O catolicismo está mesmo em crise. A Páscoa, momento central da fé, foi transformada numa antecipação das férias de Verão. Os portugueses já não viajam na direcção dos avós e da família; viajam na direcção das caipirinhas. Mas atenção: esta morte lenta do catolicismo não significa o fim do impulso religioso primário. Basta olhar para o ambientalismo beato que enxameia as televisões portuguesas. Todos os dias, durante o mata-bicho, divirto-me com uma coisa que se chama 'minuto verde' (RTP 1). Neste programa, um representante da Quercus recomenda um determinado comportamento 'verde'. Aquilo é uma espécie de Alcorão ecologista: todos os actos do dia-a-dia já estão codificados; tudo o que fazemos tem de seguir o que é ecologicamente correcto. Ou aceitamos esta "sharia" verde ou o dilúvio - provocado pelo degelo do Árctico - cairá sobre nós.
Há nisto tudo uma enorme devoção pelo ambiente e pelos bichos. Não teria problemas com isso se este amor pelos ursos polares não viesse acompanhado por um óbvio desprezo pelos homens. A Quercus ama o ambiente enquanto odeia a sociedade onde vive; ama a bicharada árctica enquanto despreza todos os meus hábitos. Querem o quê? Que deixe de tomar banho em nome da fraternidade que une homens e ursos? Lamento: entre o sacrossanto gelo do Árctico e a heresia ecologicamente incorrecta, escolho a segunda. Nunca um urso polar me pagou um copo pela Páscoa.
Henrique Raposo
http://clix.expresso.pt/gen.pl?p=sto...stories/277959
Há nisto tudo uma enorme devoção pelo ambiente e pelos bichos. Não teria problemas com isso se este amor pelos ursos polares não viesse acompanhado por um óbvio desprezo pelos homens. A Quercus ama o ambiente enquanto odeia a sociedade onde vive; ama a bicharada árctica enquanto despreza todos os meus hábitos. Querem o quê? Que deixe de tomar banho em nome da fraternidade que une homens e ursos? Lamento: entre o sacrossanto gelo do Árctico e a heresia ecologicamente incorrecta, escolho a segunda. Nunca um urso polar me pagou um copo pela Páscoa.
Henrique Raposo
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