Boa tarde.
Pertenço ao grupo de cerca de 150 mil portugueses, segundo o que li, que ainda estão registados como filhos de pai incógnito. A minha mãe teve uma relação fugaz com um homem que tinha acabado de regressar de África, era retornado. Ela era muito jovem e ele cerca de 10 anos mais velho. Tudo isto aconteceu na turbulência do rescaldo do 25 de Abril, com milhares de pessoas a regressarem e terem de construir uma vida do zero, sem saberem muito bem para onde ir.
Terminou tudo quando a minha mãe descobriu que ele já era casado e com 1 filho. Entretanto quando descobriu que estava grávida, já tinham cortado contacto. Ainda foi à procura dele mas já se tinha mudado para outra cidade. Procurou-o aí mas nunca o encontrou.
Apesar de não me considerar traumatizado , não foi nada fácil crescer com isto. A minha mãe teve de fazer muitos sacrifícios, ainda que nunca tenha passado dificuldades. Para além disso, teve de lidar com o estigma da mãe solteira...já se vivia em democracia à época mas o preconceito não era muito diferente do tempo do Estado Novo.
Em cima disto tudo, passei uma vida inteira a receber olhares e questões incómodas sempre que necessitava de apresentar identificação para alguma coisa, fosse escolha, trabalho, serviços públicos. Quando troquei do BI para o CC, passei a ter um asterisco no nome do pai porque o programa não aceitava o espaço em branco.
A minha mãe sempre me contou a verdade desde pequeno...houve uma altura, já mais velho, em que a questionei sobre se ele de facto não sabia da gravidez, pois isso mudava tudo. Ela garantiu-me que só descobriu depois de ter cortado contacto com ele.
Comecei a procurá-lo desde há 15 anos porque queria conhecê-lo nem que fosse só por uma vez. Depois de muitas voltas, encontrei-o este mês. Tenho a certeza absoluta que é ele e estava mais perto do que eu pensava. A minha mãe confirmou todas as informações que consegui.
O problema agora é ganhar coragem para abordá-lo, pois tenho algum receio da reação. Ele tem mais 3 filhos e não quero causar problemas ou destruir uma família estabelecida. Por outro lado, sei que teve algum sucesso profissional e pode parecer que estou a querer receber uma herança quando não estou minimamente interessado nisso. Sempre vivi do meu trabalho.
A questão é que ele tem quase 70 anos e não vai viver para sempre. Não gostaria que lhe acontecesse alguma coisa sem nunca ter tido a oportunidade de falar com ele pelo menos uma vez. Acho que iria viver com o arrependimento para o resto da vida.
Pertenço ao grupo de cerca de 150 mil portugueses, segundo o que li, que ainda estão registados como filhos de pai incógnito. A minha mãe teve uma relação fugaz com um homem que tinha acabado de regressar de África, era retornado. Ela era muito jovem e ele cerca de 10 anos mais velho. Tudo isto aconteceu na turbulência do rescaldo do 25 de Abril, com milhares de pessoas a regressarem e terem de construir uma vida do zero, sem saberem muito bem para onde ir.
Terminou tudo quando a minha mãe descobriu que ele já era casado e com 1 filho. Entretanto quando descobriu que estava grávida, já tinham cortado contacto. Ainda foi à procura dele mas já se tinha mudado para outra cidade. Procurou-o aí mas nunca o encontrou.
Apesar de não me considerar traumatizado , não foi nada fácil crescer com isto. A minha mãe teve de fazer muitos sacrifícios, ainda que nunca tenha passado dificuldades. Para além disso, teve de lidar com o estigma da mãe solteira...já se vivia em democracia à época mas o preconceito não era muito diferente do tempo do Estado Novo.
Em cima disto tudo, passei uma vida inteira a receber olhares e questões incómodas sempre que necessitava de apresentar identificação para alguma coisa, fosse escolha, trabalho, serviços públicos. Quando troquei do BI para o CC, passei a ter um asterisco no nome do pai porque o programa não aceitava o espaço em branco.
A minha mãe sempre me contou a verdade desde pequeno...houve uma altura, já mais velho, em que a questionei sobre se ele de facto não sabia da gravidez, pois isso mudava tudo. Ela garantiu-me que só descobriu depois de ter cortado contacto com ele.
Comecei a procurá-lo desde há 15 anos porque queria conhecê-lo nem que fosse só por uma vez. Depois de muitas voltas, encontrei-o este mês. Tenho a certeza absoluta que é ele e estava mais perto do que eu pensava. A minha mãe confirmou todas as informações que consegui.
O problema agora é ganhar coragem para abordá-lo, pois tenho algum receio da reação. Ele tem mais 3 filhos e não quero causar problemas ou destruir uma família estabelecida. Por outro lado, sei que teve algum sucesso profissional e pode parecer que estou a querer receber uma herança quando não estou minimamente interessado nisso. Sempre vivi do meu trabalho.
A questão é que ele tem quase 70 anos e não vai viver para sempre. Não gostaria que lhe acontecesse alguma coisa sem nunca ter tido a oportunidade de falar com ele pelo menos uma vez. Acho que iria viver com o arrependimento para o resto da vida.
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