Hummm
Leiam o resto da entrevista que vale a pena .
Ao contrário do que acontece noutros Estados-membros da União Europeia, em Portugal a maior parte das bolsas de estudo cobre pouco mais do que as propinas. Livros, alimentação, transportes e alojamento, entre outras despesas, continuam a ser suportadas integralmente pelas famílias.
Esta é uma das principais conclusões da tese de doutoramento de Luísa Cerdeira, economista de formação e actual administradora da Universidade de Lisboa.
Nesta entrevista, reconhece que ainda há muito a fazer não só por parte do Estado, mas também do lado das famílias que continuam a gastar mais em diversão do que em educação.
A investigadora refere ainda que as famílias mais desfavorecidas, não dispondo de informação sobre os custos reais de um curso superior, tendem a sobreavaliar as despesas acabando por afastar os filhos das universidades.
Na sua tese chegou à conclusão que o sistema de ensino superior português é elitista. Como é que chegou a essa conclusão na medida em que desde meados dos anos 90 assistimos a um processo de democratização do acesso à universidade?
À primeira vista pode parecer contraditório porque há uma expansão da frequência. Todavia, quando se vai ver a proveniência dos estudantes verificamos que estreitou a faixa daqueles que são filhos de famílias de baixos rendimentos ou de nível habilitacionais mais baixos.
Actualmente, a grande maioria dos estudantes que entra para a universidade continua a vir das classes média e média-alta, quando comparamos, por exemplo, com os Estados-membros da União Europeia.
Portugal padece de um atraso estrutural no sector do ensino. Basta dizer que os países escandinavos no princípio do século XX eliminaram o analfabetismo, enquanto que em Portugal, em 1974, 30% a 40% da população não sabia ler nem escrever.
Por isso digo que temos de estar atentos às medidas de apoio social. Torná-las reais para que mobilizemos os estudantes oriundos de famílias mais desfavorecidas porque, com certeza, são jovens com valor que, caso não os apoiemos, se perdem.
(...)
Mais apoios precisam-se
Há alunos excluídos do ensino superior por insuficiência económica?
A exclusão, a haver, não é directa. Quem reuniu as competências cognitivas e de desempenho para terminar o ensino secundário e entra no ensino superior pode ter acesso, por exemplo, a bolsas de estudo, mas a verdade é que muitos filhos de famílias desfavorecidas nem sequer chegam ao final do 12.º ano.
Ora, interessa é saber se o valor da bolsa é suficiente para um aluno carenciado e ver a percentagem daqueles que atingem a bolsa máxima. A maioria dos bolseiros recebe a bolsa mínima que cobre pouco mais do que o valor da propina. Todas as outras despesas têm que ser suportadas pela família.
Se os actuais escalões não forem revistos de acordo com economia real não será possível atingir o público-alvo que tem de ser apoiado. Os apoios de que dispomos são ainda muito precários quando comparados com outros países europeus.
Uma das benesses ao alcance dos estudantes são os empréstimos. Aconselhava um empréstimo a um familiar?
Os empréstimos podem ser uma boa ferramenta para as classes média e média-baixa, isto é, para pessoas que já perceberam que o investimento em educação tem retorno.
Na minha opinião, os empréstimos não são os mecanismos adequados para as classes mais desfavorecidas. Em primeiro lugar porque têm aversão à dívida e podem considerar, por exemplo, que tal só se justifica se for para comprar uma casa.
Diria que os empréstimos são para estratos que podem suportar algumas despesas mas estão momentaneamente descapitalizadas ou mesmo para os estudantes de segundo ciclo que decidem pagar um mestrado numa área científica diferente da licenciatura.
Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum as famílias pouparem durante vários anos para financiar os estudos dos filhos.
Em Portugal não temos essa cultura e nos Estados Unidos acontece porque as famílias sabem que os valores das propinas, mesmo nas universidades públicas, são muito elevados e têm de começar cedo a fazer um plano de poupança que o Governo incentiva diminuindo a carga fiscal.
Em Portugal, o nível de rendimento médio do país é tão baixo que sobra pouco para outras coisas. Acresce que as famílias portuguesas estão muito pouco habituadas a investir em educação. Analisei a estrutura de despesa das famílias e verifiquei que, em média, gastam mais em diversões do que em educação. Temos de mudar esta situação.
Famílias têm de investir mais em educação - Expresso.pt
Esta é uma das principais conclusões da tese de doutoramento de Luísa Cerdeira, economista de formação e actual administradora da Universidade de Lisboa.
Nesta entrevista, reconhece que ainda há muito a fazer não só por parte do Estado, mas também do lado das famílias que continuam a gastar mais em diversão do que em educação.
A investigadora refere ainda que as famílias mais desfavorecidas, não dispondo de informação sobre os custos reais de um curso superior, tendem a sobreavaliar as despesas acabando por afastar os filhos das universidades.
Na sua tese chegou à conclusão que o sistema de ensino superior português é elitista. Como é que chegou a essa conclusão na medida em que desde meados dos anos 90 assistimos a um processo de democratização do acesso à universidade?
À primeira vista pode parecer contraditório porque há uma expansão da frequência. Todavia, quando se vai ver a proveniência dos estudantes verificamos que estreitou a faixa daqueles que são filhos de famílias de baixos rendimentos ou de nível habilitacionais mais baixos.
Actualmente, a grande maioria dos estudantes que entra para a universidade continua a vir das classes média e média-alta, quando comparamos, por exemplo, com os Estados-membros da União Europeia.
Portugal padece de um atraso estrutural no sector do ensino. Basta dizer que os países escandinavos no princípio do século XX eliminaram o analfabetismo, enquanto que em Portugal, em 1974, 30% a 40% da população não sabia ler nem escrever.
Por isso digo que temos de estar atentos às medidas de apoio social. Torná-las reais para que mobilizemos os estudantes oriundos de famílias mais desfavorecidas porque, com certeza, são jovens com valor que, caso não os apoiemos, se perdem.
(...)
Mais apoios precisam-se
Há alunos excluídos do ensino superior por insuficiência económica?
A exclusão, a haver, não é directa. Quem reuniu as competências cognitivas e de desempenho para terminar o ensino secundário e entra no ensino superior pode ter acesso, por exemplo, a bolsas de estudo, mas a verdade é que muitos filhos de famílias desfavorecidas nem sequer chegam ao final do 12.º ano.
Ora, interessa é saber se o valor da bolsa é suficiente para um aluno carenciado e ver a percentagem daqueles que atingem a bolsa máxima. A maioria dos bolseiros recebe a bolsa mínima que cobre pouco mais do que o valor da propina. Todas as outras despesas têm que ser suportadas pela família.
Se os actuais escalões não forem revistos de acordo com economia real não será possível atingir o público-alvo que tem de ser apoiado. Os apoios de que dispomos são ainda muito precários quando comparados com outros países europeus.
Uma das benesses ao alcance dos estudantes são os empréstimos. Aconselhava um empréstimo a um familiar?
Os empréstimos podem ser uma boa ferramenta para as classes média e média-baixa, isto é, para pessoas que já perceberam que o investimento em educação tem retorno.
Na minha opinião, os empréstimos não são os mecanismos adequados para as classes mais desfavorecidas. Em primeiro lugar porque têm aversão à dívida e podem considerar, por exemplo, que tal só se justifica se for para comprar uma casa.
Diria que os empréstimos são para estratos que podem suportar algumas despesas mas estão momentaneamente descapitalizadas ou mesmo para os estudantes de segundo ciclo que decidem pagar um mestrado numa área científica diferente da licenciatura.
Nos Estados Unidos, por exemplo, é comum as famílias pouparem durante vários anos para financiar os estudos dos filhos.
Em Portugal não temos essa cultura e nos Estados Unidos acontece porque as famílias sabem que os valores das propinas, mesmo nas universidades públicas, são muito elevados e têm de começar cedo a fazer um plano de poupança que o Governo incentiva diminuindo a carga fiscal.
Em Portugal, o nível de rendimento médio do país é tão baixo que sobra pouco para outras coisas. Acresce que as famílias portuguesas estão muito pouco habituadas a investir em educação. Analisei a estrutura de despesa das famílias e verifiquei que, em média, gastam mais em diversões do que em educação. Temos de mudar esta situação.
Famílias têm de investir mais em educação - Expresso.pt
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