Arqueologia: Menino do Lapedo é "lição de tolerância" para a humanidade - Erik Trinkaus
Leiria, 05 Jan (Lusa) - O antropológo Erik Trinkaus considerou hoje em Leiria que o passado genético do Menino do Lapedo é uma "lição de tolerância" para a humanidade porque confirma a sã convivência entre neanderthais e o homem moderno.
"Sabemos que os Neanderthais e o Homo Sapiens (homem moderno) praticaram sexo mas, mais importante que isso, criaram redes culturais e sociais comuns, vendo-se como parceiros, amigos e pessoas", afirmou Trinkaus, que é considerado um dos maiores antropólogos do mundo, recordando que esta descoberta constitui uma "lição de tolerância" para a sociedade actual onde ainda existe racismo e intolerância dentro da mesma espécie.
Há 40 mil anos, quando os Neanderthais e os Homo Sapiens se conheceram "viram-se como pessoas e as populações misturavam-se", salientou.
"Eles viviam em comunidades, mesmo sendo espécies diferentes e os Neanderthais, a pouco e pouco, foram absorvidos" pelos primeiros homens modernos, recorda este docente da Universidade de Washington, em Saint Louis, que tem coordenado algumas das mais recentes descobertas que confirmam a ligação entre os dois ramos da árvore da evolução humana.
O Menino do Lapedo, descoberto há dez anos de uma forma fortuita por um finalista de História do Património e por dois elementos do Instituto Português de Arqueologia (IPA), constitui o "pontapé de saída" para uma revolução na forma de perceber a evolução humana no Paleolítico Superior.
Depois deste esqueleto, com 25 mil anos, foram encontrados outros fósseis, entre os quais um crânio na Roménia dez mil anos mais velho, que "têm traços de homem moderno mas contam histórias genéticas de ligação com os Neanderthais", explicou Erik Trinkaus.
No caso do Lapedo, verificaram-se também "rituais de enterramento muito elaborados, uma situação única na Europa neste período".
A miscigenação e o cruzamento dos Neanderthais e do Homo Sapiens era uma teoria que "tinha já 50 anos mas este é o primeiro esqueleto onde isso é evidente", disse.
"Sabemos que os homens modernos surgiram na África oriental e durante 150 mil anos estiveram lá o que sugere que eles não eram assim tão mais avançados" relativamente aos restantes hominídeos mas, "há cerca de 50 mil anos, eles começaram a espalhar-se pela Eurásia".
Cerca de 15 mil anos depois, "Portugal tornou-se no fim do caminho dessa emigração" e dessa absorção dos Neanderthais pelo Homo Sapiens, acrescentou.
Por seu turno, João Zilhão, actual professor catedrático de arqueologia paleolítica da Universidade de Bristol (Inglaterra), recordou os primeiros trabalhos de escavação no Lapedo, que acompanhou desde o início apesar de então ser director do IPA.
"Eu sei que há muitos directores de cadeirão na administração pública mas não era o meu caso", sorri, justificando assim a ida para o campo logo no início das escavações.
"Este achado era directamente relevante para os meus temas de investigação" e "imediatamente vim ver o que é que se passava", tendo encontrado um "potencial científico" muito grande.
Depois, os estudos subsequentes confirmaram a herança genética comum entre Neanderthais e homem moderno, constituindo uma "prova muito forte da mistura das duas espécies que depois foi reforçada com novos achados, nomeadamente na Roménia", acrescentou o investigador, que hoje abordou, durante uma conferência cientifica, os rituais fúnebres no Paleolítico em toda a Europa.
Uma das estrelas do novo centro de interpretação do Lagar Velho, no Lapedo, que foi hoje inaugurado, é uma réplica do rosto do menino, criada por Brian Pierson, antropólogo da Universidade de Tulane (Nova Orleães) e especialista em reconstituições faciais forenses, tendo estado ligado à criação de efeitos especiais de filmes como "Titanic", "Alien - o regresso" ou "Star Trek".
A face do menino foi assim produzida através de uma técnica de prototipagem rápida, tendo sido depois utilizado barro, referiu o investigador norte-americano, que classificou as exigências técnicas e cientificas desta reconstituição como um dos maiores desafios da sua carreira.
No início da conferência, que teve lugar no Instituto Politécnico de Leiria, concentraram-se alguns arqueólogos dispensados pelo IPA para tentar falar com algum responsável da instituição mas não foram atendidos naquele momento.
PJA.
Lusa/Fim
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-01-05 19:10:01
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php...sual=26&tema=5
Leiria, 05 Jan (Lusa) - O antropológo Erik Trinkaus considerou hoje em Leiria que o passado genético do Menino do Lapedo é uma "lição de tolerância" para a humanidade porque confirma a sã convivência entre neanderthais e o homem moderno.
"Sabemos que os Neanderthais e o Homo Sapiens (homem moderno) praticaram sexo mas, mais importante que isso, criaram redes culturais e sociais comuns, vendo-se como parceiros, amigos e pessoas", afirmou Trinkaus, que é considerado um dos maiores antropólogos do mundo, recordando que esta descoberta constitui uma "lição de tolerância" para a sociedade actual onde ainda existe racismo e intolerância dentro da mesma espécie.
Há 40 mil anos, quando os Neanderthais e os Homo Sapiens se conheceram "viram-se como pessoas e as populações misturavam-se", salientou.
"Eles viviam em comunidades, mesmo sendo espécies diferentes e os Neanderthais, a pouco e pouco, foram absorvidos" pelos primeiros homens modernos, recorda este docente da Universidade de Washington, em Saint Louis, que tem coordenado algumas das mais recentes descobertas que confirmam a ligação entre os dois ramos da árvore da evolução humana.
O Menino do Lapedo, descoberto há dez anos de uma forma fortuita por um finalista de História do Património e por dois elementos do Instituto Português de Arqueologia (IPA), constitui o "pontapé de saída" para uma revolução na forma de perceber a evolução humana no Paleolítico Superior.
Depois deste esqueleto, com 25 mil anos, foram encontrados outros fósseis, entre os quais um crânio na Roménia dez mil anos mais velho, que "têm traços de homem moderno mas contam histórias genéticas de ligação com os Neanderthais", explicou Erik Trinkaus.
No caso do Lapedo, verificaram-se também "rituais de enterramento muito elaborados, uma situação única na Europa neste período".
A miscigenação e o cruzamento dos Neanderthais e do Homo Sapiens era uma teoria que "tinha já 50 anos mas este é o primeiro esqueleto onde isso é evidente", disse.
"Sabemos que os homens modernos surgiram na África oriental e durante 150 mil anos estiveram lá o que sugere que eles não eram assim tão mais avançados" relativamente aos restantes hominídeos mas, "há cerca de 50 mil anos, eles começaram a espalhar-se pela Eurásia".
Cerca de 15 mil anos depois, "Portugal tornou-se no fim do caminho dessa emigração" e dessa absorção dos Neanderthais pelo Homo Sapiens, acrescentou.
Por seu turno, João Zilhão, actual professor catedrático de arqueologia paleolítica da Universidade de Bristol (Inglaterra), recordou os primeiros trabalhos de escavação no Lapedo, que acompanhou desde o início apesar de então ser director do IPA.
"Eu sei que há muitos directores de cadeirão na administração pública mas não era o meu caso", sorri, justificando assim a ida para o campo logo no início das escavações.
"Este achado era directamente relevante para os meus temas de investigação" e "imediatamente vim ver o que é que se passava", tendo encontrado um "potencial científico" muito grande.
Depois, os estudos subsequentes confirmaram a herança genética comum entre Neanderthais e homem moderno, constituindo uma "prova muito forte da mistura das duas espécies que depois foi reforçada com novos achados, nomeadamente na Roménia", acrescentou o investigador, que hoje abordou, durante uma conferência cientifica, os rituais fúnebres no Paleolítico em toda a Europa.
Uma das estrelas do novo centro de interpretação do Lagar Velho, no Lapedo, que foi hoje inaugurado, é uma réplica do rosto do menino, criada por Brian Pierson, antropólogo da Universidade de Tulane (Nova Orleães) e especialista em reconstituições faciais forenses, tendo estado ligado à criação de efeitos especiais de filmes como "Titanic", "Alien - o regresso" ou "Star Trek".
A face do menino foi assim produzida através de uma técnica de prototipagem rápida, tendo sido depois utilizado barro, referiu o investigador norte-americano, que classificou as exigências técnicas e cientificas desta reconstituição como um dos maiores desafios da sua carreira.
No início da conferência, que teve lugar no Instituto Politécnico de Leiria, concentraram-se alguns arqueólogos dispensados pelo IPA para tentar falar com algum responsável da instituição mas não foram atendidos naquele momento.
PJA.
Lusa/Fim
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.
2008-01-05 19:10:01
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Arqueologia: Vale do Lapedo quer candidatar-se a Património Mundial da UNESCO dentro de dez anos
Leiria, 05 Jan (Lusa) - O Vale do Lapedo (Leiria), em conjunto com outros locais de relevância arqueológica do Paleolítico Superior, deverão candidatar-se a Património Mundial da UNESCO dentro de dez anos, revelou hoje um dos investigadores portugueses.
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php...sual=26&tema=5
Leiria, 05 Jan (Lusa) - O Vale do Lapedo (Leiria), em conjunto com outros locais de relevância arqueológica do Paleolítico Superior, deverão candidatar-se a Património Mundial da UNESCO dentro de dez anos, revelou hoje um dos investigadores portugueses.
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php...sual=26&tema=5
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