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    Os Mitos da Educação

    in DN

    Educação: insistir num modelo sem futuro?

    Maria José Nogueira Pinto
    Jurista

    Em Espanha, a propósito da alteração da Lei da Educação, os professores denunciaram os quatro mitos que consideram responsáveis pelo fracasso do sistema:

    - O mito de aprender fazendo; o mito da igualdade; o mito do professor amigo; o mito da educação sem memória.

    Declararam-se também, maioritariamente, simplesmente fartos:

    - Da falta de esforço; da falta de autoridade na aula; do excesso de especialização; da integração sem meios; da deterioração do ensino público.

    Interrogo-me se, em Portugal, os professores (não só os "pedagogos", não os teóricos, não os sindicatos) não dariam do sistema português, dos seus mitos e ameaças, uma imagem aproximada.

    Fiz toda a minha aprendizagem em escolas públicas. Descontando o muito que aprendi em minha casa, é-me hoje possível confirmar sem sombra de dúvida, o quê e o quanto me foi ensinado nessas salas de aula.

    A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.

    É certo que eram ainda muitos os que não chegavam lá. E se "chegarem todos lá" se tornou justamente um objectivo, a questão que se coloca é a factura a pagar por uma massificação sem qualidade e com os fracos resultados que conhecemos.

    Os meus filhos passaram todos pelo ensino público que continuei a mitificar como uma experiência indispensável num processo escolar. Deram-se bem.

    A última vez que fui a uma reunião de pais, o progenitor da pior aluna explicou-me que o facto de a minha filha ter boas notas se devia a nós termos uma biblioteca em casa e ele não. Pareceu-me uma justificação simplista mas elucidativa de um estado de espírito autojustificativo que marca, em grande parte, o conformismo dos pais em relação aos seus filhos estudantes.

    Nos últimos 30 anos, a educação tem sido campo de experiências sucessivas, com leis e meias reformas, tornando cada geração uma grande cobaia, na qual se testam teorias e teimosias. Simultaneamente caíram intramuros escolares novos e agudos problemas sociais que deviam ter resposta a montante e a jusante, mas não têm.

    A escola transformou-se num espaço multifunções, exigindo-se que faça tudo menos ensinar: intervenção social, psicologia, tratamento da pré-deliquência, substituição da rede familiar, prevenção da violência doméstica, remédio para o abandono, a subnutrição, a doença e ainda o esforço diário de contrariar uma cultura de irresponsabilidade e laxismo.

    A classe dos professores é tida como uma das mais relevantes socialmente e, paradoxalmente, é uma das mais desrespeitadas. Para o que se lhes pede, são escassos os instrumentos de que dispõem para, com autoridade e eficácia, responder aos problemas daquele quotidiano.

    Para quem, como eu, trabalha com os sistemas sociais no combate à reprodução geracional da pobreza e da exclusão, o qual só é possível num quadro de equidade no acesso a competências que permitam uma progressiva e efectiva autonomização pessoal, para que o filho de um pobre não seja fatalmente pobre, o filho de um imigrante cresça integrado, um filho da droga não se drogue, a filha de uma mãe adolescente não tenha um filho aos 14 anos, etc., etc., sabe bem que o sistema de educação é determinante.

    Mas o sistema de educação é determinante para educar, para dar competências, preparando para a vida e para a autonomia, no saber pensar e no saber fazer, as novas gerações. Não é determinante para substituir a família, o atendimento social, o centro de saúde, a ocupação dos tempos livres ou as comissões de protecção de menores.

    Tem sido assim. Os nossos indicadores são péssimos. Os resultados estão à vista, com bolsas de pobreza mais persistentes e um país no geral mal preparado para competir.

    Estão à vista na nossa economia e nas nossas finanças públicas, nas nossas estatísticas e na nossa falta de norte e de inovação. Porquê, então, insistir neste modelo sem futuro que compromete todos os dias o mesmíssimo futuro português?

    #2
    Óptima análise; excelente artigo.

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      #3
      Bem escrito! Parabens!

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        #4
        citação:Originalmente colocada por sinatra

        A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.
        Nem tanto ao mar nem tanto à terra; a escola de hoje não está bem, mas o exemplo dado e que realça bem o saudosismo de tempos já idos tende a desculpabilizar e dar como exemplo um sistema de educação baseado na memorização livresca de inutilidades (quem ainda se lembra dos rios, afluentes, linhas, ramais e apeadeiros...) sem grande aplicação prática.

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          #5
          citação:Originalmente colocada por Avant

          citação:Originalmente colocada por sinatra

          A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.
          Nem tanto ao mar nem tanto à terra; a escola de hoje não está bem, mas o exemplo dado e que realça bem o saudosismo de tempos já idos tende a desculpabilizar e dar como exemplo um sistema de educação baseado na memorização livresca de inutilidades (quem ainda se lembra dos rios, afluentes, linhas, ramais e apeadeiros...) sem grande aplicação prática.
          Pois, realmente há coisas que pareciam não servir para nada, mas sempre dava para conseguires falar com alguém de uma região que não a tua e o teu interlocutor não pensar que és da ponta oposta do país :D

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            #6
            Saudosismo com alguém já referiu parece-me ridiculo. Hoje o ensino na minha opinião, como aluno que fui e pai que sou, tem de ganhar a confiança das pessoas e não é com condições de prepotência que se consegue. O artigo está bem escrito e refere apenas uma parte do problema. Também não poderemos deitar as culpas para cima dos professores como se fosses os culpados da situação em que se encontra o ensino. Provavelmente eu como aluno e agora como pai já contribui para que piorasse pois para melhorar poucos contribuem contra mim falo. Mas sem haver uma maior abertura do sistema á familia, continuo a achar que é o principal problema. Exceptuando casos de pobreza persistente como referido.

            Continuo a achar que todos podemos contribuir um pouco. Mas para isso por favor calem os sindicatos. Deixem-se de graves estupidas. Promovam as competências. A imaginação que dê lugar ao tédio. Que os alunos sejam beneficiados com boa vontade e alegria e penalizados aqueles que tiverem de ser. Criem normas mais rigidas para os alunos no sentido de se poder actuar.

            Agora não me venham fazer crer que é DANDO FORÇA AOS PROFESSORES que isso vai acontecer.

            Porque de acordo com os sindicatos passa unica e exclusivamente por aumentar os salários, diminuir a mobilidade dos professores e aumentar os quadros das escolas. Diminuir as horas lectivas. E assim em diante.

            Força aos professores sim. Meios, Infraestruturas e depois dos meios criados e dos professores devidamente avaliados(seja lá de que maneira for, já estou por tudo). Dêm-lhes regalias salariais e de qualidade de emprego pois serão uma classe trabalhadora como outra qualquer.

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              #7
              Disciplina, uma palavra que os portugueses menosprezam.

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                #8
                citação:Originalmente colocada por zerorpm

                Disciplina, uma palavra que os portugueses menosprezam.
                Muito importante mas infelizmente é um problema mundial. Há que aprender a contornar. Não vejo outra maneira.

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                  #9
                  citação:Originalmente colocada por RedHeart

                  citação:Originalmente colocada por Avant

                  citação:Originalmente colocada por sinatra

                  A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.
                  Nem tanto ao mar nem tanto à terra; a escola de hoje não está bem, mas o exemplo dado e que realça bem o saudosismo de tempos já idos tende a desculpabilizar e dar como exemplo um sistema de educação baseado na memorização livresca de inutilidades (quem ainda se lembra dos rios, afluentes, linhas, ramais e apeadeiros...) sem grande aplicação prática.
                  Pois, realmente há coisas que pareciam não servir para nada, mas sempre dava para conseguires falar com alguém de uma região que não a tua e o teu interlocutor não pensar que és da ponta oposta do país :D
                  Coisa mai linda, dois bons cidadãos juntarem-se e começarem a recitar juntos os afluentes do tejo e os ramais da linha da beira-alta... :D Aliás, para muitos defensores da "antiga quarta classe", vê-se o analfabetismo cultural de muita gente desse tempo. Trabalhadores rurais ou pouco qualificados, são incapazes de decifrar horários de autocarros numa paragem, uma carta das finanças, usar uma cabine de telefone ou um telemóvel, um computador, internet então nem se fala, um cartão MB ou até simplesmente usar correctamente um elevador... mas pronto, certamente até ao fim das suas vidas, os nomes dos afluentes de um rio qualquer de Moçambique ainda vão ser muito úteis.

                  O ensino desse tempo era maioritariamente inútil, sem aplicação prática e estupidificante, porque não convinha de forma alguma agitar mentalidades.

                  O que não desculpa o facto de a educação hoje em dia ser a balda que é. Em vez de disciplina a mais, há de facto a menos, e o próprio sistema torna tão difícil chumbar um aluno, que mais vale não ter chatisses...

                  Comentário


                    #10
                    citação:Originalmente colocada por Avant

                    citação:Originalmente colocada por RedHeart

                    citação:Originalmente colocada por Avant

                    citação:Originalmente colocada por sinatra

                    A escola do Estado Novo veio a ser acusada de mil e um defeitos, descrita como soturna e repressiva. Porém a minha geração, oriunda das mais diversas classes sócio-económicas, aprendeu. E guarda desse tempo uma memória mais banhada em ternura e nostalgia que marcada pela frustração ou revolta.
                    Nem tanto ao mar nem tanto à terra; a escola de hoje não está bem, mas o exemplo dado e que realça bem o saudosismo de tempos já idos tende a desculpabilizar e dar como exemplo um sistema de educação baseado na memorização livresca de inutilidades (quem ainda se lembra dos rios, afluentes, linhas, ramais e apeadeiros...) sem grande aplicação prática.
                    Pois, realmente há coisas que pareciam não servir para nada, mas sempre dava para conseguires falar com alguém de uma região que não a tua e o teu interlocutor não pensar que és da ponta oposta do país :D
                    Coisa mai linda, dois bons cidadãos juntarem-se e começarem a recitar juntos os afluentes do tejo e os ramais da linha da beira-alta... :D Aliás, para muitos defensores da "antiga quarta classe", vê-se o analfabetismo cultural de muita gente desse tempo. Trabalhadores rurais ou pouco qualificados, são incapazes de decifrar horários de autocarros numa paragem, uma carta das finanças, usar uma cabine de telefone ou um telemóvel, um computador, internet então nem se fala, um cartão MB ou até simplesmente usar correctamente um elevador... mas pronto, certamente até ao fim das suas vidas, os nomes dos afluentes de um rio qualquer de Moçambique ainda vão ser muito úteis.

                    O ensino desse tempo era maioritariamente inútil, sem aplicação prática e estupidificante, porque não convinha de forma alguma agitar mentalidades.

                    O que não desculpa o facto de a educação hoje em dia ser a balda que é. Em vez de disciplina a mais, há de facto a menos, e o próprio sistema torna tão difícil chumbar um aluno, que mais vale não ter chatisses...
                    Ai está algo que incomoda qulquer tuga. Chatices:D. Desde que vão pagando para as bejecas, para o futebol e para os carros. O resto suporta-se![8]

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                      #11
                      Se as coisas são difíceis, alteram-se os testes para ficarem mais fáceis... Contornamos sempre o problema em vez de resolvê-lo...

                      A exigência nunca deveria ser facilitada.

                      Comentário


                        #12
                        citação:Originalmente colocada por zerorpm

                        Se as coisas são difíceis, alteram-se os testes para ficarem mais fáceis... Contornamos sempre o problema em vez de resolvê-lo...

                        A exigência nunca deveria ser facilitada.

                        na boa prática portuguesa ;)

                        Comentário


                          #13
                          citação:Originalmente colocada por Avant
                          Coisa mai linda, dois bons cidadãos juntarem-se e começarem a recitar juntos os afluentes do tejo e os ramais da linha da beira-alta... :D Aliás, para muitos defensores da "antiga quarta classe", vê-se o analfabetismo cultural de muita gente desse tempo. Trabalhadores rurais ou pouco qualificados, são incapazes de decifrar horários de autocarros numa paragem, uma carta das finanças, usar uma cabine de telefone ou um telemóvel, um computador, internet então nem se fala, um cartão MB ou até simplesmente usar correctamente um elevador... mas pronto, certamente até ao fim das suas vidas, os nomes dos afluentes de um rio qualquer de Moçambique ainda vão ser muito úteis.

                          O ensino desse tempo era maioritariamente inútil, sem aplicação prática e estupidificante, porque não convinha de forma alguma agitar mentalidades.

                          O que não desculpa o facto de a educação hoje em dia ser a balda que é. Em vez de disciplina a mais, há de facto a menos, e o próprio sistema torna tão difícil chumbar um aluno, que mais vale não ter chatisses...
                          Bem após este post, fiquei sem (quase) nada para dizer;)

                          Acrescento só que só um doido afirma que "aprender fazendo" é um mito.

                          Está provado cientificamente que a melhor forma de aprendizagem é através da prática e do treino nas áreas que são o objectivo do estudo.

                          Comentário


                            #14
                            Aprender fazendo é quando estás a iniciar uma formação.

                            Temos de ser exigentes para sermos os melhores!

                            Achas que as escolas japonesas têm essa metodologia de aprender fazendo?

                            No Japão é ou estudaste ou não!

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