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500 anos - 19 Abril de 1506

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    500 anos - 19 Abril de 1506

    Pelo que nestes dois capítulos, que são já derradeiros desta primeira parte tratarei de um tumulto, e levantamento, que aos dezanove dias de Abril, deste ano de mil quinhentos e seis, em Domingo de Pascoela fez em Lisboa contra os cristãos-novos, que foi pela maneira seguinte.

    No mosteiro de São Domingos da dita cidade estava uma capela a que chamava de Jesus, e nela um crucifixo, em que foi então visto um sinal, a que davam cor de milagre, com quanto os que na igreja se acharam julgavam ser o contrário dos quais um cristão-novo disse que lhe parecia uma candeia acesa que estava posta no lado da imagem de Jesus, o que ouvindo alguns homens baixos o tiraram pelos cabelos de arrasto para fora da igreja, e o mataram, e queimaram logo o corpo no Rossio.

    Ao qual alvoroço acudiu muito povo, a quem um frade fez uma pregação convocando-os contra os cristãos-novos, após o que saíram dois frades do mosteiro, com um crucifixo nas mãos bradando, heresia, heresia, o que imprimiu tanto em muita gente estrangeira, popular, marinheiros de naus, que então vieram da Holanda, Zelândia, e outras partes, ali homens da terra, da mesma condição, e pouca qualidade, que juntos mais de quinhentos, começaram a matar todos os cristãos-novos que achavam pelas ruas, e os corpos mortos, e os meio vivos lançavam e queimavam em fogueiras que tinham feitas na Ribeira e no Rossio a qual negócio lhes serviam escravos e moços que com muita diligência acarretavam lenha e outros materiais para acender o fogo, no qual Domingo de Pascoela mataram mais de quinhentas pessoas.

    A esta turma de maus homens, e dos frades, que sem temor de Deus andavam pelas ruas concitando o povo a esta tamanha crueldade, se ajuntaram mais de mil homens da terra, da qualidade dos outros, que todos juntos segunda-feira continuaram nesta maldade com maior crueza, e por já nas ruas não acharem cristãos-novos, foram cometer com vaivéns e escadas as casas em que viviam, ou onde sabiam que estavam, e tirando-os delas de arrasto pelas ruas, com seus filhos, mulheres, e filhas, os lançavam de mistura vivos e mortos nas fogueiras, sem nenhuma piedade, e era tamanha a crueza que até nos meninos, e nas crianças que estavam no berço a executavam, tomando-os pelas pernas fendendo-os em pedaços, e esborrachando-os de arremesso nas paredes.

    Nas quais cruezas não se esqueceram de meter a saque as casas, e roubar todo o ouro, prata, e enxovais que nelas acharam, vindo o negócio a tanta dissolução que das igrejas tiraram muitos homens, mulheres, moços, moças, destes inocentes, despegando-os dos Sacrários, e das imagens de nosso Senhor, e de nossa Senhora, e outros Santos, com que o medo da morte os tinha abraçado, e dali os tiraram, matando e queimando sem nenhum temor a Deus assim a elas como a eles.

    Neste dia pereceram mais de mil almas, sem que na cidade alguém ousasse de resistir, pela pouca gente de sorte que nela havia por estarem os mais dos honrados fora, por causa da peste. E se os alcaides, e outras justiças, queriam acudir a tamanho mal, achavam tanta resistência, que eram forçados a se recolher a parte onde estivessem seguros, de não acontecer o mesmo que aos cristãos-novos.
    (…)

    Passado este dia, que era o segundo desta perseguição, tornaram terça-feira este danados homens a prosseguir a sua crueza, mas não tanto quanto nos outros dias porque já não achavam quem matar, pois todos os cristãos-novos que escaparam desta tamanha fúria, serem postos a salvo por pessoas honradas, e piedosas que nisto trabalharam tudo o que neles foi.”



    Damião de Góis (1502-1574), in “Chronica do Felicissimo Rey D. Emanuel da Gloriosa Memória”, escrito em Lisboa entre 1566 e 1567. Historiador e humanista, Guarda-Mor dos Arquivos Reais da Torre do Tombo

    #2
    Na tarde daquele dia, acudiram à cidade o Regedor Aires da Silva e o Governador Dom Álvaro de Castro, com a gente que puderam juntar, mas (tudo) já estava quase acabado.
    Deram a notícia a el-Rei, na vila de Avis, (o qual) logo enviou o Prior do Crato e Dom Diogo Lopo, Barão de Alvito, com poderes especiais para castigarem os culpados.

    Muitos deles foram presos e enforcados por justiça, principalmente os portugueses, porque os estrangeiros, com os roubos e despojo, acolheram-se às suas naus e seguiram nelas cada qual o seu destino.

    (Quanto) aos dois frades, que andaram com o Crucifixo pela cidade, tiraram-lhes as ordens e, por sentença, foram queimados.»

    Damião de Góis, na «Crónica de D.Manuel I», capítulo CII da Parte I.

    Comentário


      #3
      Relato no mínimo impressionante, que eu desconhecia.
      De que tumultos trata? Cristãos-novos? Ca raio... :D

      Comentário


        #4
        O problema é que esta brutalidade está latente em todos os seres humanos. Basta reunir as condições necessárias para acontecer novamente... sendo a religião um dos pretextos mais fáceis para atiçar as bestas...

        Comentário


          #5
          Por acaso, conhecia...
          Mas só podias ser tu a lembrares isso à malta, eh, eh.
          J.R. quer dizer o quê?
          Joshua Rabinovitz?

          Comentário


            #6
            Tem piada, ainda hoje estive a falar nisso...

            A versão de Damião de Góis aqui: http://ruadajudiaria.com/index.php?p=502

            E nas palavras de um Judeu aqui:

            “500 Anos: O massacre de Lisboa II
            March 17th, 2006

            Testemunhos

            A matança que ocorreu lá, em Lisboa:
            Estando eu fora da cidade, contaram-me dias depois ao regressar que os dois não podem ser comparados, tendo em comum apenas a crueldade e a extrema dor1. O que me contou um ancião é o que a seguir relato.
            Na noite de Páscoa os cristãos encontraram marranos2 sentados à mesa com pão ázimo e ervas amargas, seguindo os rituais da Páscoa, e trouxeram-nos perante o rei, que ordenou que fossem eles encarcerados na prisão até que a sentença fosse determinada. Naquela altura havia fome e seca pelo reino, e os cristãos juntaram-se e disseram: “Porque faz o Senhor isto a nós e à nossa terra senão por causa da culpa dos judeus?” E as suas palavras foram ouvidas pela Ordem dos Pregadores também chamados Dominicanos, que se concentraram em encontrar um ardil com que ajudar os cristãos. Então um deles levantou-se na sua casa de oração e pregou palavras ásperas e amargas contra a semente de Israel. E eles planearam um artifício e fizeram um crucifixo oco com uma abertura atrás, e vidro na frente, e por lá passavam uma vela, dizendo que a chama emergia do crucifixo, enquanto o povo se prostrava e gritava: “Vede o grande milagre! Este é um sinal de que Deus julga pelo fogo toda a semente de Israel!”
            Um marrano foi lá que não ouvira estas palavras e, na sua inocência, disse: “Era melhor que fosse um milagre de água e não de fogo, pois com a seca é de água que precisamos!”
            Os cristãos, cujos desígnios eram funestos, levantaram-se e disseram: “Olhai, que zomba ele de nós!” A multidão de imediato o pegou e matou. Quando o seu irmão ouviu, veio e disse: “Infortúnio, ai meu irmão, quem te matou?” E um de entre a multidão ergueu a espada, cortou-lhe a cabeça e a atirou sobre o corpo do irmão. Depois disto todos os frades se levantaram levando consigo os paus de Jesus Cristo3. Foram eles pelas ruas da cidade e proclamaram: “Quem matar algum da semente de Israel terá 100 dias de absolvição no mundo vindouro!” E de entre a multidão surgiram homens armados de espadas e durante três dias mataram quatro mil almas. Arrastavam e traziam para a rua os corpos para os queimar. Mulheres grávidas foram atiradas das janelas, os seus corpos recebidos pelas pontas das lanças, os fetos caindo a muitos pés de distância. E outras crueldades semelhantes e abominações que não quero aqui contar.
            Aos magistrados de Lisboa não se pode culpar, nem aos seus nobres e líderes, porque tudo isto foi feito apesar deles. Eles próprios foram tentar salvar judeus, mas por causa do tamanho da multidão não o puderam fazer, pois quase lhes puseram as mãos neles também, e eles tiveram de fugir para salvar as próprias vidas.”

            Salomão Ibn Verga, in Sefer Shebet Yehudah (#1505;#1508;#1512; #1513;#1489;#1496; #1497;#1492;#1493;#1491;#1492;), Livro do Ceptro de Judá, escrito em Portugal pouco depois do massacre de Lisboa mas publicado apenas em 1550, em Constantinopla, pelo seu filho, Yosef Ibn Verga.

            NOTAS:
            1 Salomão Ibn Verga alude aqui aos dois massacres: o ocorrido dentro de Lisboa e o subsequente que se alastrou pelas áreas rurais circundantes.
            2 “Anussim” (#1488;#1504;#1493;#1505;#1497;#1501;) no hebraico original do texto, expressão que literalmente quer dizer “os forçados”. Termo aplicado aos judeus portugueses forçados a converter-se ao catolicismo.
            3 (#1506;#1510;#1497; #1497;#1513;#1493; #1492;#1504;#1493;#1510;#1512;#1497;) referência pejorativa aos crucifixos.“

            Mais informação aqui:
            http://ruadajudiaria.com/

            Comentário


              #7
              citação:Originalmente colocada por Leonardo Sinisgalli

              Por acaso, conhecia...
              Mas só podias ser tu a lembrares isso à malta, eh, eh.
              J.R. quer dizer o quê?
              Joshua Rabinovitz?
              Olha outro.
              Respondo-te como respondi ao DIPLO:

              Não... e se fosse????;)

              Comentário


                #8
                Aconselho o "O Último Cabalista de Lisboa" de Richard Zimler sobre essa questão

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                  #9
                  E já agora, lembrem-se das alheiras...

                  Comentário


                    #10
                    citação:Originalmente colocada por ebay

                    E já agora, lembrem-se das alheiras...
                    Porra, ainda é cedo para me deixares já com fome, não? :D
                    Só por causa disso, hoje vou almoçar alheira. Seu Judas! :D

                    Comentário


                      #11
                      citação:Originalmente colocada por J.R.

                      citação:Originalmente colocada por Leonardo Sinisgalli

                      Por acaso, conhecia...
                      Mas só podias ser tu a lembrares isso à malta, eh, eh.
                      J.R. quer dizer o quê?
                      Joshua Rabinovitz?
                      Olha outro.
                      Respondo-te como respondi ao DIPLO:

                      Não... e se fosse????;)
                      Se fosses... Eras... E depois?
                      De qualquer forma, "Joshua Rabinovitz" não serás, mas algo de parecido, já não tenho grandes dúvidas, o que é capaz de prejudicar o teu distanciamento relativamente ao assunto debatido no outro tópico (de onde tenho andado ausente, mas tenho tido pouco tempo - sorry).

                      Comentário


                        #12
                        ...por estas e por outras é q nao tenho qq crença ou religião !

                        Comentário


                          #13
                          citação:Originalmente colocada por Leonardo Sinisgalli

                          citação:Originalmente colocada por J.R.

                          citação:Originalmente colocada por Leonardo Sinisgalli

                          Por acaso, conhecia...
                          Mas só podias ser tu a lembrares isso à malta, eh, eh.
                          J.R. quer dizer o quê?
                          Joshua Rabinovitz?
                          Olha outro.
                          Respondo-te como respondi ao DIPLO:

                          Não... e se fosse????;)
                          Se fosses... Eras... E depois?
                          De qualquer forma, "Joshua Rabinovitz" não serás, [u]mas algo de parecido</u>, já não tenho grandes dúvidas,
                          Dúvidas talvez não tenhas.... mas enganado estás:D.

                          Tá visto que vou ter que ser eu a desenterrar os massacres de cristãos às mãos de Judeus[}][}][}].
                          Vai ser bonito vai:D.

                          Comentário


                            #14
                            A história tende a repetir-se

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