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Esta é a Geração do "Já não posso mais!"...

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    Sociedade Esta é a Geração do "Já não posso mais!"...

    YouTube - Parva que sou - Deolinda @ Coliseu do Porto, 23 de Janeiro de 2011

    Nova música da Deolinda.
    Acho que acaba por reflectir o actual estado da Sociedade portuguesa pela perspectiva de um jovem. Achei que era pertinente partilhar pois para além de ser das boas bandas portuguesas, esta música marca um regresso à música de intervenção que sempre esteve presente na nossa (e noutras) Sociedades nos momentos mais complicados. Ainda não tinha ouvido músicas actuais que fossem marcadamente de intervenção, por isso decidi partilhar.

    Fica aqui a letra:

    Sou da geração sem remuneração
    E não me incomoda esta condição
    Que parva que eu sou
    Porque isto está mal e vai continuar
    Já é uma sorte eu poder estagiar
    Que parva que eu sou
    E fico a pensar
    Que mundo tão parvo
    Onde para ser escravo é preciso estudar

    Sou da geração "casinha dos pais"
    Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
    Que parva que eu sou
    Filhos, maridos, estou sempre a adiar
    E ainda me falta o carro pagar
    Que parva que eu sou
    E fico a pensar
    Que mundo tão parvo
    Onde para ser escravo é preciso estudar

    Sou da geração "vou queixar-me pra quê?"
    Há alguém bem pior do que eu na TV
    Que parva que eu sou
    Sou da geração "eu já não posso mais!"
    Que esta situação dura há tempo demais
    E parva não sou
    E fico a pensar,
    Que mundo tão parvo
    Onde para ser escravo é preciso estudar
    Editado pela última vez por sergioalways; 02 February 2011, 22:33.

    #2
    Quero ver se não oiço

    Comentário


      #3
      Originalmente Colocado por JUDEU Ver Post
      Quero ver se não oiço

      Será por seres da Geração "Vou queixar-me para quê"?

      lol

      Comentário


        #4
        Originalmente Colocado por JUDEU Ver Post
        Quero ver se não oiço
        Será por seres "apoiante" do Sócrates e do seu PS?

        A música está muito boa.

        Comentário


          #5
          Originalmente Colocado por sergioalways Ver Post
          Será por seres da Geração "Vou queixar-me para quê"?

          lol
          Não, é mesmo porque não gosto de Deolinda.

          Comentário


            #6
            Originalmente Colocado por Joana1984 Ver Post
            Será por seres "apoiante" do Sócrates e do seu PS?

            A música está muito boa.
            Coloquei aqui a música não por defender o partido A, B ou C, mas sim porque o seu conteúdo é marcadamente de intervenção. Há tradição na nossa música de haver canções de intervenção mas desde os meados dos anos 80 que não tinha conhecimento de isso ser feito por cá.
            A canção vem a propósito dos tempos que temos vivido e que temos de mudar a nossa forma de estar enquanto cidadãos que se interessam pelo seu País, "partidarismos" à parte.

            Comentário


              #7
              Tive para abrir um tópico sobre essa musica. Depois de ter isto num blog:

              YouTube - Deolinda - Parva que Sou, Coliseu do Porto. Assim damos a volta a isto!

              Houve lágrimas nos olhos, ontem no Coliseu de Lisboa. E não foi com o "Clandestino" ou o "Passou por mim e sorriu". Foi com esta que aí está.
              Ontem, assisti a um fenómeno com que nunca me tinha deparado. O público inteiro aplaudiu a letra de uma canção. A cada verso, os aplausos ressoavam cada vez com mais força. Não foi o single, não foi aquela tão animada, foi esta canção que aí está.
              Os Deolinda resolveram abandonar metáforas e recursos poéticos. Nesta letra, não há segundos sentidos. E, por isso, eu também vou deixar de lado a estética da escrita para dizer o que penso.

              A minha geração é, provavelmente, a mais bem qualificada de sempre em Portugal. Nós estudámos, e estudámos mesmo, para podermos ser aquilo que queremos ser. Não é capricho. É querer fazer bem feito, é não querer ir para o mercado de trabalho à toa, é querer chegar às empresas mais bem preparado. As empresas deviam agradecer isto: haver gente nova, de ideias frescas, pronta para arregaçar as mangas a trabalhar. Esta gente nova devia ser compensada e não castigada.
              Esta gente nova gosta de viajar, ir para os copos e tem altas ambições. "Querem logo ser chefes, deviam saber o que é lavar escadas". Lavarei escadas se isso for necessário para alimentar filhos, mas não, não quero saber o que é lavar escadas. Porque eu gosto é de fazer outras coisas e, por isso mesmo, é que fui estudar essas outras coisas. Uma licenciatura não é uma tarefa assim tão fácil de concluir.
              Quando saímos da faculdade, depois de 4 anos de aprendizagem em cima, o que nos espera são estágios "curriculares". Ora, como o próprio nome indica, um estágio CURRICULAR faz parte do currículo da faculdade e tem de ser feito em conjunto com o estabelecimento de ensino. Fazer um estágio depois de curso feito, sem que a faculdade o exija, e não ser remunerado, não é uma coisa "curricular". Como nos avisava constantemente o professor de Deontologia, trabalhar sem receber tem um nome: é escravidão. E, como dizem os Deolinda, estamos num país onde "para ser escravo é preciso estudar". Um estágio, mesmo que profissional e remunerado, é um momento de formação, é para aprender. Por isso, uma empresa que abra estágios porque precisa de mão de obra, está a agir de má fé. Muitas vezes, até exigem uma data de conhecimentos e disponibilidades. Nós, com os conhecimentos, oferecemos a nossa disponibilidade. E o pânico é tal que nem pensamos naquilo que ganhamos de volta. Uma vez vi um anúncio de uma revista online regional de um sítio qualquer por trás do sol posto a pedir "estagiários não-remunerados" (sim, já chegámos a esta falta de vergonha). E eu pensei: mas que raio vou eu aprender numa revista online regional de onde Judas perdeu as botas? O que ganho em troca? Nada.
              Depois da fase dos estágios, lá conseguimos um primeiro trabalhinho pago. Pago como? A recibos verdes, obviamente. Após um primeiro ano de isenção de impostos, começamos então a saga de dar uma quantia absurda ao estado. São 160euros para a segurança social. Mesmo que só se ganhe 300euros. Como um recibo verde é um "trabalhador independente", não há cá ordenados mínimos. Nem há subsídios de férias. Nem de Natal. Nem décimo-terceiro mês. Nem baixa. Nem coisa nenhuma. E porquê toda esta falta de direitos? Porque, segundo a lei, também não temos muitos deveres.
              No mundo real, isto é uma mentira bem transparente. Um recibo verde não deve ter chefes, horários, locais de trabalho. O recibo verde é para o trabalhador independente, que toma conta de si. Mas o que acontece é que estamos todos a passar recibos verdes e a responder a chefes, que nos exigem presença diária no local de trabalho e cumprimento de horários. Isto é ilegal. E estamos todos coniventes. Foi-nos dada a possibilidade de denunciar a empresa. Até nos perdoam a dívida à segurança social! Caramba, e se nós temos provas! O recibo passado com a mesma quantia para a mesma empresa há meses e meses. Os emails com a divisão de horários. Os emails com as exigências. Mas e se os denunciarmos? Contaram-me de uma rapariga que denunciou a Visão. Ganhou. A Visão pagou uma multa e a rapariga nunca mais pôs os pés na Edimpresa. Não temos proteção. Ou temos um novo emprego à nossa espera (o que, com esta taxa de desemprego, não é coisa provável) ou a única vítima de um processo legal somos nós mesmos. Quem se lixa, como toda a gente sabe, é o mexilhão.

              Tenho uma amiga que trabalha na redação dum grande portal de notícias. Foi a melhor aluna da faculdade do curso de jornalismo. É a melhor jornalista que conheço. Trabalha há 4 anos a recibos verdes. Não tem tempo para ganhar dinheiro noutros lados, os seus dias (incluindo fins-de-semana) são dedicados àquele trabalho. Ela e os colegas pediram que a sua situação fosse regularizada: um contrato já seria obrigatório há muito tempo. Não lhes foi concedido o cumprimento da lei, que eles não tinham sequer de ir pedinchar. Com o novo código contributivo para a Segurança Social, foram então pedir mais 50euros para cada um (não soa a esmola?). Disseram-lhes que não, que não havia dinheiro, que até teriam de mandar gente embora. Dias depois, foram coagidos a ir à festa de Natal da empresa (que é das maiores do país). Tinham de mostrar que eram uma equipa, que também faziam parte, apesar de se sentirem outsiders. No meio da festa, ali estavam eles, sentadinhos, a ouvir o patrão dizer que o fecho de um negócio ia permitir dar um prémio de 1200euros a cada empregado. Palminhas, sorrisos, e o silêncio de centenas de pessoas. É que os recibos verdes não são empregados da empresa, por isso, nada de prémio para eles.

              Tenho outra amiga que trabalha na mesma produtora há mais de três anos. Recibo verde. Ganha menos agora do que ao início. Com o fim do ano de isenção, passou a ter de tirar uma fatia para a segurança social. Depois, outra fatia para o IVA. Este, que devia ser COBRADO à empresa, é-lhe retirado do seu ordenado. Com o pânico do que aí vem de segurança social, foi pedir que revissem a sua situação (já que tinham sido feitos contratos a colegas seus). A chefe ainda teve a lata de fazer o papel de dama ofendida, ela que elogiava tanto o seu trabalho e tanto apostava nela. Ela sentadinha no seu gabinete com candeeiros de 100euros que nunca foram acesos.

              Pois é, meus senhores. Elogios não pagam alugueres de casa. Temos quase 30 e queremos mesmo sair da casa dos pais. Queremos seguir a nossa vida. Queremos casar e ter filhos e perpetuar a espécie (será que vale a pena?).
              Não nos venham dizer que não há dinheiro. Depois de o programa onde trabalho ter posto a RTP2 a aparecer nos gráficos de audiências, a RTP cortou o nosso orçamento em 12%. Qual é a primeira coisa que se faz? Cortar os ordenados em 12%, claro. A RTP não tem dinheiro, dizem. Não tem? E os milhares que se pagam a pessoas como o José Rodrigues dos Santos, que maior parte das vezes nem deve pode ir fazer o seu trabalho porque tem de estar a escrever remakes do Dan Brown? E o iPad que o meu professor de TV na pós-graduação, trabalhador da RTP, ia exibir para a aula? A afirmar, ainda por cima, que aquilo era revolucionário, porque as pessoas iam usá-los no autocarro. Meu senhor, as pessoas que andam de autocarro não podem comprar iPads! E a contar como a RTP organizou o encontro mundial de broadcasters todo cheio de hors d'oeuvres? Há dinheiro, sim! Normalmente não vai é para quem mais trabalha.

              Aqueles aplausos no concerto fizeram-me perceber com clareza de que estamos todos fartos. Estamos mesmo fartos. Até queremos lutar. Mas lutar contra quem? Contra o governo que não fiscaliza as empresas e não protege os seus trabalhadores? E vamos deitá-lo abaixo para ir para lá um mais à direita que ainda vai fazer pior? Contra as empresas chupistas que se apoiam no pânico em que estamos para pôr a trabalhar gente em terríveis condições e ainda ter a atitude de quem está a fazer um grande favor? Contra os mercados internacionais no geral? Contra os especuladores da bolsa, que dão cabo disto tudo sem sequer lidarem com dinheiro real? Contra os nossos pais que nos fizeram acreditar que, se estudássemos muito, íamos ter uma boa vida? Lutamos contra quem?

              O que andamos a fazer é a fugir. Vamos embora daqui, porque aqui ninguém nos dá valor. Muitas vezes, sabemos mais que o conjunto geriátrico que possui as empresas, mas temos de andar a lamber-lhes as botas. Fora daqui ainda há sítios onde as empresas sabem que sem trabalhadores, não funcionam. Que precisam deles. Que, para os terem, têm de lhes pagar. Que valorizam o mérito, que estão atentas e premeiam quem faz bem.

              Só faria efeito se nos juntássemos todos e todos recusássemos trabalhar em certas condições. Mas isso não existe. Se eu recusar, há 20 atrás que aceitam e ainda perguntam quanto é preciso pagar. Porque estamos em pânico. Porque a luta não nos dá dinheiro com que sair da casa dos pais, com que conhecer o mundo, com que comprar livros e música e filmes.

              E é por medo que vamos continuar todos aqui parados, a tentar descobrir onde podemos ir buscar mais uns euros, a pedir licença aos pais para ficar ali só mais um bocadinho, só para ver se no mês que vem ainda tenho trabalho. Vamos continuar todos aqui, precários, a ser parvos. Só à espera do próximo avião.


              O ovo dentro do armário: Parvos que somos

              Não me revejo neste texto tão negativista, mas é cada vez a realidade do país, queremos mudar o país, mas não sabemos como, e quando chegarmos ao poder, vamos encontrar um país endividado pela geração dos nossos pais.
              Editado pela última vez por Hecho; 02 February 2011, 15:14.

              Comentário


                #8
                Originalmente Colocado por sergioalways Ver Post
                Coloquei aqui a música não por defender o partido A, B ou C, mas sim porque o seu conteúdo é marcadamente de intervenção. Há tradição na nossa música de haver canções de intervenção mas desde os meados dos anos 80 que não tinha conhecimento de isso ser feito por cá.
                A canção vem a propósito dos tempos que temos vivido e que temos de mudar a nossa forma de estar enquanto cidadãos que se interessam pelo seu País, "partidarismos" à parte.
                Percebi, mas já não é a 1ª canção deste tipo que é feita por esta banda.
                Aqui está a outra de que falei em cima.
                YouTube - Deolinda - Movimento Perpétuo Associativo

                Comentário


                  #9
                  Originalmente Colocado por Hecho Ver Post
                  Tive para abrir um tópico sobre essa musica. Depois de ter isto num blog:

                  YouTube - Deolinda - Parva que Sou, Coliseu do Porto. Assim damos a volta a isto!

                  Houve lágrimas nos olhos, ontem no Coliseu de Lisboa. E não foi com o "Clandestino" ou o "Passou por mim e sorriu". Foi com esta que aí está.
                  Ontem, assisti a um fenómeno com que nunca me tinha deparado. O público inteiro aplaudiu a letra de uma canção. A cada verso, os aplausos ressoavam cada vez com mais força. Não foi o single, não foi aquela tão animada, foi esta canção que aí está.
                  Os Deolinda resolveram abandonar metáforas e recursos poéticos. Nesta letra, não há segundos sentidos. E, por isso, eu também vou deixar de lado a estética da escrita para dizer o que penso.

                  A minha geração é, provavelmente, a mais bem qualificada de sempre em Portugal. Nós estudámos, e estudámos mesmo, para podermos ser aquilo que queremos ser. Não é capricho. É querer fazer bem feito, é não querer ir para o mercado de trabalho à toa, é querer chegar às empresas mais bem preparado. As empresas deviam agradecer isto: haver gente nova, de ideias frescas, pronta para arregaçar as mangas a trabalhar. Esta gente nova devia ser compensada e não castigada.
                  Esta gente nova gosta de viajar, ir para os copos e tem altas ambições. "Querem logo ser chefes, deviam saber o que é lavar escadas". Lavarei escadas se isso for necessário para alimentar filhos, mas não, não quero saber o que é lavar escadas. Porque eu gosto é de fazer outras coisas e, por isso mesmo, é que fui estudar essas outras coisas. Uma licenciatura não é uma tarefa assim tão fácil de concluir.
                  Quando saímos da faculdade, depois de 4 anos de aprendizagem em cima, o que nos espera são estágios "curriculares". Ora, como o próprio nome indica, um estágio CURRICULAR faz parte do currículo da faculdade e tem de ser feito em conjunto com o estabelecimento de ensino. Fazer um estágio depois de curso feito, sem que a faculdade o exija, e não ser remunerado, não é uma coisa "curricular". Como nos avisava constantemente o professor de Deontologia, trabalhar sem receber tem um nome: é escravidão. E, como dizem os Deolinda, estamos num país onde "para ser escravo é preciso estudar". Um estágio, mesmo que profissional e remunerado, é um momento de formação, é para aprender. Por isso, uma empresa que abra estágios porque precisa de mão de obra, está a agir de má fé. Muitas vezes, até exigem uma data de conhecimentos e disponibilidades. Nós, com os conhecimentos, oferecemos a nossa disponibilidade. E o pânico é tal que nem pensamos naquilo que ganhamos de volta. Uma vez vi um anúncio de uma revista online regional de um sítio qualquer por trás do sol posto a pedir "estagiários não-remunerados" (sim, já chegámos a esta falta de vergonha). E eu pensei: mas que raio vou eu aprender numa revista online regional de onde Judas perdeu as botas? O que ganho em troca? Nada.
                  Depois da fase dos estágios, lá conseguimos um primeiro trabalhinho pago. Pago como? A recibos verdes, obviamente. Após um primeiro ano de isenção de impostos, começamos então a saga de dar uma quantia absurda ao estado. São 160euros para a segurança social. Mesmo que só se ganhe 300euros. Como um recibo verde é um "trabalhador independente", não há cá ordenados mínimos. Nem há subsídios de férias. Nem de Natal. Nem décimo-terceiro mês. Nem baixa. Nem coisa nenhuma. E porquê toda esta falta de direitos? Porque, segundo a lei, também não temos muitos deveres.
                  No mundo real, isto é uma mentira bem transparente. Um recibo verde não deve ter chefes, horários, locais de trabalho. O recibo verde é para o trabalhador independente, que toma conta de si. Mas o que acontece é que estamos todos a passar recibos verdes e a responder a chefes, que nos exigem presença diária no local de trabalho e cumprimento de horários. Isto é ilegal. E estamos todos coniventes. Foi-nos dada a possibilidade de denunciar a empresa. Até nos perdoam a dívida à segurança social! Caramba, e se nós temos provas! O recibo passado com a mesma quantia para a mesma empresa há meses e meses. Os emails com a divisão de horários. Os emails com as exigências. Mas e se os denunciarmos? Contaram-me de uma rapariga que denunciou a Visão. Ganhou. A Visão pagou uma multa e a rapariga nunca mais pôs os pés na Edimpresa. Não temos proteção. Ou temos um novo emprego à nossa espera (o que, com esta taxa de desemprego, não é coisa provável) ou a única vítima de um processo legal somos nós mesmos. Quem se lixa, como toda a gente sabe, é o mexilhão.

                  Tenho uma amiga que trabalha na redação dum grande portal de notícias. Foi a melhor aluna da faculdade do curso de jornalismo. É a melhor jornalista que conheço. Trabalha há 4 anos a recibos verdes. Não tem tempo para ganhar dinheiro noutros lados, os seus dias (incluindo fins-de-semana) são dedicados àquele trabalho. Ela e os colegas pediram que a sua situação fosse regularizada: um contrato já seria obrigatório há muito tempo. Não lhes foi concedido o cumprimento da lei, que eles não tinham sequer de ir pedinchar. Com o novo código contributivo para a Segurança Social, foram então pedir mais 50euros para cada um (não soa a esmola?). Disseram-lhes que não, que não havia dinheiro, que até teriam de mandar gente embora. Dias depois, foram coagidos a ir à festa de Natal da empresa (que é das maiores do país). Tinham de mostrar que eram uma equipa, que também faziam parte, apesar de se sentirem outsiders. No meio da festa, ali estavam eles, sentadinhos, a ouvir o patrão dizer que o fecho de um negócio ia permitir dar um prémio de 1200euros a cada empregado. Palminhas, sorrisos, e o silêncio de centenas de pessoas. É que os recibos verdes não são empregados da empresa, por isso, nada de prémio para eles.

                  Tenho outra amiga que trabalha na mesma produtora há mais de três anos. Recibo verde. Ganha menos agora do que ao início. Com o fim do ano de isenção, passou a ter de tirar uma fatia para a segurança social. Depois, outra fatia para o IVA. Este, que devia ser COBRADO à empresa, é-lhe retirado do seu ordenado. Com o pânico do que aí vem de segurança social, foi pedir que revissem a sua situação (já que tinham sido feitos contratos a colegas seus). A chefe ainda teve a lata de fazer o papel de dama ofendida, ela que elogiava tanto o seu trabalho e tanto apostava nela. Ela sentadinha no seu gabinete com candeeiros de 100euros que nunca foram acesos.

                  Pois é, meus senhores. Elogios não pagam alugueres de casa. Temos quase 30 e queremos mesmo sair da casa dos pais. Queremos seguir a nossa vida. Queremos casar e ter filhos e perpetuar a espécie (será que vale a pena?).
                  Não nos venham dizer que não há dinheiro. Depois de o programa onde trabalho ter posto a RTP2 a aparecer nos gráficos de audiências, a RTP cortou o nosso orçamento em 12%. Qual é a primeira coisa que se faz? Cortar os ordenados em 12%, claro. A RTP não tem dinheiro, dizem. Não tem? E os milhares que se pagam a pessoas como o José Rodrigues dos Santos, que maior parte das vezes nem deve pode ir fazer o seu trabalho porque tem de estar a escrever remakes do Dan Brown? E o iPad que o meu professor de TV na pós-graduação, trabalhador da RTP, ia exibir para a aula? A afirmar, ainda por cima, que aquilo era revolucionário, porque as pessoas iam usá-los no autocarro. Meu senhor, as pessoas que andam de autocarro não podem comprar iPads! E a contar como a RTP organizou o encontro mundial de broadcasters todo cheio de hors d'oeuvres? Há dinheiro, sim! Normalmente não vai é para quem mais trabalha.

                  Aqueles aplausos no concerto fizeram-me perceber com clareza de que estamos todos fartos. Estamos mesmo fartos. Até queremos lutar. Mas lutar contra quem? Contra o governo que não fiscaliza as empresas e não protege os seus trabalhadores? E vamos deitá-lo abaixo para ir para lá um mais à direita que ainda vai fazer pior? Contra as empresas chupistas que se apoiam no pânico em que estamos para pôr a trabalhar gente em terríveis condições e ainda ter a atitude de quem está a fazer um grande favor? Contra os mercados internacionais no geral? Contra os especuladores da bolsa, que dão cabo disto tudo sem sequer lidarem com dinheiro real? Contra os nossos pais que nos fizeram acreditar que, se estudássemos muito, íamos ter uma boa vida? Lutamos contra quem?

                  O que andamos a fazer é a fugir. Vamos embora daqui, porque aqui ninguém nos dá valor. Muitas vezes, sabemos mais que o conjunto geriátrico que possui as empresas, mas temos de andar a lamber-lhes as botas. Fora daqui ainda há sítios onde as empresas sabem que sem trabalhadores, não funcionam. Que precisam deles. Que, para os terem, têm de lhes pagar. Que valorizam o mérito, que estão atentas e premeiam quem faz bem.

                  Só faria efeito se nos juntássemos todos e todos recusássemos trabalhar em certas condições. Mas isso não existe. Se eu recusar, há 20 atrás que aceitam e ainda perguntam quanto é preciso pagar. Porque estamos em pânico. Porque a luta não nos dá dinheiro com que sair da casa dos pais, com que conhecer o mundo, com que comprar livros e música e filmes.

                  E é por medo que vamos continuar todos aqui parados, a tentar descobrir onde podemos ir buscar mais uns euros, a pedir licença aos pais para ficar ali só mais um bocadinho, só para ver se no mês que vem ainda tenho trabalho. Vamos continuar todos aqui, precários, a ser parvos. Só à espera do próximo avião.


                  O ovo dentro do armário: Parvos que somos

                  Não me revejo neste texto tão negativista, mas é cada vez a realidade do país, queremos mudar o país, mas não sabemos como, e quando chegarmos ao poder, vamos encontrar um país endividado pela geração dos nossos pais.
                  Post muito bom. Também li este comentário noutro blog sobre o mesmo assunto (a propósito de alguém ter dito que a letra e a música eram muito pobres):

                  Não creio que a letra seja pobre, (adequa-se a uma forma de escrever que atinge a juventude que a música pretende alertar), a melodia é básica, mas serve o efeito de passar uma mensagem. E muito menos sinto que o problema que ela fala seja exclusivo de uma juventude de pequena burguesia.

                  Aliás, acredito até que essa observação será de quem não anda atento à sociedade que nos rodeia... os jovens que sentem mais dificuldades (nos quais me incluo) são os filhos de famílias cujos pais não podem financiar um negócio independente, ou que têm que se sujeitar a estágios consecutivos recebendo ou nada, ou muito pouco, mas a quem se exigem conhecimentos ao nível de trabalhadores muito qualificados e muito bem pagos noutros países. Daí o "para ser escravo é preciso estudar!". E a esquerda não pode defender a escola pública e a educação para todos e depois acusar os alunos com cursos superiores de serem todos ricos e burgueses... sejam coerentes e menos genéricos, porque há muita gente que tirou o seu curso com muito esforço e com muitas limitações com o sonho de um dia ter condições de vida melhores para si e para a sua família. Os "pequenos burgueses" como aqui já foram referidos, estão fora deste problema por cunhas ou financiamentos privados para os seus objectivos.

                  Há uma grande franja da juventude adormecida, descrente, desinformada até... mas aqui cabe aos mais informados, mais esclarecidos e mais activos fazerem a mudança que pretendem ver.

                  Comentário


                    #10
                    ui, a letra parece hip-hop...a ver se não oiço também

                    Comentário


                      #11
                      Originalmente Colocado por DerTeufel Ver Post
                      ui, a letra parece hip-hop...a ver se não oiço também
                      É de fugir...

                      Comentário


                        #12
                        Originalmente Colocado por JUDEU Ver Post
                        É de fugir...
                        E tu que não gostasses.

                        Comentário


                          #13
                          São uma das bandas portuguesas em expansão internacional e com muito valor.

                          A presença e os concertos nos coliseus demonstrou isso mesmo.

                          Grandes músicos, boa voz, e boas letras têm que dar muitos sucessos..

                          Comentário


                            #14
                            Os primos foram meus colegas na escola! O Luisinho é um espectáculo!!! Não é muito a minha onda mas é música divertida e ao mesmo tempo interventiva! Sempre melhor que os Buraka no Sistema... Joking.

                            Comentário


                              #15
                              Originalmente Colocado por Joana1984 Ver Post
                              E tu que não gostasses.
                              E porque haveria de gostar?

                              Comentário


                                #16
                                Originalmente Colocado por sgarcsa Ver Post
                                São uma das bandas portuguesas em expansão internacional e com muito valor.

                                A presença e os concertos nos coliseus demonstrou isso mesmo.

                                Grandes músicos, boa voz, e boas letras têm que dar muitos sucessos..

                                Sem dúvida!!! Mas sabes que nem sempre o que tem qualidade faz sucesso! Tudo depende da hora e do momento...

                                Comentário


                                  #17
                                  A propósito da música de intervenção, fica aqui uma das mais conhecidas:

                                  YouTube - Zeca Afonso - Vampiros

                                  por Zeca Afonso que junto de Sérgio Godinho, José Mário Branco e Fausto Bordalo Dias são das maiores vozes da música de intervenção em Portugal. Quem conhecer mais algum que os poste aqui, por favor.

                                  Sou da geração "eu já não posso mais!"
                                  Que esta situação dura há tempo demais
                                  E parva não sou
                                  E fico a pensar,
                                  Que mundo tão parvo
                                  Onde para ser escravo é preciso estudar

                                  Comentário


                                    #18
                                    Originalmente Colocado por warmthboy Ver Post
                                    Os primos foram meus colegas na escola! O Luisinho é um espectáculo!!! Não é muito a minha onda mas é música divertida e ao mesmo tempo interventiva! Sempre melhor que os Buraka no Sistema... Joking.
                                    Andaste na Escola da Damaia .... aposto

                                    Comentário


                                      #19
                                      Originalmente Colocado por Patalogika Ver Post
                                      Andaste na Escola da Damaia .... aposto

                                      Nem mais...paredes meias com a Cova da Moura!!! Acho que aparece no GPS

                                      Comentário


                                        #20
                                        O texto do blog é negativista, é certo, mas meu senhores, não se iludam: é a mais triste das realidades, e só fará comentários com reacções pouco respeitosas em relação a ele quem não sente ou nunca sentiu na pele alguma das realidades que lá se descrevem.

                                        Comentário


                                          #21
                                          Originalmente Colocado por sergioalways Ver Post
                                          filhos, maridos, estou sempre a adiar
                                          lol [:d]

                                          Comentário


                                            #22
                                            Originalmente Colocado por warmthboy Ver Post
                                            Os primos foram meus colegas na escola! O Luisinho é um espectáculo!!! Não é muito a minha onda mas é música divertida e ao mesmo tempo interventiva! Sempre melhor que os Buraka no Sistema... Joking.
                                            Tás-te a rir, mas os Buraka vão ter um músico a sério no próximo albúm, um tal de Igor Cavalera até me caíram ao chao

                                            Comentário


                                              #23
                                              Originalmente Colocado por DerTeufel Ver Post
                                              Tás-te a rir, mas os Buraka vão ter um músico a sério no próximo albúm, um tal de Igor Cavalera até me caíram ao chao
                                              O QuÊ?!?!!?

                                              Comentário


                                                #24
                                                Originalmente Colocado por DerTeufel Ver Post
                                                Tás-te a rir, mas os Buraka vão ter um músico a sério no próximo albúm, um tal de Igor Cavalera até me caíram ao chao
                                                O quêêêÊ

                                                Comentário


                                                  #25
                                                  Yep!

                                                  Agente Infiltrado: Buraka Som Sistema gravam com Igor Cavalera (ex-Sepultura) - BLITZ

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                                                    #26
                                                    A letra reflecte a destruição da sociedade portuguesa por parte do PS e do carrasco sócrates. É certo que todos os governos anteriores não ajudaram em nada, mas os últimos 15 anos dominados pelo PS foram a machadada final nas aspirações de jovens e velhos. Graças ao PS somos um país de pedintes e marcas brancas, porque não há possibilidades para mais. Somos o país das mentiras descaradas e das ilusões. Um país sem esperança e sem ninguém que tenha gosto ou capacidade para lhe pegar no leme.
                                                    Por outro lado, somos o país que os portugueses escolheram ter ao votarem uma segunda vez no sócrates. A esses dou-lhes o parabéns. Devem estar muito satisfeitos com o resultado que conseguiram.

                                                    Comentário


                                                      #27
                                                      Xiiiiii
                                                      Nem sei o que dizer...

                                                      Comentário


                                                        #28
                                                        Originalmente Colocado por gonexplorer Ver Post
                                                        A letra reflecte a destruição da sociedade portuguesa por parte do PS e do carrasco sócrates. É certo que todos os governos anteriores não ajudaram em nada, mas os últimos 15 anos dominados pelo PS foram a machadada final nas aspirações de jovens e velhos. Graças ao PS somos um país de pedintes e marcas brancas, porque não há possibilidades para mais. Somos o país das mentiras descaradas e das ilusões. Um país sem esperança e sem ninguém que tenha gosto ou capacidade para lhe pegar no leme.
                                                        Por outro lado, somos o país que os portugueses escolheram ter ao votarem uma segunda vez no sócrates. A esses dou-lhes o parabéns. Devem estar muito satisfeitos com o resultado que conseguiram.
                                                        Não mistures as coisas, pois isto já vem de trás, agravado por um governo Socialista com políticas de direita.

                                                        Comentário


                                                          #29
                                                          Originalmente Colocado por gonexplorer Ver Post
                                                          A letra reflecte a destruição da sociedade portuguesa por parte do PS e do carrasco sócrates. É certo que todos os governos anteriores não ajudaram em nada, mas os últimos 15 anos dominados pelo PS foram a machadada final nas aspirações de jovens e velhos. Graças ao PS somos um país de pedintes e marcas brancas, porque não há possibilidades para mais. Somos o país das mentiras descaradas e das ilusões. Um país sem esperança e sem ninguém que tenha gosto ou capacidade para lhe pegar no leme.
                                                          Por outro lado, somos o país que os portugueses escolheram ter ao votarem uma segunda vez no sócrates. A esses dou-lhes o parabéns. Devem estar muito satisfeitos com o resultado que conseguiram.

                                                          Brilhante!!!

                                                          Comentário


                                                            #30
                                                            Não é que não goste dos Buraka Som Sistema (nem é isso que está em causa) mas bandas que fazem músicas com letras como esta:

                                                            Wegue, wegue wegue wegue
                                                            wegue, wegue wegue wegue
                                                            wegue, wegue wegue wegue
                                                            wegue ..
                                                            Wegue, wegue wegue wegue
                                                            wegue, wegue wegue wegue
                                                            wegue, wegue wegue wegue
                                                            wegue ..
                                                            Quando eu entro o palco se move
                                                            kalemba que chove
                                                            claro que o povo me ouve
                                                            só pongolove
                                                            toco a buraka abre a fronteira
                                                            não digo lixo nem digo asneira
                                                            do microfone sou a primeira
                                                            vou levantar a minha bandeira
                                                            Angola, o mundo cubiça
                                                            mas é o povo que te enfeitica
                                                            a ponge no pipli cabriça
                                                            porque (...) :x
                                                            Sou memo eu, a damadas muito agressiva
                                                            me derrubar nem com makumba
                                                            sou creativa ...
                                                            (Refrão)
                                                            A buraka é qui esta cuiar, sai fora !
                                                            Bongolove é qui esta bater, vão-se embora !
                                                            Wegue, wegue wegue wegue
                                                            são piadas..
                                                            Wegue, wegue wegue wegue
                                                            novo esquema..
                                                            Wegue, wegue wegue wegue
                                                            Wegue, wegue wegue wegue
                                                            Rima pesada, tipo inbondero
                                                            Eu Faco o que eu qero
                                                            tanto pa angola e po mundo inteiro
                                                            no kuduro impero
                                                            sou palanca negra gigante
                                                            sigo a passada de gigabande
                                                            sigo a corrente do dangue
                                                            trago o feitico de tombé grande


                                                            ... Não são propriamente música de intervenção, quando muito seriam músicas de diversão.
                                                            Proponho que não se afastem do tema deste tópico que seria o actual estado da Sociedade Portuguesa e as vozes que têm cantado temas de intervenção.
                                                            Evitem posts em off topic.

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