Mediante a reportagem que coloco abaixo, qual pensam que será a real causa desta situação, acham que isto é um reflexo dos actos impensados do ter para mostrar - nem para isso se endividem - ou será unica e exclusivamente reflexo da crise que se instalou.
Ou em ultima instância o que será pior em tempo de crise ainda querem botar figura.
Reportagem CM
Venda de casas
As agências imobiliárias afirmam que uma em cada seis casas postas à venda em segunda mão resulta, actualmente, de problemas de falta de dinheiro, embora os proprietários vendedores não o reconheçam. Num inquérito telefónico, a justificação foi quase sempre a vontade de mudar para #8220;uma casa melhor#8221;.
O problema mais grave não está, actualmente, na venda de casas. A questão difícil é sobretudo o seu pagamento. Com os juros a subirem num ano mais de metade do que eram, de 2,103 por cento na taxa Euribor de Junho de 2005 para 3,354 ontem, o custo dos empréstimos disparou. Calcula-se que são 107 euros por mês na prestações de empréstimos de 100 mil euros a 25 anos e as pessoas fazem contas à vida. De acordo com as estimativas das agências imobiliárias, 15 a 20% das casas usadas postas à venda são consequência de apertos de dinheiro nas famílias, casos de vendas judiciais à parte, mas ninguém gosta de o reconhecer. A prova está num inquérito telefónico do CM junto de proprietários interessados em vender as suas moradias ou os apartamentos de condomínios de luxo na margem Sul do Tejo, em que a justificação afirmada pela esmagadora maioria foi a vontade de mudar para #8220;uma casa melhor#8221;.
Vinte cartazes com a palavra #8216;Vendo#8217; na ala de apartamentos na zona nascente da Herdade da Aroeira, no concelho da Almada, com ares de mar da Fonte da Telha, sugerem, contudo, outras razões.
#8220;Sei por conhecimentos nos bancos que realmente há muitas pessoas a desistirem de segundas residências e não só#8221;, disse-nos Maria João Brandão, que tem uma pequena agência imobiliária no centro da vizinha zona da Verdizela, e que nos negócios que conduz pessoalmente apresenta uma estatística irrefutável.
#8220;Das cinco casas usadas que vendi nos últimos meses, uma foi por dificuldades financeiras do casal proprietário, duas por causa de quererem realizar o dinheiro do património, num caso devido a viuvez e noutro por divórcio, e mais duas porque os donos com filhos crescidos a caminho das universidades escolheram mudar-se para Lisboa.#8221;
A responsável da MJ Brandão constata a situação sem lamentos de crise: #8220;Não se pode falar em paragem nos negócios imobiliários e até parece que é quando se fala de crise que há mais procura para comprar, mas o conhecimento directo que tenho das situações mostra-me que realmente há muitas pessoas em dificuldades. Basta ver quantos estão a trocar moradias com jardim e piscinas por apartamentos na Charneca da Caparica ou o muito que há para vender na Herdade da Aroeira.#8221;
TEMPOS DIFÍCEIS
As situações são muito variadas na região de Lisboa, bem como nas outras áreas metropolitanas, no Algarve e Interior do país, mas o eixo Seixal-Amora-Belverde-Verdizela-Aroeira na região a Sul do Tejo constitui uma mostra ajustada das realidades.
Há ali desde zonas tradicionais de moradores da classe média e média-baixa até condomínios de luxo fechados e com #8216;greens#8217; de golfe de 18 buracos. No entanto, mesmo pertencendo à região económica mais rica do País, que é Lisboa e Vale do Tejo (18 849 euros de PIB por habitante, segundo o Eurostat, quando no Norte é de 10 374), também ali se sentem os efeitos do aumento do desemprego com muitos operários especializados que há anos #8220;tratavam o aço por tu#8221; agora desmoralizados pela falta de trabalho.
#8220;A vida está muito difícil#8221;, conta José Manuel, que na Rua das Hortênsias, em Belverde, passa dias inteiros à espera que apareça alguém interessado em ver as moradias novas que a imobiliária Solução Óptima tem para vender por preços na ordem dos 340 mil euros (68 mil contos) em moeda antiga.
#8220;Nos últimos dez dias, incluindo o fim-de-semana, só me apareceu um casal a ver a moradia e foi mais por curiosidade porque estes preços estavam fora das suas possibilidades#8221;, adianta, satisfeito por ter com quem desabafar os problemas que sente.
#8220;Como as casas não se vendem, há muitas pessoas em dificuldade porque a construção civil mexe com quase tudo e se pára é uma grande tragédia#8221;, prossegue José Manuel, na casa dos 50 anos e uma perspectiva pessimista do futuro cujas principais desgraças admite já pouco o afectarão, porque o pior não é o curto e médio prazo mas, como apontam as projecções, o que virá lá para meados do século.
Belverde, uma zona de moradias lançada em meados dos anos 70, ainda sem os luxos da Verdizela e Herdade da Aroeira, está relativamente estabilizada, até porque os proprietários tiveram a oportunidade de satisfazer os seus compromissos alugando as moradias a quadros das empresas multinacionais que entretanto se instalaram na península de Setúbal, como a Autoeuropa e a Siemens. A média dos proprietários é também menos ambiciosa do que na vizinha Verdizela, sendo francamente mais baixa a percentagem de moradias com piscina.
#8220;No ano passado, por esta altura, havia mais pessoas a procurar e a comprar#8221;, avalia ainda José Manuel, que sentiu no seu posto de observação da dinâmica económica um agravar generalizado das condições de vida e não apenas um grande aumento nas taxas de juro.
CLIENTES ESTRANGEIROS
Esta crise não parece contudo ser problema para Maria João Brandão, com muitas relações pessoais e agência imobiliária aberta no centro da Verdizela a uma centena de metros do parque desportivo e de uma vasta zona de recreio para entretenimento das crianças.
#8220;Desde que seja a preços razoáveis tudo se vende, desde os lotes às moradias em segunda mão#8221;, explica, gabando o seu estilo de actuação em que cerca de metade dos novos clientes lhe chegam por indicação de pessoas com que anteriormente já desenvolveu negócios.
#8220;Só não se vende mesmo o que está superinflacionado por os proprietários não estarem apressados e quererem fazer muito dinheiro com a transacção#8221;, prossegue.
#8220;Os preços actuais na Verdizela andam na ordem dos 170 mil euros por lotes de mil metros quadrados e as moradias novas, bem acabadas e climatizadas e com piscina, custam na ordem dos 475 mil euros#8221;, refere, avançando preços mais elevados para a vizinha Herdade da Aroeira, onde os lotes apontam para os 200 mil e as moradias sobem até acima dos 750 mil euros.
Entre os clientes que não faltam, Maria João aponta o aparecimento de cada vez mais estrangeiros e não só os quadros superiores da Autoeuropa, Siemens, Vibasto, Merlin, Leclerc, etc..
#8220;Esses altos funcionários procuram sobretudo alugar, até porque vêm apenas para um tempo determinado, mas estão dispostos a pagar bem pelo que vale a pena. Não digo nomes, mas sei de moradias alugadas por 2500 euros por mês, embora no arrendamento se mantenham os mesmos preços a partir de 1500 euros/mês praticamente sem mudanças desde há uns dez a 15 anos.#8221;
#8220;Mas tem aparecido também outra clientela de estrangeiros, sobretudo ingleses e espanhóis, com vontade de se fixarem na zona por causa do microclima favorável que temos e por estarmos próximos das praias. Na maioria são pessoas já com mais de 60 anos, mas também há casais jovens interessados em construir o seu futuro em Portugal. Por exemplo, eu arranjei uma moradia para dois argentinos.#8221;
Nas avenidas e ruas da Verdizela, traçadas pelo meio de uma antiga zona de pinhal, rapidamente se registam uma dúzia de anúncios de venda de moradias na maioria usadas. Maria João Brandão diz que talvez uma em cada cinco seja por motivos económicos, na maioria de pessoas que concluíram que não vale a pena o esforço financeiro por uma segunda residência que dá muito trabalho a manter e tratar com jardim e piscina e a que os filhos mais crescidos já não dão o valor e apego do tempo de crianças.
#8220;Sei por conhecimentos nos bancos da zona de vários casos de insatisfação dos compromissos financeiros, mas onde há mais casos é nos apartamentos da Herdade da Aroeira. A Verdizela arrancou há mais de 25 anos e tem menos choques recentes. Pessoalmente parece-me que a maioria terá a ver com implicações de repartir os patrimónios, com casos de separação dos casais ou até de heranças,#8221; conclui.
#8220;PROCURAR CASA MELHOR#8221;
Na zona de apartamentos da Herdade da Aroeira, os cartazes de #8220;vendo#8221; são mais frequentes do que em qualquer outra zona do eixo Amora-Fonte da Telha. Num inquérito telefónico aos que querem vender, sem outra identificação a não ser o próprio número de telemóvel pessoal, a resposta mais frequente foi #8220;quero procurar casa melhor#8221;. Nenhum dos 20 proprietários contactados admitiu problemas financeiros e também em nenhum caso foi referido como razão o divórcio ou separação.
#8220;Quero vender para comprar um apartamento para o meu filho#8221;, foi a explicação mais pormenorizada que deu um proprietário vendedor.
Os problemas financeiros são sem dúvida assunto muito reservado. Mesmo as instituições bancárias guardam segredo sobre o assunto, procurando resolver as situações de forma a que o cliente possa resolver o assunto através de opções alternativas como o renegociar do empréstimo em termos da sua duração.
Onde os casos são mais reconhecidos é nas próprias agências imobiliárias que ouvem as razões e preocupações dos clientes. Aí as estimativas não enganam. Para além dos dados oficiosos sobre uma maioria de casas usadas nas cerca de 300 mil transacções por ano feitas quase na totalidade pelas 3300 imobiliárias existentes no País, um inquérito no terreno junto de agentes aponta para o ocorrência de 15 a 20 por cento de casos de venda por dificuldades financeiras que em frequência de situações é referido por um em seis ou um em cada cinco proprietários de apartamentos e moradias postas à venda.
O negócio de casas usadas não tem estatísticas oficiais. Só se sabe de forma indirecta que tem aumentado com a quebra de casas novas lançadas no mercado, que chegou aos 193,5 mil em 1999 e baixou depois a praticamente um terço nos últimos dois anos. Em 2004 quedou-se nas 65,4 mil casas novas.
As agências imobiliárias não baixaram, porém, o ritmo de actividade de que tanto se queixa a construção com perspectivas de retoma a apontar para depois de 2010. Cumprindo a ideia de quanto mais crise, melhor negócio, o esmagador volume de transacções passou para o mercado de segunda mão. As aflições são mesmo para quem tem de pagar a subida de juros e já está com orçamentos apertados.
CRÉDITO MALPARADO RONDA OS MIL MILHÕES DE EUROS
Mil milhões de euros, ou seja, metade de todo o endividamento malparado dos particulares à Banca, diz respeito ao crédito à habitação, de acordo com números referentes a Março deste ano. A percentagem revela um maior cumprimento na habitação do que em qualquer outro segmento, já que no total a percentagem dos empréstrimos para aquisição de casa corresponde a quase 80% do total. De acordo com cálculos anteriores dos 72 mil milhões de euros para crédito à habitação, os mil milhões malparados só valem 1,3% do total.
300.000 casas são, de acordo com a média 2004/05, transaccionadas por ano em Portugal.
50% dos negócios imobiliários passam por cerca de 3300 agências existentes no País.
97% da actividade dos mediadores imobiliários centra-se nas casas usadas.
65.400 casas novas entraram no mercado em média nos últimos dois anos.
DESEMPREGO E DIVÓRCIO SÃO MAIORES PROBLEMAS
Os estudos de dois bancos presentes no crédito à habitação, o Millennium BCP e o BPI, mostram que o desemprego e o divórcio são os principais motivos de não cumprimento do pagamento das prestações mensais. O Millennium aponta que 31% do malparado está ligado ao divórcio dos casais proprietários e 25% tem a ver com situações de desemprego. Já o BPI atribui ao conjunto das duas situações 50% do crédito malparado concedido pela instituição. O rácio do malparado na habitação é quatro vezes inferior ao existente no restante crédito.
MENOS 50% NAS USADAS
Salvo alguns casos de superinflação, os preços das moradias usadas na Verdizela andam por metade das novas. Enquanto uma estreia exige pensar num investimento de 425 mil euros, é possível comprar moradias com ar condicionado central e piscina, além de jardim, por 250 mil a 300 mil euros. É uma questão de oportunidade e de não pensar em grandes obras.
PARAGEM NA CASA NOVA
Retoma só depois de 2010 é o que aponta para a construção um estudo do ITIC #8211; Instituto Técnico para a Indústria da Construção que não vê como regressar aos grandes números de há sete anos, quando em 1999 foram lançadas no mercado habitacional 193,5 mil casas novas. Desde então é sempre a descer, com apenas 65,4 mil casas em 2004.
NOTAS SOLTAS
LISBOA E SETÚBAL LIDERAM CRÉDITO
Os empréstimos a particulares subiram, mesmo após o detonar da crise em 2001, mas por causa de Lisboa e Setúbal. O distrito da capital teve uma subida de 30% em quatro anos, enquanto o Porto chegou a Dezembro de 2005 igual a 2001.
ARGUMENTO DE IR PARA A TERRA
As imobiliárias têm grande experiência na detecção dos problemas dos clientes. Na prática, consideram caso de dificuldade financeira quando o cliente não procura comprar outra casa ou utiliza evasivas, como a decisão de regressar à terra de origem.
OPORTUNIDADES EM LEILÃO JUDICIAL
São poucos os casos de endividamento que acabam em leilão judicial de moradias. Em 13 leilões anunciados pelo BPI só há um, mas por 245 mil euros na Quinta da Clementina, no sítio de Esgueira, Aveiro.
João Vaz
In CM 17-06-06
Ou em ultima instância o que será pior em tempo de crise ainda querem botar figura.
Reportagem CM
Venda de casas
As agências imobiliárias afirmam que uma em cada seis casas postas à venda em segunda mão resulta, actualmente, de problemas de falta de dinheiro, embora os proprietários vendedores não o reconheçam. Num inquérito telefónico, a justificação foi quase sempre a vontade de mudar para #8220;uma casa melhor#8221;.
O problema mais grave não está, actualmente, na venda de casas. A questão difícil é sobretudo o seu pagamento. Com os juros a subirem num ano mais de metade do que eram, de 2,103 por cento na taxa Euribor de Junho de 2005 para 3,354 ontem, o custo dos empréstimos disparou. Calcula-se que são 107 euros por mês na prestações de empréstimos de 100 mil euros a 25 anos e as pessoas fazem contas à vida. De acordo com as estimativas das agências imobiliárias, 15 a 20% das casas usadas postas à venda são consequência de apertos de dinheiro nas famílias, casos de vendas judiciais à parte, mas ninguém gosta de o reconhecer. A prova está num inquérito telefónico do CM junto de proprietários interessados em vender as suas moradias ou os apartamentos de condomínios de luxo na margem Sul do Tejo, em que a justificação afirmada pela esmagadora maioria foi a vontade de mudar para #8220;uma casa melhor#8221;.
Vinte cartazes com a palavra #8216;Vendo#8217; na ala de apartamentos na zona nascente da Herdade da Aroeira, no concelho da Almada, com ares de mar da Fonte da Telha, sugerem, contudo, outras razões.
#8220;Sei por conhecimentos nos bancos que realmente há muitas pessoas a desistirem de segundas residências e não só#8221;, disse-nos Maria João Brandão, que tem uma pequena agência imobiliária no centro da vizinha zona da Verdizela, e que nos negócios que conduz pessoalmente apresenta uma estatística irrefutável.
#8220;Das cinco casas usadas que vendi nos últimos meses, uma foi por dificuldades financeiras do casal proprietário, duas por causa de quererem realizar o dinheiro do património, num caso devido a viuvez e noutro por divórcio, e mais duas porque os donos com filhos crescidos a caminho das universidades escolheram mudar-se para Lisboa.#8221;
A responsável da MJ Brandão constata a situação sem lamentos de crise: #8220;Não se pode falar em paragem nos negócios imobiliários e até parece que é quando se fala de crise que há mais procura para comprar, mas o conhecimento directo que tenho das situações mostra-me que realmente há muitas pessoas em dificuldades. Basta ver quantos estão a trocar moradias com jardim e piscinas por apartamentos na Charneca da Caparica ou o muito que há para vender na Herdade da Aroeira.#8221;
TEMPOS DIFÍCEIS
As situações são muito variadas na região de Lisboa, bem como nas outras áreas metropolitanas, no Algarve e Interior do país, mas o eixo Seixal-Amora-Belverde-Verdizela-Aroeira na região a Sul do Tejo constitui uma mostra ajustada das realidades.
Há ali desde zonas tradicionais de moradores da classe média e média-baixa até condomínios de luxo fechados e com #8216;greens#8217; de golfe de 18 buracos. No entanto, mesmo pertencendo à região económica mais rica do País, que é Lisboa e Vale do Tejo (18 849 euros de PIB por habitante, segundo o Eurostat, quando no Norte é de 10 374), também ali se sentem os efeitos do aumento do desemprego com muitos operários especializados que há anos #8220;tratavam o aço por tu#8221; agora desmoralizados pela falta de trabalho.
#8220;A vida está muito difícil#8221;, conta José Manuel, que na Rua das Hortênsias, em Belverde, passa dias inteiros à espera que apareça alguém interessado em ver as moradias novas que a imobiliária Solução Óptima tem para vender por preços na ordem dos 340 mil euros (68 mil contos) em moeda antiga.
#8220;Nos últimos dez dias, incluindo o fim-de-semana, só me apareceu um casal a ver a moradia e foi mais por curiosidade porque estes preços estavam fora das suas possibilidades#8221;, adianta, satisfeito por ter com quem desabafar os problemas que sente.
#8220;Como as casas não se vendem, há muitas pessoas em dificuldade porque a construção civil mexe com quase tudo e se pára é uma grande tragédia#8221;, prossegue José Manuel, na casa dos 50 anos e uma perspectiva pessimista do futuro cujas principais desgraças admite já pouco o afectarão, porque o pior não é o curto e médio prazo mas, como apontam as projecções, o que virá lá para meados do século.
Belverde, uma zona de moradias lançada em meados dos anos 70, ainda sem os luxos da Verdizela e Herdade da Aroeira, está relativamente estabilizada, até porque os proprietários tiveram a oportunidade de satisfazer os seus compromissos alugando as moradias a quadros das empresas multinacionais que entretanto se instalaram na península de Setúbal, como a Autoeuropa e a Siemens. A média dos proprietários é também menos ambiciosa do que na vizinha Verdizela, sendo francamente mais baixa a percentagem de moradias com piscina.
#8220;No ano passado, por esta altura, havia mais pessoas a procurar e a comprar#8221;, avalia ainda José Manuel, que sentiu no seu posto de observação da dinâmica económica um agravar generalizado das condições de vida e não apenas um grande aumento nas taxas de juro.
CLIENTES ESTRANGEIROS
Esta crise não parece contudo ser problema para Maria João Brandão, com muitas relações pessoais e agência imobiliária aberta no centro da Verdizela a uma centena de metros do parque desportivo e de uma vasta zona de recreio para entretenimento das crianças.
#8220;Desde que seja a preços razoáveis tudo se vende, desde os lotes às moradias em segunda mão#8221;, explica, gabando o seu estilo de actuação em que cerca de metade dos novos clientes lhe chegam por indicação de pessoas com que anteriormente já desenvolveu negócios.
#8220;Só não se vende mesmo o que está superinflacionado por os proprietários não estarem apressados e quererem fazer muito dinheiro com a transacção#8221;, prossegue.
#8220;Os preços actuais na Verdizela andam na ordem dos 170 mil euros por lotes de mil metros quadrados e as moradias novas, bem acabadas e climatizadas e com piscina, custam na ordem dos 475 mil euros#8221;, refere, avançando preços mais elevados para a vizinha Herdade da Aroeira, onde os lotes apontam para os 200 mil e as moradias sobem até acima dos 750 mil euros.
Entre os clientes que não faltam, Maria João aponta o aparecimento de cada vez mais estrangeiros e não só os quadros superiores da Autoeuropa, Siemens, Vibasto, Merlin, Leclerc, etc..
#8220;Esses altos funcionários procuram sobretudo alugar, até porque vêm apenas para um tempo determinado, mas estão dispostos a pagar bem pelo que vale a pena. Não digo nomes, mas sei de moradias alugadas por 2500 euros por mês, embora no arrendamento se mantenham os mesmos preços a partir de 1500 euros/mês praticamente sem mudanças desde há uns dez a 15 anos.#8221;
#8220;Mas tem aparecido também outra clientela de estrangeiros, sobretudo ingleses e espanhóis, com vontade de se fixarem na zona por causa do microclima favorável que temos e por estarmos próximos das praias. Na maioria são pessoas já com mais de 60 anos, mas também há casais jovens interessados em construir o seu futuro em Portugal. Por exemplo, eu arranjei uma moradia para dois argentinos.#8221;
Nas avenidas e ruas da Verdizela, traçadas pelo meio de uma antiga zona de pinhal, rapidamente se registam uma dúzia de anúncios de venda de moradias na maioria usadas. Maria João Brandão diz que talvez uma em cada cinco seja por motivos económicos, na maioria de pessoas que concluíram que não vale a pena o esforço financeiro por uma segunda residência que dá muito trabalho a manter e tratar com jardim e piscina e a que os filhos mais crescidos já não dão o valor e apego do tempo de crianças.
#8220;Sei por conhecimentos nos bancos da zona de vários casos de insatisfação dos compromissos financeiros, mas onde há mais casos é nos apartamentos da Herdade da Aroeira. A Verdizela arrancou há mais de 25 anos e tem menos choques recentes. Pessoalmente parece-me que a maioria terá a ver com implicações de repartir os patrimónios, com casos de separação dos casais ou até de heranças,#8221; conclui.
#8220;PROCURAR CASA MELHOR#8221;
Na zona de apartamentos da Herdade da Aroeira, os cartazes de #8220;vendo#8221; são mais frequentes do que em qualquer outra zona do eixo Amora-Fonte da Telha. Num inquérito telefónico aos que querem vender, sem outra identificação a não ser o próprio número de telemóvel pessoal, a resposta mais frequente foi #8220;quero procurar casa melhor#8221;. Nenhum dos 20 proprietários contactados admitiu problemas financeiros e também em nenhum caso foi referido como razão o divórcio ou separação.
#8220;Quero vender para comprar um apartamento para o meu filho#8221;, foi a explicação mais pormenorizada que deu um proprietário vendedor.
Os problemas financeiros são sem dúvida assunto muito reservado. Mesmo as instituições bancárias guardam segredo sobre o assunto, procurando resolver as situações de forma a que o cliente possa resolver o assunto através de opções alternativas como o renegociar do empréstimo em termos da sua duração.
Onde os casos são mais reconhecidos é nas próprias agências imobiliárias que ouvem as razões e preocupações dos clientes. Aí as estimativas não enganam. Para além dos dados oficiosos sobre uma maioria de casas usadas nas cerca de 300 mil transacções por ano feitas quase na totalidade pelas 3300 imobiliárias existentes no País, um inquérito no terreno junto de agentes aponta para o ocorrência de 15 a 20 por cento de casos de venda por dificuldades financeiras que em frequência de situações é referido por um em seis ou um em cada cinco proprietários de apartamentos e moradias postas à venda.
O negócio de casas usadas não tem estatísticas oficiais. Só se sabe de forma indirecta que tem aumentado com a quebra de casas novas lançadas no mercado, que chegou aos 193,5 mil em 1999 e baixou depois a praticamente um terço nos últimos dois anos. Em 2004 quedou-se nas 65,4 mil casas novas.
As agências imobiliárias não baixaram, porém, o ritmo de actividade de que tanto se queixa a construção com perspectivas de retoma a apontar para depois de 2010. Cumprindo a ideia de quanto mais crise, melhor negócio, o esmagador volume de transacções passou para o mercado de segunda mão. As aflições são mesmo para quem tem de pagar a subida de juros e já está com orçamentos apertados.
CRÉDITO MALPARADO RONDA OS MIL MILHÕES DE EUROS
Mil milhões de euros, ou seja, metade de todo o endividamento malparado dos particulares à Banca, diz respeito ao crédito à habitação, de acordo com números referentes a Março deste ano. A percentagem revela um maior cumprimento na habitação do que em qualquer outro segmento, já que no total a percentagem dos empréstrimos para aquisição de casa corresponde a quase 80% do total. De acordo com cálculos anteriores dos 72 mil milhões de euros para crédito à habitação, os mil milhões malparados só valem 1,3% do total.
300.000 casas são, de acordo com a média 2004/05, transaccionadas por ano em Portugal.
50% dos negócios imobiliários passam por cerca de 3300 agências existentes no País.
97% da actividade dos mediadores imobiliários centra-se nas casas usadas.
65.400 casas novas entraram no mercado em média nos últimos dois anos.
DESEMPREGO E DIVÓRCIO SÃO MAIORES PROBLEMAS
Os estudos de dois bancos presentes no crédito à habitação, o Millennium BCP e o BPI, mostram que o desemprego e o divórcio são os principais motivos de não cumprimento do pagamento das prestações mensais. O Millennium aponta que 31% do malparado está ligado ao divórcio dos casais proprietários e 25% tem a ver com situações de desemprego. Já o BPI atribui ao conjunto das duas situações 50% do crédito malparado concedido pela instituição. O rácio do malparado na habitação é quatro vezes inferior ao existente no restante crédito.
MENOS 50% NAS USADAS
Salvo alguns casos de superinflação, os preços das moradias usadas na Verdizela andam por metade das novas. Enquanto uma estreia exige pensar num investimento de 425 mil euros, é possível comprar moradias com ar condicionado central e piscina, além de jardim, por 250 mil a 300 mil euros. É uma questão de oportunidade e de não pensar em grandes obras.
PARAGEM NA CASA NOVA
Retoma só depois de 2010 é o que aponta para a construção um estudo do ITIC #8211; Instituto Técnico para a Indústria da Construção que não vê como regressar aos grandes números de há sete anos, quando em 1999 foram lançadas no mercado habitacional 193,5 mil casas novas. Desde então é sempre a descer, com apenas 65,4 mil casas em 2004.
NOTAS SOLTAS
LISBOA E SETÚBAL LIDERAM CRÉDITO
Os empréstimos a particulares subiram, mesmo após o detonar da crise em 2001, mas por causa de Lisboa e Setúbal. O distrito da capital teve uma subida de 30% em quatro anos, enquanto o Porto chegou a Dezembro de 2005 igual a 2001.
ARGUMENTO DE IR PARA A TERRA
As imobiliárias têm grande experiência na detecção dos problemas dos clientes. Na prática, consideram caso de dificuldade financeira quando o cliente não procura comprar outra casa ou utiliza evasivas, como a decisão de regressar à terra de origem.
OPORTUNIDADES EM LEILÃO JUDICIAL
São poucos os casos de endividamento que acabam em leilão judicial de moradias. Em 13 leilões anunciados pelo BPI só há um, mas por 245 mil euros na Quinta da Clementina, no sítio de Esgueira, Aveiro.
João Vaz
In CM 17-06-06
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