Para quem "batia na barriga", "lustrosa e acima da crise", eis que os números agora lançados à discussão levantam o véu que tapava outra realidade (embora aqui seja mais... "quando a cabeça não tem juízo..."):
"A subida dos juros está a penalizar fortemente o orçamento das famílias portuguesas. Junto dos gabinetes de apoio ao endividamento da Associação para a Defesa do Consumidor (Deco) começam a aparecer casos de famílias com rendimentos mensais da ordem dos três, quatro e cinco mil euros, que não conseguem pagar as prestações dos empréstimos que contraíram, um facto que, segundo os especialistas, “seria impensável há três anos”.
Na semana passada uma família que mora em Lisboa e tem um rendimento mensal de 5800 euros recorreu aos gabinetes da Deco por não conseguir pagar todas as prestações dos empréstimos entretanto contraídos.
“Temos registado quer um aumento das situações de incumprimento quer um agravamento no tipo de casos multiendividamento”, afirmou ao Correio da Manhã Natália Nunes, coordenadora dos gabinetes de endividamento da Deco.
De acordo com aquela responsável “estão a aparecer frequentemente pessoas com seis e sete empréstimos em simultâneo, quando há três anos os casos mais graves de multiendividamento diziam respeito a pessoas com dois e três empréstimos”.
Natália Nunes dá exemplos de casos ocorridos com cartões de crédito e créditos pessoais, em que os titulares acumularam dívidas da ordem dos 60 e 70 mil euros.
Existe também uma crescente preocupação por parte dos consumidores “na obtenção de conselhos que permitam renegociar os empréstimos junto da Banca”. O aumento da prestação no crédito à habitação, por força da subida dos juros, tem um peso significativo nos orçamentos familiares. A taxa Euribor a seis meses (principal indexante no crédito à habitação) subiu cerca de 35 por cento, com a prestação de um crédito de 150 mil euros a 25 anos, a aumentar 166 euros por mês. “Existem taxas de esforço (relação entre o rendimento mensal e o dinheiro afecto aos empréstimos) elevadíssimas”, diz Natália Nunes, acrescentando que, “quando a Deco iniciou o projecto dos gabinetes de endividamento, recebia casos de pessoas com dois ou três empréstimos. Actualmente estamos a atender situações de consumidores com sete e oito empréstimos em simultâneo”.
Segundo números da Deco, desde Janeiro até ao dia 30 de Agosto foram abertos junto dos gabinetes de endividamento 527 novos processos, o que compara com os 470 abertos no período homólogo de 2005.
Mas nem tudo são más notícias. Do lado dos bancos e das instituições financeiras “existe uma maior flexibilidade e abertura na renegociação das condições dos empréstimos”, realça Natália Nunes.
COMISSÃO PREOCUPADA
A Comissão Europeia alertou ontem para a situação “inquietante” de um aumento das taxas de juro para as famílias com empréstimos hipotecários a uma taxa de juro variável como é o caso maioritário em Portugal.
“Taxas de juro mais elevadas terão provavelmente um impacto maior nas famílias que contraíram um empréstimo a uma taxa variável”, assinala o relatório trimestral sobre a situação económica na zona euro publicado em Bruxelas.
Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e Finlândia são apontados como sendo os países onde os empréstimos com taxa variável têm “tendência a ser predominantes”.
Segundo o relatório da Comissão Europeia, no final de 2005 a dívida das famílias era superior a 60 por cento do PIB em metade dos Estados-membros da Zona Euro – Portugal, Espanha, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo, Holanda – e estava acima dos 70 nos últimos três.
SUBIDA INÉDITA NA DÍVIDA
Na próxima quinta-feira o Banco Central Europeu deverá subir outra vez os juros. Se a tendência para a subida se mantiver em 2007, haverá, segundo a Comissão Europeia, um aumento inédito na dívida das famílias de alguns Estados-membros. É o caso, por exemplo, da Irlanda, onde a dívida subirá para 120 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), Holanda (100 por cento) ou Espanha (95 por cento do PIB).
“Estados-membros com este rácio de endividamento das famílias parecem particularmente vulneráveis a um aumento dos custos de serviço da dívida que um aumento das taxas de juro envolve, com implicações negativas para a despesa de consumo privado”, sublinha o relatório.
Em Portugal e Luxemburgo esta percentagem poderá estar entre os 70 e os 80 por cento.
No relatório, a Comissão estima que o crescimento económico na Zona Euro no segundo semestre do ano deverá ser “melhor do que se esperava” (alcançou os 3,4 por cento no primeiro semestre) e incentiva os Estados-membros a melhorar o funcionamento do mercado de trabalho.
NOTAS
INCUMPRIMENTO
A responsável pelos gabinetes de endividamento da Deco lamenta que as pessoas recorram à Associação “já quando se encontram numa fase de incumprimento”, o que torna mais difícil a solução das situações.
LISBOA E PORTO
Apesar do encerramento de várias fábricas, em especial no Norte do País, não tem existido um crescimento específico do sobreendividamento em nenhuma zona do País. Lisboa e Porto lideram os processos, seguidos de Coimbra e Santarém. Nos meios mais fechados, por vergonha ou falta de informação, são menos os casos conhecidos de sobreendividamento.
CARÊNCIA ECONÓMICA
Para além dos casos tradicionais de sobreendividamento começam a aparecer regularmente junto dos gabinetes da Deco casos de “verdadeira carência económica”. Situações de pessoas com empréstimos, mas que não têm sequer dinheiro para fazer face às despesas normais do dia-a-dia."
http://www.correiodamanha.pt/noticia...dCanal=181&p=0
"A subida dos juros está a penalizar fortemente o orçamento das famílias portuguesas. Junto dos gabinetes de apoio ao endividamento da Associação para a Defesa do Consumidor (Deco) começam a aparecer casos de famílias com rendimentos mensais da ordem dos três, quatro e cinco mil euros, que não conseguem pagar as prestações dos empréstimos que contraíram, um facto que, segundo os especialistas, “seria impensável há três anos”.
Na semana passada uma família que mora em Lisboa e tem um rendimento mensal de 5800 euros recorreu aos gabinetes da Deco por não conseguir pagar todas as prestações dos empréstimos entretanto contraídos.
“Temos registado quer um aumento das situações de incumprimento quer um agravamento no tipo de casos multiendividamento”, afirmou ao Correio da Manhã Natália Nunes, coordenadora dos gabinetes de endividamento da Deco.
De acordo com aquela responsável “estão a aparecer frequentemente pessoas com seis e sete empréstimos em simultâneo, quando há três anos os casos mais graves de multiendividamento diziam respeito a pessoas com dois e três empréstimos”.
Natália Nunes dá exemplos de casos ocorridos com cartões de crédito e créditos pessoais, em que os titulares acumularam dívidas da ordem dos 60 e 70 mil euros.
Existe também uma crescente preocupação por parte dos consumidores “na obtenção de conselhos que permitam renegociar os empréstimos junto da Banca”. O aumento da prestação no crédito à habitação, por força da subida dos juros, tem um peso significativo nos orçamentos familiares. A taxa Euribor a seis meses (principal indexante no crédito à habitação) subiu cerca de 35 por cento, com a prestação de um crédito de 150 mil euros a 25 anos, a aumentar 166 euros por mês. “Existem taxas de esforço (relação entre o rendimento mensal e o dinheiro afecto aos empréstimos) elevadíssimas”, diz Natália Nunes, acrescentando que, “quando a Deco iniciou o projecto dos gabinetes de endividamento, recebia casos de pessoas com dois ou três empréstimos. Actualmente estamos a atender situações de consumidores com sete e oito empréstimos em simultâneo”.
Segundo números da Deco, desde Janeiro até ao dia 30 de Agosto foram abertos junto dos gabinetes de endividamento 527 novos processos, o que compara com os 470 abertos no período homólogo de 2005.
Mas nem tudo são más notícias. Do lado dos bancos e das instituições financeiras “existe uma maior flexibilidade e abertura na renegociação das condições dos empréstimos”, realça Natália Nunes.
COMISSÃO PREOCUPADA
A Comissão Europeia alertou ontem para a situação “inquietante” de um aumento das taxas de juro para as famílias com empréstimos hipotecários a uma taxa de juro variável como é o caso maioritário em Portugal.
“Taxas de juro mais elevadas terão provavelmente um impacto maior nas famílias que contraíram um empréstimo a uma taxa variável”, assinala o relatório trimestral sobre a situação económica na zona euro publicado em Bruxelas.
Portugal, Espanha, Irlanda, Itália e Finlândia são apontados como sendo os países onde os empréstimos com taxa variável têm “tendência a ser predominantes”.
Segundo o relatório da Comissão Europeia, no final de 2005 a dívida das famílias era superior a 60 por cento do PIB em metade dos Estados-membros da Zona Euro – Portugal, Espanha, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo, Holanda – e estava acima dos 70 nos últimos três.
SUBIDA INÉDITA NA DÍVIDA
Na próxima quinta-feira o Banco Central Europeu deverá subir outra vez os juros. Se a tendência para a subida se mantiver em 2007, haverá, segundo a Comissão Europeia, um aumento inédito na dívida das famílias de alguns Estados-membros. É o caso, por exemplo, da Irlanda, onde a dívida subirá para 120 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), Holanda (100 por cento) ou Espanha (95 por cento do PIB).
“Estados-membros com este rácio de endividamento das famílias parecem particularmente vulneráveis a um aumento dos custos de serviço da dívida que um aumento das taxas de juro envolve, com implicações negativas para a despesa de consumo privado”, sublinha o relatório.
Em Portugal e Luxemburgo esta percentagem poderá estar entre os 70 e os 80 por cento.
No relatório, a Comissão estima que o crescimento económico na Zona Euro no segundo semestre do ano deverá ser “melhor do que se esperava” (alcançou os 3,4 por cento no primeiro semestre) e incentiva os Estados-membros a melhorar o funcionamento do mercado de trabalho.
NOTAS
INCUMPRIMENTO
A responsável pelos gabinetes de endividamento da Deco lamenta que as pessoas recorram à Associação “já quando se encontram numa fase de incumprimento”, o que torna mais difícil a solução das situações.
LISBOA E PORTO
Apesar do encerramento de várias fábricas, em especial no Norte do País, não tem existido um crescimento específico do sobreendividamento em nenhuma zona do País. Lisboa e Porto lideram os processos, seguidos de Coimbra e Santarém. Nos meios mais fechados, por vergonha ou falta de informação, são menos os casos conhecidos de sobreendividamento.
CARÊNCIA ECONÓMICA
Para além dos casos tradicionais de sobreendividamento começam a aparecer regularmente junto dos gabinetes da Deco casos de “verdadeira carência económica”. Situações de pessoas com empréstimos, mas que não têm sequer dinheiro para fazer face às despesas normais do dia-a-dia."
http://www.correiodamanha.pt/noticia...dCanal=181&p=0
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