A propósito de um outro tópico:
Temos aqui pelo fórum alguns posts e tópicos (que encontrei na pesquisa) sobre este tema:
http://forum.autohoje.com/off-topic/...html#post20577
http://forum.autohoje.com/off-topic/...-caparica.html
Mas, se não for suficiente, talvez este artigo ajude a entender melhor:
Erosão da costa
Algumas fotos:
A Eroso da Costa Vicentina photo - Dias dos Reis photos at pbase.com
E um artigo de 2005:
Risco de erosão na costa aumenta - Observatório do Algarve
Temos aqui pelo fórum alguns posts e tópicos (que encontrei na pesquisa) sobre este tema:
Originalmente Colocado por DeBeF
Ver Post
http://forum.autohoje.com/off-topic/...-caparica.html
Mas, se não for suficiente, talvez este artigo ajude a entender melhor:
“A tendência da erosão na nossa costa é para um aumento crescente. Um dos estudos por nós realizado recorreu à análise temporal de fotografias aéreas numa estação fotogramétrica, desde 1958 até 2002. Neste período, entre o Furadouro e a Praia de Mira, registámos nalguns pontos recuos de 230 metros correspondente a uma perda efectiva do sistema praia-duna e um recuo médio da linha de costa de 6 m/ano. Há dois anos, por exemplo, registou-se em algumas zonas, durante um único temporal com duração de 72 horas, recuos da linha de costa de 15 metros”.
O alerta é da Prof. Doutora Cristina Bernardes, investigadora do grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociências da UA, unidade de investigação que estudo o fenómeno da erosão desde Janeiro de 1996. Quase dez anos de investigações que permitem apresentar já conclusões importantes da evolução da zona costeira entre a Praia do Furadouro e a Praia de Mira, com especial ênfase na zona a sul da Barra/Costa Nova, onde o fenómeno erosão ameaça futuro da costa da erosão tem sido bastante sério com tendência para piorar, e apontar medidas para travar este fenómeno.
A principal conclusão não é animadora: cada vez há menos sedimento disponível para ser transportado pelas correntes da deriva litoral, factor decisivo para o aumento da erosão na Costa de Aveiro.
“A tendência na zona de Aveiro é para uma erosão muito séria e continuação do recuo da linha da costa. Os rios trazem cada vez menos sedimentos até à foz. Para esta zona, o Rio Douro é o principal contribuinte de sedimentos, mas devido às barragens uma grande quantidade fica aí retido, factor ao qual se associa as extracções de areias. As correntes estão artificialmente desnutridas de sedimento e se não têm o que depositar, dissipam a sua energia na erosão das praias e das dunas. Por outro lado, os molhes do Porto de Aveiro, os esporões e enrocamentos presentes em todo o sector acabam por ser armadilhas para o pouco sedimento disponível”.
Soluções viáveis pressupõem vontade política
No entanto, esta tendência pode reverter-se, havendo vontade política e condições económicas. Algumas das soluções apontadas passam pela transferência artificial dos sedimentos do molhe norte para o sul ou pela destruição dos esporões substituindo-os pela re-alimentação artificial das praias. “Actualmente, são estas as soluções que se têm vindo a adoptar em outras partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, há estados onde é totalmente proibido construir esporões. Os que já tinham sido construídos foram retirados, substituindo estas intervenções invasivas pela re-alimentação artificial e periódica das praias, e realmente verificou-se uma recuperação nítida das mesmas. Estas medidas têm os seus encargos mas se avaliarmos os custos da construção de um esporão e a sua manutenção, acaba por ficar mais barato fazer a re-alimentação. Foi com esta opção que se recuperaram as praias da Costa Nova e da Barra na década de 70/80”.
Os esporões resolvem o problema pontualmente, no entanto, transferem o problema para sul, uma vez que normalmente não se colmatam. A projecção mar a dentro é cada vez maior. Os esporões recentemente construídos na Praia do Areão, na Vagueira, e na Praia do Poço da Cruz, em Mira, por exemplo, têm cerca de 230 metros, embora apresentem uma inclinação de 30º para sul, com o objectivo de facilitar a passagem dos sedimentos transportados pelas correntes litorais.
Na zona de Aveiro poderia ser feita a transposição dos sedimentos acumulados no molhe norte para a zona a sul, através de um processo de 'by-passing', ou fazer a re-alimentação artificial com sedimentos de granolumetria adequada, provenientes do desassoreamento dos canais da laguna, e não a partir da areia depositada na zona submersa das próprias praias, como se tem vindo a fazer. Também a manutenção dos diques arenosos que substituíram, em mais de 80%, o sistema de dunas frontais entretanto erodido, não está a ser feita da forma mais adequada.
Quando se fazem estas intervenções, o que acontece durante e após os períodos de temporal, a areia é retirada directamente da praia através de um processo de “raspagem”, provocando não só uma diminuição na largura da mesma mas, também, um profundo desequilíbrio entre a morfologia artificialmente criada e as condições hidrodinâmicas do meio. Neste contexto, se as condições de maior agitação marítima se repetirem, o que é frequente dado o carácter repetitivo dos temporais na nossa costa, a zona de espraio das ondas desloca-se em direcção a “terra” alcançando e erodindo o dique recém reconstruído”.
Elaboração de mapas de vulnerabilidade e de risco é o próximo desafio
“Rimar - Riscos Naturais Associados a Variações do Nível do Mar” e “CROP – Processos Transversais em Ambientes Contrastantes” foram os projectos de investigação mais recentes desenvolvidos pelo grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociências da UA, em parceria com as Universidades do Algarve, Porto, Évora, Lisboa e Coimbra, e os Institutos Hidrográfico, de Meteorologia e das Ciências da Terra e do Espaço. Com o objectivo de estudar, de forma integrada, os quatros principais fenómenos indutores de riscos naturais, nomeadamente, a elevação secular do nível médio do mar, os temporais, a elevação de índole meteorológica e os tsunamis, foi feita uma comparação entre duas zonas do litoral português energeticamente distintas, situadas em Aveiro e no Algarve.
O objectivo geral era comparar os processos causa-efeito em resposta aos factores naturais, mesmo sendo relativamente diferentes em termos de condições hidrodinâmicas. “É mais fácil estudar no Algarve as consequências da acção de um temporal, por exemplo, e de que forma os sistemas, neste caso, as praias e as dunas se comportam, e tentar transpor para a zona de Aveiro, salvaguardando as devidas diferenças”, acrescentou a investigadora. Por outro lado, explicou, “no Algarve conseguimos fazer um conjunto de medições como quantificar o volume de sedimento que é transportado pela deriva litoral, as trocas transversais, num perfil contínuo, entre a praia e a plataforma adjacente e alguns parâmetros físicos, o que em Aveiro é praticamente impossível, devido às condições altamente energéticas que caracterizam a costa ocidental portuguesa.
No projecto “CROP” os estudos incidiram não só sobre a praia emersa, mas estenderam-se também à plataforma adjacente, até uma profundidade de 30-40m, para melhor perceber como é que as morfologias aí presentes, barras arenosas, se comportam e transferem o sedimento para a praia.
A elaboração de mapas de vulnerabilidade e de risco é o próximo desafio da equipa de investigação do Departamento de Geociências. Através de um projecto submetido para aprovação à Fundação para a Ciência e Tecnologia, propõe-se quantificar os factores de risco desta zona tão vulnerável à erosão. “Baseando-nos num conjunto de geo-indicadores que incluem aspectos ligados ao uso do solo, características topográficas, variação da posição da linha de costa ao longo do tempo, taxas médias de erosão, susceptibilidade ao galgamento, entre outros, pretendemos definir perfis e níveis de risco a partir de matrizes de vulnerabilidade que mais tarde serão incorporadas num sistema de informação geográfica”.
O alerta é da Prof. Doutora Cristina Bernardes, investigadora do grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociências da UA, unidade de investigação que estudo o fenómeno da erosão desde Janeiro de 1996. Quase dez anos de investigações que permitem apresentar já conclusões importantes da evolução da zona costeira entre a Praia do Furadouro e a Praia de Mira, com especial ênfase na zona a sul da Barra/Costa Nova, onde o fenómeno erosão ameaça futuro da costa da erosão tem sido bastante sério com tendência para piorar, e apontar medidas para travar este fenómeno.
A principal conclusão não é animadora: cada vez há menos sedimento disponível para ser transportado pelas correntes da deriva litoral, factor decisivo para o aumento da erosão na Costa de Aveiro.
“A tendência na zona de Aveiro é para uma erosão muito séria e continuação do recuo da linha da costa. Os rios trazem cada vez menos sedimentos até à foz. Para esta zona, o Rio Douro é o principal contribuinte de sedimentos, mas devido às barragens uma grande quantidade fica aí retido, factor ao qual se associa as extracções de areias. As correntes estão artificialmente desnutridas de sedimento e se não têm o que depositar, dissipam a sua energia na erosão das praias e das dunas. Por outro lado, os molhes do Porto de Aveiro, os esporões e enrocamentos presentes em todo o sector acabam por ser armadilhas para o pouco sedimento disponível”.
Soluções viáveis pressupõem vontade política
No entanto, esta tendência pode reverter-se, havendo vontade política e condições económicas. Algumas das soluções apontadas passam pela transferência artificial dos sedimentos do molhe norte para o sul ou pela destruição dos esporões substituindo-os pela re-alimentação artificial das praias. “Actualmente, são estas as soluções que se têm vindo a adoptar em outras partes do mundo. Nos EUA, por exemplo, há estados onde é totalmente proibido construir esporões. Os que já tinham sido construídos foram retirados, substituindo estas intervenções invasivas pela re-alimentação artificial e periódica das praias, e realmente verificou-se uma recuperação nítida das mesmas. Estas medidas têm os seus encargos mas se avaliarmos os custos da construção de um esporão e a sua manutenção, acaba por ficar mais barato fazer a re-alimentação. Foi com esta opção que se recuperaram as praias da Costa Nova e da Barra na década de 70/80”.
Os esporões resolvem o problema pontualmente, no entanto, transferem o problema para sul, uma vez que normalmente não se colmatam. A projecção mar a dentro é cada vez maior. Os esporões recentemente construídos na Praia do Areão, na Vagueira, e na Praia do Poço da Cruz, em Mira, por exemplo, têm cerca de 230 metros, embora apresentem uma inclinação de 30º para sul, com o objectivo de facilitar a passagem dos sedimentos transportados pelas correntes litorais.
Na zona de Aveiro poderia ser feita a transposição dos sedimentos acumulados no molhe norte para a zona a sul, através de um processo de 'by-passing', ou fazer a re-alimentação artificial com sedimentos de granolumetria adequada, provenientes do desassoreamento dos canais da laguna, e não a partir da areia depositada na zona submersa das próprias praias, como se tem vindo a fazer. Também a manutenção dos diques arenosos que substituíram, em mais de 80%, o sistema de dunas frontais entretanto erodido, não está a ser feita da forma mais adequada.
Quando se fazem estas intervenções, o que acontece durante e após os períodos de temporal, a areia é retirada directamente da praia através de um processo de “raspagem”, provocando não só uma diminuição na largura da mesma mas, também, um profundo desequilíbrio entre a morfologia artificialmente criada e as condições hidrodinâmicas do meio. Neste contexto, se as condições de maior agitação marítima se repetirem, o que é frequente dado o carácter repetitivo dos temporais na nossa costa, a zona de espraio das ondas desloca-se em direcção a “terra” alcançando e erodindo o dique recém reconstruído”.
Elaboração de mapas de vulnerabilidade e de risco é o próximo desafio
“Rimar - Riscos Naturais Associados a Variações do Nível do Mar” e “CROP – Processos Transversais em Ambientes Contrastantes” foram os projectos de investigação mais recentes desenvolvidos pelo grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociências da UA, em parceria com as Universidades do Algarve, Porto, Évora, Lisboa e Coimbra, e os Institutos Hidrográfico, de Meteorologia e das Ciências da Terra e do Espaço. Com o objectivo de estudar, de forma integrada, os quatros principais fenómenos indutores de riscos naturais, nomeadamente, a elevação secular do nível médio do mar, os temporais, a elevação de índole meteorológica e os tsunamis, foi feita uma comparação entre duas zonas do litoral português energeticamente distintas, situadas em Aveiro e no Algarve.
O objectivo geral era comparar os processos causa-efeito em resposta aos factores naturais, mesmo sendo relativamente diferentes em termos de condições hidrodinâmicas. “É mais fácil estudar no Algarve as consequências da acção de um temporal, por exemplo, e de que forma os sistemas, neste caso, as praias e as dunas se comportam, e tentar transpor para a zona de Aveiro, salvaguardando as devidas diferenças”, acrescentou a investigadora. Por outro lado, explicou, “no Algarve conseguimos fazer um conjunto de medições como quantificar o volume de sedimento que é transportado pela deriva litoral, as trocas transversais, num perfil contínuo, entre a praia e a plataforma adjacente e alguns parâmetros físicos, o que em Aveiro é praticamente impossível, devido às condições altamente energéticas que caracterizam a costa ocidental portuguesa.
No projecto “CROP” os estudos incidiram não só sobre a praia emersa, mas estenderam-se também à plataforma adjacente, até uma profundidade de 30-40m, para melhor perceber como é que as morfologias aí presentes, barras arenosas, se comportam e transferem o sedimento para a praia.
A elaboração de mapas de vulnerabilidade e de risco é o próximo desafio da equipa de investigação do Departamento de Geociências. Através de um projecto submetido para aprovação à Fundação para a Ciência e Tecnologia, propõe-se quantificar os factores de risco desta zona tão vulnerável à erosão. “Baseando-nos num conjunto de geo-indicadores que incluem aspectos ligados ao uso do solo, características topográficas, variação da posição da linha de costa ao longo do tempo, taxas médias de erosão, susceptibilidade ao galgamento, entre outros, pretendemos definir perfis e níveis de risco a partir de matrizes de vulnerabilidade que mais tarde serão incorporadas num sistema de informação geográfica”.
Algumas fotos:
A Eroso da Costa Vicentina photo - Dias dos Reis photos at pbase.com
E um artigo de 2005:
“Não se defende o interesse público”
Risco de erosão na costa aumenta
21-10-2005 8:00:00
Apesar da situação critica, com o aumento da temperatura do ar e do mar a subir, a zona de protecção do litoral, no Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) de Vilamoura até ao Vila Real de Sto. António, na costa que atinge Vale de Lobo, foi alterado de 240 para 140 metros, sem nenhuma razão científica. A denúncia surgiu pela voz de Alveirinho Dias, investigador da Universidade do Algarve que tem procedido à monitorização da movimentação das areias naquela zona da costa, durante a conferência inserida no ciclo “O MAR”, promovida pelo Centro de Ciência Viva do Algarve, no âmbito da Faro, Capital da Cultura 2005.
“Não houve hombridade política de se dizer claramente que se cedia por questões económicas, acusa o investigador.
Todos os anos são gastos anualmente milhões de Euros nas obras de protecção costeira, que saem do erário público, quando estabilizar arribas é um contra-senso: “As arribas surgem precisamente porque há erosão e as técnicas para as estabilizar transformam-nas noutra coisa qualquer” explicou.
Após acentuar a pressão que tem sofrido o litoral, “em zonas historicamente não habitadas e que começaram a ser habitadas a partir de meados do séc. XIX”, Alveirinho Dias referenciou como outro dos responsáveis pela erosão, a restrição do débito das areias, que também diminuiu drasticamente com as intervenções a montante, nomeadamente através da construção de barragens nos rios.
Por outro lado, uma vez que “estamos em plena era de alteração climática, há a previsão do aumento do nível médio das águas do mar, que conduzirá à perda dos sapais, as zonas mais produtivas da terra”.Basta que haja um aumento de meio metro das águas para termos de enfrentar uma crise internacional, sustenta o investigador.
Em sua opinião há que contrariar o círculo viciosoactual, com a subida das águas provocada por erros de ocupação do território a conduzirem a obras pesadas de intervenção no litoral e estas por sua vez a agravarem a situação de erosão.
A falta de defesa do interesse público, e a sobreposição do interesse privado, mesmo quando a situação de risco é elevada, foi acerbamente criticada durante a conferência.
Todos se sentem com direito a ter uma casa à beira mar, e a inexperiência e baixo nível cultural e científico dos órgãos de gestão do litoral permitiu a situação, que se prolonga com a questão dos direitos adquiridos, tantas vezes reconhecidos pelos tribunais.
Ilha de Faro fora da lei
Daí o apelo a que os cidadãos “não abdiquem da cidadania e a exerçam, na busca de soluções; e estas não passam por combater o mar, mas sim por compreender o mar”.
No decurso do debate que se seguiu à conferência, a questão da ocupação da ilha de Faro levantou grande controvérsia, em especial quanto à afectação de parte do domínio público marítimo à autarquia.
O orador acentuou que se em Vale do Lobo a zona de protecção baixou para 140 metros, “na ilha de Faro não há um metro sequer de protecção, e não são cumpridas as regras que a legislação determinou, na altura da cedência do espaço à gestão da autarquia”.
Identificando um conflito entre o poder central e o poder local, com o primeiro a tentar “regularizar a ocupação das áreas de risco” e o segundo a ceder mais ao peso dos interesses dos sindicatos de voto locais, Alveirinho Dias deixou o alerta: “se não resolvermos, o mar resolve”.
Conceição Branco
Risco de erosão na costa aumenta
21-10-2005 8:00:00
Apesar da situação critica, com o aumento da temperatura do ar e do mar a subir, a zona de protecção do litoral, no Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) de Vilamoura até ao Vila Real de Sto. António, na costa que atinge Vale de Lobo, foi alterado de 240 para 140 metros, sem nenhuma razão científica. A denúncia surgiu pela voz de Alveirinho Dias, investigador da Universidade do Algarve que tem procedido à monitorização da movimentação das areias naquela zona da costa, durante a conferência inserida no ciclo “O MAR”, promovida pelo Centro de Ciência Viva do Algarve, no âmbito da Faro, Capital da Cultura 2005.
“Não houve hombridade política de se dizer claramente que se cedia por questões económicas, acusa o investigador.
Todos os anos são gastos anualmente milhões de Euros nas obras de protecção costeira, que saem do erário público, quando estabilizar arribas é um contra-senso: “As arribas surgem precisamente porque há erosão e as técnicas para as estabilizar transformam-nas noutra coisa qualquer” explicou.
Após acentuar a pressão que tem sofrido o litoral, “em zonas historicamente não habitadas e que começaram a ser habitadas a partir de meados do séc. XIX”, Alveirinho Dias referenciou como outro dos responsáveis pela erosão, a restrição do débito das areias, que também diminuiu drasticamente com as intervenções a montante, nomeadamente através da construção de barragens nos rios.
Por outro lado, uma vez que “estamos em plena era de alteração climática, há a previsão do aumento do nível médio das águas do mar, que conduzirá à perda dos sapais, as zonas mais produtivas da terra”.Basta que haja um aumento de meio metro das águas para termos de enfrentar uma crise internacional, sustenta o investigador.
Em sua opinião há que contrariar o círculo viciosoactual, com a subida das águas provocada por erros de ocupação do território a conduzirem a obras pesadas de intervenção no litoral e estas por sua vez a agravarem a situação de erosão.
A falta de defesa do interesse público, e a sobreposição do interesse privado, mesmo quando a situação de risco é elevada, foi acerbamente criticada durante a conferência.
Todos se sentem com direito a ter uma casa à beira mar, e a inexperiência e baixo nível cultural e científico dos órgãos de gestão do litoral permitiu a situação, que se prolonga com a questão dos direitos adquiridos, tantas vezes reconhecidos pelos tribunais.
Ilha de Faro fora da lei
Daí o apelo a que os cidadãos “não abdiquem da cidadania e a exerçam, na busca de soluções; e estas não passam por combater o mar, mas sim por compreender o mar”.
No decurso do debate que se seguiu à conferência, a questão da ocupação da ilha de Faro levantou grande controvérsia, em especial quanto à afectação de parte do domínio público marítimo à autarquia.
O orador acentuou que se em Vale do Lobo a zona de protecção baixou para 140 metros, “na ilha de Faro não há um metro sequer de protecção, e não são cumpridas as regras que a legislação determinou, na altura da cedência do espaço à gestão da autarquia”.
Identificando um conflito entre o poder central e o poder local, com o primeiro a tentar “regularizar a ocupação das áreas de risco” e o segundo a ceder mais ao peso dos interesses dos sindicatos de voto locais, Alveirinho Dias deixou o alerta: “se não resolvermos, o mar resolve”.
Conceição Branco
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