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Tópico da despedida e da saudade: "As palavras que nunca te direi"

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    Tópico da despedida e da saudade: "As palavras que nunca te direi"

    Há já algum tempo que estava para abrir este tópico, mas ainda não tinha tido coragem.
    Quantos de nós não precisamos de alguma forma de nos despedir de alguém, não o tendo verdadeira e definitivamente feito e acabando depois por guardar cá dentro toda a mágoa e dor mantendo-nos aprisionados a um sofrimento eterno.

    A partida para longe de um ente querido ou de um amigo que nos toca de saudade; a partida definitiva de alguém de quem gostávamos ou amávamos e a quem queremos dizer um “até breve” através de palavras sentidas que fiquem aqui gravadas para sempre; a perda de um animal que nos acompanhou ao longo de anos e que tivemos de deixar partir; ou apenas uma perda de vista de um amigo ou de um amor que nunca mais voltámos a ver e ainda não esquecemos e do qual parece nunca nos termos realmente despedido.

    Este espaço visa apenas deixarem aqui algo que vos vai na alma e que vocês pretendem libertar; uma dor mais ou menos intensa que é preciso deixar sair cá ara fora. Um desabafo ou um choro da alma.
    Ninguém é obrigado a responder ou a comentar. Fala apenas quem desejar. A dor de cada um só o próprio é que a conhece. Apenas fala quem quiser como quiser e daquilo que entender estar-lhe a pesar na alma; fala para o fórum ou tão-somente para esse ente próximo do seu coração que deixou saudades.
    Um espaço ao qual qualquer um que precise possa acorrer para libertar uma dor interior. Com tantos psicólogos e amigos secretos aqui no fórum, não faltarão certamente palavras amigas e de consolação.
    Ficheiros anexados
    Editado pela última vez por BLADERUNNER; 15 October 2009, 07:15.

    #2
    O que te pesa na alma?

    Comentário


      #3
      muitas vezes não tomamos uma decisão na altura certa e depois ficamos arrependidos para o resto da vida não a ter tomado.
      há cerca de 3 anos perdi o meu avo,uma pessoa extremamente carinhosa com os filhos e netos um exemplo como ser humano honesto,calmo,e sincero.
      ele já estava doente há algum tempo,e eu por causa da minha vida profissional entre outras coisas ia adiando dia para dia para o ir ver ja que os meus avós moram longe.
      entretanto decidi ir ver o meu avo na 3ª feira de carnaval mas como estava a chover muito e teria que fazer umas boas centenas de kms decidi ir lá no domingo seguinte.
      foi tarde porque ele faleceu no sabado á noite e não tive oportunidade de me despedir dele.só eu sei quanto me arrependo de não ter lá ido naquela terça feira para o ver e falar com ele pela ultima vez

      Comentário


        #4
        Originalmente Colocado por Wolfman Ver Post
        O que te pesa na alma?
        A mim, nada me pesa na alma. Tenho, isso sim, sempre alguma preocupação com o próximo.
        Por isso, lembrei-me do tópico "Desabafo" onde surgiram mais do que uma pessoa com desgostos de perdas ainda reprimidos. No tópico dos animais surgiram pessoas que ainda lamentavam esporadicamente a perda dos seus animais que faziam parte da família. Notou-se a necessidade de o fazerem para libertar algo reprimido. Uma mágoa que tinham a necessidade de libertar, de desabafar, de partilhar. Todos sabemos que isso faz bem à alma.

        Foi tão-somente por isso que achei que deveria existir um espaço aqui no fórum onde algumas angústias da vida poderiam ser compartilhadas.
        Num fórum onde por vezes surgem tópicos tão sem sentido, julguei que este fizesse. Talvez eu estivesse enganado.

        Comentário


          #5
          Originalmente Colocado por joaobras Ver Post
          muitas vezes não tomamos uma decisão na altura certa e depois ficamos arrependidos para o resto da vida não a ter tomado.
          há cerca de 3 anos perdi o meu avo,uma pessoa extremamente carinhosa com os filhos e netos um exemplo como ser humano honesto,calmo,e sincero.
          ele já estava doente há algum tempo,e eu por causa da minha vida profissional entre outras coisas ia adiando dia para dia para o ir ver ja que os meus avós moram longe.
          entretanto decidi ir ver o meu avo na 3ª feira de carnaval mas como estava a chover muito e teria que fazer umas boas centenas de kms decidi ir lá no domingo seguinte.
          foi tarde porque ele faleceu no sabado á noite e não tive oportunidade de me despedir dele.só eu sei quanto me arrependo de não ter lá ido naquela terça feira para o ver e falar com ele pela ultima vez
          Só pelo teu post já valeu a pena ter aberto o tópico.
          Lamento que assim tenha acontecido. Mas onde quer que ele esteja, ficará contente com estas tuas palavras.

          Comentário


            #6
            Comojá referi aqui noutro tópico perdi a minha mãe este ano.Apesar de ter tido o privilégio de poder ter estado com ela até ao fim fica aquele sabor amargo das palavras que ficaram por dizer...

            A verdade é que eu,sendo um optimista,não imaginei que seria aquele o nosso ultimo momento,que seria aquele olhar a ultima comunicação que teríamos;quis acreditar que haveria o dia seguinte apesar de saber que ela estava condenada a partir mais cedo ou mais tarde.No dia anterior tinha-mos feito uma viagem de carro na qual não dissemos nada para além do trivial,foi uma viajem silenciosa a ouvir-mos musica que ela adorava.Recordo-me de ela abrir o vidro,algo que nunca o fazia em estrada,como se quisesse sentir o vento a tocar-lhe na face...

            Enfim,fica aquela saudade de mãos dadas com a dôr de querer mais um dia,mais um momento,mais um olhar...




            Amo-te mãe e como me faz falta a tua presença!

            Comentário


              #7
              Originalmente Colocado por BLADERUNNER Ver Post
              A mim, nada me pesa na alma. Tenho, isso sim, sempre alguma preocupação com o próximo.
              Por isso, lembrei-me do tópico "Desabafo" onde surgiram mais do que uma pessoa com desgostos de perdas ainda reprimidos. No tópico dos animais surgiram pessoas que ainda lamentavam esporadicamente a perda dos seus animais que faziam parte da família. Notou-se a necessidade de o fazerem para libertar algo reprimido. Uma mágoa que tinham a necessidade de libertar, de desabafar, de partilhar. Todos sabemos que isso faz bem à alma.

              Foi tão-somente por isso que achei que deveria existir um espaço aqui no fórum onde algumas angústias da vida poderiam ser compartilhadas.
              Num fórum onde por vezes surgem tópicos tão sem sentido, julguei que este fizesse. Talvez eu estivesse enganado.
              Fizes-te muito bem em abrires este tópico, apenas perguntei, porque não li qualquer desabafo teu, estou esclarecido ...

              Comentário


                #8
                A Saudade, uma palavra tão tipicamente portuguesa.

                Saudade

                Saudade - O que será... não sei... procurei sabê-lo
                em dicionários antigos e poeirentos
                e noutros livros onde não achei o sentido
                desta doce palavra de perfis ambíguos.

                Dizem que azuis são as montanhas como ela,
                que nela se obscurecem os amores longínquos,
                e um bom e nobre amigo meu (e das estrelas)
                a nomeia num tremor de cabelos e mãos.

                Hoje em Eça de Queiroz sem cuidar a descubro,
                seu segredo se evade, sua doçura me obceca
                como uma mariposa de estranho e fino corpo
                sempre longe - tão longe! - de minhas redes tranquilas.

                Saudade... Oiça, vizinho, sabe o significado
                desta palavra branca que se evade como um peixe?
                Não... e me treme na boca seu tremor delicado...
                Saudade...
                Pablo Neruda, in "Crepusculário"

                Bom tópico, depois acrescentarei a minha modesta opinião.

                Comentário


                  #9
                  Mais uma vez Blade estás de parabéns.
                  Tens uma atitude incansável de despertar consciências e de ajudar o teu próximo e isso meu caro amigo hoje em dia é de louvar.

                  Em relação ao tópico eu tenho saudades:
                  Ver a minha família unida;
                  Do meu padrinho que infelizmente já faleceu;
                  Da minha inocência e de ver o mundo através dos olhos da criança que eu era.

                  Comentário


                    #10
                    Tenho saudades da minha Soraia que perdi este ano, saudades de quando ia a casa dos meus tios, ela mal sabia que eu ia, lá estava ela, à minha espera, e quando era altura de regressar a Lisboa, estava ela, com uma lágrima no olho. Quando ela ainda era bebe, eu percorria sempre várias vezes de bicicleta (na altura n tinha carta), só para a ver. Foi e é um amor sem igual. Com apenas 14 anos, o rio levou-a. Tenho muitas saudades dela mesmo.

                    Comentário


                      #11
                      Nisto da saudade só os galegos nos compreendem, pois são os unicos idiomas (portugues e galego) onde a palavra existe, para Bieito Romero um reconhecido musico galego membro dos Luar na Lubre, saudade é a ausencia da nossa terra.

                      YouTube - LUAR NA LUBRE EN MIRADAS 2

                      Do album Saudade dos Luar na Lubre

                      YouTube - Luar Na Lubre - Lonxe da Terriña

                      Comentário


                        #12
                        A saudade pode ser lembrada por várias situações e por aquilo que nos transmite e o que fica na nossa memória.

                        Tem para mim o significado de perda, ausência, vazio, quando alguém que amamos desparece perante aos nossos olhos, mas presente na nossa mente, a recordação do que tivemos e aquilo que nos cria, um saudosismo em nós.
                        Isto poderá tornar num desejo de rever, possuir, quando é permitido, e cria um factor que é a ansiedade.

                        A saudade é a espécie de uma lembrança nostalgica.

                        Existe a saudade pelas coisa positivas, de um bom momento, de uma situação, reencontrar quem não viamos, etc, podemos utilizar a expressão, matar a saudade.

                        Na minha vida direi que sinto saudades do meu melhor amigo que emigrou para França e não tenho noticias dele, fica sempre a saudade que sinto dele, da pessoa que é para mim, o que significa e o que trouxe á minha vida, espero por uma palavra ou reencontro, enquanto nos ficam gravadas as imagens na memória.

                        Comentário


                          #13
                          Originalmente Colocado por Strider Ver Post
                          Comojá referi aqui noutro tópico perdi a minha mãe este ano.Apesar de ter tido o privilégio de poder ter estado com ela até ao fim fica aquele sabor amargo das palavras que ficaram por dizer...

                          A verdade é que eu,sendo um optimista,não imaginei que seria aquele o nosso ultimo momento,que seria aquele olhar a ultima comunicação que teríamos;quis acreditar que haveria o dia seguinte apesar de saber que ela estava condenada a partir mais cedo ou mais tarde.No dia anterior tinha-mos feito uma viagem de carro na qual não dissemos nada para além do trivial,foi uma viajem silenciosa a ouvir-mos musica que ela adorava.Recordo-me de ela abrir o vidro,algo que nunca o fazia em estrada,como se quisesse sentir o vento a tocar-lhe na face...

                          Enfim,fica aquela saudade de mãos dadas com a dôr de querer mais um dia,mais um momento,mais um olhar...






                          Amo-te mãe e como me faz falta a tua presença!


                          Bom tópico blade!!! Mais uma vez

                          Bem este post...comoveu-me...

                          Strider, não sei quem és mas imagino a dor e a revolta desses dias. Espero sinceramente que o teu luto seja o menos doloroso possível. É das coisas da vida que mais ma atormentam a cabeça de um dia as ter que viver é a perda de um pai, mãe ou irmão no meu caso. Chego a ter pesadelos a noite com esse receio. Nessa viagem de carro imagino os pensamentos que cada um tinha..., deve ser doloroso...

                          Desejo-te as maiores feilicidades!!

                          Eu perdi o meu avô, já há uns anos era um puto tinha prai 13-14 anos, na altura não percebi bem o que se passava, era um cancro do pancreas, sei que o via a piorar rapidamente. Nunca o fui ver ao hospital e não fui ao funeral, porque os meus pais evitaram. Era muito chegado vivia ao meu lado. Quando tinha 20-22 anos fui a uma missa pela alma do meu avô e parece que ai foi a minha despedida, naquele domingo, em que a familia se reuniu pela alma do meu avô fiquei lavado em lagrimas e chorei em pranto, tive de ir para casa. Aí vi que ficou tanta coisa por dizer..

                          Nas enfermarias dos hospitais, infelizmente já acompanhei doentes no dia da sua morte, e apesar de ter criado algumas defesas emocionais, tive alguns casos, olhares, choros, movimentos, palavras, que me ficaram gravadas para a vida.



                          Cumps
                          Editado pela última vez por iandrec; 15 October 2009, 06:03.

                          Comentário


                            #14
                            Originalmente Colocado por Strider Ver Post
                            Comojá referi aqui noutro tópico perdi a minha mãe este ano.Apesar de ter tido o privilégio de poder ter estado com ela até ao fim fica aquele sabor amargo das palavras que ficaram por dizer...

                            A verdade é que eu,sendo um optimista,não imaginei que seria aquele o nosso ultimo momento,que seria aquele olhar a ultima comunicação que teríamos;quis acreditar que haveria o dia seguinte apesar de saber que ela estava condenada a partir mais cedo ou mais tarde.No dia anterior tinha-mos feito uma viagem de carro na qual não dissemos nada para além do trivial,foi uma viajem silenciosa a ouvir-mos musica que ela adorava.Recordo-me de ela abrir o vidro,algo que nunca o fazia em estrada,como se quisesse sentir o vento a tocar-lhe na face...

                            Enfim,fica aquela saudade de mãos dadas com a dôr de querer mais um dia,mais um momento,mais um olhar...




                            Amo-te mãe e como me faz falta a tua presença!
                            Sinto muito, Strider. As tuas palavras emocionadas comoveram-me.
                            Embora eu diga tantas vezes que desconfio da existência de deus, tenho um sentimento muito forte de que o fim desta vida seja apenas o recomeço de uma outra… algures num lugar onde nos voltaremos todos a reencontrar.

                            Por isso, estou certo que as tuas maravilhosas palavras foram escutadas por quem amas. Por isso abri este tópico: para que pessoas como tu possam dizer as palavras que nunca lhes disseram. Para que saibam que nunca é tarde demais para o fazer.

                            Infelizmente, por diversos motivos, acabará sempre por haver tanto por dizer.
                            Quem sabe, estas tuas palavras não serão fonte de inspiração para que muitos dos que por aqui passam possam ir ao encontro de alguém com quem não falavam há anos, ou procurarem por alguém que há muito deixaram de ver, ou chegarem junto a quem amam e dizê-lo mais intensamente ou apenas ficar a olhá-las fazendo-as sentir como são para si alguém especial.

                            Depois de ler o teu post, foi o que eu ontem fiz ao olhar para as minhas princesas cá de casa.

                            Comentário


                              #15
                              Originalmente Colocado por joaobras Ver Post
                              muitas vezes não tomamos uma decisão na altura certa e depois ficamos arrependidos para o resto da vida não a ter tomado.
                              há cerca de 3 anos perdi o meu avo,uma pessoa extremamente carinhosa com os filhos e netos um exemplo como ser humano honesto,calmo,e sincero.
                              ele já estava doente há algum tempo,e eu por causa da minha vida profissional entre outras coisas ia adiando dia para dia para o ir ver ja que os meus avós moram longe.
                              entretanto decidi ir ver o meu avo na 3ª feira de carnaval mas como estava a chover muito e teria que fazer umas boas centenas de kms decidi ir lá no domingo seguinte.
                              foi tarde porque ele faleceu no sabado á noite e não tive oportunidade de me despedir dele.só eu sei quanto me arrependo de não ter lá ido naquela terça feira para o ver e falar com ele pela ultima vez
                              O meu avô faz hoje 83 anos e, tanto eu como o meu irmão, sempre tivemos uma relação muito próxima com ele.

                              Sinceramente, cada vez mais tenho medo desse dia...

                              Comentário


                                #16
                                Originalmente Colocado por LuisMiguel Ver Post
                                O meu avô faz hoje 83 anos e, tanto eu como o meu irmão, sempre tivemos uma relação muito próxima com ele.

                                Sinceramente, cada vez mais tenho medo desse dia...
                                Também penso muito nos meus avós, ainda tenho os 4, contudo sou mais próximo dos paternos com quem vivi uns anos.
                                Têm 80 anos.

                                Contudo a verdadade é que não podemos lamentar o facto dos mais velhos serem mais velhos e já terem ultrapassado a esperança média de vida...pois o que penso muitas vezes é que posso "ir antes deles" o que de certa forma de dá alguma paz.

                                Comentário


                                  #17
                                  Há tanta coisa que quero dizer e escrever e não sei como fazer. Há sentimentos que não dá para explicar, apenas os consigo sentir.

                                  Perdi o meu pai na véspera de Natal do ano passado, com a doença muito injusta. Uma doença desconhecida e muito agressiva que não deixou que os medicos lutassem contra ela. Simplesmente vi o meu pai a morrer lentamente sem nunca poder fazer nada. É uma angustia e um despero que não dá para explicar, foram os piores 6 meses da minha vida. Só uma semana antes do meu pai falecer é que os medicos tiveram a noção do que poderia ter (um tumor maligno no cerebro).
                                  Cada visita que faziamos a um medico, nunca sabiam explicar o que se passava. Lembro que o ultimo medico que seguiu o meu pai, já estava ele internado nos HUC, quando o encontravamos no corredor a minha mãe ia ter com ele para saber novidades e ele simplesmente olhava para nós ficava em silencio e encolhia os ombros porque não sabia o que dizer.

                                  O meu pai era um homem muito activo e cheio de vida e de força e de repente começou a perder os movimentos e a coordenação motora até que paralizou por completo. Ele deixou de falar, a lingua paralisou e deixou de conseguir engolir, era um desespero dar-lhe a comida. Nessa altura que teve de ser internado e perdemos a companhia do meu pai e ele nunca mais voltou para a nossa casa.

                                  Na altura que o meu pai adoeceu, os meus pais tinham dado ordens para pintar a casa por dentro para depois mobilar a sala para finalmente ter a casa pronta ao gosto deles, e a casa andava numa confusão e havia muito trabalho para fazer em casa por causa de arrumar tudo para se pintar a casa e eu andava muito cansada por foi numa altura que tive muito trabalho. Eu chegava a casa cansada de um dia de trabalho e ainda tinha de cuidar do meu pai que já estava paralizado, houve um dia que a minha mae tinha dado ordens para tirar a tralha toda da dispensa para pintar que estava cheia até ao tecto, eu achava que não havia necessidade de pintar a dispensa e comecei a disparatar com o meu pai e com a minha irmã.
                                  Arrependo-me de ter ralhado com o meu pai, ele estava já muito triste por causa da doença dele e ainda por cima teve de levar comigo. Ainda hoje penso muito nisso, que deveria ter-me contido. Também sinto-me triste pelo facto de não ter passado mais tempo com o meu pai, deveria ter feito por isso, mas agia como se ele nunca nos fosse abandonar, acho que não queria ver o que ia acontecer.

                                  O meu pai faleceu 3 semanas antes do meu casamento, um casamento que foi idealizado por ele, eu e o meu marido não queriamos uma festa, mas o meu pai insistiu, na altura ainda não sabiamos que ele estava doente. Imaginem a minha angustia de preparar um casamento sem saber se o meu pai ainda estaria vivo, tentamos anticipar a data do casamento para tentar que o meu pai ainda fosse, pois ele rapidamente perdeu as forças nas pernas para andar, mas ele não deixou, deu-nos a entender que deveria ficar tudo como já estava programado de inicio.
                                  Quando se falava no casamento, notava-se nos olhos do meu pai muita tristeza, era uma coisa que ele desejava muito poder ir.

                                  O dia do meu casamento foi um dia muito contraditório, pois deveria estar muito feliz e devia ser dos dias mais felizes da minha vida, mas por outro a morte e a doença do meu pai, consegui que fosse dos dias mais tristes da minha vida, foi uma mistura de sentimentos que não dá para explicar.

                                  Ainda hoje sinto muita falta do meu pai, as nossas vida mudaram muito, pois tivemos de nos adaptar a uma nova realidade. Choro muito a ausencia do meu pai quando estou sozinha, é com ele agora que desabafo quando preciso, quando estou sozinha falo baixinho para ele me ouvir.

                                  Há tanta coisa que poderia escrever, para desabafar o que vai-me na alma. Tantas coisas que deveria ter feito, que deveria ter dito antes do meu pai partir .....

                                  Comentário


                                    #18
                                    São muito profundas e contagiantes essas tuas palavras, Vilina.
                                    Sempre que quiseres vir até este espaço desabafar um pouco desse muito sentimento que te vai na alma, vem até aqui a este espaço que é teu e que também poderá ser preciso a qualquer um de nós um dia.
                                    Pelo menos eu, e estou certo que não só, estarei por aqui a escutar-te e a tentar compreender essa tua dor.

                                    As palavras que aqui tenho lido são de uma intensidade e beleza humanas ímpares. Está aqui um pouco daquilo que a humanidade tem de melhor. Os seus laços estabelecidos por sentimentos profundos e genuínos. Apetece dizer que o mundo é muito injusto, mas quem somos nós para tentarmos sequer entender os desígnios da vida?

                                    Sinto muito pela tua perda.

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                                      #19
                                      Por bastante sorte e felicidade minha, perdi poucas pessoas da minha família até hoje, o que aos 36 anos é bom poder dizer.

                                      Basicamente, perdi os meus dois avôs (masculino).

                                      Numa reflexão que aqui partilho, não posso em consciência dizer que sinto a mesma saudade dos dois.
                                      Um deles sempre viveu no Minho vivendo eu em Lisboa. Para além de isto só por si diminuir muito a convivência, o estilo dele não era muito chegado a crianças, e só quando eu já era adulto é que ele me deu alguma atenção. Ainda assim, passavam-se anos sem que ele me telefonasse ou o inverso, e isto desde que eu era miúdo.
                                      Soube que ele tinha falecido por sms, mas não me lembro sequer onde estava quando recebi esse sms. Fui ao funeral, carreguei o seu caixão até à sua última morada, naturalmente com tristeza, mas sem uma verdadeira dor. Isto pode parecer estranho, mas não é o grau de parentesco que dita os sentimentos, mas sim o grau de envolvimento.

                                      O meu outro avô sempre foi muito diferente. Veio do Alentejo com a minha avó para Lisboa, onde ficou a viver e trabalhar até se reformar, mudando-se depois para perto da filha.
                                      Deste meu avô recordo-me das histórias que ele me contava (era eu miúdo) quando ele se deitava para tentar tirar uma soneca à tarde. Ou de adivinhas com jogos de palavras que ficaram gravados na minha memória até hoje. Mais tarde, quando eu passei os 18 anos, era eu que arranjava um mecânico porreiro e barato para o carro do meu avô, e sem eu dar por isso ele passou a ouvir-me mais a mim do que a qualquer outra pessoa da família. Sempre me apoiou e por vezes até escondia mal que eu era o neto preferido.
                                      Nasceu a minha filha, e ele brincava com ela com um tempo, dedicação e paciência que eu nunca esperaria.

                                      Um dia veio a notícia de que ele tinha cancro do cólon. Com essa notícia veio também o conhecimento de que ele teria cerca de um ano de vida (o que se veio a confirmar).
                                      Confesso que foi para mim difícil lidar com isso. Quando visitava o meu avô, via-o na cama, não com o cabelo branco perfeitamente penteado e com gel para trás, mas magro, a definhar, sem apetite, comendo por imposição mas engasgando-se com facilidade.
                                      Eu sabia que quando ele estava a só com a minha avó pedia a S. Pedro para o levar (ele nunca foi religioso), mas na minha frente ele fazia tudo para mostrar estar bem.
                                      Talvez eu não tenha lidado da melhor forma com isso, porque muitas vezes eu preferia não ver o meu avô a morrer, guardar para sempre a recordação dele bem. Ainda assim, das vezes que ele foi parar ao hospital, eu fui vê-lo, excepto na última vez que lá foi parar, onde eu tinha o pressentimento que seria a última. E foi !

                                      Um dia, recebi uma chamada no telemóvel e era a minha avó a dizer que o meu avô já não estava cá. Lembro-me exactamente onde estava quando ouvi isso, e de ter precisado de encostar o carro para exteriorizar o que senti.
                                      Aliás, ao escrever isto estou a ter alguma dificuldade e a reviver muito o que senti, porque as saudades deste meu avô nunca vão desaparecer por completo.

                                      Isto mostrou-me que não é o grau de parentesco que define o que sentimos, mas sim a forma como tratamos e somos tratados.

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                                        #20
                                        iandrec e Blade fico grato pelas vossas palavras.Quero também endereçar uma palavra de amizade a todos aqueles que sofreram pela perda de alguém querido.Ao escrever neste tópico obriguei-me a reviver aqueles dias surrealistas e constatei o quanto ainda custa(e irá continuar a custar)reflectir sobre este acontecimento.
                                        Eu fui educado para lidar com a morte de uma forma natural,faz parte do nosso percurso de vida.Desde que me considero gente já perdi todos os meus avós,alguns tios e alguns conhecidos.Mas perder uma mãe,ainda para mais numa idade ainda prematura para os dias de hoje coloca-nos a observar a vida com uma ampulheta na mão,onde vemos a areia a escoar devagarinho mas sempre sem parar.
                                        O tempo(vida)não pára por ninguém e não nos resta mais do que aproveitar o tempo que nos é concedido.E nesse tempo que temos que sejamos sinceros e honestos connosco e com o próximo,para mais tarde não haver arrependimentos...

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                                          #21
                                          Estas coisas fazem-me sempre muita confusão. Tentar colocar sentimentos em palavras não funciona bem.
                                          Até hoje, felizmente as pessoas mais chegadas que vi partir foram poucas e a morte delas não foi ultrajante. Ou foi de velhice ou de doenças prolongadas tão destruidoras da condição de vida humana digna que quase (ou mesmo) é preferível a morte.
                                          Já há alguns anos que tive a excepção; Um amigo meu- bom amigo - faleceu num acidente de mota. Na altura reagi como um robot. Senti tristeza mas não muita e achei muito estranho o porque é que o grau de tristeza era aquele. Depois percebi que era fase de negação. Era como se a notícia fosse inventada e aquilo fosse tudo treta. Pronto, depois veio o questionamento, a raiva, a aceitação, essas coisas todas. Mas o que eu percebi mesmo é que não há regra, não há motivos, não há designios. Acontece quando tem de acontecer a quem tem de acontecer e como calhar. Não se evita, não se previne.

                                          Também me é muito difícil tentar confortar alguém que perdeu outra pessoa. Nunca sei o que dizer e fico sempre a pensar o quão inutil é dizer seja o que for. Não há conforto possível.

                                          Aos "colegas" que partilharam a vossa dor gostava que fosse possível que ela se transformasse em alegria pelo que tiveram e partilharam com essas pessoas em vez da tristeza da perda.

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                                            #22
                                            Tenho-me abstraído deste tópico, mas vou deixar o meu testemunho.

                                            Tenho o meu avô doente. Este avô mora ao meu lado, infelizmente nunca tive com ele o envolvimento que deveria ter tido, principalmente porque ele não tomou o caminho correcto após a morte da minha avó (eu ainda era muito pequeno, mal me lembro).

                                            Nos últimos anos a relação tem melhorado. Sei que o meu avô gosta muito da família. Tal como muitos, foi diagnosticado um cancro no recto, já com metástases no fígado, além de problemas na bexiga. Queremos que parta sem sofrimento, que tem sido constante nos últimos 3 anos.

                                            Ele a cima de tudo, mantém sempre a postura que está bem, não quer que nos preocupemos com ele. Nunca o vi a queixar-se, ao contrário da minha avó paterna que só passa a vida a queixar-se...

                                            Nestas alturas é que não gostamos mesmo nada de estar a 2.000km de distância...

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                                              #23
                                              Fugi, evitei, ignorei este tópico.
                                              Há muitos anos, perdi aquela pessoa q p quase toda a gente é a mais importante. Nunca lhe disse nada de muito especial. Nunca lhe disse nada depois da sua morte. Nunca fui a sua casa nem sei o nº da sua porta.
                                              Tento ser melhor c quem ainda n partiu, mas talvez n o seja tanto como deveria. Apenas tento ser melhor, talvez por auto-complacencia.

                                              "As Plavras q Nunca te Direi" são a coisa mais ignóbil e lamechas de q me consigo lembrar neste momento.

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