Eis um tema de que ninguém gosta de falar mas que faz parte da vida: a morte.
Não me assusta tanto a morte em si mas sim a maneira como ela pode aparecer.
Desgosta-me as coisas que poderei deixar por fazer e aqueles a quem a minha ausência causará tristeza e sofrimento. Da mesma forma, o medo que sinto de que a morte me leve alguém querido é, essa sim, uma ideia ainda mais assustadora para mim.
A morte, até agora algo inevitável, quase que programada por deus para não podermos aspirar a ser eternos como ele, chegará um dia a todos nós. A grande diferença reside na forma como a encaramos: se a aceitamos com naturalidade ou se evitamos sequer falar dela.
Também é certo que há aqueles que vivem da morte, e não me refiro às agências “de viagens” funerárias, mas sim às religiões, ceitas e doutrinas que baseiam a sua existência na vida depois da morte. Essas vêm a vida como algo temporário que dará lugar a uma vida posterior, neste ou noutro mundo, dependendo dos credos. Vivem em função da morte, vendo este mundo como um lugar passageiro e o corpo como um invólucro que alberga o corpo espiritual. Aspiram à vida eterna post-mortem, pelo que defendem que a morte não é o fim mas um fim em si mesma. “As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte, precisam dela como do pão para a boca.”1
Talvez por esse motivo, com a velhice estes pensamentos de perenidade comecem a assolar os pensamentos humanos. Não será pois de estranhar que a maior parte dos fiéis religiosos que frequentam os seus templos sejam de idade mais avançada. É a ideia de que o fim está próximo que faz com que as pessoas necessitem de acreditar que a vida irá continuar, assim como reencontrar aqueles que mais amamos e que já perdemos ou iremos perder.
A minha morte não me assusta; apenas a daqueles que eu amo e que não quero ver acontecer.
Mas para mim, a nossa morte é apenas um instante ao qual não devemos subjugar toda uma vida.
“O pensamento da morte engana-nos, pois faz-nos esquecer de viver.”2
1(Saramago, José)
2(Vauvenargues, Luc de Clapiers)
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