Deputado socialista classifica como "estapafúrdias" opções de Correia de Campos
Manuel Alegre alerta para "erro colossal" da política de Saúde do Governo
19.01.2008 - 10h44 Lusa
O ex-candidato presidencial independente e deputado socialista, Manuel Alegre, teceu hoje duras críticas à reforma dos serviços de saúde, considerando que se trata de um "erro colossal" e de uma política "estapafúrdia" do actual Governo.
"As pessoas vão passar a nascer em casa ou a morrer em casa, para além daqueles que já andam a nascer pelo caminho", ironizou, ao abordar numa entrevista à jornalista Flor Pedroso, da Antena 1 - que vai para o ar ao 12h00 - a desertificação dos serviços públicos no interior.
Manuel Alegre confirmou que vai assinar uma petição em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), liderada pelo histórico do PS, António Arnaut, e que junta, entre outros, elementos do Bloco de Esquerda e do PCP. "A esquerda moderna deve reforçar o Estado social e não desmantelar o Estado social", declarou, sublinhando que, no poder, esta deveria garantir o reforço e viabilidade do SNS. "Estaria a mentir se dissesse que me reconheço (no actual Governo). Não, não me reconheço", afirmou.
"Parece que é isto que se está a fazer (desmantelar)", disse, acrescentando "não compreender esta política, não só das taxas moderadoras para tratamentos e cirurgias (uma dupla tributação), como a extinção de urgências e de Serviços de Atendimento Permanente e o encerramento de maternidades em zonas do interior, seja qual for a fundamentação técnica". "Isso é um erro colossal, porque as pessoas se sentem desprotegidas e abandonadas pelo Estado, sobretudo em regiões do país onde não há mais nada", declarou.
"Se tiram os serviços públicos do interior, as pessoas sentem-se abandonadas e desprotegidas, não foram criadas alternativas, as coisas não foram explicadas e é tudo feito por atacado", afirmou.
Alegre defendeu que estas medidas estão a "criar uma revolta muito grande" na população, porque os portugueses precisam de um "bom Serviço nacional de Saúde". "Eu já avisei que isto é perigoso", salientou, lembrando que até Jerónimo de Sousa foi "levado em ombros" na Anadia. "Se aparece uma Maria da Fonte, de saias ou de calças, arranja uma fronda popular, e isso pode pôr em causa um certo consenso nacional sobre a própria democracia", sublinhou.
Política de saúde "estapafúrdia"
"As condições de vida das pessoas não melhoraram" no interior e de repente tiram-lhes os serviços de saúde. As pessoas ficam aflitas", disse, sublinhando que isso "desgraça" a base social do PS e a confiança na democracia. Apesar do ministro da Saúde, Correia de Campo, ter sido seu colega em Coimbra e ser seu amigo, Alegre considerou que a sua política é "estapafúrdia".
Alegre reconheceu que o "Governo tem legitimidade democrática, porque ganhou com maioria absoluta", mas considerou que "os portugueses não se dão bem com as maiorias absolutas, sobretudo aqueles que governam e perdem um bocado a cabeça com as maiorias absolutas", sublinhou.
Inquirido sobre se se revia na prática do PS, afirmou que este partido "não o representa totalmente".
Alegre assume-se como uma das "referências" do seu partido, porque teve com ele socialistas de todo o lado na eleição presidencial e diz que "fracturou e muito" o eleitorado do Partido Socialista nessa contenda eleitoral.
Questionado novamente sobre se se revia na prática governativa do PS, respondeu: "Acho que não. Representa numas coisas e noutras não representa", esclareceu, destacando pela negativa "a destruição do Serviço nacional de Saúde", área onde diz que o Governo "não o representa com certeza".
"Mas houve coisas boas e que ficam", afirmou, destacando a interrupção voluntária da gravidez (IVG), a Lei da Paridade, e a Procriação Médica Assistida.
Alegre destacou também a forma como foi exercida a presidência portuguesa da União europeia, nomeadamente a realização das cimeiras da UE com o Brasil e com África, e a assinatura do Tratado de Lisboa, apesar de ter herdado o trabalho da Alemanha, o que conferiu a Portugal um desempenho global mesmo sendo um país pequeno.
O deputado socialista, que esteve ausente esta semana do Parlamento por razões de saúde, disse na longa entrevista à Antena 1 que teria "votado contra" a moção de censura ao Governo.
Alegre disse ser favorável ao referendo ao Tratado de Lisboa, mas reconheceu que essa forma de ratificação seria provavelmente "muito difícil".
O deputado socialista realçou a questão do "respeito pela palavra dada" e disse que se houvesse referendo isso teria sido "uma lição para os dirigentes europeus que tem medo de consultar os seus povos". "Há uma crise profunda", reconheceu, referindo-se ao socialismo na Europa.
"Sócrates fez coisas que outros socialistas não foram capazes de fazer", disse referindo-se aos aspectos positivos da acção do governo que mostram "independência" em relação ao conservadorismo da sociedade portuguesa e a uma abertura sobre certos valores da esquerda, só que para Alegre, "a esquerda não acaba aí".
In Publico, 2008.01.19
Afinal o Rei vai nú?
Manuel Alegre alerta para "erro colossal" da política de Saúde do Governo
19.01.2008 - 10h44 Lusa
O ex-candidato presidencial independente e deputado socialista, Manuel Alegre, teceu hoje duras críticas à reforma dos serviços de saúde, considerando que se trata de um "erro colossal" e de uma política "estapafúrdia" do actual Governo.
"As pessoas vão passar a nascer em casa ou a morrer em casa, para além daqueles que já andam a nascer pelo caminho", ironizou, ao abordar numa entrevista à jornalista Flor Pedroso, da Antena 1 - que vai para o ar ao 12h00 - a desertificação dos serviços públicos no interior.
Manuel Alegre confirmou que vai assinar uma petição em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), liderada pelo histórico do PS, António Arnaut, e que junta, entre outros, elementos do Bloco de Esquerda e do PCP. "A esquerda moderna deve reforçar o Estado social e não desmantelar o Estado social", declarou, sublinhando que, no poder, esta deveria garantir o reforço e viabilidade do SNS. "Estaria a mentir se dissesse que me reconheço (no actual Governo). Não, não me reconheço", afirmou.
"Parece que é isto que se está a fazer (desmantelar)", disse, acrescentando "não compreender esta política, não só das taxas moderadoras para tratamentos e cirurgias (uma dupla tributação), como a extinção de urgências e de Serviços de Atendimento Permanente e o encerramento de maternidades em zonas do interior, seja qual for a fundamentação técnica". "Isso é um erro colossal, porque as pessoas se sentem desprotegidas e abandonadas pelo Estado, sobretudo em regiões do país onde não há mais nada", declarou.
"Se tiram os serviços públicos do interior, as pessoas sentem-se abandonadas e desprotegidas, não foram criadas alternativas, as coisas não foram explicadas e é tudo feito por atacado", afirmou.
Alegre defendeu que estas medidas estão a "criar uma revolta muito grande" na população, porque os portugueses precisam de um "bom Serviço nacional de Saúde". "Eu já avisei que isto é perigoso", salientou, lembrando que até Jerónimo de Sousa foi "levado em ombros" na Anadia. "Se aparece uma Maria da Fonte, de saias ou de calças, arranja uma fronda popular, e isso pode pôr em causa um certo consenso nacional sobre a própria democracia", sublinhou.
Política de saúde "estapafúrdia"
"As condições de vida das pessoas não melhoraram" no interior e de repente tiram-lhes os serviços de saúde. As pessoas ficam aflitas", disse, sublinhando que isso "desgraça" a base social do PS e a confiança na democracia. Apesar do ministro da Saúde, Correia de Campo, ter sido seu colega em Coimbra e ser seu amigo, Alegre considerou que a sua política é "estapafúrdia".
Alegre reconheceu que o "Governo tem legitimidade democrática, porque ganhou com maioria absoluta", mas considerou que "os portugueses não se dão bem com as maiorias absolutas, sobretudo aqueles que governam e perdem um bocado a cabeça com as maiorias absolutas", sublinhou.
Inquirido sobre se se revia na prática do PS, afirmou que este partido "não o representa totalmente".
Alegre assume-se como uma das "referências" do seu partido, porque teve com ele socialistas de todo o lado na eleição presidencial e diz que "fracturou e muito" o eleitorado do Partido Socialista nessa contenda eleitoral.
Questionado novamente sobre se se revia na prática governativa do PS, respondeu: "Acho que não. Representa numas coisas e noutras não representa", esclareceu, destacando pela negativa "a destruição do Serviço nacional de Saúde", área onde diz que o Governo "não o representa com certeza".
"Mas houve coisas boas e que ficam", afirmou, destacando a interrupção voluntária da gravidez (IVG), a Lei da Paridade, e a Procriação Médica Assistida.
Alegre destacou também a forma como foi exercida a presidência portuguesa da União europeia, nomeadamente a realização das cimeiras da UE com o Brasil e com África, e a assinatura do Tratado de Lisboa, apesar de ter herdado o trabalho da Alemanha, o que conferiu a Portugal um desempenho global mesmo sendo um país pequeno.
O deputado socialista, que esteve ausente esta semana do Parlamento por razões de saúde, disse na longa entrevista à Antena 1 que teria "votado contra" a moção de censura ao Governo.
Alegre disse ser favorável ao referendo ao Tratado de Lisboa, mas reconheceu que essa forma de ratificação seria provavelmente "muito difícil".
O deputado socialista realçou a questão do "respeito pela palavra dada" e disse que se houvesse referendo isso teria sido "uma lição para os dirigentes europeus que tem medo de consultar os seus povos". "Há uma crise profunda", reconheceu, referindo-se ao socialismo na Europa.
"Sócrates fez coisas que outros socialistas não foram capazes de fazer", disse referindo-se aos aspectos positivos da acção do governo que mostram "independência" em relação ao conservadorismo da sociedade portuguesa e a uma abertura sobre certos valores da esquerda, só que para Alegre, "a esquerda não acaba aí".
In Publico, 2008.01.19
Afinal o Rei vai nú?
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