Provocaram 138 acidentes para enganar seguradoras
00h30m
SALOMÃO RODRIGUES
Dois donos de oficinas de automóveis e um empregado de stand, de Santa Maria da Feira, são acusados de ter simulado pelos menos 138 acidentes rodoviários, entre 2000 e 2006, para enganar seguradoras. Ministério Público de Espinho acusou 46 pessoas por burlas que renderam 750 mil euros.
Os dois alegados cérebros do "esquema organizado" são, segundo a acusação do Ministério Público (MP) do tribunal de Espinho, dois proprietários de oficinas de reparação de automóveis, em Lobão e Caldas de S. Jorge, Feira. Esta sexta-feira, deveriam ter sido interrogados em tribunal, mas faltaram alegando doença. Sorte diferente teve o funcionário de um stande de automóveis, também arguido, que foi preso preventivamente, no mesmo dia.
As burlas, que terão provocado 750 mil euros de prejuízos às seguradoras, passavam por duas modalidades de acidentes: alguns eram previamente combinados entre os intervenientes e noutros os condutores dos carros atingidos desconheciam a verdadeira intenção do embate. Os arguidos "não se preocupavam minimamente com as consequências", "nomeadamente com a integridade física dos condutores dos outros veículos e dos respectivos passageiros" acusa o MP.
Os dois donos de oficinas contaram com a colaboração de vários condutores. Os locais dos acidentes (pouco movimentados) e a hora (normalmente ao início da (noite) eram previamente combinados. Só na Rotunda de Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia, foram registados 12 casos (ver infografia). Espinho, sobretudo as ruas do centro, era outra das zonas preferidas do grupo .
Mas a burla tinha outros ainda contornos mais elaborados. A investigação, levada a cabo por dois elementos da PSP de Espinho - a 26 de Junho de 2007 foram detidas seis pessoas -, apurou que os veículos seriam previamente preparados com peças estragadas, sobretudo na frente onde, por regra, eram embatidos. Isto implicava reparações mais caras e, consequentemente, mais avultadas indemnizações pagas pelas seguradoras. Para transmitir a ideia de maior violência dos embates era provocado também o disparo dos "airbag".
A acusação adianta ainda que, por vezes, a chapa dos veículos era previamente danificada no local provável da colisão. Nestes casos, os carros que participavam na simulação nem sequer chegavam a tocar-se. O condutor da viatura com prioridade encenava depois um despiste e embatia num poste ou num muro, a fim de provocar mais estragos.
"Nestes acidentes os condutores que por vezes constam da participação policial ou das declarações amigáveis de acidente de automóvel não eram os verdadeiros intervenientes" mas, adianta o MP, "seguiam ao lado do motorista, identificando-se como condutores perante as autoridades policiais que, a pedido dos mesmos, compareciam no local".
Para tornar a operação ainda mais rentável, os suspeitos substituíam peças boas por peças estragadas nas viaturas acidentadas e causavam mais algumas amolgadelas antes da peritagem.
Nos acidentes que não eram alvo de combinação prévia, os arguidos procuravam rotundas, cruzamentos ou entroncamentos e circulavam até aparecer uma oportunidade de embater noutro veículo, por exemplo junto a vias com sinal de stop ou de aproximação de estrada com prioridade. "Nestes acidentes, os arguidos, ao invés de travarem ou desviarem, como podiam e deviam, evitando o embate, imprimiam maior velocidade ao veículo que conduziam e não permitiam ao outro condutor qualquer reacção", diz o MP.
Outra burla passava por participar simular quebras de vidros que não tinham ocorrido. Um fio de pesca num pára-brisas molhado dava a nítida impressão, nas fotografias apresentadas, que o mesmo estava partido. Segundo o MP, os arguidos chegavam até a ir ao hospital, mesmo não estando feridos, para mais tarde poderem solicitar a respectiva indemnização às seguradoras.
De acordo com a noticia na RTP, não havia grande preocupação nos danos corporais que pudessem acontecer nos terceiros (que não pertenciam ao esquema).
E como estes existiram outros por aí...
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