António Variações - Quase 1/4 de século depois da sua morte.

[JorgeCorreia]

Ao pesquisar por António Variações no Google fiquei incrédulo quando me apercebi que passaram quase 25 anos sobre a morte de António Joaquim Rodrigues Ribeiro, o António Variações que muitos de nós (especialmente os cotas do AHO ) se recordam e, porventura, sentem nostalgia ao ouvir as suas canções.

Se fosse vivo, António Variações, teria 64 anos.





1944-1984

Diz-se que era um homem à frente do seu tempo; um pouco da sua biografia:

ENTRE NOVA IORQUE E A SÉ DE BRAGA

BIOGRAFIA



António Joaquim Rodrigues Ribeiro, filho de camponeses minhotos, desde muito cedo revelou propensão para a música. Nascido em 3 de Dezembro de 1944, abandonou a sua aldeia natal (Lugar do Pilar, freguesia de Fiscal) em 1957 e foi para Lisboa, onde se dedicou a várias actividades profissionais desde empregado de escritório até barbeiro.

Em 1975 viaja até Londres, onde fica durante um ano e parte, depois para Amesterdão onde aprende a profissão de cabeleireiro. Esta aprendizagem servir-lhe-á para se instalar, novamente, na capital portuguesa; onde se estabelece com o primeiro cabeleireiro unissexo de Portugal. Esta actividade não resulta muito bem e, para ganhar a vida, abre uma barbearia na Baixa lisboeta.

Em 1978 grava uma maqueta com alguns temas, que apresenta à Valentim de Carvalho, com a qual assinará contrato.

Na sua própria descrição a música que produz situa-se entre Braga e Nova Iorque. É no programa "O Passeio dos Alegres" de Júlio Isidro que António se apresenta ao grande público (1). Os temas que cantou nessa emissão chamavam-se "Toma O Comprimido" e "Não Me Consumas" e ainda permanecem inéditos, uma vez que nunca foram registados em disco.

O primeiro trabalho que gravou foi o single "Povo Que Lavas No Rio", imortalizado por Amália Rodrigues (2).

Amália era, aliás, uma das suas referências, que teve direito a uma canção de Variações ("Voz Amália de Nós"). O seu primeiro longa duração "Anjo da Guarda" (3) é também dedicado à popular fadista.

Neste disco participam Vítor Rua (com o pseudónimo Vick Vaporub) e Tóli César Machado, músicos dos GNR. Quem não recorda " É P'ra Amanhã" ou "O Corpo É Que Paga"? (4)

Durante o Verão de 1983 Variações é muito solicitado para espectáculos ao vivo, sobretudo em aldeias por este país fora.

Em Fevereiro do ano seguinte, António Variações entra em estúdio com os músicos dos Heróis do Mar para gravar o seu segundo longa duração que se intitulará "Dar e Receber".(5) O tema mais conhecido deste disco é, sem sombra de dúvidas, "Canção De Engate" que, posteriormente, se tornará um imenso sucesso numa versão dos Delfins.

Em Maio desse mesmo ano dá entrada no Hospital e, no dia 13 de Junho de 1984, morre em consequência de uma broncopneumonia bilateral grave. Será sepultado, dois dias depois, no cemitério de Amares (Braga), perto da sua aldeia natal, com a presença de poucos músicos acompanhando o funeral.

Com a sua morte desaparece um dos maiores renovadores da canção portuguesa das últimas décadas.

No entanto o seu espólio musical foi sendo aberto e Lena d'Água edita, em 1989, o disco "Tu Aqui" que inclui cinco composições inéditas de António Variações. (6)

Em Janeiro de 1994 é editado um disco de homenagem a António Variações que reúne, em torno de versões do cantor, os nomes de Mão Morta, Três Tristes Tigres, Resistência, Sitiados, Madredeus, Sérgio Godinho, Santos e Pecadores, Delfins, Isabel Silvestre e Ritual Tejo.

Isabel Silvestre incluirá no seu disco de 1996 "A Portuguesa" o tema "Deolinda de Jesus" de Variações. Este tema, uma sentida homenagem de Variações à sua mãe (que se chama exactamente Deolinda de Jesus) é o contraponto de qualidade a todas as "Mães Queridas" e quejandos deste país.

Em 1997 é editado o CD "O Melhor de António Variações", o qual recupera material editado em todos os seus discos.

Em 2006 é editada a compilação "A História de António Variações - Entre Braga e Nova Iorque".

Se Variações não tivesse desaparecido tão precocemente, a música portuguesa seria diferente? Esta é a interrogação que se impõe, tendo em conta o que o cantor/autor fez, em tão pouco tempo, pela música portuguesa.

ARISTIDES DUARTE / NOVA GUARDA

(1) Em 1980 o programa "Meia de Rock" da Renascença grava a canção "Toma O Comprimido" em casa do cantor e toca-a na rádio. No ano seguinte, António & Variações (o nome da banda que o acompanhava), cantam a canção no programa "O Passeio dos Alegres" de Júlio Isidro (um dos clientes da barbearia). O cantor apresentou-se na TV vestido de aspirina e lançando "smarties" para o público e para as câmaras...

(2) O contrato com a Valentim de Carvalho datava de 1977. O irmão, o advogado Jaime Ribeiro, pressiona a editora que acaba por vergar e António Variações entra finalmente em estúdio para gravar o seu primeiro disco. O single (e Máxi) de estreia, lançado em Julho de 1982, incluía uma versão do clássico "Povo que lavas No Rio" e o inédito "Estou Além".

(3) Em 1998 o disco foi reeditado, em versão remasterizada, com a inclusão de "Povo Que Lavas No Rio".

(4) Disco com arranjos e produção de Tóli César Machado e Vítor Rua substituído posteriormente por José Moz Carrapa. A mudança corresponde também à saída de Vitor Rua dos GNR após uma pausa nas gravações do disco.

(5) A edição em versão remasterizada de "Dar e Receber" inclui o inédito "Minha Cara Sem Fronteira" (gravado nas sessões de gravação do disco) e duas remisturas desse tema.

(6) A versão em CD do álbum "Tu Aqui" de Lena d'Água inclui cinco temas inéditos e recupera a versão do tema "Estou Além" incluída no álbum "Aguaceiro".

DISCOGRAFIA

Anjo da Guarda (LP, EMI, 1983)
Dar e Receber (LP, EMI, 1984)
O Melhor de António Variações (Compilação, EMI, 1997)
A História de António Variações - Entre Braga e Nova Iorque (Compilação, EMI, 2006)

SINGLES

Povo Que Lavas no Rio / Estou Além (Single, EMI, 1982) - duplo lado A
Povo Que Lavas no Rio / Estou Além (Maxi, EMI, 1982)
É P'ra Amanhã (Maxi, EMI, 1983)
É P'ra Amanhã/Quando Fala Um Português (Single, EMI, 1983)OCEQP
O Corpo É Que Paga (Single, EMI, 1997) - É P'ra Amanhã (remistura de Nuno Miguel)



REFERÊNCIAS/HOMENAGENS



O álbum "Tu Aqui" de Lena d'Água, editado em 1989, incluía cinco temas inéditos.
Anamar -"António Variações"
Madredeus - "A Sombra"
"A Festa da Música de Variações" - Espectáculo de Fernando Pereira
Versões (Delfins, Amarguinhas, Isabel Silvestre, M.D.A., etc...)
Disco de tributo
Documentário de Maria João Rocha
Concerto AVariações
Projecto Humanos

COMENTÁRIOS

Gostava de dar e receber, o António. O António Joaquim Rodrigues Ribeiro, o que nasceu no Minho, em 1945. Mas também o António Variações, que subia a rua do Carmo na década de 80, em Lisboa, e fazia os transeuntes virar-se para trás por causa de uma imagem peculiar. Barbas longas e roupas extravagantes aos olhos da maioria. Mas o António não queria saber. Procurava a provocação como forma de afirmar a sua independência. A sua identidade. Mas isso era partir do pressuposto que era uma personagem, coisa que não é verdade. Era genuíno, o António. Era como era. Na música foi um dos melhores. Tinha uma voz peculiar, mas era mais do que isso. Era aquela forma de apelar à memória colectiva, a uma certa tradição da música portuguesa, e mesmo assim produzir uma sonoridade profundamente modernista. De tal forma que, depois daquela madrugada de 14 de Junho de 1984, a sua música continua a manter a mesma pertinência. O álbum "Dar e Receber" foi agora reeditado - contém um inédito e duas remisturas inúteis - e quem não acreditar, faça favor de o ouvir. (Vitor Belanciano/Público)

Hoje graças ao Youtube podemos passar umas horas a recordar alguns dos seus maiores hits e também músicas menos conhecidas do artista.

António Variações - o corpo é que paga

http://www.youtube.com/watch?v=hlBwH...eature=related

António Variações - É P'rá Amanhã

http://www.youtube.com/watch?v=Tnzy2...eature=related

António Variações - Canção Do Engate

http://www.youtube.com/watch?v=bzhLa...eature=related

António Variações - Canção Do Engate

Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estás só e eu mais só estou
Tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada

Refrão(3x)



Fonte: http://anos80.no.sapo.pt/antoniovariacoes.htm

[kolchak]

Ele não morreu de sida?
É que sempre ouvi falar que ele teria sido uma das primeiras pessoas a contrair sida em Portugal!

[Excalibur]

Ainda me lembro das primeiras aparições do individuo no passeio dos alegres.

O Look dele era deveras sui generis para a época.

Também me lembro de andarem a dizer pela "surra" que a morte se devera a SIDA, falar disso na altura , nas causas da morte era um tremendo tabu.

Porra já passaram 25 anos

Mas a voz do homem era inconfundível.

[raioxpantera]

António Joaquim Rodrigues Ribeiro nasceu a 3 de Dezembro de 1944 no Lugar do Pilar, freguesia de Fiscal, concelho de Amares, Braga. O quinto de 12 filhos de Deolinda de Jesus e Jaime Ribeiro, uma família modesta ligada à agricultura. Foi um excelente aluno na escola primária, e após, um pequeno período numa oficina artesanal com que produzia bonecos de madeira, partiu com 12 anos para Lisboa onde vivia um dos irmãos. Fez a guerra em Angola como operador cripto e depois do serviço militar viaja para Londres para junto de outro irmão. Em 1976, ano da morte do pai, viaja para Amsterdão tirar um curso de cabeleireiro, retorna a Lisboa e abre o primeiro salão unissexo com o nome de "p'ra menina e p'ro menino". Forma o grupo Variações que toca em bares e passa a ter um visual único: brinco, roupas justas, cores berrantes. Em 1978 assina contrato a solo com a EMI mas a discográfica adia sistematicamente o lançamento de um disco. Em 1981 aparece na televisão no programa de Júlio Isidro e passa a ser conhecido do público em geral. Grava dois albuns de sucesso entre 1982 e 1984. Em Maio de 1984 adoece e, após perder 20 quilos, falece a 13 de Junho. Oficialmente a causa da morte foi broncopneumonia, mas todos estão convencidos que foi vítima do VIH/SIDA. De tal forma que alguns familiares não queriam que António Variações fosse enterrado no jazigo da família. A sua homossexualidade e forma de estar na vida nunca foi bem aceite na sua terra natal num misto de vergonha e inveja pelo seu sucesso. No resto do país é recordado como uma pessoa única que deixa muitas saudades.

apenas com a intenção de completar a história..

[rover214]

Ele não morreu de sida?
É que sempre ouvi falar que ele teria sido uma das primeiras pessoas a contrair sida em Portugal!

Normalmente quem tem SIDA, não morre de SIDA, mas de doenças derivadas da mesmas. A pneumonia é uma das mais conhecidas. Penso que o Freddy Mercury morreu com uma pneumonia e tb tinha SIDA.

[JorgeCorreia]

Ainda me lembro das primeiras aparições do individuo no passeio dos alegres.

O Look dele era deveras sui generis para a época.

Também me lembro de andarem a dizer pela "surra" que a morte se devera a SIDA, falar disso na altura , nas causas da morte era um tremendo tabu.

Porra já passaram 25 anos

Mas a voz do homem era inconfundível.

Exacto! O Passeio dos Alegres do Isidro, numa praia qualquer.

Parece que esse programa foi emitido em 1981 portanto teria 8 anos, mas lembro-me muito bem do choque que variações causou num Portugal ainda muito fechado e conservador.

Provavelmente nunca saberemos (isso interessa?) se ele morreu em consequência do vírus do SIDA ou de doença pulmonar.

[Fadista]

Mais do que a voz, fascinam-me as letras das suas músicas!

[Excalibur]

Exacto! O Passeio dos Alegres do Isidro, numa praia qualquer.

Parece que esse programa foi emitido em 1981 portanto teria 8 anos, mas lembro-me muito bem do choque que variações causou num Portugal ainda muito fechado e conservador.

Acresce que era o próprio A. Variações que fazia as sua próprias roupas.

Alem de excelente Cantor era Barbeiro e Estilista das suas próprias roupas.

Provavelmente nunca saberemos (isso interessa?) se ele morreu em consequência do vírus do SIDA ou de doença pulmonar.

Diria que uma coisa levou a que a outra o conseguisse matar.

[Karma]

António Variações - Muda de Vida
http://www.youtube.com/watch?v=Az5r0...eature=related

[PeLeve]

Ainda me lembro das primeiras aparições do individuo no passeio dos alegres.

O Look dele era deveras sui generis para a época.

Também me lembro de andarem a dizer pela "surra" que a morte se devera a SIDA, falar disso na altura , nas causas da morte era um tremendo tabu.

Porra já passaram 25 anos

Mas a voz do homem era inconfundível.

Não me ocorre melhor expressão!

[miguelmaia]

Provavelmente nunca saberemos (isso interessa?) se ele morreu em consequência do vírus do SIDA ou de doença pulmonar.

Não interessa nada.

É e será sempre um icone da música portuguesa e mais do que a excentricidade dele, o que fica para sempre, é a excelente música que cá deixou, bem mais actual do que muita gente possa pensar.

Parabéns pela ideia do tópico.

[Movyk]

A minha preferida dele é a "Estou Além":

http://www.youtube.com/watch?v=mADiz_vn0RQ

[raioxpantera]

eu uso muito a expressão "quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga" e lembro-me sempre do AV já que ele não seguia os seus próprios conselhos

tb adapto a expressão para "cabeça que não tem juízo, tem que ter pernas"

[eu]

Porra já passaram 25 anos

Tal como o Pé Leve, subscrevo isto. Porra, estamos cotas

[Nightlord]

Mais do que a voz, fascinam-me as letras das suas músicas!

Sem dúvida...aqui o que mais me assustou é ver que já passaram 25 anos

Vou beber...tou velho

Lembro-me bem, é uma das grandes perdas do panorama musical português.

Ele e o Carlos Paião...2 grandes músicos e letristas, que foram antes do que deviam

[Nightlord]

A minha preferida dele é a "Estou Além":

http://www.youtube.com/watch?v=mADiz_vn0RQ

Para mim será sempre a "Canção do Engate":

http://www.youtube.com/watch?v=bzhLamrxacE

[bg2]

eu prefiro uma um pouco menos conhecida.

o "toma o comprimido"

http://uk.youtube.com/watch?v=m7tbj9Jxvxo

cumprimentos

[Taxi Driver]

Uma grande referência na música nacional e na própria sociedade.
Uma voz única, bonita como ela só, letras cheias de sentido e vida.
Foi um Homem muito corajoso, nunca se escondeu e assumiu-se como era, em todos os aspectos, quem gosta gosta, quem não gosta, paciência.
Estamos a falar de uma actualidade que nada tem a ver com a que vivemos hoje.
Embora naquela altura ainda fosse um miúdo, lembro-me muito bem do Variações.
E tenho saudades desses tempos.
Conheço muito bem o irmão e sobrinho do Variações, dois homens extraordinários, e só soube que eram familiares tão próximos dele muito tempo depois de os conhecer, precisamente por eu ter comentado algo do género "Gosto muito do Variações". Aí disse "é meu irmão".
Foi o irmão quem descobriu muitas canções/letras antigas e nunca descobertas e que deu posteriormente origem aos "Humanos".
Descansa António, és o maior.

[TiagoLeal]

Eu tinha 5 anos, e lembro-me....

[Axxantis]

Uma pedrada no charco do atavismo social português e um icone incontornável da música pop nacional da década de 80.

A minha preferência vai para a "Sempre ausente". Assenta que nem uma luva na figura de António Variações.
http://br.youtube.com/watch?v=0fKWsZgwawU

[Gmigas]

Um grande cantor sem dúvida! Também morreu novo... E fazia anos no mesmo dia que eu...

[JoaoNascimento]

Também me "assusta" um bocado constatar que já passaram quase 25 anos....

Mas na altura acompanhei um pouco o percurso do A.V. Lembro-me de ter ouvido na rádio, num programa do Júlio Isidro (penso) o "Toma o Comprimido".
Confesso que achei a música um pouco para o estranha. Mas ficou de tal maneira que, não sendo uma música editada, ainda hoje me lembro dela.

Lembro-me do Júlio Isidro "puxar" pelo A.V. e de contar, como apresentação, como foi abrodado por ele a dizer que compunha e cantava.
Antes do mais fica a ideia de um homem que lutou por um sonho e que não se envergonhou de bater às portas que achou necessárias até alcançar o que queria. Penso que o fez com muita humildade.
Era alguém que tinha muito dentro dele para dar e que sabia que tinha uma mensagem. Penso que era uma urgência dele. Parece que adivinhava que ia partir cedo.

Lembro-me que uma das suas últimas aparições (senão a última) foi no programa do Júlio Isidro, Passeio dos Alegres. Vinha vestido com o que parecia ser um pijama, e com um peluche.

Era em todos os aspectos alguém muito à frente do seu tempo. Se o visual na altura chocava, hoje passaria mais despercebido. Ou pelo menos não estranhava tanto.
Quanto à sua música. Essa era tão à frente do seu tempo que ainda hoje soam muito actuais. Tanto nas letras como na melodia.

Para mim, como favorita tenho a Canção do Engate. É simplesmente genial.

[Andre]

Tal como o Pé Leve, subscrevo isto. Porra, estamos cotas

Quem é o António Variações?

[rks]

Visto eu ter 16 anos não sou do tempo em que ele era vivo como é óbvio mas é notável como conseguiu marcar não só os da sua geração como também os da geração seguinte, se bem que acho que a maioria do pessoal da minha idade só conheceu o nome a partir do projecto Humanos.
O que é certo é que desde de novo o ouço e as suas letras são na minha opinião do melhor que já se fez desde sempre em Portugal. Foi sem sombra de dúvidas um autêntico visionário no seu tempo, que ainda hoje se mantém actual.
A par de Ian Curtis, talvez morrera cedo demais, embora tal facto também ajude à criação dum espécie de misticismo à volta da sua pessoa. Um grande músico do nosso Portugal que felizmente não é deixado cair no esquecimento.

Pessoalmente destaco a Estou Além, até me identifico um pouco com ela, e a Canção do Engate

Nao consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra nao chegar tarde

Nao sei de que é que eu fujo
Sera desta solidao
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mao

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem nao conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem nao conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfacao
Nao consigo compreender
Sempre esta sensacao
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

(a letra da Canção do Engate já está postada aqui algures)

[JoaoNascimento]

Se procurarem no youtube encontra-se carradas de covers da Canção do Engate.

Mas para mim, a maior parte delas são interpretadas com um ritmo inadequado à canção.

Esta canção, até ver, está impecável nas versões do próprio A.V. e dos Delfins.

[JRodrigues]

Grande António!! Não me lembro dele quando era pequeno (até porque apenas tinha 1 ano quando ele faleceu) mas lembro-me sempre de ouvir as músicas dele uma vez que a terra dele é a apenas meia dúzia de kms daqui e sempre se falou no maluco homossexual das barbas ("Lá vai o maluco, lá vai o demente").. Curiosamente só comecei a conhecer melhor as suas músicas um pouco antes dos Humanos. As suas músicas e especialmente as suas letras ainda hoje em são uma pedra no charco, e imagino como seria naquela altura uma figura daquelas aparecer na tv. Um homem realmente à frente do seu tempo, único a conseguir conjugar a música tradicional com a pop. Como ele muito bem disse, qualquer coisa entre Braga e Nova Iorque. Não há melhor expressão que possa descrever o que ele significou. É impressionante como é que conseguiu isto tudo sem qualquer formação musical. Não consigo escolher uma música, todas elas são fantásticas. Que falta que ele faz à música portuguesa

[JRodrigues]

A Vida de António Variações - 1ªparte
A Vida de António Variações - 2ªparte
A Vida de António Variações - 3ªparte
A Vida de António Variações - 4ªparte
A Vida de António Variações - 5ªparte
A Vida de António Variações - 6ªparte

[rum]

O Variações só teve um problema, nasceu 20 anos mais cedo do que devia.

Foi um incompreendido, talvez hoje também fosse mas a tolerância era garantidamente outra.

Foi garantidamente um dos melhores.

[JPR]

O Variações só teve um problema, nasceu 20 anos mais cedo do que devia.

Foi um incompreendido, talvez hoje também fosse mas a tolerância era garantidamente outra.

Foi garantidamente um dos melhores.

O António Variações apareceu e viveu na época certa.
Hoje não seria encarado, certamente, como um ícone do vanguardismo e da ousadia, como ele exemplarmente foi. Seria visto, tão somente, como mais um cantor a tentar conquistar o seu nicho de mercado por apelo à excentricidade bizarra.

O que me entristece a sério - como em muitos outros casos, porque é injusto - é o facto do António Variações não ter vivido o suficiente para ver e saber da posterior rendição do povo português às suas canções e à sua forma de estar na música e, até, do contributo que deixou para o desbravar de mentalidades e influências.
Isso, ele merecia-o ter vivido, como o merecem todos aqueles que deixam uma memória.


Por acaso, numa das poucas recordações de infância, lembro-me de chegar a casa, vindo de um manhã de aulas da 2 ou 3ª classe, e a minha mãe dizer-me que tinha morrido uma "figura da televisão" de que eu gostava muito.

[JorgeCorreia]

A música portuguesa dos anos 80 terá sempre a presença de A. Variações, isso é indiscutível.

Nessa década morre Carlos Paião, outra referência da música portuguesa contemporânea.

Foram anos de grandes êxitos, anos em que se fizeram grandes músicas; junto com Variações ouvia-se frequentemente nas rádios (especialmente no celebre programa "Quando o Telefone Toca") e na RTP1 (nada de canais privados ) os GNR, UHF, Heróis do Mar (Brava Dança dos Heróis, Paixão), Xutos & Pontapés, Lena d'Agua, as Doce, o Grupo de Baile (Patchouly), Lara-Li (Telepatia, O Rapaz do Cubo Mágico), Radio Macau, Trabalhadores do Comércio, Jáfumega, Táxi, Adelaide Ferreira, Rui Veloso, Mão Morta, Sétima-Legião (Sete Mares), BAN e até a Manuela Moura Guedes (Foram Cardos, Foram Prosas).