Autoeuropa admite sair de Palmela
A administração da Autoeuropa prepara-se para tomar medidas drásticas na fábrica de Palmela, depois de ter considerado impossível continuar as negociações com a comissão de trabalhadores da empresa. Isto mesmo foi comunicado ontem pelo director-geral, Andreas Hinrichs, numa comunicação interna a que o i teve acesso.
"Lamentavelmente, não foi possível alcançar um consenso entre ambas as partes", informou Hinrichs, avisando que "a empresa irá tomar as decisões que melhor se ajustem à situação actual". Em cima da mesa está a não renovação de contrato a 250 trabalhadores a prazo, cujo vínculo termina entre Julho e Agosto. Estes postos seriam salvaguardados caso a comissão de trabalhadores aceitasse renegociar o acordo de empresa, vigente até 2010. Bo entanto, a directora de comunicação da Autoeuropa, Carmo Jardim, confirmou ao i que a administração vai "analisar o comportamento do mercado" a partir de hoje e comunicará as medidas a tomar "o mais rápido possível". Isto inclui, admite a responsável, o risco de sair de Portugal. "Não há nenhum plano", garante a directora de comunicação, "mas infelizmente eles não aceitaram a proposta e o risco de saída existe." Esta hipótese não tinha sido admitida pela responsável na segunda-feira, dia em que também António Chora, porta-voz da comissão de trabalhadores, disse ao i que "não há qualquer intenção de deslocalizar a produção".
Certo é que haverá consequências para os 3028 trabalhadores da segunda maior exportadora nacional. Fonte próxima da empresa disse ao i que a carta de Hinrichs originou um alvoroço nos corredores da empresa e que "ninguém sabe mesmo quais os passos seguintes nesta história nem o seu futuro pessoal e profissional". Alguns trabalhadores admitem um recuo e a eventual cedência perante as posições da administração, mas nada foi decidido. Os outros cenários são o lay-off de algumas centenas de trabalhadores e a redução do salário aos restantes, já que o subsídio de turno (cerca de 15%) não será pago se a redução de dois para apenas um período de trabalho se confirmar a partir de Agosto.
"Só a Autoeuropa poderá resolver os seus problemas, nenhum governo ou entidade está à altura de resolver a situação actual." A frase foi dita pelo director-geral da Autoeuropa na reunião de segunda-feira, quando a administração tentou convencer os trabalhadores a aceitarem a renegociação do acordo de empresa. Em causa está a quebra das vendas e o excesso de capacidade da unidade - neste momento trabalha apenas a 43%. A administração queria que os trabalhadores aceitassem a não remuneração dos sábados, se trabalhassem mais de 208 dias no fim do ano e não tivessem saldo negativo de dias de paragem (downdays).
CLUSTER EM RISCO
Na semana passada a Autoeuropa pediu à Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) dados concretos sobre a indústria de componentes que depende da fábrica de Palmela. A administração queria ter números para fundamentar a sua posição quando reunisse com os trabalhadores nesta segunda-feira. E o cenário que a AFIA lhe mostrou é negro: só no primeiro semestre de 2009, a quebra de facturação nas principais empresas do sector atingiu os 35% em comparação com o mesmo período do ano passado.
As 55 empresas que constituem o grosso da indústria de componentes já despediram mais de mil pessoas desde que a crise começou. Adão Ferreira, secretário técnico da AFIA, garante que estes números surpreenderam, uma vez que se esperava um nível maior de despedimentos num sector que emprega cerca de 39 mil pessoas. Isto não está a acontecer porque as empresas do cluster da Autoeuropa não acreditam na possibilidade da saída de Palmela.
"As empresas estão com pessoas a mais mas não têm dinheiro para despedir efectivos", explica Adão Ferreira, garantindo que "o clima está tranquilo". Enquanto o sufoco não passa, acrescenta ainda o responsável, várias empresas estão já à procura de novos clientes fora de Portugal e de entrar em novos sectores para diversificar a produção. "Formar um técnico automóvel é muito caro e estas empresas acreditam que mais cedo ou mais tarde a produção vai regressar", garante. Para o responsável, a alegada ameaça de saída foi uma forma de pressionar a comissão de trabalhadores.
O i contactou as principais empresas de componentes, incluindo a Peguform, Faurecia e Inapal, mas houve uma recusa generalizada de fazer declarações. "Ninguém quer criar alarmismo", explicou ao i fonte do sector. A verdade é que a Autoeuropa é a principal cliente deste sector e muitas empresas estão mesmo sedeadas no parque industrial de Palmela. Uma saída da Volkswagen seria equivalente ao fim do cluster automóvel, que só em 2008 gerou receitas de 5,5 mil milhões de euros e que exporta quase 100% da sua produção.
Este é aliás o principal motivo da grave quebra de produção. As vendas de carros estão a cair há 12 meses consecutivos na Europa - em Abril voltaram a recuar 12,3%, segundo dados da Associação de Construtores Europeus de Automóveis. Desde o início do ano, a queda acumulada foi de 15,9% só na Europa ocidental, enquanto no Leste atingiu os 26,3%. Isto explica porque Hinrichs sustenta que nenhum governo ou organização podem salvar a Autoeuropa. No entanto, a empresa tem um compromisso com o Estado que a obriga a manter--se em Portugal até 2014. Já em 2008 Andreas Hinrichs reiterou a intenção de investir 541 milhões de euros em Palmela durante os próximos dois anos.
Fonte
A administração da Autoeuropa prepara-se para tomar medidas drásticas na fábrica de Palmela, depois de ter considerado impossível continuar as negociações com a comissão de trabalhadores da empresa. Isto mesmo foi comunicado ontem pelo director-geral, Andreas Hinrichs, numa comunicação interna a que o i teve acesso.
"Lamentavelmente, não foi possível alcançar um consenso entre ambas as partes", informou Hinrichs, avisando que "a empresa irá tomar as decisões que melhor se ajustem à situação actual". Em cima da mesa está a não renovação de contrato a 250 trabalhadores a prazo, cujo vínculo termina entre Julho e Agosto. Estes postos seriam salvaguardados caso a comissão de trabalhadores aceitasse renegociar o acordo de empresa, vigente até 2010. Bo entanto, a directora de comunicação da Autoeuropa, Carmo Jardim, confirmou ao i que a administração vai "analisar o comportamento do mercado" a partir de hoje e comunicará as medidas a tomar "o mais rápido possível". Isto inclui, admite a responsável, o risco de sair de Portugal. "Não há nenhum plano", garante a directora de comunicação, "mas infelizmente eles não aceitaram a proposta e o risco de saída existe." Esta hipótese não tinha sido admitida pela responsável na segunda-feira, dia em que também António Chora, porta-voz da comissão de trabalhadores, disse ao i que "não há qualquer intenção de deslocalizar a produção".
Certo é que haverá consequências para os 3028 trabalhadores da segunda maior exportadora nacional. Fonte próxima da empresa disse ao i que a carta de Hinrichs originou um alvoroço nos corredores da empresa e que "ninguém sabe mesmo quais os passos seguintes nesta história nem o seu futuro pessoal e profissional". Alguns trabalhadores admitem um recuo e a eventual cedência perante as posições da administração, mas nada foi decidido. Os outros cenários são o lay-off de algumas centenas de trabalhadores e a redução do salário aos restantes, já que o subsídio de turno (cerca de 15%) não será pago se a redução de dois para apenas um período de trabalho se confirmar a partir de Agosto.
"Só a Autoeuropa poderá resolver os seus problemas, nenhum governo ou entidade está à altura de resolver a situação actual." A frase foi dita pelo director-geral da Autoeuropa na reunião de segunda-feira, quando a administração tentou convencer os trabalhadores a aceitarem a renegociação do acordo de empresa. Em causa está a quebra das vendas e o excesso de capacidade da unidade - neste momento trabalha apenas a 43%. A administração queria que os trabalhadores aceitassem a não remuneração dos sábados, se trabalhassem mais de 208 dias no fim do ano e não tivessem saldo negativo de dias de paragem (downdays).
CLUSTER EM RISCO
Na semana passada a Autoeuropa pediu à Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA) dados concretos sobre a indústria de componentes que depende da fábrica de Palmela. A administração queria ter números para fundamentar a sua posição quando reunisse com os trabalhadores nesta segunda-feira. E o cenário que a AFIA lhe mostrou é negro: só no primeiro semestre de 2009, a quebra de facturação nas principais empresas do sector atingiu os 35% em comparação com o mesmo período do ano passado.
As 55 empresas que constituem o grosso da indústria de componentes já despediram mais de mil pessoas desde que a crise começou. Adão Ferreira, secretário técnico da AFIA, garante que estes números surpreenderam, uma vez que se esperava um nível maior de despedimentos num sector que emprega cerca de 39 mil pessoas. Isto não está a acontecer porque as empresas do cluster da Autoeuropa não acreditam na possibilidade da saída de Palmela.
"As empresas estão com pessoas a mais mas não têm dinheiro para despedir efectivos", explica Adão Ferreira, garantindo que "o clima está tranquilo". Enquanto o sufoco não passa, acrescenta ainda o responsável, várias empresas estão já à procura de novos clientes fora de Portugal e de entrar em novos sectores para diversificar a produção. "Formar um técnico automóvel é muito caro e estas empresas acreditam que mais cedo ou mais tarde a produção vai regressar", garante. Para o responsável, a alegada ameaça de saída foi uma forma de pressionar a comissão de trabalhadores.
O i contactou as principais empresas de componentes, incluindo a Peguform, Faurecia e Inapal, mas houve uma recusa generalizada de fazer declarações. "Ninguém quer criar alarmismo", explicou ao i fonte do sector. A verdade é que a Autoeuropa é a principal cliente deste sector e muitas empresas estão mesmo sedeadas no parque industrial de Palmela. Uma saída da Volkswagen seria equivalente ao fim do cluster automóvel, que só em 2008 gerou receitas de 5,5 mil milhões de euros e que exporta quase 100% da sua produção.
Este é aliás o principal motivo da grave quebra de produção. As vendas de carros estão a cair há 12 meses consecutivos na Europa - em Abril voltaram a recuar 12,3%, segundo dados da Associação de Construtores Europeus de Automóveis. Desde o início do ano, a queda acumulada foi de 15,9% só na Europa ocidental, enquanto no Leste atingiu os 26,3%. Isto explica porque Hinrichs sustenta que nenhum governo ou organização podem salvar a Autoeuropa. No entanto, a empresa tem um compromisso com o Estado que a obriga a manter--se em Portugal até 2014. Já em 2008 Andreas Hinrichs reiterou a intenção de investir 541 milhões de euros em Palmela durante os próximos dois anos.
Fonte
Lá tambem começou assim, com desentendimento entre a administração e os trabalhadores.
Esperemos que estes tenham aprendido alguma coisa com o que se passou na Azambuja.
Comentário