Por mais estranha que a pergunta possa parecer, a verdade dos números mostra que talvez a resposta seja "sim". Pelo menos é o que diz este artigo de opinião que, à primeira vista, me parece muito bem conseguido.
A gestão dos salários
11/09/09 00:01 | Daniel Amaral
O rendimento disponível das famílias portuguesas é de 118 mil milhões de euros, números de 2008.
Divididos pelos 10,6 milhões de pessoas, dá cerca de 11 mil euros ‘per capita', menos de 800 euros por mês. Acresce que a distribuição é terrivelmente injusta e, quando chega a hora de fazer as contas, os mais pobres só sobrevivem enganando a fome. Já o revelámos aqui: 18% da população vive com menos de 400 euros/mês, uma miséria.
Mas o fenómeno tem outras leituras. Daqueles 118 mil milhões, 83 são rendimentos do trabalho, e este valor equivale a 50% de toda a riqueza produzida. O problema é que, ao olharmos para os nossos parceiros europeus, verificamos que os salários deles não chegam a 48% do PIB. E até a Espanha e a Alemanha, principais destinos das exportações portuguesas, têm valores inferiores. A conclusão arrepia: os salários de miséria são afinal altos de mais.
É importante explicar porquê. Uma análise aos últimos cinco anos revela que os salários sempre cresceram mais do que a inflação e, nalguns casos, até mais do que a conjugação dos preços com a produtividade. E 2008 reivindicou a cereja no bolo: com a economia estagnada e a produtividade a cair, os salários aumentaram 3,4%! Há quem desvalorize estes números e lhe chame acção social; eu chamo-lhe acelerador de falências.
Claro que isto se repercute na vida das empresas, sejam exportadoras ou não. No primeiro caso, não conseguem competir na ordem externa - as exportações baixam. No segundo, não conseguem competir na ordem interna - as importações sobem. O resultado final é um múltiplo atentado ao país: caem o investimento e a produção, disparam o desemprego e o endividamento. Como é que ainda ninguém reparou?
Como se vê, temos aqui um paradoxo: os salários de miséria... são altos de mais. O choque, que se adivinha terrível, vai ocorrer lá para o final do ano, gerido por um Governo previsivelmente minoritário no Parlamento. Adivinho o pior: o Executivo apelará ao realismo dos sindicatos; as oposições cantarão loas ao "social" e serão todas contra. A questão central fica de pé: como é que se explica a uma pessoa com menos de 400 euros que a solução para a crise está na redução dos salários?
A palavra aos políticos.
fonte: A gestão dos salários | Económico
A gestão dos salários
11/09/09 00:01 | Daniel Amaral
O rendimento disponível das famílias portuguesas é de 118 mil milhões de euros, números de 2008.
Divididos pelos 10,6 milhões de pessoas, dá cerca de 11 mil euros ‘per capita', menos de 800 euros por mês. Acresce que a distribuição é terrivelmente injusta e, quando chega a hora de fazer as contas, os mais pobres só sobrevivem enganando a fome. Já o revelámos aqui: 18% da população vive com menos de 400 euros/mês, uma miséria.
Mas o fenómeno tem outras leituras. Daqueles 118 mil milhões, 83 são rendimentos do trabalho, e este valor equivale a 50% de toda a riqueza produzida. O problema é que, ao olharmos para os nossos parceiros europeus, verificamos que os salários deles não chegam a 48% do PIB. E até a Espanha e a Alemanha, principais destinos das exportações portuguesas, têm valores inferiores. A conclusão arrepia: os salários de miséria são afinal altos de mais.
É importante explicar porquê. Uma análise aos últimos cinco anos revela que os salários sempre cresceram mais do que a inflação e, nalguns casos, até mais do que a conjugação dos preços com a produtividade. E 2008 reivindicou a cereja no bolo: com a economia estagnada e a produtividade a cair, os salários aumentaram 3,4%! Há quem desvalorize estes números e lhe chame acção social; eu chamo-lhe acelerador de falências.
Claro que isto se repercute na vida das empresas, sejam exportadoras ou não. No primeiro caso, não conseguem competir na ordem externa - as exportações baixam. No segundo, não conseguem competir na ordem interna - as importações sobem. O resultado final é um múltiplo atentado ao país: caem o investimento e a produção, disparam o desemprego e o endividamento. Como é que ainda ninguém reparou?
Como se vê, temos aqui um paradoxo: os salários de miséria... são altos de mais. O choque, que se adivinha terrível, vai ocorrer lá para o final do ano, gerido por um Governo previsivelmente minoritário no Parlamento. Adivinho o pior: o Executivo apelará ao realismo dos sindicatos; as oposições cantarão loas ao "social" e serão todas contra. A questão central fica de pé: como é que se explica a uma pessoa com menos de 400 euros que a solução para a crise está na redução dos salários?
A palavra aos políticos.
fonte: A gestão dos salários | Económico
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