Sociedade Quem é que é o preto?

[CarlosL]

Na nossa cultura que se reflecte na linguagem, as expressões relacionadas com trabalho e preto, são mais que muitas.

De tal maneira essas expressões estão distribuídas por este povo, que todos (+/-) as utilizam para adjectivar certas situações.

Tudo isto vem a propósito de uma situação num Centro de Saúde, passada hoje entre o Director e um outro médico, tendo o Director dito que era altura do outro trabalhar mais, pois ele (o Director) não era o preto lá do sítio.
Tudo isto seria um fait divers de somenos importância, se o médico a quem foi dirigida a observação não fosse ligeiramente escuro...

E aí o caldo entornou-se.

Qual é a vossa experiência de casos destes? Já usaram ou ouviram este tipo de expressões de modo que tivessem originado situações fora do normal?

Vamos lá a falar da vossa vivência.

[Raistaparta]

Essa expressão no fundo até é elogiosa mesmo que a intenção de quem a diz não seja a de elogiar. É sinal que os pretos são vistos como trabalhadores, o que se compreende dado que são vulgarmente associados aos trabalhos nas obras ou na limpeza, que como se sabe, é onde se verga bem a mola.

Mas claro que pode ter conotações racistas, isso depende de quem o diz e de quem o ouve, é sempre complicado e na presença de um preto é claro que eu não o digo, apesar de já ter usado essa expressão quase que inconscientemente, é daquelas coisas que se ouvem e depois se repetem quase sem pensar.

Mas penso que deva ser vista como outras expressões: "trabalhar que nem um mouro/galego" (já ouvi ambas), "comer que nem um labrego", "pensas que sou loura?" e por aí fora. Expressões que analisadas a fundo podem ter conotação negativa mas que as pessoas dizem por hábito e na maior parte das vezes sem maldade.

[bond]

Na nossa cultura que se reflecte na linguagem, as expressões relacionadas com trabalho e preto, são mais que muitas.

De tal maneira essas expressões estão distribuídas por este povo, que todos (+/-) as utilizam para adjectivar certas situações.

Tudo isto vem a propósito de uma situação num Centro de Saúde, passada hoje entre o Director e um outro médico, tendo o Director dito que era altura do outro trabalhar mais, pois ele (o Director) não era o preto lá do sítio.
Tudo isto seria um fait divers de somenos importância, se o médico a quem foi dirigida a observação não fosse ligeiramente escuro...

E aí o caldo entornou-se.

Qual é a vossa experiência de casos destes? Já usaram ou ouviram este tipo de expressões de modo que tivessem originado situações fora do normal?

Vamos lá a falar da vossa vivência.

Sendo eu um bocado moreno, já ouvi isso à minha frente e depois lá vem a desculpa que não tem nada a ver e bla bla....
Acho que está incutido na sociedade que o escravo é preto, logo quando se tem de trabalhar muito lá vem a analogia...

[Avant]

Oh pah, nem me digas nada, uma vez estava a conversar com um amigo moçambicano acerca do trabalho e saiu-me "e os pretos somos nós ò Amilcar"... o que vale é que após 3 segundos de silêncio saiu gargalhada...

[PMCC]

É uma das situações que tento não me acontecer. Já fiquei um bocado atrapalhado ao dizer uma conversa desse tipo e tar junto a mim uma pessoa de pele escura. Desde esse dia, penso que nunca mais a disse.

[TheMoBsTeR]

Eu conheço um rapaz que diz na brincadeira "És assim porquê? É porque eu sou preto??" e por acaso é

Eu não acho a frase nada ofensiva, porque qualquer conotação racista que alguma vez teve esfumou-se com o tempo

É como a malta da Lourinhã

[Speedy]

Essa expressão no fundo até é elogiosa mesmo que a intenção de quem a diz não seja a de elogiar. É sinal que os pretos são vistos como trabalhadores, o que se compreende dado que são vulgarmente associados aos trabalhos nas obras ou na limpeza, que como se sabe, é onde se verga bem a mola.

Mas claro que pode ter conotações racistas, isso depende de quem o diz e de quem o ouve, é sempre complicado e na presença de um preto é claro que eu não o digo, apesar de já ter usado essa expressão quase que inconscientemente, é daquelas coisas que se ouvem e depois se repetem quase sem pensar.

Mas penso que deva ser vista como outras expressões: "trabalhar que nem um mouro/galego" (já ouvi ambas), "comer que nem um labrego", "pensas que sou loura?" e por aí fora. Expressões que analisadas a fundo podem ter conotação negativa mas que as pessoas dizem por hábito e na maior parte das vezes sem maldade.

Grande análise sobre o tema. Estou inteiramente de acordo.

[bizarro]

Essa expressão no fundo até é elogiosa mesmo que a intenção de quem a diz não seja a de elogiar. É sinal que os pretos são vistos como trabalhadores, o que se compreende dado que são vulgarmente associados aos trabalhos nas obras ou na limpeza, que como se sabe, é onde se verga bem a mola.

Penso que a expressão tem a origem exactamente oposta.

Quando o trabalho é mau e ninguém o quer fazer.. é trabalho de preto! Não é por eles serem trabalhadores ou não, é porque (historicamente) eram escravos e era só mandar fazer que eles faziam.

Alguém que é o "preto" de uma empresa, é um gajo que trabalha como tudo, faz os trabalhos que mais ninguém quer e ainda por cima ganha mal.

Ninguém diz "O que.. queres que vá para director geral para não fazer nada e ganhar 5000€ por mês?!?!.. Epah... isso é trabalho de preto!".

Tenho um professor que um dia no meio da aula se estava a queixar que no grupo onde estava inserido qualquer trabalho que aparecesse para fazer era sempre remetido para ele... até que disse "Sou o preto lá do sitio!"... Isto com uma turma de 30 alunos de várias origens.. gerou-se algum silêncio, mas o professor lá deu a volta!

Confesso que é uma expressão que me sai com alguma frequência! Quando estou a fazer tarefas chatas e que detesto.. digo que estou a faer trabalho de preto!

[Hugo1984]

Na faculdade:

"Nós (Educação Física) somos pretos?..."

Uma expressão que muito era usada. Não vejo mal nenhum. Nem nunca ninguém perto de mim levou a mal.

[mablopes]

Acho que cada vez mais o politicamente correcto está levado ao extremo...

Já me aconteceu a conversar com um amigo invisual: "Não tenho dinheiro nem para mandar cantar um cego!"

Claro que nos rimos os 2, pedi-lhe desculpa, mas ele percebeu perfeitamente a expressão que não teve qualquer sentido pejorativo...

[PeLeve]

Acho que essa é semelhante, entre muitas outras, à expressão "és mesmo judeu", quando as pessoas se referem a outra como sádica. Um "aqui o preto sou eu", ou "eles que são brancos que se entendam", que hoje em dia todos nós usamos e que não têm nenhuma carga negativa, são, apenas e simplesmente, desabafos perante as situações da vida!

Quando, por exemplo, o Scolari referiu a célebre frase "E o burro sou eu?" certamente que não se restava a comparar a si, ou a outrém, ao dito jumento, mas apenas usava uma figuração para expressar a ideia que pretendia!...

A mesma lógica se pode aplicar à seguinte conversa, "pá, então o que é que fazes?", "nada, já compro tudo feito!".

[CarlosL]

Tenho uma história, de um amigo que num trabalho de grupo na Faculdade, ao distribuirem o projecto, um Angolano voltou-se para a malta e disse: "Ah, eu é que sou o preto?"

[Valium]

Quase todas essas expressões tem raízes históricas e por isso adequada a um tempo muito diferente do actual.
Se calhar hoje em dia já teria que se adequar para trabalhas que nem um ucraniano ou outro país do leste ...

Creio que é uma expressão como outras que o Raistaparta tão bem exemplificou, quando não conheço as pessoas e como pode ser mal interpretada tenho algum cuidado. Mas tenho um colega de trabalho, cabo verdiano, que sempre que se queixa que é pau para toda a obra, ou ele ou eu, acabamos sempre por utilizar essa expressão.

[PeLeve]

Tenho uma história, de um amigo que num trabalho de grupo na Faculdade, ao distribuirem o projecto, um Angolano voltou-se para a malta e disse: "Ah, eu é que sou o preto?"

Dessas já assisti a muitas, mas recordo-me que na secundária havia um colega de turma que era negro (um gajo impecável, por sinal) e que, numa dada aula, mandou um piropo a uma colega da turma (uma que lá havia toda gira...) e ela, sem que ele estivesse à espera, respondeu-lhe um seco "e se metesses a língua no saco?". Fez-se silêncio... Até que um engraçadinho soltou esta, "ena o gajo ficou todo vermelho"...

Naturalmente que a gargalhada foi geral e, como não podia deixar de ser, até o visado se desmanchou a rir, pois percebeu que a brincadeira nada tinha de mal!

[GansoLFM]

Acho que cada vez mais o politicamente correcto está levado ao extremo...

Já me aconteceu a conversar com um amigo invisual: "Não tenho dinheiro nem para mandar cantar um cego!"

Claro que nos rimos os 2, pedi-lhe desculpa, mas ele percebeu perfeitamente a expressão que não teve qualquer sentido pejorativo...

Trabalhei durante um Verão numa empresa de telemarketing e estavam lá a trabalhar um cego e um coxo e nos intervalos eles estavam sempre picados, e cheguei a ouvir uma pérola destas:

Cego para o coxo: Então pá? Como é que tens andado?
Coxo para o cego: Como tens visto!

E sim, era literalmente assim!

[CarlosL]

Há um restaurante junto ao Corte Ingles em Vigo, Las Bridas, que o dono galego de gema esteve em Portugal desde muito pequenino, chegando a trabalhar em bons restaurantes me Portugal (um deles, o Mónaco), que dizia que ele em Portugal é que era o Galego.

Muito bom Restaurante.

[edununo]

Isto até parece anedota mas uma vez no liceu tinhamos um colega coxo e certo dia numa aula de francês na altura da chamada a prof pergunta " Qui manque?" E um colega diz: O João! Foi gargalhada total e o outro foi para a rua!

Quanto a essas expressões às vezes lá sai mas nunco por motivos racistas e nunca vi ninguém ficar chateado.

[Echos]

isto até parece anedota mas uma vez no liceu tinhamos um colega coxo e certo dia numa aula de francês na altura da chamada a prof pergunta " qui manque?" e um colega diz: O joão! Foi gargalhada total e o outro foi para a rua!

quanto a essas expressões às vezes lá sai mas nunco por motivos racistas e nunca vi ninguém ficar chateado.

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[BLADERUNNER]

O uso da expressão na circunstância concreta, não sei se teve ou não má intenção pois não estive lá para ver.

As pessoas usam imensas expressões por estarem habituadas e nem reflectem no significado pejorativo que elas acarretam. Mas também é inegável que a sua existência tem sempre uma origem explicável. Não há dúvida que os negros escravos de antigamente foram sempre aqueles que realizaram as tarefas que ninguém queria fazer.

Mas temos de analisar bem o triste espírito humano de subjugar física e verbalmente quem acham que está em maiores dificuldades, senão vejamos. Nós também não somos brancos, perante os olhos dos caucasianos que nos chamam de latinos. E os “pretos” deles somos nós que tanto na europa como na américa do norte fazemos as tarefas que eles não querem fazer e que habitualmente são desempenhadas cá pelos imigrantes. Queixamo-nos da forma como muitos emigrantes portugueses são tratados “lá fora” mas fazemos rigorosamente o mesmo aos que acolhemos “cá dentro”. Faz parte de uma certa forma de primitivismo social recriminável. As pessoas precisam de reprimir e por vezes até humilhar o seu semelhante, seja pela sua cor da pele, etnia, sexo ou credo religioso, para se sentirem melhores consigo mesmas por se sentirem superiores em relação a alguém.

Esta história faz-me lembrar uma entrevista que um jornalista alemão fez ao já falecido escritor brasileiro Jorge amado, em que a certa altura lhe perguntou como se sentia sendo um branco a viver num país em que quase toda a população era de cor. Ele respondeu-lhe que não era branco, mas que tinha origens índias e julgo que mestiças das quais muito se orgulhava. Como no futuro as raças branca, negra, etc, tenderão a se extinguir dando origem a uma mistura racial, então todo o tempo que se perdeu com atitudes racistas será ridicularizado, pois foi um atentado contra os nossos próprios futuros descendentes que serão a mistura de diversas raças.

Para mim o racismo ou qualquer outro tipo de discriminação é apenas e só a arma dos fracos de espírito.
Como eu penso como Ralph Waldo Emerson quando diz que “cada pessoa que eu encontro é superior a mim em algum aspecto sobre o qual eu aprendo algo”, então há que encarar a vida com uma mente mais aberta para conseguirmos tirar partido de tudo o que ela tem para nos oferecer.
Agora nós todos temos uma pesada herança devido ao que foi infringido às pessoas de cor pelos nossos antepassados sem que muitos tenham feito alguma coisa para o contrariar. É que é sempre mais difícil ficar do lado dos perdedores do que dos que estão em melhor situação. “O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.”(Albert Einstein)

[hifi]

O tal director do Centro é daqui de Viseu, é "manda-chuva" e já se está a ver o q vai acontecer...
Na volta, o outro ainda fica mal visto.

Esse director deveria ser "removido".

Já agora: n somos um país de brandos costumes, apenas sem costumes, e somos um país recista. Tanto como qualquer outro q queiramos nomear, porque isso do "racismozito" n existe.

[JorgeCorreia]

Bom post Blade Runner!

[Cheires]

Uma vez ouvi uma conversa entre duas pessoas mulatas.
Uma diz para a outra. "Olá preta"
Ao que a outra responde. "Preta és tu".
Relembro que ambas são mulatas.

Já no liceu estamos todos numa aula e o prof vira-se para um colega a pedir-lhe para mostrar o que tinha escrito anteriormente no quadro.
O colega vira o caderno para o prof e o prof responde
"É pá, que isto é letra de preto", escusado será dizer que ao lado estava um colega preto, cuja alcunha era choc.
Haviam de ver a cara do prof quando viu o colega ao lado.

[Nthor]

A maioria dos escravos era conquistada, mas alguns eram homens livres vendidos como escravos para pagar suas dívidas.
O valor de um escravo variava dependendo de suas qualidades: idade, beleza e força.



Os escravos cozinhavam, cuidavam do jardim, colocavam lenhas nas fogueiras e limpavam as casas. Os escravos mais educados serviam de tutores, administravam as contas ou ajudavam e gerenciar o negócio do dono.
Os escravos podiam ser comprados, vendidos ou executados, dependendo dos caprichos dos donos.



Todos os escravos estavam marcados ou tinham um colar de identificação para evitar a fuga. Escravos leais eram algumas vezes premiados com a liberdade ou conseguiam comprá-la. Outros a ganhavam em combates com gladiadores ou em corridas de carruagens – se conseguissem sobreviver

Discovery Channel - Escravidão

A escravatura é uma herança pesada da humanidade, mas não deve ser usada como desculpa para tudo, principalmente depois de 300...

... ou 2000 anos.

[MariaHelena]

Acho que essa é semelhante, entre muitas outras, à expressão "és mesmo judeu", quando as pessoas se referem a outra como sádica. Um "aqui o preto sou eu", ou "eles que são brancos que se entendam", que hoje em dia todos nós usamos e que não têm nenhuma carga negativa, são, apenas e simplesmente, desabafos perante as situações da vida!

Quando, por exemplo, o Scolari referiu a célebre frase "E o burro sou eu?" certamente que não se restava a comparar a si, ou a outrém, ao dito jumento, mas apenas usava uma figuração para expressar a ideia que pretendia!...

A mesma lógica se pode aplicar à seguinte conversa, "pá, então o que é que fazes?", "nada, já compro tudo feito!".

Eu penso um pouco assim.

Eu tenho duas histórias engraçadas. Aqui há uns anitos, tivemos na escola um colega jogador de Basquetebol negro (como homem muito interessante,...).
Estavamos numa reunião do Departamento e o Fred, chega atrasado, ...ouve o que estavamos a definir e levanta uma questão muito pertinente. Diz um outro colega meu,...porra!! estava a ir tudo tão bem,...tinha que vir agora o Cabr** do preto chatear,...
Rimos, inclusivé ele.

Há umas amigas do meu irmão, também de Educação Física, que frequentavam a nossa casa. A mãe dessa rapariga, era branca e o pai negro. Elas eram mulatas, mas pareciam mais indianas.
Um dia ela e a irmâ na casa delas, estavam a discutir à imenso tempo, de quem era a vez de lavar a louça. A mãe (branca), farta de as ouvir, disse. "a mim, não me interessa, vocês é que são pretas que se entendam,... "

[MariaHelena]

Dessas já assisti a muitas, mas recordo-me que na secundária havia um colega de turma que era negro (um gajo impecável, por sinal) e que, numa dada aula, mandou um piropo a uma colega da turma (uma que lá havia toda gira...) e ela, sem que ele estivesse à espera, respondeu-lhe um seco "e se metesses a língua no saco?". Fez-se silêncio... Até que um engraçadinho soltou esta, "ena o gajo ficou todo vermelho"...

Naturalmente que a gargalhada foi geral e, como não podia deixar de ser, até o visado se desmanchou a rir, pois percebeu que a brincadeira nada tinha de mal!

Eu tenho uma amiga espanhola formada em Física. Tem sempre a resposta na ponta da língua. Começou a trabalhar, numa empresa, em que ela era quase a única mulher, tinha todo o cuidado a vestir, para não provocar nenhuma situação mais aborrecida. Mas mesmo assim um dia um superior hierárquico, com olhar malandro, dirigiu-se a ela e perguntou-lhe a idade. Ela respondeu olhando-o nos olhos, sem pestanejar: " Para ti tenho 68,..."

[CarlosL]

Eu tenho uma amiga espanhola formada em Física.
...

Mas é preta?

[MariaHelena]

Mas é preta?

Não, mas lembrei-me da história, por causa do Pé Leve ter contado a dele, e sempre que me lembro da história e dela, farto-me de rir, porque ela é muito expressiva.

..., mas porquê?? Não posso contar?? faz favor mais respeitinho Sr. Carlos L., ...

Avisinho: Eu faço, o que me apetece e conto o que me apetece,...