Padrasto que violentou menina de 9 anos em PE não será excomungado pelo arcebispo de Recife
Jornal Hoje, Letícia Lins - O Globo
SÃO PAULO - O arcebispo de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, não excomungou o padrasto que estuprou e engravidou a enteada de 9 anos em Alagoinha, Pernambuco. Grávida de gêmeos, a menina foi submetida a aborto na última quarta-feira e o arcebispo excomungou os médicos que participaram do procedimento e a mãe . Para o religioso, no entanto, Jailton José da Silva, o padrasto, que foi indiciado por estupro e está preso, não está incluído na excomunhão.
O arcebispo havia anunciado a excomunhão da mãe, dos médicos e de todos os envolvidos no aborto, feito com base legal, na quarta-feira, em uma maternidade pública da capital pernambucana. Quem é excomungado fica proibido de receber sacramentos da Igreja, como batismo, comunhão, crisma e casamento.
Nesta sexta, o arcebispo justificou a excomunhão alegando que "a lei de Deus está acima de qualquer lei humana", referindo-se à legislação brasileira, que autoriza o aborto em caso de estupro ou quando a mãe corre risco de vida - neste caso, as duas situações se somaram, já que ela corria risco de vida com a gravidez.
Lula defende procedimento dos médicos e lamenta posição da Igreja
Nesta sexta-feira, em visita a Vitória, no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou os médicos e afirmou que o arcebispo teve posição conservadora. (ouça o áudio)
- Como cristão e católico, lamento profundamente que um bispo católico tenha comportamento conservador como este. Acho que, neste aspecto, a medicina está mais correta que o bispo - disse o presidente, ao lembrar que a violência é responsabilidade de todos e é fruto da degradação da sociedade.
( Ouça o que disse o presidente sobre o estupro da criança )
Um dos médicos que participaram do aborto, Rivaldo Albuquerque, é católico e disse que não deixará de ir à missa.
- Minha tristeza se dá porque a Igreja poderia levar para o lado da fraternidade, mas leva para o lado do conflito. Não é esta igreja que a gente gosta, que o povo quer. O povo quer uma igreja de perdão, amor e misericórdia - disse o médico.
Perguntado se todas as mulheres que fizeram aborto após serem violentadas foram excomungadas, Dom Antonio Muniz, da regional Nordeste da CNBB, afirmou que cada caso é um caso e "continua sendo analisado como tal".
Vaticano: 'Igreja não pode trair sua missão de defender a vida'
O Vaticano e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defenderam nesta sexta a decisão da Igreja Católica em Pernambuco de condenar o aborto. O chefe do Conselho Pontifício do Vaticano para a Família, Gianfranco Grieco, disse ao jornal italiano "Corrieri della Siera" que foi correta a excomunhão dos que fizeram o aborto.
- É um tema muito, muito delicado, mas a Igreja não pode trair sua missão de defender a vida desde a sua concepção até o seu término natural, ainda que diante de um drama humano tão forte como o da violência a uma menina -
Em nota, a CNBB se diz perplexa com o crime e defende punição, na Justiça, ao agressor.
"Repudiamos veementemente este ato insano e defendemos a rigorosa apuração dos fatos, e que o culpado seja devidamente punido, de acordo com a Justiça. Lamentamos que não seja um caso isolado. Preocupa-nos o crescente número de atentados à vida de crianças, vítimas de abuso sexual. A Igreja se faz solidária com esta e todas as crianças vítimas de tamanha brutalidade, bem como com as famílias. A Igreja, em fidelidade ao Evangelho, se coloca sempre a favor da vida, numa condenação inequívoca de toda violência que fere a dignidade da pessoa humana.
No site da rede britânica BBC, a noticia foi a mais lida durante a quinta-feira. A rede Foxnews noticiou a excomunhão, citando a entrevista do arcebispo à TV Globo, e lembrando dos casos em que o aborto é permitido no Brasil. O espanhol "El Pais" ressaltou que no Brasil os assuntos de Estado não costumam se misturar com os de igreja. Em sua página, o "New York Times" citou que o aborto legal foi realizado a despeito da oposição da igreja. A decisão do bispo católico foi noticiada até no "Karachi News", do Paquistão, país de maioria muçulmana.
Jornal Hoje, Letícia Lins - O Globo
SÃO PAULO - O arcebispo de Olinda e Recife, José Cardoso Sobrinho, não excomungou o padrasto que estuprou e engravidou a enteada de 9 anos em Alagoinha, Pernambuco. Grávida de gêmeos, a menina foi submetida a aborto na última quarta-feira e o arcebispo excomungou os médicos que participaram do procedimento e a mãe . Para o religioso, no entanto, Jailton José da Silva, o padrasto, que foi indiciado por estupro e está preso, não está incluído na excomunhão.
" Acho que, neste aspecto, a medicina está mais correta que o bispo "
- Ele (o padrasto) cometeu um pecado gravíssimo, mas não está excomungado. Segundo a Igreja, o aborto é um crime mais grave ainda. A pessoa que comete o estupro, assalta ou faz tantos delitos graves que acontecem não é penalizada com a excomunhão. Mas o Código Canônico é bem claro com o aborto. Ele estabelece, em seu Cannon número 1.398, a excomunhão automática para quem o pratica. No caso da menina, permanecem excomungados os médicos, a mãe, que autorizou, e todas as pessoas que participaram do aborto - disse o religioso, acrescentando que a vítima não está excomungada por ser uma criança. O arcebispo havia anunciado a excomunhão da mãe, dos médicos e de todos os envolvidos no aborto, feito com base legal, na quarta-feira, em uma maternidade pública da capital pernambucana. Quem é excomungado fica proibido de receber sacramentos da Igreja, como batismo, comunhão, crisma e casamento.
Nesta sexta, o arcebispo justificou a excomunhão alegando que "a lei de Deus está acima de qualquer lei humana", referindo-se à legislação brasileira, que autoriza o aborto em caso de estupro ou quando a mãe corre risco de vida - neste caso, as duas situações se somaram, já que ela corria risco de vida com a gravidez.
Lula defende procedimento dos médicos e lamenta posição da Igreja
Nesta sexta-feira, em visita a Vitória, no Espírito Santo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apoiou os médicos e afirmou que o arcebispo teve posição conservadora. (ouça o áudio)
- Como cristão e católico, lamento profundamente que um bispo católico tenha comportamento conservador como este. Acho que, neste aspecto, a medicina está mais correta que o bispo - disse o presidente, ao lembrar que a violência é responsabilidade de todos e é fruto da degradação da sociedade.
( Ouça o que disse o presidente sobre o estupro da criança )
Um dos médicos que participaram do aborto, Rivaldo Albuquerque, é católico e disse que não deixará de ir à missa.
- Minha tristeza se dá porque a Igreja poderia levar para o lado da fraternidade, mas leva para o lado do conflito. Não é esta igreja que a gente gosta, que o povo quer. O povo quer uma igreja de perdão, amor e misericórdia - disse o médico.
" Ele cometeu um crime hediondo, mas não está incluido na excomunhão "
A equipe médica que fez o aborto recebeu mais de 500 mensagens de apoio de médicos e especialistas, que afirmaram que a decisão foi correta. A menina deixou nesta sexta-feira o hospital e se recupera bem. Junto com a mãe, ela foi encaminhada a um abrigo e não deve voltar a viver em Alagoinha, onde morava com a família e o padrasto. Perguntado se todas as mulheres que fizeram aborto após serem violentadas foram excomungadas, Dom Antonio Muniz, da regional Nordeste da CNBB, afirmou que cada caso é um caso e "continua sendo analisado como tal".
Vaticano: 'Igreja não pode trair sua missão de defender a vida'
O Vaticano e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) defenderam nesta sexta a decisão da Igreja Católica em Pernambuco de condenar o aborto. O chefe do Conselho Pontifício do Vaticano para a Família, Gianfranco Grieco, disse ao jornal italiano "Corrieri della Siera" que foi correta a excomunhão dos que fizeram o aborto.
- É um tema muito, muito delicado, mas a Igreja não pode trair sua missão de defender a vida desde a sua concepção até o seu término natural, ainda que diante de um drama humano tão forte como o da violência a uma menina -
Em nota, a CNBB se diz perplexa com o crime e defende punição, na Justiça, ao agressor.
"Repudiamos veementemente este ato insano e defendemos a rigorosa apuração dos fatos, e que o culpado seja devidamente punido, de acordo com a Justiça. Lamentamos que não seja um caso isolado. Preocupa-nos o crescente número de atentados à vida de crianças, vítimas de abuso sexual. A Igreja se faz solidária com esta e todas as crianças vítimas de tamanha brutalidade, bem como com as famílias. A Igreja, em fidelidade ao Evangelho, se coloca sempre a favor da vida, numa condenação inequívoca de toda violência que fere a dignidade da pessoa humana.
" Não é esta igreja que a gente gosta, que o povo quer. O povo quer uma igreja de perdão, amor e misericórdia "
A notícia da excomunhão dos envolvidos no aborto correu o mundo e foi comentada pela imprensa de diversos países. No site da rede britânica BBC, a noticia foi a mais lida durante a quinta-feira. A rede Foxnews noticiou a excomunhão, citando a entrevista do arcebispo à TV Globo, e lembrando dos casos em que o aborto é permitido no Brasil. O espanhol "El Pais" ressaltou que no Brasil os assuntos de Estado não costumam se misturar com os de igreja. Em sua página, o "New York Times" citou que o aborto legal foi realizado a despeito da oposição da igreja. A decisão do bispo católico foi noticiada até no "Karachi News", do Paquistão, país de maioria muçulmana.
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