Tim Cook quer ajudar a combater a discriminação social e legal dos homossexuais. Por isso, abdicou da sua privacidade para levar esperança a quem mais precisa de forma a "fazer o meu papel, apesar de pequeno, para ajudar os outros".
Tim Cook saiu do armário e assumiu publicamente a sua homossexualidade. A sua orientação sexual já era conhecida na Apple e em Silicon Valley, mas o presidente executivo da tecnológica decidiu dar o passo em frente.
"Vou ser claro. Tenho orgulho em ser homossexual e considero que ser homossexual está entre as maiores dádivas que Deus me deu", escreve em artigo de opinião na Busineweek publicado esta quinta-feira, 30 de Outubro.
Mas porque é que o gestor decidiu assumir-se? Bem, basicamente foi pelas outras pessoas, argumenta. "Isto não foi uma escolha fácil", assume. Apesar de garantir que não é um activista e que privilegia a sua privacidade, Tim Cook quer ajudar outros gays que lutam pelo seus direitos.
A discriminação é um dos problemas que Tim Cook aponta: "Muitas pessoas, particularmente crianças, enfrentam abusos todos os dias devido à sua orientação sexual".
Outro dos aspectos que mais o preocupam é o tratamento desta minoria perante a lei. "Ainda existem leis na maioria dos Estados que permitem às empresas despedir pessoas pela sua orientação sexual. Há muitos lugares onde os senhorios podem despejar inquilinos por serem gays, ou onde podemos ser barrados de visitar parceiros que estejam doentes, ou partilhar os seus legados".
No artigo de opinião, Tim Cook também aborda a sua vida profissional. Garante a sua dedicação à empresa e que vai passar todo o seu tempo focado em ser o "melhor CEO".
Sublinha também que a Apple advoga desde há muito os "direitos humanos e igualdade". Por isso, defenderam o casamento gay na Califórnia e a igualdade de direitos no local de trabalho perante o Congresso.
"Vamos continuar a lutar pelos nossos valores, e eu acredito que qualquer CEO desta incrível companhia, independentemente da raça, género ou orientação sexual, faria o mesmo", declara.
Liderança da Apple com receio do impacto
Este era um segredo mal guardado. A publicação Out Magazine elegeu-o como gay mais poderoso em 2011. A revista defendia que a Apple devia enviar Tim Cook a "escolas e universidades como exemplo de um homem gay de sucesso a liderar a maior empresa tecnológica".
A revista Gawker escreveu no mesmo ano que a liderança da empresa o apoiaria caso Tim Cook saísse do armário, e até o encorajaria a fazê-lo. Mas, ao mesmo tempo, vários executivos da empresa mostravam reticências sobre o assunto, pois estavam preocupados com o impacto que poderia ter na marca Apple. "Ele passou do gay mais poderoso em Silicon Valley para o homem mais poderoso no mundo", apontava a Gawker.
Desde que assumiu a liderança da empresa em 2011, Tim Cook já tinha dado algumas pistas sobre a sua sexualidade e a necessidade de combater a discriminação.
Num artigo de opinião no Wall Street Journal apelou ao Governo norte-americano para proteger os direitos dos trabalhadores gays. "Aceitar a individualidade das pessoas é uma questão de dignidade humana e direitos civis", escreveu então em 2013.
Já este ano Tim Cook mostrou o seu apoio público aos trabalhadores da Apple que estiveram presentes na marcha do orgulho gay em São Francisco.
No final do ano passado, deu um discurso nas Nações Unidas sobre o problema da discriminação. "Já vi e experimentei diferentes tipos de discriminação", disse então.
Executivos fora do armário
Em Portugal não há registo de casos semelhantes. Mas há o caso de António Simões, o banqueiro português que é presidente executivo do HSBC no Reino Unido.
Em entrevista ao Negócios, António Simões abordou o facto de ser gay na gestão de uma grande empresa. "Precisamos de líderes autênticos que liderem de forma autêntica, com pessoas que os queiram seguir. Isso é uma grande parte da minha marca de autenticidade. Toda a gente já se sentiu em algum momento um outsider. Não é uma questão de maiorias ou de minorias".
O banqueiro considera que "gastar energia a esconder essa questão é mau para o negócio. É bom para o negócio ter equipas produtivas, com pessoas que se sintam bem com elas próprias, e ter perspectivas diferentes sobre os problemas".
"Em meios conservadores como a banca, se tivermos equipas diversas, vamos chegar a conclusões mais acertadas. Se formos só dois e se tivermos um contexto igual, vamos ter opiniões muito parecidas. Isso é perigoso no contexto de uma grande empresa", apontou António Simões em entrevista em Setembro.
António Simões foi eleito o líder gay mais poderoso no mundo dos negócios pelo Financial Times em 2013. O pódio ficou completo com Beth Brooke da consultora EY e por Paul Reed da petrolífera BP.
Lá fora há mais casos de executivos de topo que se assumiram, como o de John Browne, CEO da BP entre 1995 e 2007. Nesse ano, demitiu-se da empresa após 41 anos nos seus quadros depois de um antigo namorado ter vindo a público contar que Browne era gay.
O executivo arrepende-se agora de não se ter assumido a sua homossexualidade mais cedo e escreveu um livro com o título "O armário de vidro: Porque é que sair do armário é bom para o negócio".
"A autenticidade é muito importante", afirmou em entrevista à CNBC. "Era muito cansativo" ter de esconder a sua vida privada em público, sublinhou. "Se eu me tivesse revelado eu acredito que poderia ter liderado a minha equipa de forma muito diferente".
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/tecnologias/detalhe/ceo_da_apple_ser_gay_esta_entre_as_maiores_dadivas _que_deus_me_deu.html
Tim Cook saiu do armário e assumiu publicamente a sua homossexualidade. A sua orientação sexual já era conhecida na Apple e em Silicon Valley, mas o presidente executivo da tecnológica decidiu dar o passo em frente.
"Vou ser claro. Tenho orgulho em ser homossexual e considero que ser homossexual está entre as maiores dádivas que Deus me deu", escreve em artigo de opinião na Busineweek publicado esta quinta-feira, 30 de Outubro.
Mas porque é que o gestor decidiu assumir-se? Bem, basicamente foi pelas outras pessoas, argumenta. "Isto não foi uma escolha fácil", assume. Apesar de garantir que não é um activista e que privilegia a sua privacidade, Tim Cook quer ajudar outros gays que lutam pelo seus direitos.
A discriminação é um dos problemas que Tim Cook aponta: "Muitas pessoas, particularmente crianças, enfrentam abusos todos os dias devido à sua orientação sexual".
Outro dos aspectos que mais o preocupam é o tratamento desta minoria perante a lei. "Ainda existem leis na maioria dos Estados que permitem às empresas despedir pessoas pela sua orientação sexual. Há muitos lugares onde os senhorios podem despejar inquilinos por serem gays, ou onde podemos ser barrados de visitar parceiros que estejam doentes, ou partilhar os seus legados".
No artigo de opinião, Tim Cook também aborda a sua vida profissional. Garante a sua dedicação à empresa e que vai passar todo o seu tempo focado em ser o "melhor CEO".
Sublinha também que a Apple advoga desde há muito os "direitos humanos e igualdade". Por isso, defenderam o casamento gay na Califórnia e a igualdade de direitos no local de trabalho perante o Congresso.
"Vamos continuar a lutar pelos nossos valores, e eu acredito que qualquer CEO desta incrível companhia, independentemente da raça, género ou orientação sexual, faria o mesmo", declara.
Liderança da Apple com receio do impacto
Este era um segredo mal guardado. A publicação Out Magazine elegeu-o como gay mais poderoso em 2011. A revista defendia que a Apple devia enviar Tim Cook a "escolas e universidades como exemplo de um homem gay de sucesso a liderar a maior empresa tecnológica".
A revista Gawker escreveu no mesmo ano que a liderança da empresa o apoiaria caso Tim Cook saísse do armário, e até o encorajaria a fazê-lo. Mas, ao mesmo tempo, vários executivos da empresa mostravam reticências sobre o assunto, pois estavam preocupados com o impacto que poderia ter na marca Apple. "Ele passou do gay mais poderoso em Silicon Valley para o homem mais poderoso no mundo", apontava a Gawker.
Desde que assumiu a liderança da empresa em 2011, Tim Cook já tinha dado algumas pistas sobre a sua sexualidade e a necessidade de combater a discriminação.
Num artigo de opinião no Wall Street Journal apelou ao Governo norte-americano para proteger os direitos dos trabalhadores gays. "Aceitar a individualidade das pessoas é uma questão de dignidade humana e direitos civis", escreveu então em 2013.
Já este ano Tim Cook mostrou o seu apoio público aos trabalhadores da Apple que estiveram presentes na marcha do orgulho gay em São Francisco.
No final do ano passado, deu um discurso nas Nações Unidas sobre o problema da discriminação. "Já vi e experimentei diferentes tipos de discriminação", disse então.
Executivos fora do armário
Em Portugal não há registo de casos semelhantes. Mas há o caso de António Simões, o banqueiro português que é presidente executivo do HSBC no Reino Unido.
Em entrevista ao Negócios, António Simões abordou o facto de ser gay na gestão de uma grande empresa. "Precisamos de líderes autênticos que liderem de forma autêntica, com pessoas que os queiram seguir. Isso é uma grande parte da minha marca de autenticidade. Toda a gente já se sentiu em algum momento um outsider. Não é uma questão de maiorias ou de minorias".
O banqueiro considera que "gastar energia a esconder essa questão é mau para o negócio. É bom para o negócio ter equipas produtivas, com pessoas que se sintam bem com elas próprias, e ter perspectivas diferentes sobre os problemas".
"Em meios conservadores como a banca, se tivermos equipas diversas, vamos chegar a conclusões mais acertadas. Se formos só dois e se tivermos um contexto igual, vamos ter opiniões muito parecidas. Isso é perigoso no contexto de uma grande empresa", apontou António Simões em entrevista em Setembro.
António Simões foi eleito o líder gay mais poderoso no mundo dos negócios pelo Financial Times em 2013. O pódio ficou completo com Beth Brooke da consultora EY e por Paul Reed da petrolífera BP.
Lá fora há mais casos de executivos de topo que se assumiram, como o de John Browne, CEO da BP entre 1995 e 2007. Nesse ano, demitiu-se da empresa após 41 anos nos seus quadros depois de um antigo namorado ter vindo a público contar que Browne era gay.
O executivo arrepende-se agora de não se ter assumido a sua homossexualidade mais cedo e escreveu um livro com o título "O armário de vidro: Porque é que sair do armário é bom para o negócio".
"A autenticidade é muito importante", afirmou em entrevista à CNBC. "Era muito cansativo" ter de esconder a sua vida privada em público, sublinhou. "Se eu me tivesse revelado eu acredito que poderia ter liderado a minha equipa de forma muito diferente".
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/tecnologias/detalhe/ceo_da_apple_ser_gay_esta_entre_as_maiores_dadivas _que_deus_me_deu.html
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