Relembrar, para não se repetirem os erros, faz sempre bem...
Diário da República: Guerra Colonial começa em 1961 - Renascença
Diário da República: Guerra Colonial começa em 1961
Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra
O centenário da implantação da República celebra-se em 2010. Nas próximas semanas, a Renascença, em parceria com a Biblioteca Nacional, vai relembrar cada um dos cem anos desde que a República se fez ver em Portugal. O primeiro texto será relativo a 2009 e, nos dias seguintes, segue a contagem decrescente, até se chegar a 1910. Hoje recorde o essencial de 1961.
O ano de todas as crises foi o princípio do fim do Estado Novo de Salazar. Em Janeiro, um comando revolucionário liderado por Henrique Galvão sequestrou o paquete Santa Maria, numa operação mediática destinada a chamar a atenção internacional para a ditadura em Portugal.
Em Dezembro, a União Indiana invadiu Goa, Damão e Diu, pondo um ponto final em séculos de presença portuguesa na Índia.Mas o facto que mais marcou 1961 foi o início da guerra colonial… Salazar deu a ordem …para Angola, rapidamente em força!
O principal facto e a principal crise do ano foi o início da Guerra Colonial, com o ataque dos militantes do MPLA à Cadeia de S. Paulo, ao posto da GNR e à emissora oficial em Luanda, a 4 de Fevereiro.
Em meados de Março, sob a liderança da UPA, dezenas de fazendas no Norte de Angola foram violentamente assaltadas. Cerca de mil colonos portugueses e cinco mil negros que ali viviam foram chacinados.
Em 1961, perante a vaga de descolonizações que já chegara ao continente africano, o Império português começava a aparecer como um anacronismo internacional. No entanto, inicialmente a Guerra até serviu para reforçar os apoios internos em redor de Salazar, na defesa da Pátria una e indivisível, do Minho a Timor. Na televisão, o chefe do governo anunciou que se marcharia “para Angola, rapidamente e em força”. Em 1963, o conflito alastraria à Guiné e em 1964 a Moçambique.
Interminável e desgastante, a Guerra no Ultramar português foi o maior esforço militar de um país europeu desde a 2.ª Guerra Mundial. No cais de Alcântara, o país habituou-se a ver a rotina dos soldados que partiam e das famílias que deles se despediam… muitas para não mais os verem.
Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra
O centenário da implantação da República celebra-se em 2010. Nas próximas semanas, a Renascença, em parceria com a Biblioteca Nacional, vai relembrar cada um dos cem anos desde que a República se fez ver em Portugal. O primeiro texto será relativo a 2009 e, nos dias seguintes, segue a contagem decrescente, até se chegar a 1910. Hoje recorde o essencial de 1961.
O ano de todas as crises foi o princípio do fim do Estado Novo de Salazar. Em Janeiro, um comando revolucionário liderado por Henrique Galvão sequestrou o paquete Santa Maria, numa operação mediática destinada a chamar a atenção internacional para a ditadura em Portugal.
Em Dezembro, a União Indiana invadiu Goa, Damão e Diu, pondo um ponto final em séculos de presença portuguesa na Índia.Mas o facto que mais marcou 1961 foi o início da guerra colonial… Salazar deu a ordem …para Angola, rapidamente em força!
O principal facto e a principal crise do ano foi o início da Guerra Colonial, com o ataque dos militantes do MPLA à Cadeia de S. Paulo, ao posto da GNR e à emissora oficial em Luanda, a 4 de Fevereiro.
Em meados de Março, sob a liderança da UPA, dezenas de fazendas no Norte de Angola foram violentamente assaltadas. Cerca de mil colonos portugueses e cinco mil negros que ali viviam foram chacinados.
Em 1961, perante a vaga de descolonizações que já chegara ao continente africano, o Império português começava a aparecer como um anacronismo internacional. No entanto, inicialmente a Guerra até serviu para reforçar os apoios internos em redor de Salazar, na defesa da Pátria una e indivisível, do Minho a Timor. Na televisão, o chefe do governo anunciou que se marcharia “para Angola, rapidamente e em força”. Em 1963, o conflito alastraria à Guiné e em 1964 a Moçambique.
Interminável e desgastante, a Guerra no Ultramar português foi o maior esforço militar de um país europeu desde a 2.ª Guerra Mundial. No cais de Alcântara, o país habituou-se a ver a rotina dos soldados que partiam e das famílias que deles se despediam… muitas para não mais os verem.
1961 revisitado
- Pouco depois do início da Guerra em Angola foi criado o Movimento Nacional Feminino, constituído por um grupo de mulheres que se propunha prestar apoio moral e material aos soldados que iam para África e às suas famílias, em Portugal. Cecília Supico Pinto foi a fundadora e presidente do MNF durante os seus treze anos de existência e não hesitou em vestir o camuflado, dormir em tendas e ir para a frente de batalha para cumprir a sua missão. O Movimento Nacional Feminino chegou a ter 82 mil mulheres, muitas delas, “madrinhas de guerra” dos soldados. Outra das iniciativas do MNF foi a viabilização dos famosos “aerogramas militares”, impressos - carta de papel muito fino, dobrados em 2 ou 4 partes que serviam de meio de correspondência entre os militares, a família e as madrinhas de guerra.
- A meio de Janeiro os bispos portugueses publicaram na imprensa uma Nota de apoio à política colonial de Oliveira Salazar. O Episcopado exortava os fiéis a rezar pela missão evangelizadora de Portugal e da Igreja em África. E referia também que era “hora de orar pelos que têm o pesado encargo de velar pelos interesses nacionais, para que Deus os ilumine, guie e conforte nos rectos caminhos da Verdade e da Justiça”.
- No dia 22 de Janeiro Salazar sofreu o primeiro Golpe do ano: no Mar das Caraíbas, um comando armado sob as ordens de Henrique Galvão assaltou o paquete de luxo “Santa Maria” e sequestrou cerca de 600 turistas que seguiam a bordo. O objectivo da Operação Dulcineia era rumar à colónia espanhola de Fernando Pó no Golfo da Guiné e lançar um ataque a Angola, iniciando aí o Golpe de derrube das ditaduras ibéricas. Depois de andar três dias “desaparecido”, o navio foi avistado por um cargueiro dinamarquês. Salazar pediu a intervenção das Marinhas britânica e norte-americana, mas estas recusaram-se a actuar e só duas semanas depois quando o Santa Maria atracou no Recife é que os “rebeldes” se entregaram às autoridades brasileiras, obtendo asilo político. Sem conseguir atingir o objectivo principal, o episódio chamou, no entanto, a atenção da comunidade internacional para a situação política em Portugal.
- Mas Henrique Galvão não desistiu e em Novembro liderou novo ataque: um grupo de indivíduos armados tomou um avião TAP da carreira Casablanca – Lisboa, forçou o piloto a sobrevoar a capital e o sul do País, onde lançou panfletos e a prosseguir para Tânger. Henrique Galvão não estava no aparelho, mas apareceu em Marrocos. No dia seguinte, o Diário de Notícias referia que se tratava de “uma iniciativa do homem que tanto mal tem causado a Portugal: Galvão e o seu grupo de bandidos que assaltaram o Santa Maria”.
- Em Abril o Presidente do Conselho fez uma remodelação governamental e assumiu a pasta da Defesa, exonerando o antigo ministro, Botelho Moniz. Esta foi a resposta de Salazar à tentativa de “golpe palaciano” do General que pretendia influenciar as “altas esferas” incluindo o Presidente Américo Thomaz, para destituir o Presidente do Conselho por causa da sua política de descolonização. Nesta tentativa de golpe esteve também implicado antigo Chefe de Estado Craveiro Lopes. Foi denunciado por Kaúlza de Arriaga e as mais altas chefias militares foram demitidas.
- Em Agosto as primeiras cinco enfermeiras paraquedistas concluíram a formação na Força Aérea e receberam o “brevet”. Foi a primeira vez que as mulheres portuguesas tiveram acesso às funções militares e foram promovidas a alferes.
- Nos territórios indianos de Goa, Damão e Diu a situação foi-se tornando cada vez mais tensa. E em Dezembro as possessões portuguesas acabaram por ser ocupadas pelas tropas de Nehru sem que o reduzido contingente de militares luso conseguisse resistir, como ordenara o Presidente do Conselho. O General Vassalo e Silva, Comandante Geral da Índia Portuguesa rendeu – se e por isso, caiu em desgraça junto de Salazar: foi preso e quando regressou a Portugal foi mal recebido. Expulso do Exército e enviado para o Exílio, só voltaria ao País depois da Revolução de 1974, recuperando também o estatuto militar. Aliás, o Estado Novo foi acusado de ter abandonado os soldados que estavam na Índia na altura da ocupação.
- Em Setembro a Santa Casa da Misericórdia lançou um jogo de apostas que teve sucesso imediato: o TOTOBOLA. Baseado nos resultados das partidas de futebol, o apostador só tinha que escolher entre “1, X ou 2” conforme queria que a equipa da casa ganhasse, empatasse ou perdesse. Acertando nos 13 resultados podia ganhar umas centenas de contos, o que para a época era “uma fortuna”. O segundo prémio, com “12” também não era mau.
- Logo em Janeiro o país perdeu um dos símbolos culturais: João Villaret. Actor de cinema e teatro, fez também Rádio. Mas, foi na RTP com o seu programa de domingo “Olhos nos Olhos” que se distinguiu como declamador. Para a história ficam as suas prestações com “Procissão”, o “Cântico Negro”, “O Menino de Sua Mãe” e o “Fado Falado”. Foi um grande divulgador de poetas portugueses, como António Botto e Fernando Pessoa.
- Pouco depois do início da Guerra em Angola foi criado o Movimento Nacional Feminino, constituído por um grupo de mulheres que se propunha prestar apoio moral e material aos soldados que iam para África e às suas famílias, em Portugal. Cecília Supico Pinto foi a fundadora e presidente do MNF durante os seus treze anos de existência e não hesitou em vestir o camuflado, dormir em tendas e ir para a frente de batalha para cumprir a sua missão. O Movimento Nacional Feminino chegou a ter 82 mil mulheres, muitas delas, “madrinhas de guerra” dos soldados. Outra das iniciativas do MNF foi a viabilização dos famosos “aerogramas militares”, impressos - carta de papel muito fino, dobrados em 2 ou 4 partes que serviam de meio de correspondência entre os militares, a família e as madrinhas de guerra.
- A meio de Janeiro os bispos portugueses publicaram na imprensa uma Nota de apoio à política colonial de Oliveira Salazar. O Episcopado exortava os fiéis a rezar pela missão evangelizadora de Portugal e da Igreja em África. E referia também que era “hora de orar pelos que têm o pesado encargo de velar pelos interesses nacionais, para que Deus os ilumine, guie e conforte nos rectos caminhos da Verdade e da Justiça”.
- No dia 22 de Janeiro Salazar sofreu o primeiro Golpe do ano: no Mar das Caraíbas, um comando armado sob as ordens de Henrique Galvão assaltou o paquete de luxo “Santa Maria” e sequestrou cerca de 600 turistas que seguiam a bordo. O objectivo da Operação Dulcineia era rumar à colónia espanhola de Fernando Pó no Golfo da Guiné e lançar um ataque a Angola, iniciando aí o Golpe de derrube das ditaduras ibéricas. Depois de andar três dias “desaparecido”, o navio foi avistado por um cargueiro dinamarquês. Salazar pediu a intervenção das Marinhas britânica e norte-americana, mas estas recusaram-se a actuar e só duas semanas depois quando o Santa Maria atracou no Recife é que os “rebeldes” se entregaram às autoridades brasileiras, obtendo asilo político. Sem conseguir atingir o objectivo principal, o episódio chamou, no entanto, a atenção da comunidade internacional para a situação política em Portugal.
- Mas Henrique Galvão não desistiu e em Novembro liderou novo ataque: um grupo de indivíduos armados tomou um avião TAP da carreira Casablanca – Lisboa, forçou o piloto a sobrevoar a capital e o sul do País, onde lançou panfletos e a prosseguir para Tânger. Henrique Galvão não estava no aparelho, mas apareceu em Marrocos. No dia seguinte, o Diário de Notícias referia que se tratava de “uma iniciativa do homem que tanto mal tem causado a Portugal: Galvão e o seu grupo de bandidos que assaltaram o Santa Maria”.
- Em Abril o Presidente do Conselho fez uma remodelação governamental e assumiu a pasta da Defesa, exonerando o antigo ministro, Botelho Moniz. Esta foi a resposta de Salazar à tentativa de “golpe palaciano” do General que pretendia influenciar as “altas esferas” incluindo o Presidente Américo Thomaz, para destituir o Presidente do Conselho por causa da sua política de descolonização. Nesta tentativa de golpe esteve também implicado antigo Chefe de Estado Craveiro Lopes. Foi denunciado por Kaúlza de Arriaga e as mais altas chefias militares foram demitidas.
- Em Agosto as primeiras cinco enfermeiras paraquedistas concluíram a formação na Força Aérea e receberam o “brevet”. Foi a primeira vez que as mulheres portuguesas tiveram acesso às funções militares e foram promovidas a alferes.
- Nos territórios indianos de Goa, Damão e Diu a situação foi-se tornando cada vez mais tensa. E em Dezembro as possessões portuguesas acabaram por ser ocupadas pelas tropas de Nehru sem que o reduzido contingente de militares luso conseguisse resistir, como ordenara o Presidente do Conselho. O General Vassalo e Silva, Comandante Geral da Índia Portuguesa rendeu – se e por isso, caiu em desgraça junto de Salazar: foi preso e quando regressou a Portugal foi mal recebido. Expulso do Exército e enviado para o Exílio, só voltaria ao País depois da Revolução de 1974, recuperando também o estatuto militar. Aliás, o Estado Novo foi acusado de ter abandonado os soldados que estavam na Índia na altura da ocupação.
- Em Setembro a Santa Casa da Misericórdia lançou um jogo de apostas que teve sucesso imediato: o TOTOBOLA. Baseado nos resultados das partidas de futebol, o apostador só tinha que escolher entre “1, X ou 2” conforme queria que a equipa da casa ganhasse, empatasse ou perdesse. Acertando nos 13 resultados podia ganhar umas centenas de contos, o que para a época era “uma fortuna”. O segundo prémio, com “12” também não era mau.
- Logo em Janeiro o país perdeu um dos símbolos culturais: João Villaret. Actor de cinema e teatro, fez também Rádio. Mas, foi na RTP com o seu programa de domingo “Olhos nos Olhos” que se distinguiu como declamador. Para a história ficam as suas prestações com “Procissão”, o “Cântico Negro”, “O Menino de Sua Mãe” e o “Fado Falado”. Foi um grande divulgador de poetas portugueses, como António Botto e Fernando Pessoa.
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