Na ordem do dia, e a dar que pensar.
Ou será para pensar ?
Ou será para pensar ?
O aeroporto da Justiça enevoado
02 | 12 | 2009 08.10H
Isabel Stilwell
Na semana passada, aterrei no Campus da Justiça, no Parque das Nações.
A localização é fabulosa, mesmo sobre o rio.
Os prédios de vidro, lindos.
A sinalização fantástica.
A decoração de interiores do Tribunal Criminal, o único que visitei, moderna e funcional.
Ou seja, a fachada da justiça melhorou.
O resto continua igual.
As testemunhas todas convocadas para a mesma hora, sejam elas duas ou 20.
Resultado: a fila para a identificação sai para a rua.
Passo seguinte: o acesso através de um detector de metais. Ninguém contesta o princípio, mas o resultado: uma única via (a segunda não funcionava), que sem RX para as malas, obriga a esmiuçar as carteiras das senhoras, o que ninguém consegue em menos de dez minutos. Réus, advogados e testemunhas olham o relógio aflitos.
Chegaram a horas à recepção, mas para a «chamada» já estão atrasados, e promete demorar.
Aí alguém diz: «Descansem, a hora do julgamento foi adiantada».
Levanta-se a cabeça e repara-se num placard electrónico, como o do aeroporto, que dá indicações dos julgamentos, e fabuloso, fantástico, nalguns pisca a amarelo a palavra «adiado», e noutras vai mudando a hora conforme o atraso.
Rio-me: será que o nevoeiro impede a descolagem de julgamentos ou a aterragem de um juiz?
Decididamente, estamos no Aeroporto da Justiça.
Os convocados amontoam-se.
Conto cabeças: estão ali mais de 30 pessoas, de ambas as partes, tudo ao monte.
São para três julgamentos marcados em simultâneo para o mesmo juiz.
Fazem a chamada.
Só para o julgamento em que testemunho há 17 pessoas.
São já 10h30 da manhã, não é preciso saber fazer contas de cabeça, para perceber que a maioria de nós não vai ser ouvida.
Mas o tribunal só chega a esta conclusão às 11h40.
Adiam o julgamento.
Não esperavam que toda a gente comparecesse, explicam.
Nem a justiça espera que a justiça funcione.
O tempo do dia do cidadão para nada.
Vou voltar a ser convocada e, se me atrasar ou não comparecer, pago, no mínimo, mais de 200 euros de multa.
Mesmo que o julgamento venha de novo a ser adiado.
Ineficácia à parte, enquanto a justiça não mostrar respeito pelas pessoas, não pode pedir que a respeitem.
E não mostra.
02 | 12 | 2009 08.10H
Isabel Stilwell
Na semana passada, aterrei no Campus da Justiça, no Parque das Nações.
A localização é fabulosa, mesmo sobre o rio.
Os prédios de vidro, lindos.
A sinalização fantástica.
A decoração de interiores do Tribunal Criminal, o único que visitei, moderna e funcional.
Ou seja, a fachada da justiça melhorou.
O resto continua igual.
As testemunhas todas convocadas para a mesma hora, sejam elas duas ou 20.
Resultado: a fila para a identificação sai para a rua.
Passo seguinte: o acesso através de um detector de metais. Ninguém contesta o princípio, mas o resultado: uma única via (a segunda não funcionava), que sem RX para as malas, obriga a esmiuçar as carteiras das senhoras, o que ninguém consegue em menos de dez minutos. Réus, advogados e testemunhas olham o relógio aflitos.
Chegaram a horas à recepção, mas para a «chamada» já estão atrasados, e promete demorar.
Aí alguém diz: «Descansem, a hora do julgamento foi adiantada».
Levanta-se a cabeça e repara-se num placard electrónico, como o do aeroporto, que dá indicações dos julgamentos, e fabuloso, fantástico, nalguns pisca a amarelo a palavra «adiado», e noutras vai mudando a hora conforme o atraso.
Rio-me: será que o nevoeiro impede a descolagem de julgamentos ou a aterragem de um juiz?
Decididamente, estamos no Aeroporto da Justiça.
Os convocados amontoam-se.
Conto cabeças: estão ali mais de 30 pessoas, de ambas as partes, tudo ao monte.
São para três julgamentos marcados em simultâneo para o mesmo juiz.
Fazem a chamada.
Só para o julgamento em que testemunho há 17 pessoas.
São já 10h30 da manhã, não é preciso saber fazer contas de cabeça, para perceber que a maioria de nós não vai ser ouvida.
Mas o tribunal só chega a esta conclusão às 11h40.
Adiam o julgamento.
Não esperavam que toda a gente comparecesse, explicam.
Nem a justiça espera que a justiça funcione.
O tempo do dia do cidadão para nada.
Vou voltar a ser convocada e, se me atrasar ou não comparecer, pago, no mínimo, mais de 200 euros de multa.
Mesmo que o julgamento venha de novo a ser adiado.
Ineficácia à parte, enquanto a justiça não mostrar respeito pelas pessoas, não pode pedir que a respeitem.
E não mostra.
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