríamos assim um concorrente ao mercado americano da dívida pública. A esta dívida azul estaria ligada uma garantia conjunta e solidária da dívida e, assim, não seria susceptível de qualquer situação de incumprimento . A prazo, a minha forte convicção é a de que não há futuro da zona euro sem uma dívida governamental comum, a dívida Azul. Por outro lado, acima destes 60% do PIB, teríamos a dívida vermelha, ou júnior que incorporaria o conjunto do risco soberano. Poderia absorver perdas ou mesmo entrar em situação de incumprimento sem que isso viesse a provocar uma catástrofe. A força das dívidas azul e vermelha é que este sistema dá todos as boas incitações : as taxas de juro terão muita dificuldade em subir.
Afirmações recolhidas por Catherine Chatignoux e Richard Hiault
Jacques Delpla : « L'Allemagne doit 575 milliards d'euros à la Grèce », Les Echos, 22.06.2011.
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