Embora o titulo do Jornal tenha um cariz um pouco diferente, considero que de uma forma ou de outra a reportagem reflecte os custos de uma familia no dia á dia.
Peço a vossa particular atenção para a familia " FAMÍLIA COSTA E CORREIA: 1 FILHA " que no meu entender representarão a familia tipo actual, um Casal e um Filho.
Na análise feita a esta familia não mencionam as despesa de alimentação, vestuário, transportes (não discriminam os valores) dos adultos, mas de 1280€, 600€ são retirados de imediato para as despesas fixas sobrando, portanto 680€ para as rubricas que menciono.
Acham que 680€ são suficentes para comer 30 dias e ainda ter hipoteses para um fundo de maneio para imprevistos ?
Mas também importante, para criar um pequeno mealheiro !?
Quando nos "vendem" que "estamos bem" eu olho para exemplos destes e fico estupefacto.
Este tópico serve para complementar este outro
http://forum.autohoje.com/topic.asp?TOPIC_ID=87073
iniciado pelo Pé Leve, e serve de contraponto para que se veja que a realidade de muitos Portugueses.
Façamos um reflexão séria.
Correio Domingo
2006-09-17 - 00:00:00
Lista de despesas dos pais desde os primeiros meses de vida até à Universidade
Quanto custa um filho
Do nascimento aos 25 anos, das fraldas à universidade, criar um rebento pode chegar aos 678 mil euros. Se o amor por um filho não se mede em números, o mesmo não se pode dizer dos gastos com a sua educação. As crianças nascem e crescem. E as despesas crescem com elas.
À dúzia nem sempre sai mais barato. Que o digam Ana e Zé Luís Vaz e Gala, progenitores de uma rara escadinha de doze filhos que enche o duplex da sua casa de Campo de Ourique, em Lisboa, baluarte de desenhos nas paredes, corridas em patins, barulho das tropelias e dis**** saudável da televisão. Uma conta muito desejada, atípica nos dias que correm, que exige peso, medida, pulso firme, jogo de cintura e muita ginástica para manter em ordem o orçamento do mês.
“Era o nosso projecto de vida ter uma família numerosa mas não estipulámos uma quantia. Antes de os termos não tínhamos ideia nenhuma de quanto custariam. Quando nos casámos não ganhávamos muito, cerca de 60 contos cada um”, explica Ana, uma médica de 46 anos com tarefas reduzidas às consultas domiciliárias.
“Morávamos numa casa com duas assoalhadas. Quando nasceu o quarto filho mudámo-nos para uma de quatro. Morámos nessa até há dois anos, já lá viviam 12 pessoas. Parecia um daqueles filmes neo-realistas italianos!”, acrescenta o patriarca do clã, professor de História e Português do 2.º ciclo, com 45 anos.
A aventura do casal, um dos sócios fundadores da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, começou há quase 20 anos. Os tempos eram outros e as dificuldades também. “As coisas estão extremamente caras. Se tivesse-mos esta família em 87 era mais fácil”. A fase de menor pressão doméstica durou apenas três anos, durante os quais o rendimento mensal de 2000 euros chegou a atingir os 5000, quando Zé Luís integrava uma comissão de serviço na Câmara Municipal de Lisboa. Ana tirou uma licença sem vencimento e ficou desvinculada do Centro de Saúde da Amora. Prevê regressar ao activo em breve. “Os miúdos ficavam apenas com uma empregada durante o dia, quase em autogestão”, recorda o casal.
O descendente mais velho faz 19 anos em Novembro, a última inquilina acaba de fazer um ano. Filipa, Francisco, Isabel, Maria, Luís, Acílio, Paula, Pedro, Teresa, Ana Maria, João e Zé habituaram-se ao substantivo ‘partilha’. As roupas, livros, brinquedos passam de mão em mão, os quartos acomodam dois ou três irmãos e os pedidos de aniversário aliam o útil ao agradável, como uma mochila nova para o ano lectivo que acaba de chegar. “Têm que aprender a dar valor ao dinheiro. Se vemos que querem algo necessário, fazemos os possíveis para que o tenham, se for secundário, fica para depois. Por paradoxal que pareça, a gestão tornou--se mais fácil, cada um já sabe o seu papel”, explicam os pais.
É em Setembro que o orçamento familiar mais se ressente, com os custos inerentes ao regresso às aulas. A aquisição dos manuais escolares é apenas um dos investimentos incontornáveis e aquele que maior rombo provoca. Mera ponta do icebergue, já que os gastos começam cedo, antes mesmo do primeiro choro do bebé.
No capítulo escolar, os Vaz e Gala são peremptórios. “O infantário é sempre oficial, depois optamos pelo privado. Quando terminam o 12.º ano, têm que entrar numa universidade pública. Este ano, entram os dois mais velhos: vão para Engenharia e Gestão”. E não é preciso ter uma licenciatura em Matemática para perceber que a soma das parcelas dá um valor exorbitante. “Cada um deles precisa em média de 10 livros escolares, a cerca de 15 euros. Dá 80 livros...” Este é apenas um dos cálculos capaz de pôr a cabeça a andar à roda. “Já nem sei fazer contas! E poupar no final do mês é completamente impossível...”, desabafa Ana.
QUANDO A FAMÍLIA CRESCE
Quando a família cresce, não é só a casa que tem que esticar. Os gastos domésticos aumentam com essa escalada. Electricidade, gás, água, supermercado são algumas das contas que disparam. “Não faz sentido pagar um ‘x’ de água e passar logo para o escalão empresarial, como nos aconteceu. Já conseguimos uma redução. As famílias não devem ser penalizadas. De ano para ano, notam-se menos apoios”.
Nem tudo são espinhos. Pequenos incentivos suavizam os encargos domésticos. Para além do “subsídio único simbólico por nascimento, recebemos um apoio financeiro do Ministério da Educação, que tem um protocolo com algumas instituições particulares. Temos redução de 40% no colégio”, diz Zé Luís. “Recebemos 4500 euros por 10 filhos, mas cobre muito pouco das despesas. O abono de família anda à roda de 60 contos por mês. Na Bélgica ou na França tínhamos direito a outro ordenado!”, destaca Ana.
Também se abrem outras janelas de oportunidade. Auxílios que completam o cabaz de apoios, produto da rede de solidariedade estabelecida com casais amigos. “Aproveitamos os descontos nas papelarias de bairro, as promoções nos hipermercados, etc. As famílias numerosas também têm defesas. Ao nível de transportes, da roupa, livros. Passam de uns para os outros, temos muita coisa herdada e trocamos coisas com outras famílias. A sociedade civil deve tornar-se mais activa”, defendem, sem arrependimentos pelo núcleo alargado. “Já não conseguia viver de outra forma!”, confessa Ana.
Noves fora, afinal quanto custa um filho? Apesar de alguns ‘anticorpos’ de-senvolvidos pelas famílias, estas não ficam imunes a uma despesa de suster o fôlego. Se o retorno de ter uma criança, ou mais, não tem preço, o investimento é tudo menos uma bagatela. João de Melo, economista, professor na Universidade de Coimbra, pai de quatro filhos, puxou dos galões da calculadora para estudar os gastos inerentes à sua educação, do nascimento aos 25 anos. Os números finais falam por si. Entre 211 e 678 mil euros é quanto pode sair das carteiras dos papás. É caso para dizer: “Meu filho, meu tesouro.”
“Fiz um cálculo de quanto custa um filho para a classe média, alta e baixa, para duas famílias com rendimentos líquidos mensais diferentes. Uma na casa dos 4000 euros, e uma outra simulação para um rendimento de 1750 euros. Ponderei a hipótese de ambos os pais trabalharem e de os filhos permanecerem em casa até aos 25 anos”, explica o autor do estudo ‘Quanto Custa um Filho’, apresentado há dois anos em Coimbra, que contempla aspectos como a habitação, alimentação, vestuário, transportes, saúde, educação e outras despesas residuais, juntamente com perdas adicionais de rendimentos para os pais trabalhadores. “Não considerei alguns ‘benefícios’ financeiros que ter filhos acarreta, como o abono de família, a dedução específica, por filho, que o IRS permite, os abatimentos à colecta (sempre superiormente limitados) das despesas de educação, de saúde. Mas é fácil reconhecer que os montantes de sinal positivo não representam mais do que uma pequena gota de água face aos custos”, sublinha ainda o economista.
Para Alice, de oito meses, os únicos mandamentos, que segue como ninguém, são comer e dormir. A actividade mais enérgica para breve será a natação. Para os pais, que viram a união de facto agraciada com a chegada da menina, as notas começaram a voar da carteira muito antes das primeiras braçadas da filhota. As fraldas, papas e chupetas dominam o quotidiano de Olga Costa e Rodolfo Correia, um casal ‘low budget’ de Arruda-dos-Vinhos, atento às oportunidades que fazem render o peixe com que se governam. “Queríamos ter um filho, mas não foi planeado. Na altura em que engravidei estava desempregada e não tive direito a licença de maternidade. Quando ela fez três meses deixei-a com a minha mãe. Se fosse para um infantário não conseguíamos”, conta a assistente administrativa, de 23 anos. “É indiscutível que a educação custa muito dinheiro. Vamos pagando aos poucos e nem nos apercebemos. As coisas não estão fáceis mas acredito que é possível. Ter trabalho fixo já é muito bom”, confessa Rodolfo, 27 anos, técnico profissional de reprografia. “Gastamos quinze euros por cada lata de leite, de três em três semanas, as fraldas é mais ou menos a mesma coisa, toalhitas a seis euros, mais cosmética, shampô, gel de banho... é tudo caríssimo, a 21% de IVA, e nada se mete no IRS. São considerados produtos de luxo. Os 80 euros de abono por mês cobrem as despesas correntes, mas falta sempre qualquer coisa”, lamenta a mãe.
NOVAS ALTERNATIVAS
O ritmo de vida mudou e com ele impuseram-se novas alternativas. Cortar nas despesas é a palavra de ordem e não basta comprar bonito. É preciso comprar barato. “A roupa é um balúrdio e dura dois meses. Uma peça que não chega a meio metro custa mais do que uma peça para nós. Não temos paranóia das marcas, até porque seria impossível”. O público fala mais alto do que o privado, tanto em educação como em saúde. O médico de família faz as vezes do pediatra e o infantário em vista é oficial. Tudo o que permite amealhar tostões tem primazia, mesmo que obrigue a percorrer três supermercados diferentes em busca dos preços mais convidativos. “Optámos por um carro a gás. Apostamos na energia alternativa e sai muito mais barato. Atestamos por metade do preço da gasolina. Cortámos nos jantares fora de casa, nas idas ao cinema. Assim que recebemos compramos coisas para ela”. Obrigações que adiam o retorno da cegonha. ”Não penso ter outro filho tão cedo. Talvez daqui a dez anos, se estivermos mais estáveis. Como não temos muito dinheiro, queremos dar a esta tudo o que podemos. É fundamental estar informado e não desesperar!” Mesmo para quem não é barra em contabilidade, critérios como planear e controlar são determinantes para uma vida desafogada e equilíbrio das finanças caseiras. Henrique Fonseca, monitor na área de orçamento familiar no CENOFA, Centro de Orientação Familiar, reforça a ideia de “mensalmente fazer um orçamento e de as despesas serem inferiores às receitas”. A necessidade de as famílias introduzirem critérios de rigor e autoplaneamento nas suas contabilidades passa, precisamente, por uma das questões fundamentais, a educação. “A pressão e obsessão com a educação ainda vai crescer mais no futuro. Cada vez começa mais cedo, no infantário. As pessoas querem escolher o melhor para os filhos, já que hoje em dia uma licenciatura não basta.”
Imperativo básico é o de tomar decisões, sendo que também elas têm um preço. “Aconselhamos a acautelar o futuro, falamos de regras práticas ao nível das contas de água, luz, supermercado, etc. Os filhos trazem a necessidade de fazer opções. Por exemplo, optei pelo ensino privado mas nunca fomos às Sheichelles e só trocamos de carro de cinco em cinco anos. Os filhos trazem uma série de custos, com a agravante de serem dois ou três ou mais. A casa já não dá, o carro também não, a logística de férias é outra...”, salienta Henrique, pai de sete filhos. Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, daí a necessidade de apertar o cinto, redefinir prioridades e aderir a um modelo de organização quase empresarial, tentando tirar partido de algumas regalias. “Escolas e universidades onde a mensalidade é mais barata se lá tivermos mais do que um filho”, exemplifica o monitor.
A vida em família pode tornar-se uma maratona pela subsistência. A saída, segundo os especialistas em economia doméstica, é calcular os riscos e tirar proveito das oportunidades, sabendo de antemão que é necessário abrir mão de muitos projectos. Se o investimento global daria para satisfazer um punhado de sonhos, como uma casa luxuosa, automóveis topo de gama ou viagens à volta do Mundo, a maioria vê estas fantasias por um canudo.
Os bracarenses Maria Emília Marques e Narciso Gomes não são excepção. Gerentes comerciais, com 39 e 42 anos, contentam-se com as férias no Algarve, aproveitam as épocas de saldos e recorrem ao médico de família sempre que possível. Para que os quatro filhos possam ter uma educação esmerada, norteiam-se pelo ensino privado, esperançados num maior acompanhamento por parte de professores, educadores e técnicos auxiliares. “É sobretudo por causa da Joana, que tem dificuldades de aprendizagem e precisa de acompanhamento e programa de educação especial: começou por frequentar o ensino público, mas o apoio nunca foi efectivo”, diz o pai.
Para a família este é um novo ano de testes ao nível das despesas com a educação do benjamim Miguel, com oito meses, de Maria, 8 anos, André, 15, e Joana, com 16. Até agora, tinham três filhos no mesmo colégio e conseguiam um apoio de cerca de 50% da despesa mensal. Mas este ano André passou para o 10.º ano e transitou para outro estabelecimento. “Vamos ver até onde conseguimos ir. A formação dos filhos é fundamental e temos de lutar o máximo para lhes garantir a melhor formação que lhes pudermos disponibilizar”. Para já, cada coisa a seu tempo. Narciso e Emília não querem sequer pensar na universidade. “Isto é tipo uma escala. Cada ano, os encargos são maiores”.
Apesar do volume elevado de despesas, e do abono de 25 euros por filho, o casal não se arrepende do tamanho da prole, sem grandes planos para a engrossar ou colocar-lhe um travão. “Perde-se umas coisas, mas ganha-se outras. Podíamos ter outro tipo de vida, sair mais vezes e entrar noutro ritmo mais despesista. Mas assim temos uma vida mais familiar, almoçamos e jantamos em casa, há uma entreajuda muito grande entre todos nas tarefas diárias. Aprendemos a crescer uns com os outros e mais unidos. Viver assim, no meio desta sociedade tão materialista, dá-nos uma maior valorização da dimensão humana e uma grande estabilidade”.
SIMULAÇÃO PARA DUAS FAMÍLIAS
FAMÍLIA BETA (Coimbra)
RENDIMENTOS
Classe média/alta: o pai é professor universitário, e a mãe é técnica superior da Função Pública, a exercer um cargo de chefia. O rendimento mensal líquido total do casal Beta é 4200 euros.
HABITAÇÃO
Reside numa zona central da cidade, onde cada metro quadrado de habitação vale 2000 euros; cada filho implica mais 25m2 de casa (qualquer coisa como 50 mil euros, um equivalente a 1500 euros por ano).
Valor total ao fim dos 25 anos: 36 000 €
ALIMENTAÇÃO
O filho ingere três refeições por dia (custo unitário médio de 3 euros). Nos três primeiros anos o gasto é 60% deste montante; dos 9 aos 11 chega aos 90%. Depois vigora o valor “normal”.
Valor total ao fim dos 25 anos: 72 270 €
TRANSPORTES
Dos 3 aos 17, implica 40 km diários de deslocação em automóvel. No total isto representa 2600 euros ano; a partir dos 18 anos, dão um automóvel aos filhos e o custo de transporte passa para 5000 euros/ano.
Valor total ao fim dos 25 anos: 77 000 €
VESTUÁRIO
Compram a maioria da roupa em lojas “de marca”, de vez em quando nos saldos. O valor é maior entre os 12 e os 17 anos, quando as despesas anuais rondam os 1010 euros. Nos 6 primeiros anos gastam 60% desse valor.
Valor total ao fim dos 25 anos: 20 200 €
SAÚDE
Dados os actuais níveis de comparticipação da ADSE, e supondo um filho razoavelmente saudável, a média anual ronda os 400 euros para as despesas com médicos, dentistas, medicamentos e exames.
Valor total ao fim dos 25 anos: 10 000 €
A FACTURA MAIS PESADA: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
Até aos 3 anos, a criança é cuidada por uma ama (500 euros/mês). Depois frequenta um jardim infantil (com uma mensalidade de 300 euros). Segue-se um colégio privado dos 6 aos 17 (que pode custar até 5000/ano), mais várias actividades extracurriculares (300 euros/mês), mais 400 euros/ano em material de apoio. A partir dos 17 anos, o filho entra numa universidade pública, em Lisboa, onde paga 700 euros anuais de propinas. Os pais investem ainda cerca de 300 euros em despesas de alojamento.
Valor total ao fim dos 25 anos: 169 500 €
OUTRAS DESPESAS
Cada filho implica um acréscimo de gastos anuais em electricidade, água, roupa de cama, telefone, consumíveis diversos, etc. Supõe-se que isso vale 2 euros por dia até aos 12 anos e 3 euros por dia até aos 24.
Valor total ao fim dos 25 anos: 22 995 €
VALOR TOTAL
(Quase 140 mil contos, sem considerar o rendimento perdido, cerca de 270 900 euros, correspondentes ao número de horas despendidas com os filhos que poderiam ser canalizadas no emprego, no aproveitamento de horas extras e progressão de carreira profissional). Ao fim de uma vida de trabalho, 36 anos, o casal Beta terá ganho 2.160.000 euros.
31% desse rendimento será usado para pagar as despesas de criação e educação do seu filho único.
Custo Total: 678 875 €
FAMÍLIA ALFA (Cacém)
RENDIMENTOS
Classe média/baixa. O pai é técnico de manutenção de máquinas de frio numa empresa de Lisboa, e a mãe é assistente administrativa na Câmara de Odivelas. Rendimento mensal líquido total: 1700 euros.
HABITAÇÃO
Reside junto à linha de Sintra, onde cada metro quadrado de habitação vale 1000 euros; cada filho implica mais 15m2 de casa (o valor ronda os 15 mil euros, equivalentes a 450 euros por ano).
Valor total ao fim dos 25 anos: 10 800 €
ALIMENTAÇÃO
O filho ingere três refeições por dia (o que representa um custo unitário médio de 1,5 euros, metade dos Beta). Nos três primeiros anos o gasto é 60% deste montante; dos 9 aos 11 atinge também os 90%.
Valor total ao fim dos 25 anos: 36 146 €
TRANSPORTES
A família vai no seu carro para o centro de Lisboa. Com o filho, até aos 15 anos, fazem todos os dias mais 10 km. No total, isto representa 650 euros ano; a partir dos 14 anos, o filho gasta 45 euros/mês em transportes públicos.
Valor total ao fim dos 25 anos: 15 040 €
VESTUÁRIO
Compram a maioria da roupa em hipermercados e feiras, quase sempre nos saldos. Entre os 12 e os 17 anos, as despesas médias anuais 480 euros/ano. A partir dos 18 anos, ambas gastam apenas 80% desse valor de referência.
Valor total ao fim dos 25 anos: 9600 €
SAÚDE
Supondo que o filho não apresenta problemas excepcionais de saúde, estima-se uma média anual de 300 euros para cobrir as mesmas despesas relativas à família Beta nesta área.
Valor total ao fim dos 25 anos: 7500 €
A FACTURA MAIS PESADA: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
Até aos 6 anos, a criança permanece numa creche subsidiada (mensalidade de 100 euros). Depois ingressa no ensino oficial, gratuito, até aos 17. Com um grande esforço, no entanto, os pais Alfa pagam explicações nos últimos 3 anos (250 euros por mês). A partir dos 17 o filho entra numa universidade privada, em Lisboa, onde paga 3000 euros de propina anual durante os quatro anos de duração média do curso. Os papás inscrevem o filho em apenas uma actividade extracurricular, que consome mensalmente uma média de 100 euros.
Valor total ao fim dos 25 anos: 51 600 €
OUTRAS DESPESAS
Calcula-se que isto representa 1,5 euros (metade dos gastos da família Beta) por dia até aos 12 anos e 2 euros por dia até aos 24. Entre os 0 e os 11 as despesas atingem logo os 548 euros anuais.
Valor total ao fim dos 25 anos: 16 060 €
VALOR TOTAL
(Mais de 42 mil contos, sem considerar as perdas de rendimento para o casal, qualquer coisa como 64 500 euros, por também eles prescindirem de algum tempo despendido no trabalho, que poderia fazer a diferença na valorização do seu pecúlio no final do mês)
Ao fim de 36 anos de trabalho, o casal Alfa terá ganho cerca de 900 000 euros. 23% desse rendimento será usado para pagar as despesas de criação e educação do seu filho único.
Custo Total: 211 246 €
E QUANDO A FAMÍLIA CRESCE AINDA MAIS?
Haverá economias de escala na dimensão familiar (isto é, quanto mais filhos menos caro fica cada um)? Em algumas despesas, claro que sim: um pai que passa uma hora por dia com o filho não passará 4 horas por dia com os quatro filhos! Alguns livros escolares podem passar de irmão para irmão
há roupa que passa de irmão para irmão, muitas das viagens para transportar crianças podem combinar os trajectos de mais de um filho Mas na grande maioria das despesas não há economias de escala!
FAMÍLIA VAZ E GALA: 12 FILHOS
Rendimento mensal: 2000 euros
Abono: 4500 euros/mês
Habitação: 900 euros de renda mensal, duplex, sete assoalhadas, em Lisboa
Alimentação: cerca de 400 euros/mês
Transportes: 2 carrinhas, 70 euros por semana em gasolina
Saúde: despesas apenas de dentista e farmácia
Escola: 150 euros para todos + 80 livros * 15 euros
Vestuário: beneficiam da economia de escala e das trocas com outros casais
Férias: em casa de familiares em Oliveira do Bairro, e na zona de Lisboa
FAMÍLIA COSTA E CORREIA: 1 FILHA
Rendimento mensal: 1200 euros
Abono: 80 euros/mês
Habitação: casa própria, prestação mensal ao banco de 400 euros, três assoalhadas em Arruda-dos-Vinhos
Alimentação: mais de 100 euros mensais em leite, papas e fruta
Despesas com contas de casa: 100 euros
Transportes: carro com combustível a gás
Saúde: despesas de vacinação essencialmente (75 euros por cada uma das cinco contra a meningite)
Escola: a filha fica à guarda dos avós maternos. Aos três anos ingressará num infantário público perto de casa
Vestuário: só agora começam a comprar roupa, a maioria foi herdada ou oferecida
Férias: passadas na casa de Verão da família, na praia do Baleal
FAMÍLIA MARQUES GOMES: 4 FILHOS
Rendimento mensal: 2800 euros
Abono: 100 euros/mês
Habitação: moradia T4, c/ empréstimo bancário, São Lázaro, Braga
Alimentação: 1000 euros por mês
Transportes: um monovolume
Saúde: Despesas reduzidas. Raramente estão doentes e procuram sempre o médico de família.
Escola: 470 euros/mês, 90 euros por mês para a creche do bebé, 500 euros em livros e material escolar
Vestuário: preferem os saldos no início de cada época
Férias: passadas na praia, em Portugal (normalmente duas semanas no Algarve)
PRESTAÇÕES AQUÉM DO IDEAL
APOIO SOCIAL ÀS FAMÍLIAS
Distante de um regime de Segurança Social exemplar, como o francês que inclui o subsídio de nascimento (830 euros), de base (166 euros até aos três anos) e o de início de aulas para os agregados desfavorecidos – 265 euros), o português é mais modesto. Licença de maternidade e paternidade, subsídio de nascimento e aleitação, abono de família para crianças e jovens, são as principais prestações pecuniárias, de montante variável. Em Maio, o total de titulares de prestações familiares era 1 640 871.
MAIS VELHO E COM FAMÍLIAS MENOS NUMEROSAS: O PAÍS EM NÚMEROS
106 081 nados vivos (menos 2,9% do que em 2003)
108,7% é o índice de idosos por cada 100 jovens até aos 14 anos
1,4 número médio de filhos por mulher, idêntico à média geral europeia
71% das famílias têm no máximo 3 filhos
OS FARDOS DE UM SISTEMA DESIGUAL
João de Melo, 43 Anos. Economista, autor do estudo ‘Quanto Custa um Filho’, apresentado no Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra, em 2004.
- No seu trabalho parte de um cenário evidente: o da quebra da natalidade. Temos cada vez menos filhos porque eles ‘saem’ cada vez mais caros?
- A decisão de ter ou não filhos resulta de um conjunto complexo de factores. Mas a abrupta queda do nível de vida que se segue à sua geração ajuda a que poucos arrisquem ir além de um ou dois filhos, apesar de os inquéritos mostrarem que os portugueses gostavam de ter mais filhos.
- Alerta também para o ‘síndroma do cuco’. Em que consiste?
- O cuco é um pássaro que põe os ovos nos ninhos dos outros e deixa que sejam outros a cuidar do futuro da sua espécie. Suponhamos uma sociedade constituída por dois casais de igual rendimento: os Silva, com 4 filhos, e os Lopes, que decidem não ter filhos. Na idade de aposentação, quem vai pagar ambas as reformas vai ser a geração seguinte, isto é, os filhos dos Silva! Ou seja: são os que têm filhos que arcam com a parte de leão das despesas de criação da geração seguinte cujo trabalho permitirá pagar tanto as suas reformas como as dos outros (que não tiveram despesas): é como se os Lopes pusessem os ovos no ninho dos Silva O nosso actual sistema socializou os benefícios da geração de filhos mas manteve privados os seus custos.
- Como repor então o equilíbrio social?
- Se socializámos, no pós-II Guerra, os benefícios de ter filhos, talvez seja justo que socializemos também uma parte significativa dos custos, de forma a que todos (mesmo os que resolvem não ter filhos) paguem mais por igual a formação da nova geração da qual, em última análise, todos beneficiam.
Maria Ramos Silva com Mário Fernandes
In CM
Peço a vossa particular atenção para a familia " FAMÍLIA COSTA E CORREIA: 1 FILHA " que no meu entender representarão a familia tipo actual, um Casal e um Filho.
Na análise feita a esta familia não mencionam as despesa de alimentação, vestuário, transportes (não discriminam os valores) dos adultos, mas de 1280€, 600€ são retirados de imediato para as despesas fixas sobrando, portanto 680€ para as rubricas que menciono.
Acham que 680€ são suficentes para comer 30 dias e ainda ter hipoteses para um fundo de maneio para imprevistos ?
Mas também importante, para criar um pequeno mealheiro !?
Quando nos "vendem" que "estamos bem" eu olho para exemplos destes e fico estupefacto.
Este tópico serve para complementar este outro
http://forum.autohoje.com/topic.asp?TOPIC_ID=87073
iniciado pelo Pé Leve, e serve de contraponto para que se veja que a realidade de muitos Portugueses.
Façamos um reflexão séria.
Correio Domingo
2006-09-17 - 00:00:00
Lista de despesas dos pais desde os primeiros meses de vida até à Universidade
Quanto custa um filho
Do nascimento aos 25 anos, das fraldas à universidade, criar um rebento pode chegar aos 678 mil euros. Se o amor por um filho não se mede em números, o mesmo não se pode dizer dos gastos com a sua educação. As crianças nascem e crescem. E as despesas crescem com elas.
À dúzia nem sempre sai mais barato. Que o digam Ana e Zé Luís Vaz e Gala, progenitores de uma rara escadinha de doze filhos que enche o duplex da sua casa de Campo de Ourique, em Lisboa, baluarte de desenhos nas paredes, corridas em patins, barulho das tropelias e dis**** saudável da televisão. Uma conta muito desejada, atípica nos dias que correm, que exige peso, medida, pulso firme, jogo de cintura e muita ginástica para manter em ordem o orçamento do mês.
“Era o nosso projecto de vida ter uma família numerosa mas não estipulámos uma quantia. Antes de os termos não tínhamos ideia nenhuma de quanto custariam. Quando nos casámos não ganhávamos muito, cerca de 60 contos cada um”, explica Ana, uma médica de 46 anos com tarefas reduzidas às consultas domiciliárias.
“Morávamos numa casa com duas assoalhadas. Quando nasceu o quarto filho mudámo-nos para uma de quatro. Morámos nessa até há dois anos, já lá viviam 12 pessoas. Parecia um daqueles filmes neo-realistas italianos!”, acrescenta o patriarca do clã, professor de História e Português do 2.º ciclo, com 45 anos.
A aventura do casal, um dos sócios fundadores da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas, começou há quase 20 anos. Os tempos eram outros e as dificuldades também. “As coisas estão extremamente caras. Se tivesse-mos esta família em 87 era mais fácil”. A fase de menor pressão doméstica durou apenas três anos, durante os quais o rendimento mensal de 2000 euros chegou a atingir os 5000, quando Zé Luís integrava uma comissão de serviço na Câmara Municipal de Lisboa. Ana tirou uma licença sem vencimento e ficou desvinculada do Centro de Saúde da Amora. Prevê regressar ao activo em breve. “Os miúdos ficavam apenas com uma empregada durante o dia, quase em autogestão”, recorda o casal.
O descendente mais velho faz 19 anos em Novembro, a última inquilina acaba de fazer um ano. Filipa, Francisco, Isabel, Maria, Luís, Acílio, Paula, Pedro, Teresa, Ana Maria, João e Zé habituaram-se ao substantivo ‘partilha’. As roupas, livros, brinquedos passam de mão em mão, os quartos acomodam dois ou três irmãos e os pedidos de aniversário aliam o útil ao agradável, como uma mochila nova para o ano lectivo que acaba de chegar. “Têm que aprender a dar valor ao dinheiro. Se vemos que querem algo necessário, fazemos os possíveis para que o tenham, se for secundário, fica para depois. Por paradoxal que pareça, a gestão tornou--se mais fácil, cada um já sabe o seu papel”, explicam os pais.
É em Setembro que o orçamento familiar mais se ressente, com os custos inerentes ao regresso às aulas. A aquisição dos manuais escolares é apenas um dos investimentos incontornáveis e aquele que maior rombo provoca. Mera ponta do icebergue, já que os gastos começam cedo, antes mesmo do primeiro choro do bebé.
No capítulo escolar, os Vaz e Gala são peremptórios. “O infantário é sempre oficial, depois optamos pelo privado. Quando terminam o 12.º ano, têm que entrar numa universidade pública. Este ano, entram os dois mais velhos: vão para Engenharia e Gestão”. E não é preciso ter uma licenciatura em Matemática para perceber que a soma das parcelas dá um valor exorbitante. “Cada um deles precisa em média de 10 livros escolares, a cerca de 15 euros. Dá 80 livros...” Este é apenas um dos cálculos capaz de pôr a cabeça a andar à roda. “Já nem sei fazer contas! E poupar no final do mês é completamente impossível...”, desabafa Ana.
QUANDO A FAMÍLIA CRESCE
Quando a família cresce, não é só a casa que tem que esticar. Os gastos domésticos aumentam com essa escalada. Electricidade, gás, água, supermercado são algumas das contas que disparam. “Não faz sentido pagar um ‘x’ de água e passar logo para o escalão empresarial, como nos aconteceu. Já conseguimos uma redução. As famílias não devem ser penalizadas. De ano para ano, notam-se menos apoios”.
Nem tudo são espinhos. Pequenos incentivos suavizam os encargos domésticos. Para além do “subsídio único simbólico por nascimento, recebemos um apoio financeiro do Ministério da Educação, que tem um protocolo com algumas instituições particulares. Temos redução de 40% no colégio”, diz Zé Luís. “Recebemos 4500 euros por 10 filhos, mas cobre muito pouco das despesas. O abono de família anda à roda de 60 contos por mês. Na Bélgica ou na França tínhamos direito a outro ordenado!”, destaca Ana.
Também se abrem outras janelas de oportunidade. Auxílios que completam o cabaz de apoios, produto da rede de solidariedade estabelecida com casais amigos. “Aproveitamos os descontos nas papelarias de bairro, as promoções nos hipermercados, etc. As famílias numerosas também têm defesas. Ao nível de transportes, da roupa, livros. Passam de uns para os outros, temos muita coisa herdada e trocamos coisas com outras famílias. A sociedade civil deve tornar-se mais activa”, defendem, sem arrependimentos pelo núcleo alargado. “Já não conseguia viver de outra forma!”, confessa Ana.
Noves fora, afinal quanto custa um filho? Apesar de alguns ‘anticorpos’ de-senvolvidos pelas famílias, estas não ficam imunes a uma despesa de suster o fôlego. Se o retorno de ter uma criança, ou mais, não tem preço, o investimento é tudo menos uma bagatela. João de Melo, economista, professor na Universidade de Coimbra, pai de quatro filhos, puxou dos galões da calculadora para estudar os gastos inerentes à sua educação, do nascimento aos 25 anos. Os números finais falam por si. Entre 211 e 678 mil euros é quanto pode sair das carteiras dos papás. É caso para dizer: “Meu filho, meu tesouro.”
“Fiz um cálculo de quanto custa um filho para a classe média, alta e baixa, para duas famílias com rendimentos líquidos mensais diferentes. Uma na casa dos 4000 euros, e uma outra simulação para um rendimento de 1750 euros. Ponderei a hipótese de ambos os pais trabalharem e de os filhos permanecerem em casa até aos 25 anos”, explica o autor do estudo ‘Quanto Custa um Filho’, apresentado há dois anos em Coimbra, que contempla aspectos como a habitação, alimentação, vestuário, transportes, saúde, educação e outras despesas residuais, juntamente com perdas adicionais de rendimentos para os pais trabalhadores. “Não considerei alguns ‘benefícios’ financeiros que ter filhos acarreta, como o abono de família, a dedução específica, por filho, que o IRS permite, os abatimentos à colecta (sempre superiormente limitados) das despesas de educação, de saúde. Mas é fácil reconhecer que os montantes de sinal positivo não representam mais do que uma pequena gota de água face aos custos”, sublinha ainda o economista.
Para Alice, de oito meses, os únicos mandamentos, que segue como ninguém, são comer e dormir. A actividade mais enérgica para breve será a natação. Para os pais, que viram a união de facto agraciada com a chegada da menina, as notas começaram a voar da carteira muito antes das primeiras braçadas da filhota. As fraldas, papas e chupetas dominam o quotidiano de Olga Costa e Rodolfo Correia, um casal ‘low budget’ de Arruda-dos-Vinhos, atento às oportunidades que fazem render o peixe com que se governam. “Queríamos ter um filho, mas não foi planeado. Na altura em que engravidei estava desempregada e não tive direito a licença de maternidade. Quando ela fez três meses deixei-a com a minha mãe. Se fosse para um infantário não conseguíamos”, conta a assistente administrativa, de 23 anos. “É indiscutível que a educação custa muito dinheiro. Vamos pagando aos poucos e nem nos apercebemos. As coisas não estão fáceis mas acredito que é possível. Ter trabalho fixo já é muito bom”, confessa Rodolfo, 27 anos, técnico profissional de reprografia. “Gastamos quinze euros por cada lata de leite, de três em três semanas, as fraldas é mais ou menos a mesma coisa, toalhitas a seis euros, mais cosmética, shampô, gel de banho... é tudo caríssimo, a 21% de IVA, e nada se mete no IRS. São considerados produtos de luxo. Os 80 euros de abono por mês cobrem as despesas correntes, mas falta sempre qualquer coisa”, lamenta a mãe.
NOVAS ALTERNATIVAS
O ritmo de vida mudou e com ele impuseram-se novas alternativas. Cortar nas despesas é a palavra de ordem e não basta comprar bonito. É preciso comprar barato. “A roupa é um balúrdio e dura dois meses. Uma peça que não chega a meio metro custa mais do que uma peça para nós. Não temos paranóia das marcas, até porque seria impossível”. O público fala mais alto do que o privado, tanto em educação como em saúde. O médico de família faz as vezes do pediatra e o infantário em vista é oficial. Tudo o que permite amealhar tostões tem primazia, mesmo que obrigue a percorrer três supermercados diferentes em busca dos preços mais convidativos. “Optámos por um carro a gás. Apostamos na energia alternativa e sai muito mais barato. Atestamos por metade do preço da gasolina. Cortámos nos jantares fora de casa, nas idas ao cinema. Assim que recebemos compramos coisas para ela”. Obrigações que adiam o retorno da cegonha. ”Não penso ter outro filho tão cedo. Talvez daqui a dez anos, se estivermos mais estáveis. Como não temos muito dinheiro, queremos dar a esta tudo o que podemos. É fundamental estar informado e não desesperar!” Mesmo para quem não é barra em contabilidade, critérios como planear e controlar são determinantes para uma vida desafogada e equilíbrio das finanças caseiras. Henrique Fonseca, monitor na área de orçamento familiar no CENOFA, Centro de Orientação Familiar, reforça a ideia de “mensalmente fazer um orçamento e de as despesas serem inferiores às receitas”. A necessidade de as famílias introduzirem critérios de rigor e autoplaneamento nas suas contabilidades passa, precisamente, por uma das questões fundamentais, a educação. “A pressão e obsessão com a educação ainda vai crescer mais no futuro. Cada vez começa mais cedo, no infantário. As pessoas querem escolher o melhor para os filhos, já que hoje em dia uma licenciatura não basta.”
Imperativo básico é o de tomar decisões, sendo que também elas têm um preço. “Aconselhamos a acautelar o futuro, falamos de regras práticas ao nível das contas de água, luz, supermercado, etc. Os filhos trazem a necessidade de fazer opções. Por exemplo, optei pelo ensino privado mas nunca fomos às Sheichelles e só trocamos de carro de cinco em cinco anos. Os filhos trazem uma série de custos, com a agravante de serem dois ou três ou mais. A casa já não dá, o carro também não, a logística de férias é outra...”, salienta Henrique, pai de sete filhos. Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, daí a necessidade de apertar o cinto, redefinir prioridades e aderir a um modelo de organização quase empresarial, tentando tirar partido de algumas regalias. “Escolas e universidades onde a mensalidade é mais barata se lá tivermos mais do que um filho”, exemplifica o monitor.
A vida em família pode tornar-se uma maratona pela subsistência. A saída, segundo os especialistas em economia doméstica, é calcular os riscos e tirar proveito das oportunidades, sabendo de antemão que é necessário abrir mão de muitos projectos. Se o investimento global daria para satisfazer um punhado de sonhos, como uma casa luxuosa, automóveis topo de gama ou viagens à volta do Mundo, a maioria vê estas fantasias por um canudo.
Os bracarenses Maria Emília Marques e Narciso Gomes não são excepção. Gerentes comerciais, com 39 e 42 anos, contentam-se com as férias no Algarve, aproveitam as épocas de saldos e recorrem ao médico de família sempre que possível. Para que os quatro filhos possam ter uma educação esmerada, norteiam-se pelo ensino privado, esperançados num maior acompanhamento por parte de professores, educadores e técnicos auxiliares. “É sobretudo por causa da Joana, que tem dificuldades de aprendizagem e precisa de acompanhamento e programa de educação especial: começou por frequentar o ensino público, mas o apoio nunca foi efectivo”, diz o pai.
Para a família este é um novo ano de testes ao nível das despesas com a educação do benjamim Miguel, com oito meses, de Maria, 8 anos, André, 15, e Joana, com 16. Até agora, tinham três filhos no mesmo colégio e conseguiam um apoio de cerca de 50% da despesa mensal. Mas este ano André passou para o 10.º ano e transitou para outro estabelecimento. “Vamos ver até onde conseguimos ir. A formação dos filhos é fundamental e temos de lutar o máximo para lhes garantir a melhor formação que lhes pudermos disponibilizar”. Para já, cada coisa a seu tempo. Narciso e Emília não querem sequer pensar na universidade. “Isto é tipo uma escala. Cada ano, os encargos são maiores”.
Apesar do volume elevado de despesas, e do abono de 25 euros por filho, o casal não se arrepende do tamanho da prole, sem grandes planos para a engrossar ou colocar-lhe um travão. “Perde-se umas coisas, mas ganha-se outras. Podíamos ter outro tipo de vida, sair mais vezes e entrar noutro ritmo mais despesista. Mas assim temos uma vida mais familiar, almoçamos e jantamos em casa, há uma entreajuda muito grande entre todos nas tarefas diárias. Aprendemos a crescer uns com os outros e mais unidos. Viver assim, no meio desta sociedade tão materialista, dá-nos uma maior valorização da dimensão humana e uma grande estabilidade”.
SIMULAÇÃO PARA DUAS FAMÍLIAS
FAMÍLIA BETA (Coimbra)
RENDIMENTOS
Classe média/alta: o pai é professor universitário, e a mãe é técnica superior da Função Pública, a exercer um cargo de chefia. O rendimento mensal líquido total do casal Beta é 4200 euros.
HABITAÇÃO
Reside numa zona central da cidade, onde cada metro quadrado de habitação vale 2000 euros; cada filho implica mais 25m2 de casa (qualquer coisa como 50 mil euros, um equivalente a 1500 euros por ano).
Valor total ao fim dos 25 anos: 36 000 €
ALIMENTAÇÃO
O filho ingere três refeições por dia (custo unitário médio de 3 euros). Nos três primeiros anos o gasto é 60% deste montante; dos 9 aos 11 chega aos 90%. Depois vigora o valor “normal”.
Valor total ao fim dos 25 anos: 72 270 €
TRANSPORTES
Dos 3 aos 17, implica 40 km diários de deslocação em automóvel. No total isto representa 2600 euros ano; a partir dos 18 anos, dão um automóvel aos filhos e o custo de transporte passa para 5000 euros/ano.
Valor total ao fim dos 25 anos: 77 000 €
VESTUÁRIO
Compram a maioria da roupa em lojas “de marca”, de vez em quando nos saldos. O valor é maior entre os 12 e os 17 anos, quando as despesas anuais rondam os 1010 euros. Nos 6 primeiros anos gastam 60% desse valor.
Valor total ao fim dos 25 anos: 20 200 €
SAÚDE
Dados os actuais níveis de comparticipação da ADSE, e supondo um filho razoavelmente saudável, a média anual ronda os 400 euros para as despesas com médicos, dentistas, medicamentos e exames.
Valor total ao fim dos 25 anos: 10 000 €
A FACTURA MAIS PESADA: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
Até aos 3 anos, a criança é cuidada por uma ama (500 euros/mês). Depois frequenta um jardim infantil (com uma mensalidade de 300 euros). Segue-se um colégio privado dos 6 aos 17 (que pode custar até 5000/ano), mais várias actividades extracurriculares (300 euros/mês), mais 400 euros/ano em material de apoio. A partir dos 17 anos, o filho entra numa universidade pública, em Lisboa, onde paga 700 euros anuais de propinas. Os pais investem ainda cerca de 300 euros em despesas de alojamento.
Valor total ao fim dos 25 anos: 169 500 €
OUTRAS DESPESAS
Cada filho implica um acréscimo de gastos anuais em electricidade, água, roupa de cama, telefone, consumíveis diversos, etc. Supõe-se que isso vale 2 euros por dia até aos 12 anos e 3 euros por dia até aos 24.
Valor total ao fim dos 25 anos: 22 995 €
VALOR TOTAL
(Quase 140 mil contos, sem considerar o rendimento perdido, cerca de 270 900 euros, correspondentes ao número de horas despendidas com os filhos que poderiam ser canalizadas no emprego, no aproveitamento de horas extras e progressão de carreira profissional). Ao fim de uma vida de trabalho, 36 anos, o casal Beta terá ganho 2.160.000 euros.
31% desse rendimento será usado para pagar as despesas de criação e educação do seu filho único.
Custo Total: 678 875 €
FAMÍLIA ALFA (Cacém)
RENDIMENTOS
Classe média/baixa. O pai é técnico de manutenção de máquinas de frio numa empresa de Lisboa, e a mãe é assistente administrativa na Câmara de Odivelas. Rendimento mensal líquido total: 1700 euros.
HABITAÇÃO
Reside junto à linha de Sintra, onde cada metro quadrado de habitação vale 1000 euros; cada filho implica mais 15m2 de casa (o valor ronda os 15 mil euros, equivalentes a 450 euros por ano).
Valor total ao fim dos 25 anos: 10 800 €
ALIMENTAÇÃO
O filho ingere três refeições por dia (o que representa um custo unitário médio de 1,5 euros, metade dos Beta). Nos três primeiros anos o gasto é 60% deste montante; dos 9 aos 11 atinge também os 90%.
Valor total ao fim dos 25 anos: 36 146 €
TRANSPORTES
A família vai no seu carro para o centro de Lisboa. Com o filho, até aos 15 anos, fazem todos os dias mais 10 km. No total, isto representa 650 euros ano; a partir dos 14 anos, o filho gasta 45 euros/mês em transportes públicos.
Valor total ao fim dos 25 anos: 15 040 €
VESTUÁRIO
Compram a maioria da roupa em hipermercados e feiras, quase sempre nos saldos. Entre os 12 e os 17 anos, as despesas médias anuais 480 euros/ano. A partir dos 18 anos, ambas gastam apenas 80% desse valor de referência.
Valor total ao fim dos 25 anos: 9600 €
SAÚDE
Supondo que o filho não apresenta problemas excepcionais de saúde, estima-se uma média anual de 300 euros para cobrir as mesmas despesas relativas à família Beta nesta área.
Valor total ao fim dos 25 anos: 7500 €
A FACTURA MAIS PESADA: EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO
Até aos 6 anos, a criança permanece numa creche subsidiada (mensalidade de 100 euros). Depois ingressa no ensino oficial, gratuito, até aos 17. Com um grande esforço, no entanto, os pais Alfa pagam explicações nos últimos 3 anos (250 euros por mês). A partir dos 17 o filho entra numa universidade privada, em Lisboa, onde paga 3000 euros de propina anual durante os quatro anos de duração média do curso. Os papás inscrevem o filho em apenas uma actividade extracurricular, que consome mensalmente uma média de 100 euros.
Valor total ao fim dos 25 anos: 51 600 €
OUTRAS DESPESAS
Calcula-se que isto representa 1,5 euros (metade dos gastos da família Beta) por dia até aos 12 anos e 2 euros por dia até aos 24. Entre os 0 e os 11 as despesas atingem logo os 548 euros anuais.
Valor total ao fim dos 25 anos: 16 060 €
VALOR TOTAL
(Mais de 42 mil contos, sem considerar as perdas de rendimento para o casal, qualquer coisa como 64 500 euros, por também eles prescindirem de algum tempo despendido no trabalho, que poderia fazer a diferença na valorização do seu pecúlio no final do mês)
Ao fim de 36 anos de trabalho, o casal Alfa terá ganho cerca de 900 000 euros. 23% desse rendimento será usado para pagar as despesas de criação e educação do seu filho único.
Custo Total: 211 246 €
E QUANDO A FAMÍLIA CRESCE AINDA MAIS?
Haverá economias de escala na dimensão familiar (isto é, quanto mais filhos menos caro fica cada um)? Em algumas despesas, claro que sim: um pai que passa uma hora por dia com o filho não passará 4 horas por dia com os quatro filhos! Alguns livros escolares podem passar de irmão para irmão
há roupa que passa de irmão para irmão, muitas das viagens para transportar crianças podem combinar os trajectos de mais de um filho Mas na grande maioria das despesas não há economias de escala!
FAMÍLIA VAZ E GALA: 12 FILHOS
Rendimento mensal: 2000 euros
Abono: 4500 euros/mês
Habitação: 900 euros de renda mensal, duplex, sete assoalhadas, em Lisboa
Alimentação: cerca de 400 euros/mês
Transportes: 2 carrinhas, 70 euros por semana em gasolina
Saúde: despesas apenas de dentista e farmácia
Escola: 150 euros para todos + 80 livros * 15 euros
Vestuário: beneficiam da economia de escala e das trocas com outros casais
Férias: em casa de familiares em Oliveira do Bairro, e na zona de Lisboa
FAMÍLIA COSTA E CORREIA: 1 FILHA
Rendimento mensal: 1200 euros
Abono: 80 euros/mês
Habitação: casa própria, prestação mensal ao banco de 400 euros, três assoalhadas em Arruda-dos-Vinhos
Alimentação: mais de 100 euros mensais em leite, papas e fruta
Despesas com contas de casa: 100 euros
Transportes: carro com combustível a gás
Saúde: despesas de vacinação essencialmente (75 euros por cada uma das cinco contra a meningite)
Escola: a filha fica à guarda dos avós maternos. Aos três anos ingressará num infantário público perto de casa
Vestuário: só agora começam a comprar roupa, a maioria foi herdada ou oferecida
Férias: passadas na casa de Verão da família, na praia do Baleal
FAMÍLIA MARQUES GOMES: 4 FILHOS
Rendimento mensal: 2800 euros
Abono: 100 euros/mês
Habitação: moradia T4, c/ empréstimo bancário, São Lázaro, Braga
Alimentação: 1000 euros por mês
Transportes: um monovolume
Saúde: Despesas reduzidas. Raramente estão doentes e procuram sempre o médico de família.
Escola: 470 euros/mês, 90 euros por mês para a creche do bebé, 500 euros em livros e material escolar
Vestuário: preferem os saldos no início de cada época
Férias: passadas na praia, em Portugal (normalmente duas semanas no Algarve)
PRESTAÇÕES AQUÉM DO IDEAL
APOIO SOCIAL ÀS FAMÍLIAS
Distante de um regime de Segurança Social exemplar, como o francês que inclui o subsídio de nascimento (830 euros), de base (166 euros até aos três anos) e o de início de aulas para os agregados desfavorecidos – 265 euros), o português é mais modesto. Licença de maternidade e paternidade, subsídio de nascimento e aleitação, abono de família para crianças e jovens, são as principais prestações pecuniárias, de montante variável. Em Maio, o total de titulares de prestações familiares era 1 640 871.
MAIS VELHO E COM FAMÍLIAS MENOS NUMEROSAS: O PAÍS EM NÚMEROS
106 081 nados vivos (menos 2,9% do que em 2003)
108,7% é o índice de idosos por cada 100 jovens até aos 14 anos
1,4 número médio de filhos por mulher, idêntico à média geral europeia
71% das famílias têm no máximo 3 filhos
OS FARDOS DE UM SISTEMA DESIGUAL
João de Melo, 43 Anos. Economista, autor do estudo ‘Quanto Custa um Filho’, apresentado no Centro Integrado de Apoio Familiar de Coimbra, em 2004.
- No seu trabalho parte de um cenário evidente: o da quebra da natalidade. Temos cada vez menos filhos porque eles ‘saem’ cada vez mais caros?
- A decisão de ter ou não filhos resulta de um conjunto complexo de factores. Mas a abrupta queda do nível de vida que se segue à sua geração ajuda a que poucos arrisquem ir além de um ou dois filhos, apesar de os inquéritos mostrarem que os portugueses gostavam de ter mais filhos.
- Alerta também para o ‘síndroma do cuco’. Em que consiste?
- O cuco é um pássaro que põe os ovos nos ninhos dos outros e deixa que sejam outros a cuidar do futuro da sua espécie. Suponhamos uma sociedade constituída por dois casais de igual rendimento: os Silva, com 4 filhos, e os Lopes, que decidem não ter filhos. Na idade de aposentação, quem vai pagar ambas as reformas vai ser a geração seguinte, isto é, os filhos dos Silva! Ou seja: são os que têm filhos que arcam com a parte de leão das despesas de criação da geração seguinte cujo trabalho permitirá pagar tanto as suas reformas como as dos outros (que não tiveram despesas): é como se os Lopes pusessem os ovos no ninho dos Silva O nosso actual sistema socializou os benefícios da geração de filhos mas manteve privados os seus custos.
- Como repor então o equilíbrio social?
- Se socializámos, no pós-II Guerra, os benefícios de ter filhos, talvez seja justo que socializemos também uma parte significativa dos custos, de forma a que todos (mesmo os que resolvem não ter filhos) paguem mais por igual a formação da nova geração da qual, em última análise, todos beneficiam.
Maria Ramos Silva com Mário Fernandes
In CM
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