Chamam-nos "PIGS" e nem sequer é o pior
Não vivemos tempos de incerteza. Podemos estar certos de pior do que isto. A conferência de Davos acabou com as dúvidas. Agora, com os ingleses na rua a enxotar os estrangeiros dos postos de trabalho e os americanos a gritar "buy american", começa a guerra do proteccionismo. A globalização tem muitos males mas o que vem aí assusta bem mais.
Pedro Canais - Copywriter SIC - opiniao@sic.pt
Quando os americanos andavam na fila do pão e da sopa e as americanas vendiam até os três minutos de uma dança, um cabo chamado Hitler tornava-se aos poucos tão credível que um país inteiro começava a chamar-lhe "führer": o condutor!
Foi ao mesmo tempo que muitas nações começaram à procura de condutores. Em Itália, acharam Mussolini; na Áustria, Dollfuss; no Brasil, Getúlio Vargas. Outros não chegaram a governar mas quiseram muito e muitos também os quiseram a eles. Em França, François de La Rocque; em Inglaterra, Oswald Mosley. Em Espanha, o condutor foi Primo de Rivera e o exemplo saltou a fronteira logo a seguir: Salazar foi o escolhido.
No Leste, tudo eram "condutores" e o resultado foi ainda pior e ainda mais longo no tempo.
Não há explicação tão plausível para o que aconteceu como o sentimento de orfandade que milhões sentiam na pobreza desses anos.
Tudo começou com o optimismo do fim da Primeira Guerra. Tudo era progresso a olhos vistos e a riqueza do mundo civilizado era irreversível. Parecia. Como há quatro meses.
Em Londres e Paris dançavam o Charleston. Em Lisboa também mas o jogo e a prostituição tinham mais interesse. Na província andavam descaços. Quase toda a gente. Adoçavam o café com rebuçados de meio tostão e obrigavam os filhos a ir à escola, quando o dinheiro que ganhavam a partir dos seis anos era a única forma de todos comerem um pouco mais do que laranjas azedas. E chamar café a grão preto moído com chicória também era exagero.
A pouco e pouco, a pobreza chegou a todo o lado. Em 1929, foi o que se sabe.
Por essa altura, todos os "condutores" subiram pelo mesmo degrau: o nacionalismo. É uma forma de proteccionismo aos berros. Aliás, com pouca imaginação. E se o nosso falava manso, gritava por decreto.
Na Europa do Sul há uma tragédia que vem de longe. Hoje, quem escrever "PIGS" no google, seguido de "economics", vai ver o que andam a chamar a Portugal, Itália, Grécia e "Spain". Somos os "PIGS" da Europa. Porquê? Porque andamos a tramar o Euro. Não nos adaptámos à globalização, diz a "Newsweek". Não nos adaptámos o suficiente para o desafio de vivermos ao lado da Alemanha, diz o "The Times". Por aí adiante.
Dentro e fora já se considera a possibilidade de abandonarmos a zona da moeda única. Ponderam-se os custos e volta a falar-se nas vantagens de uma política monetária própria. Até há quem pareça empurrar-nos.
Começa tudo com uma certa hostilidade e o discurso vai subindo de tom. Ja somos "PIGS". E já nem sequer é preciso olhar para fora da União Europeia para ver sintomas de implosão.
Pode começar aqui mesmo. Não temos hoje a mesma vulnerabilidade aos "condutores" e a quem os ama mas as consequências não serão poucas. Que formas terão não sabemos. Sabemos que falar disso é a melhor forma de combater a incerteza.
Hoje, precisamos de alguns impossíveis. Precisamos de gente generosa onde ela nunca existiu: nos bancos. Precisamos de políticos com agendas de décadas e não do tamanho dos ciclos eleitorais. Precisamos de cidadãos que não saiam imediatamente para a rua a defender hoje aquilo que amanhã irá esmagá-los. Está difícil.
A grande depressão que começou em 1929 foi terminar com um banho de sangue de sessenta milhões de mortos. E para que ninguém se esqueça, é bom que isto seja lembrado quando agora se começam a defender os quintais.
Isto a ser verdade é grave!!!
Comentário